Sim nós dois

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⁠Às vezes, é mais fácil entrar no seu próprio abismo e esquecer que o mundo existe.

⁠Você nunca está mais vivo do que quando é adolescente. Seu cérebro está cheio de substâncias que podem transformar sua vida em uma história de proporções épicas. Uma nota nove parece um Pulitzer, um sábado à noite solitário é uma eternidade de solidão e sua dupla no laboratório se torna o amor da sua vida.

A história de nós dois.

Quando a gente gosta muito de alguém, e essa pessoa nos magoa profundamente, nos deixa com feridas que talvez nunca cicatrizem, nós muitas vezes deixamos de acreditar, nos fechamos de certo modo. Nos perguntamos o por que de isso ter acontecido justo conosco, se a gente não merecia. Então por um acaso, uma coincidência, entra alguém em nossa vida, que a principio não nos representa nada. Alguém que faz você se sentir bem, que faz você sorrir, que segura a sua mão e te faz sentir segura. Ai mais que de repente vem a sua mente tudo que ocorreu antes, com aquela pessoa que você confiou tanto e te magoou. Nesse momento você cria uma barreira, para se proteger, por mais que a pessoa faça tudo por você, você se mantém de certo modo afastado, para não se magoar. Só que a pessoa cansa, de não receber nada em troca da atenção, carinho e afeto, e simplesmente vai embora, deixa você só. E mais uma vez você está magoada, mas desta vez é diferente, a sua magoa é por ter magoado esse alguém, uma pessoa que não merecia, e nessa hora te vem a cabeça que tudo que você fez com essa pessoa tão especial, foi o que fizeram com você. O arrependimento que vem agora é dilacerante, é uma dor inexplicável. Vem agora a cabeça que você só tem duas opções, ou você segue sua vida, deixa tudo como está, ou tenta concerta o seu erro. Nessa hora bate na porta do coração o orgulho, que te impede de ir lá e simplesmente se desculpar e pedir outra chance. Sua dor vai aumentando e você cria subterfúgios para ver a pessoa, motivos bestas mais que são óbvios. Os dias vão se tornando semanas, que se tornam meses, e nada muda, você continua com as mesmas desculpas tolas, mas sem ter uma atitude real, então ele vai ficando cada vez mais distante, vocês já quase não se falam, e o abismo entre você é evidente, mas por que você não pode só dizer a ele tudo que sente? Você não consegue, ai você para de criar desculpas para vê-lo, tenta arrumar um modo de tentar esquecer, e pra sua surpresa ele te procura, não demonstra segundas intenções, mas está ali, perto, essa é sua chance de fazer algo e mudar toda sua historia, só que as palavras não saem, falta coragem, e você deixa a chance passar. Você pensa mais uma vez em deixar tudo de lado e esquecer, mas alguma coisa no seu coração diz pra você não fazer isso. Começam então a surgir questões em sua mente que te incomodam... será que ele sente minha falta? Será que ele ainda pensa em mim? Será que ele ainda sente alguma coisa por mim? Será que algum dia ele sentiu? Vem a cabeça os momentos que vocês passaram juntos, e você sente que podia dar certo, vocês não tinham nada a vê um com o outro, eram opostos, mas quando estavam juntos nada importava, quando vocês se beijavam parecia que o mundo parava de girar, se vocês se abraçavam de repente tudo fazia sentido, então você percebe que as coisas pequenas eram as mais importantes, as que realmente faziam a diferença, e foram essas que fizeram você se apaixonar, o jeito de fazer você se sentir única e especial, como ninguém nunca havia feito. Então Deus te dá mais uma chance, e vocês ficam juntos mais uma vez, e você tenta descobrir se ele ainda sente alguma coisa por você. Ele te abraça, e o mundo para, e seu coração volta a bater, e até respirar não é importante nesse momento, vocês não estão unidos somente pelo corpo, mas por algo mais forte, mais intenso, você percebe que o sentimento ainda está ali, em algum lugar, mas que para ele também não é fácil admitir, você percebe que de alguma forma ele precisa de você, que apesar de você ter errado, ele guardava um sentimento puro, que não se contaminou.
Agora você agradece a Deus por te mandado um presente inestimável, o amor que não se acaba, que se supera todos os dias. Agradece por ter posto na sua vida aquele cara lá, que te magoou e fez você fechar seu coração, pois ai você parou de procurar, e então quem procurava por você te encontrou. E você descobre que se o amor é verdadeiro supera qualquer obstáculo, que errar é necessário, pois quando a gente acerta é esplendido. Você descobre que amar é um desejo de muitos, e privilegio de poucos. E quando acontece nós unimos muito mais que o coração, nós unimos nossas almas, e nos tornamos um só.

