Rondo Poesia de Cora Coralina
Raízes de concreto
um azul de inundar areias
de expor um mar de sombras
de dizer que legal
é verão
e muitos verão, o que os homens fizeram
por ganância, inteligência ou estupidez...
Quem dera
colher na fonte a mais pura liberdade
frutificar sem medo,
e combater sempre mais
outras terras gritarão seus heróis
tantos, quanto um exercito
incalculável verdade
prometida profecia
fronteiras das injustiças
entre o mar e o calabouço
omissos desejos
não havendo um muro
a guerra será inevitável
o anseio por ela
esse,
sempre existiu...
Sinto muito
por você sentir quase nada
e isso acaba
com o pouco que por pouco quase existiu
melhor assim
vai que esse quase nada
era...
Entre o sim e o não
há uma decisão
um desafio
uma confissão
um caos instalado
um paraíso, ao alcance das mãos
entre a dúvida e a convicção
um legado, de sorte ou de dor...
vida engraçada
a gente leva tanta porrada
e ainda sorri feito criança
quando a lembrança
traz os ventos da felicidade
não tem idade
todos têm um pouco de loucura
uns tanto que não levam a vida muito a sério
outros demais, chatos pra caramba
mas o que vale é a ousadia de viver
querer
tanto que morrer
é a primeira coisa que não queremos
envelhecemos
para partirmos quando não der mais
para sorrir
ai sim...
Prometo não pegar no teu pé
não te desejar intensamente
não te chamar de amor
prometo não esperar tudo de ti
não querer acordar ao teu lado
ou não viajar o mundo contigo
prometo ainda que se quiseres
tiro o não de todas as promessas acima...
Hoje o dia amanheceu mais ou menos
entretanto os ventos da liberdade sopram
algo vai melhorar
as nuvens, antes densas e carregadas, agora esvaem
os feudos, toscos e aparvoados subestimam a grandeza
e todos numa fila de esperança
depositam suas vontades
o que vencer, não poderá ignorar
o novo tempo, que está para nascer...
Quem quer, precisa conhecê-lo à noite
porque durante o dia, ele esconde preciosidades
e fica azul, tingindo o mar
entretanto à noite, se despe
e na nudez da verdade, mostra a sutileza e a grandiosidade
sem imitar ninguém, rouba a cena
faz do espetáculo, poesia à parte
e encanta quem sabe
que nele, nem tudo é escuridão
Há de o riso resistir
zombando de todas as tristezas
rolando nos gramados feito louco, em tardes de verão
sem medo, ser feliz
acordar
nos fragmentos de uma tela
despertar o dom
há de ter amor, de sobra, de tanto
pelos cantos, pelas frestas, nas colinas
permanecer esparramado na esteira do tempo
e num riso de felicidade, dizer:
vida, valeu...
ERRATA
Do sol, tirei a peneira para abraçar a verdade que me norteava.
Talvez, meu erro foi querer viver amores tendo um amor.
Prostitui meu caráter e me entreguei ao proibido prazer.
Quis agradar gregos e troianos.
Engoli palavras amargas que seriam dadas com embrulho de presente a outras pessoas.
Reguei em meu jardim meu pé de niilismo com as lágrimas que segurei.
Viajei nos sonhos alheios;
Entrei em corpos ruins;
Mas de algo podes ter certeza:
A este que vos fala, faz-se a errata para que aprenda com aquilo que viveu e poderá viver novamente.
O que encantou
entoou eterna canção
desfazendo todos os poderes do mal
do lúdico ao suave da paz
cheiros, aromas e detalhes
de uma vida toda, colocados na mesa
para suave deleite
aconteceu
era o amor chegando de mansinho
sem sentir, sem fazer alarde, feito primavera
calcado na vida
intenso
para não morrer jamais.
"Bruxas são divas que se perfumam
Com essência de terra e canela
Que cantam e cozinham
Dançam e fazem poesia
Poucas vezes elas praguejam
Mas, quase sempre,
São incompreendidas..."
