Sim nós dois

Ao planearmos para a posteridade, deveríamos lembrar-nos de que a virtude não é hereditária.

O pensamento da morte engana-nos, pois faz-nos esquecer de viver.

Sermos o que somos e tornar-nos o que somos capazes de ser é a única finalidade da vida.

Atormentamo-nos menos para ser felizes do que para mostrarmos que o somos.

Quando o nosso ódio é demasiado vivo, colocamo-nos abaixo daqueles que odiamos.

Cada um de nós tem um fogo no coração para alguma coisa. É nossa meta na vida encontrá-lo e mantê-lo aceso

Nós não conhecemos o verdadeiro valor de nossos momentos até que eles se submetam ao teste da memória.

Preocupa-nos mais que falem de nós, do que a maneira como falam.

O espírito revolucionário é muito conveniente. Ele liberta-nos de todos os escrúpulos no que se refere a ideias.

Podemos conhecer tudo, salvo a nós próprios.

Nós, que morreremos talvez um dia, consideramos o homem imortal na segurança do instante.

Ao querermos, enganamo-nos muitas vezes. Mas quando nunca queremos, enganamo-nos sempre.

[Sobre a diferença entre as falas de Portugal e do Brasil]
Nós demos aos brasileiros a terra, o povo e a língua - e nós é que temos sotaque!

Perdoamos tudo a nós próprios e nada aos outros.

O momento em que pensamos ter compreendido tudo dá-nos ar de assassinos.

É necessário também um momento especial para reconhecermos as diferenças entre nós e os outros.

É sempre melhor que quem nos incute medo tenha mais medo do que nós.

Sentirmo-nos inúteis ainda é pior do que nos sentirmos culpados.

Palavras não existem
fora da nossa voz as
palavras não assistem
palavras somos nós

(A doença, Poemas Reunidos, Publicações Dom Quixote, 1999)

Quem se apressa é porque compreendeu: não devemos demorar as coisas; surpreender-nos-ia que os mais claros discursos fossem feitos de termos obscuros.