Emil Cioran

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A timidez, inesgotável origem de tantas infelicidades na vida prática, é a causa direta, mesmo única, de toda a riqueza interior.

Todos os seres são infelizes; mas quantos o sabem?

Só tem convicções aquele que não aprofundou nada.

No edifício do pensamento não encontrei nenhuma categoria na qual pousar a cabeça. Em contrapartida, que belo travesseiro é o Caos!

O combate que travam em cada indivíduo o fanático e o impostor faz com que não saibamos nunca a quem nos dirigir.

Um homem que se respeite não tem pátria. Uma pátria é um visco.

O momento em que pensamos ter compreendido tudo dá-nos ar de assassinos.

Esperar é desmentir o futuro.

O destino do homem é esgotar a ideia de Deus.

A obsessão pelo suicídio é própria de quem não pode viver, nem morrer, e cuja atenção nunca se afasta dessa dupla impossibilidade.

Deus é um desespero que começa onde todos os outros acabam.

O progresso é a injustiça que cada geração comete relativamente à que a antecedeu.

O limite de cada dor é uma dor maior.

Só vivo porque posso morrer quando quiser: sem a ideia do suicídio já teria me matado há muito tempo.

Emil Cioran
Silogismos da amargura. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.

Por necessidade de recolhimento livrei-me de Deus, desembaracei-me do último chato.

"No edifício do pensamento não encontrei nenhuma categoria na qual pousar a cabeça. Em contrapartida, que belo travesseiro é o Caos"

Que vale mais: realizar-se na ordem literária ou na ordem espiritual, ter talento ou força interior? Parece a segunda fórmula a preferível, pois mais rara e enriquecedora. O talento destina-se ao olvido, em contrapartida a força interior aumenta com os anos, podendo atingir seu apogeu no momento em que a pessoa expira.

Impossível chegar à verdade através de opiniões, pois toda opinião não passa de um ponto de vista louco, sobre a realidade.

A amizade é um pacto, uma convenção. Dois seres se comprometem tacitamente a nunca pôr à luz o que cada um no fundo pensa do outro. Um tipo de aliança fundada em arranjos. Quando um deles assinala em público os defeitos do outro, o pacto está devassado, a aliança rompida. Nenhum amizade dura se uma das partes se nega a jogar o jogo. Em suma, nenhuma amizade atura uma dose exagerada de franqueza.

Enquanto preparavam a cicuta, aprendia Sócrates uma canção na flauta. “Para que te servirás? lhe perguntaram.” “Para sabê-la antes de morrer.” Ouso recordar esta resposta que os manuais banalizaram, pois que ela me parece a única justificação séria da vontade de conhecer, que se dá até mesmo às portas da morte ou em outro momento qualquer.

Somos todos impostores que nos suportamos uns aos outros. Quem não aceitasse mentir veria a terra fugir sob seus pés: estamos biologicamente obrigados ao falso

Se nossos semelhantes pudessem constatar nossas opiniões sobre eles, o amor, a amizade, o devotamento seriam riscados para sempre dos dicionários; e se tivéssemos a coragem de olhar cara a cara as dúvidas que concebemos timidamente sobre nós mesmos, nenhum de nós proferiria um “eu” sem envergonhar-se.

Feliz é burro porque não tem consciencia da realidade .

Não é nenhuma nação em que vivemos, mas sim uma linguagem.
Não se enganem; nossa língua nativa é a nossa pátria

Aceitaríamos facilmente os desgostos se a razão ou o fígado não sucumbissem a eles.