Relva
RELVA - CAPITULO 9
De todas cores que agora vejo, a mais bonita é o azul do peixe beta que está no aquário em meu quarto. Minha mãe a chama de Luna, embora eu ache engraçado chamar um peixe pelo nome como se fosse um gato ou um cachorro. .
Luna, tem sido minha companheira. Ela em seu aquário sob a cômoda e eu no meu aquário chamado quarto. Somos assim. Cada um de nós leva a vida semelhante ao peixe que me refiro. Temos nosso próprio habitat limitado
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Nossas amizades aquário.
Nosso trabalho aquário.
Relacionamentos Aquário.
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Qual de nós não conhece alguém que vive pura e simplesmente por aparência, com a vida cheia de flores de plástico, pedrinhas simulando o fundo do mar, Luna tem um boneco simulando um mergulhador soltando bolhas vinte e quatro horas sem parar. Rotina insana. Falso oxigênio. Embora mórbido. Luna parece feliz, desliza o dia inteiro pela extensão do quadrado de vidro. Vez ou outra adormece e fica em um cantinho. Logo se acende quando minúsculos grãos de atenção caem na superfície da água
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Nós humanos somos assim, vivemos em nossas vidas aquário, nossas lágrimas se misturam à água do aquário cotidiano
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Meus pais são assim, vivem uma vida de aparências, a mais de 25 anos. Me sinto culpado pela infelicidade deles. Permaneceram juntos "para-cuidar-do-filho-cego" todo esse tempo; hoje não mais. Agora que enxergo. Sou a carta de auforria dos dois. Porém algo me diz, que mesmo infelizes, eles continuarão juntos. Convivendo na mesma água. Vida de plástico, sem cor. .
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Eu e Sara faremos um trato, de não permitir que nossa vida seja um aquário, somos peixes de oceano
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Amor Oceano
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CONTINUA
RELVA - CAPÍTULO 10
Quando nos encontramos pela primeira vez depois da cirurgia de Levi, ele ainda de óculos escuros me olhava com tom de surpresa. Até hoje não sei se era um olhar de agrado ou decepção. Dias depois quando não precisava mais usar óculos, Levi me observava sempre como se quisesse me dizer algo. Me deixando até sem graça as vezes. Olhar de contemplação como se eu fosse um quadro estranho ou um fantasma.
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A verdade é que se apenas olharmos, não vemos, ver, requer de fato, um senso de reflexão. Analisar o que vemos e realizarmos nossa própria leitura. De forma geral, a gente vê, o que quer ver
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- Eu te amo - disse Levi. - Oi? respondi surpresa.
Levi tem esses rompantes de surpresa de vez em quando, do tipo de quem pensa alto e acaba falando o que sente.
- Isso mesmo Sara, você ouviu. Das coisas que passei a ver, depois que voltei a enxergar, você é a mais linda. Fisicamente e principalmente de alma.
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Abracei o elogio e Levi com um abraço apertado. Nossos corações batiam juntos
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- Te amo também Levi. Com um amor tão grande que não cabe no meu peito. - Boa Tarde crianças! - disse meu pai como um juiz de futebol interrompendo uma partida. Nos desabraçamos rápido como se tivéssemos 12 anos. Meu pai adora nos ver constrangidos, fazendo graça, é óbvio que ele sabe que eu e Levi temos uma ligação. Mas como ainda não assumimos um namoro formal, pra ele somos apenas amigos. .
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Todo namoro começa com amizade, cumplicidade, carinho. Toda casa bem firmada é construída sobre um bom alicerce .
Quando os alicerces de uma casa se destroem, por mais bem arrumada e mobiliada, em algum momento ruirá
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CONTINUA
RELVA - CAPÍTULO 11
Finalzinho de tarde, nos encontramos no casebre.
Um local onde os pais de Sara guardam ferramentas,
um pouco distante da casa principal, gostávamos de ficar por lá
quando crianças, brincando.
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Hoje, nossas brincadeiras mudaram. Sara e eu, estávamos desejosos
de um momento a sós. Depois que voltei da internação. Depois que
nos beijamos de uma forma singular e inesquecível. Depois que comecei
a enxergar e ver o quanto ela é linda. .
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A sós. Nos beijamos. Nossas mãos tocaram um ao outro, e mesmo podendo
enxergar, fechamos os olhos. Mãos aquecidas tocando o corpo, Sara abriu
o botão da blusa, expondo seu sutiã de renda, tirei a camisa e nos abraçamos.