Não chorei a tua perda
chorei a perda que tivemos juntos, pois sonhamos, realizamos e em determinado momento, ficamos sós. Partir foi o que restou para o nosso amor...
Lembra-te do tempo da procura
dos olhares medindo o carinho
Lembra-te da casa cheia
das crianças correndo
e a algazarra no sofá
lembra-te de tudo que sonhamos
Lembra-te do canto escuro, onde juramos amor
onde nossas mãos guerrearam
e venceu a paixão
Lembra-te!
não esqueças nada
porque aqui saudade é o tempo
que acaricia demais o coração...
Exílio Nublado
O lençol me afaga a pele
Suave, mas é traiçoeiro
Ele me cura a angústia
Mas é na cura que ele me fere
E eu me levanto ao avesso
Triste, mas com esperança
De evitar o pedregulho
Que já me causou o tropeço
E eu insisto nas erratas
Ingênuo, mas já sabendo
Que o caminho que percorro
Já tem minhas pegadas
E eu não estou sozinho
Isto é, fora eu mesmo
E eu tento me abraçar
Mas eu sou só espinhos
PAPEL DE MUSA
.
Minha adorada e inspiradora musa
Preciso urgentemente da sua ajuda
Porque a escrever a intuição me compele
Quero abordar o nosso amor sem limites
Mas por ter acabado o meu papel sulfite
Terei que escrever sobre sua pele.
.
Sobre esta testa escrevo
O maior dos meus desejos
Com letras garrafais:
‘Este local é exclusivo
Como lousa e abrigo
Deste poeta e de ninguém mais’.
.
Nestas bochechas rosadas
Deixo as seguintes palavras
Gravadas com simetria:
‘Aqui só tem permissão para beijar
Aquele que sabe me transformar
Em tema para as suas poesias’.
.
Nestes seus lábios carnudos
Com verbetes minúsculos
Deixo um recado meu:
‘Afaste-se destes lábios doces
São dela, mas é como se fossem
Deste amante que neles escreveu’.
.
Neste aveludado pescoço
Sem querer provocar alvoroço
Escrevo ousadamente assim:
‘É aqui onde está o segredo
Para romper da minha musa o medo
E fazê-la se entregar para mim’.
.
Entre estes lindos seios
Escrevo com certo receio
De ser malcompreendido:
‘Estes são os dois culpados
Por eu ficar descontrolado
Diante da minha libido’.
.
Sobre esta barriga
Branca, macia e lisa
Escrevo delicadamente:
‘Não se aproxime deste lugar
Porque é aqui que brotará
A minha secreta semente’.
.
Nesta sua área mais íntima
Registro uma declaração mística
Escrevendo a seguinte mensagem:
‘Este é o meu tapete voador
No qual me acomodo com amor
E levito em emocionantes viagens’.
.
Nestas coxas torneadas
Deixo para sempre gravadas
Estas palavras nas partes internas:
‘Adoro os abraços dos seus braços
Mas eu perco as forças e me desfaço
Ao receber abraços das suas pernas’.
.
De repente ela abre os seus olhos lindos
E percebe que no seu corpo despido
Não existe nem sequer uma letra
Mas isso não a entristece
Porque em pleno êxtase reconhece
Que fiz dos meus lábios uma caneta.
FOLHAS SECAS DE OUTONO
.
Caiam folhas secas de outono
Sobre a terra avermelhada
E no mais repousante sono
Num mundo livre sem dono
Suspirava a moça apaixonada.
.
Ela viu chegar um lindo cavaleiro
Montado num cavalo branco
Ele a arrebatou por inteiro
E sobre o animal faceiro
Saíram a passear pelo campo.
.
Milhares de pássaros entoavam canções
Os jardins estavam floridos e perfumados
Não existiam as quatro estações
E ela sentiu muitas palpitações
Quando percebeu que o cavalo era alado.
.
Lá do alto ela via as serras
E as nuvens que as cobriam
Via também escorrendo pela terra
Alimentando as plantas e as feras
As águas que nos rios corriam.
.
Ao pousar sobre uma colina
Nos braços ele a tomou
E olhando para cima
Viu-se refletida na retina
Do homem que a conquistou.