Sonhar um sonho a dois, e nunca desistir da busca de ser feliz... é para poucos!

Jamais se esqueçam de que não é possível servir a dois senhores: ou vendemos sonhos ou nos preocupamos com nossa imagem social; ou somos fiéis à nossa consciência ou gravitamos na órbita do que os outros pensam e falam de nós.

O casamento é como um pacto de duas almas e de dois corações que se unem no propósito de caminharem, de vencerem, e de serem imensamente felizes – juntos!

O medo de ser pego é melhor do que a sensação de fazer o errado, mas os dois juntos é a união perfeita.

É neguin, no meu tempo
Nois olhava pros dois lado da rua pra não ser atropelado
Hoje em dia, nois olha pros dois lados
Pra não levar um tiro na cara!

Viver a liberdade, amar de verdade só se for a dois.

Matrimônio: chamo assim a vontade de dois criarem um que seja mais do que aqueles que o criaram. O matrimônio é o respeito recíproco: respeito recíproco dos que coincidem em tal vontade.

XLVIII

Dois amantes ditosos fazem um só pão,
uma só gota de lua na erva,
deixam andando duas sombras que se reúnem,
deixam um só sol vazio numa cama.

De todas as verdades escolheram o dia:
não se ataram com fios senão com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras.
A ventura é uma torre transparente.

O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite lhes oferta suas ditosas pétalas,
tem direito a todos os cravos.

Dois amantes felizes não tem fim nem morte,
nascem e morrem muitas vezes enquanto vivem,
tem da natureza a eternidade.

Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor

Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixões sem freios, nada mais havia ali. (...) Havia apenas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei em igual dose, mas enfim saciados.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881.

Que esforço eu faço para ser eu mesma. Luto contra uma maré em nau onde só cabem meus dois pés em frágil equilíbrio ameaçado.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Intimidade: uma relação entre dois tolos, providencialmente atraídos para a sua mútua destruição.

Porque, quanto a mim, sinto de vez em quando que sou o personagem de alguém. É incômodo ser dois: eu para mim e eu para os outros.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Solidão a dois de dia.
Faz calor, depois faz frio.

Muito bem. Agora sou um homem sem comida, com dois dedos a menos na mão e um a menos no pé do que tinha quando nasci; sou um pistoleiro com balas que não podem disparar; estou passando mal por causa da mordida de um monstro e não tenho medicamentos; tenho água para um dia com sorte; posso conseguir andar talvez uns vinte quilômetros se puser em ação minhas últimas forças. Sou, em suma, um homem à beira de qualquer coisa.

Dois ou três almoços, uns silêncios.

Fragmentos disso que chamamos de “minha vida”.

Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector “Tentação” na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

Caio Fernando Abreu

Nota: Publicado no jornal “O Estado de S. Paulo”, 22/04/1986

Existem dois tipos de homem:
O que tem papo pra boi dormir e o que tem papo pra dormir com a vaca.

"Muitos têm o desejo de me matar. Muitos, o desejo de ter dois dedos de prosa comigo. Daqueles a lei me protege."