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Mesmo vendo. De olhos fechados. .
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Incrível como fechamos os olhos ao beijar e experimentamos a sensação
de só sentir, olhar o toque, perceber o cheiro. Enxergar a alma.
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Estávamos constrangidos, sim, mas desejosos, um pelo outro.
Corações em pulos, felizes, viajando em nosso universo
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Não aconteceu nada além de beijos e caricias, mas o suficiente
pra que eu soubesse; Sara é a mulher da minha vida
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Eu a escolheria
de olhos fechados.
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CONTINUA
RELVA - CAPÍTULO 13
Encontramos um filhote de pássaro morto embaixo de uma árvore. Provavelmente caiu do ninho, os pais sobrevoavam cobrindo-o com folhas secas. O carinho e o cuidado dos pais é uma lição. Ninho vazio, eles ali estavam, solenemente preservando aquele que poderia ter sido um pássaro cantante, mas pelo acaso do destino, não pôde ser.
Observamos aquilo, Sara se emocionou e me abraçou.
Mesmo sendo a única certeza da vida. Não estamos preparados para a morte. Para o fim das coisas.
Lidar com a perda é algo que o ser humano aprende no curso da vida.
Aprender que nem tudo vai dar certo. Nem todas as histórias terminam com um final feliz. Nem todos os animais são sutis e afetuosos, alguns felinos logo após o parto, se afastam da sua prole e alguns até comem seus filhotes ainda vivos. Não por crueldade. Mas por instinto.
Ali abraçado com Sara, pensei nos meus pais, e o processo de separação que estão passando. Ambos estão colocando folhas soltas sobre mim, pra me proteger, sabem que não aprovo a separação, mas não posso ser egoísta e imaginar que eles precisam morrer em vida, juntos, apenas por minha causa.
Meu pai, sisudo, há anos, troca poucas palavras com minha mãe, que por sua vez, ameniza, dizendo que a vida é assim, "ruim com ele, pior sem ele" sempre diz.
Frase clichê para evitar a tempestade, como quem precisa sair na chuva, mas sabe o que guarda-chuva não aguentará o peso das águas e irá inevitavelmente se molhar.
Sara nem imaginava o que eu estava pensando, mas como se pudesse ler meus pensamentos, me disse:
- Levi, mesmo que um dia fiquemos sem assunto, nosso ninho fique vazio, eu amarei você com todo meu coração, nunca te deixarei sozinho.
- Te amo - eu disse.
Nos abraçamos forte e voltamos pra casa com passos lentos apreciando a paisagem e o canto dos pássaros.
Pássaros que não caíram do ninho. .
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CONTINUA
Ele traz vida consigo, faz a relva torna verdejante.
Cai do alto e molha toda terra, fazendo flores e frutos produzir.
É ela, a chuva.
"Chuva que cai sem para, quase me mata de tanto esperar..."
Deitei-me sobre a relva e enquanto olhava o céu, um raio forte de luz veio na minha direção, provocando em mim uma sonolência incontrolável, não sei por quanto tempo. Só sei que quando os abri, contemplei a casa dos meus sonhos na colina com vista para o mar. Do livro: PAGINAS QUE O TEMPO RASGA.
Amanhã! O que será de mim sem o amanhã?
Sem o cantar dos pássaros, o cheiro da relva molhada no orvalho.
O que será do céu sem as estrelas, do sol sem a lua?
Das areias da praia sem o mar.
O que será das plantas sem a água, da terra sem a semente.
O que será do vento sem a brisa, das rosas sem os homens para apreciá-las.
O que será do coração sem o amor, do sorriso sem a felicidade…
São tantos que perdem sem essa nobreza da vida que só de pensar já da vontade de imaginar o que será de mim sem a mulher que amo.
O que será de mim sem você?
O ar da manhã,
respiro.
No calor do sol,
transpiro.
Sobre relva molhada,
me viro.
O vento me sopra,
espirro
Na preguiça da tarde,
suspiro.
Na poesia da noite,
me inspiro.
Sob a luz das estrelas,
cintilo!
PERFUME NO AR
Suspenso no ar
o perfume da relva que veio banhar,
o corpo desnudo na cama a revirar,
esperando o amor que está para chegar.
Suspenso no ar,
o perfume da chuva que cai devagar,
nas entranhas da terra para encharcar,
a alma esfuziante que quer se entregar.
Suspenso no ar,
o perfume da sereia que veio do mar,
que usa “Água de Colônia” para embriagar,
os sentidos de quem deseja namorar.