.
Ela não resistiu aos encantos
E se deixou beijar pelo amante tão hábil
Mas acordou em prantos
Ao perceber que foi o vento brando
Que jogou folhas secas sobre os seus lábios.
ZUMBIS
.
Enquanto um menino sonha ser craque
De futebol outro usa pedras de crack
Para se imaginar alguém feliz
E assim surgem times nos campos
E nos guetos das cidades entretanto
Surgem legiões de zumbis.
.
São seres cujos corpos caminham
Enquanto suas mentes definham
Os transformando em armas vivas
Que para satisfazerem o vício
Fazem uso de qualquer artifício
Chegando até mesmo a tirar vidas.
.
A polícia com rigor os persegue
Usando bombas e cassetetes
E às vezes até os mata
Tal estratégia parece eficaz
Quando este procedimento se faz
Não contra gente, mas contra baratas.
.
Estes zumbis que nos assustam
Nos tornam reclusos e nos furtam
Além do dinheiro a liberdade
Têm que ser retirados do convívio social
Criminosos na cadeia, viciados no hospital
Para que as ruas voltem a ser da sociedade.
.
Quero viver sem medo do perigo
E ao encontrar jovens reunidos
Sob o escaldante Sol
Sentar-me tranquilo na calçada
Apenas para ver a criançada
Jogar mais uma partida de futebol.
BATALHA DAS IDEIAS
.
Eu também quero me manifestar
Contra o que está a me incomodar
Neste País e também no Planeta
Uns marcham com gritos de guerra
Outros brigam como se fossem feras
E eu me manifesto com a caneta.
.
Criticamos os desvios do erário
Nas construções dos estádios
De futebol para a Copa
Mas só tem direito de criticar
Aquele que se põe a gritar
Estando do lado de fora.
.
Todo aquele que vai às arenas
É conivente com a triste cena
Do roubo do dinheiro do povo
Quem grita das arquibancadas
Não tem direito a mais nada
Além de considerar-se um bobo.
.
Eu quero um País sem corrupção
No qual a pacífica população
Possa ter acesso às riquezas
Traduzidas na saúde, educação
Segurança, transporte, recreação
E ao bom alimento na mesa.
.
Mas rechaço o oportunismo
De podres partidos políticos
Que promovem a baderna
Transformando as manifestações
Cheias de boas intenções
Em verdadeiros cenários de guerra.
.
Todo ato violento deve ser reprovado
Seja ele do povo ou do Estado
Para que a vitória se eternize
Porque as lutas inteligentes
Fazem surgir nas mentes
As mais profundas raízes.
.
Grite nas ruas e sussurre aos ouvidos
Ideias que criem conceitos definitivos
Mas que a nossa luta seja harmônica
E se lembre que a arma mais eficiente
Para mudar o que nos faz descontentes
É a poderosa urna eletrônica.
MACHADO DE ASSIS
.
Joaquim Maria Machado de Assis
Mulato carente em cuja cerviz
Pesava o opróbrio do preconceito
Filho de pais pobres
Mas dono de talentos nobres
E de originais conceitos.
.
Criado pela madrasta
Suplantou a dor da desgraça
Da perda da mãe querida
Frequentou a escola pública
Mas sua sabedoria única
Adquiriu na escola da vida.
.
Aprendeu francês e latim
Exerceu atividades sem fim
No universo da cultura
Mas o seu maior legado
Para sempre ficou gravado
Nas páginas da literatura.
.
Foi jornalista, contista
Cronista, romancista
Poeta e teatrólogo
E na fundação da ABL
Foi distinto cerne
E mentor do seu prólogo.
.
Chamava-se Carolina
A musa que inspirava as rimas
Dos seus versos de amor
Ela foi a sua obra mais perfeita
Mas que cometeu a desfeita
De morrer antes de seu autor.
.
A saudade abreviou os seus dias
E os textos que ele escrevia
Não o acompanharam ao cemitério
Ficaram espalhados como a fumaça
Que subia das fogueirinhas da casa
18 da Rua Cosme Velho.
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