Suspenso no ar,
perfume da noite que chega num açoite,
fazendo o desejo, no seu silêncio, despertar
e na loucura da paixão estonteante flutuar
AGORA SEI
Hoje saí a tua procura
Desci as escadas e na relva caminhei
Ar de outono, envolto em candura,
Olhando para o céu, não te encontrei.
Percebi raios brilhantes de doçura
Que rompiam as nuvens escuras, que avistei.
Um calor intenso, repleto de ternura
E teu corpo inteiro em mim, eu desejei.
Carícias intensas incitando a loucura
Do dia em que em teus braços, estarei
E olhando nos teus olhos, te direi: - Sou tua!
Tu estás em mim, e agora sei
Que o equilíbrio do amor é a formosura
E tua alma o perfume da paz, que aspirei.
Assim sou
Nasci para ser flor, espinho ou relva;
Quem sabe cactus?
Do sertão o verde; do mato a cor.
Não sei, não sei se sou da rosa o rubro;
Da vida a cor, nasci; assim sou.
Do mar, a concha; da vida, o amor.
... O riso...
Quem sabe a dor?
Não sei, assim nasci.
A estrada longe...
O amor, o desamor.
Assim nasci, assim sou.
A flor do campo; da brisa, o orvalho
A noite; o dia.
A luz, não sei.
Assim sou.
A mata; a duna; o perto; o longe;
O silêncio; o canto;
O barco; a vela; a saudade
Ou a felicidade?
Não sei, assim sou.
O silêncio; o riso;
O Sol; o fim da tarde;
O olhar que partiu; que ficou;
A onda do mar;
O barco que surge; a felicidade;
O pescador; A areia;
O ficar; o verso e o inverso;
O que nem sei dizer se sou;
Assim... sou!
(Ednar Andrade).
...Após minhas especulações apropriadamente ditas, consenti a meu favor debruçar-me sob a relva de minhas emoções. Não tão nostalgicamente ditas, mas irrelevantemente adicionadas ao meu simples e sutil cotidiano...
Por detrás
Daquela relva havia um rio de certezas
Escorrendo águas de vida
Dentro de su'alma
Poética.
O auge das suas vivências está nas coisas que estão ao seu redor:
Na relva que se estende diante de sua casa.
Na rosa em cima de sua mesa..
Na música que você ouve.
No silêncio que você se concede
As belezas estão todas aí...
Você só precisa percebê-las.
Cika Parolin - Fevereiro de 2014
mantherpak
Eu vi um lago azul
sua superfície era límpida
e ao seu redor a relva parecia mais verde
as arvores mais frondosas
e os animais que ali iam beber água
possuíam uma calma estranha
um total desapego ao medo
eu desejei de todo meu ser
me tornar parte daquele cenário
eu queria virar uma arvore
e passar minha eternidade
vendo-me refletido no lago
balançando meus galhos
ao sabor do vento e vendo meus frutos alimentando os animais
mas eu não era dali
só que essa visão estava tão encravada no meu ser
que não percebi
que não pertencia aquele lugar
e que mesmo gostando tanto da visão
e da gostosa sensação de conforto e aceitação
um lugar calmo ao sol não é pra mim
e o lago está fora do meu alcance
nem lembro o que perdi por tentar ficar
só lembro que cheguei a tentar plantar meu pés na terra
e me esquecer de mim
balancei ao vento
mas ao invés de conforto agora acordo em desespero
por saber que por pouco
não fica muito tarde pra voltar
e eu nem sei como cheguei aqui
o quanto eu desci
eu lembro de um tempo
antes que o lago me tentasse
em que as verdades absolutas
pareciam a mim irrelevantes
só desculpas inventadas por aqueles
que necessitam de uma explicação para continuar
mas agora que eu me encontro nessa situação
as risadas que dei antes parecem ter saído da boca de um estranho
eu não o reconheço
e isso me aterroriza
mas do que posso explicar a mim mesmo
eu encontrei um demônio no fundo do lago azul
criado por mim mesmo
e que me aterrorizara por toda a minha vida
mas mesmo assim
era lindo aquele lago azul
e eu quase acreditei realmente
que poderia viver lá
vento bate sobre relva e deslumbra
as veredas que ardem ao sol,
meramente matutino ao expor da vaidade
em muitos sonhos a realidade,
que passa sobre as asas dos pássaros,
perde se em num céu cheio de magica,
o vulto paira nas colinas que por sua vez
revela a vinda de uma tempestade.
aparecendo o amor de tantas primaveras.
