Recusa
"O mundo não muda quando o gigante vence. O mundo muda quando o pequeno se recusa a ser esmagado."
—Purificação
No jardim, a flor se ergue a brilhar,Mas recusa o toque do jardineiro a regar.
Com suas raízes, ela prefere a solidão,
Ignorando a mão que a oferece a proteção.
O jardineiro, triste, mas sábio a entender,
Viu que forçar seria fazer a flor sofrer.
Decidiu então, com coração sereno,
Deixar a flor em paz, sem mais o seu veneno.
Assim, a vida segue, sem pressa de mudar,
O jardineiro respeita, sem insistir em cuidar.
Às vezes, o amor é o silêncio profundo,
Deixar ser livre, sem aprisionar o mundo.
Um espelho antigo se recusa a refletir em protesto ao tempo que passa avassalador, levando a beleza e a juventude das almas que não têm forma e não envelhecem.
O poema é uma travessia entre a palavra e o silêncio como uma música cadenciada. A palavra diz, o silêncio reflete, a palavra se debate e sem porquê encontra um ponto final.
As palavras não sabem que têm raiz, apenas crescem para o alto ignorando que a seiva que as mantém frondosas nasceu antes de seus troncos. É o divino agindo silenciosamente. As árvores querem o céu, mas as raízes as deixam presas à terra, onde é seu habitat, o planeta azul.
Ao fechar os olhos, um pássaro não conhece limites terrenos e é capaz de atravessar um vitral concreto.
Com os olhos fechados, um pássaro pode atravessar a atmosfera sem mover suas asas.
Às vezes a ignorância salva, o pássaro com olhos fechados é capaz de ultrapassar qualquer barreira, pois desconhece limites.
Por que eu ainda resisto?
Eu resisto porque sou mais que eu. Eu sou o exemplo da vida que persiste, dos passos incontinuos. Eu sou força impetuosa e livro de resiliência para aqueles que me leem em silêncio.
Vazio é a falta, onde nada encontra abrigo, é o nada, o niilismo cego. Ausência é algo que existe, mas está ocultado, uma pausa entre o não ser e o eterno retorno.
Quando a luz deixou de entender o sol, um enorme eclipse se apresentou à Terra. Foi belo, mas fugaz, pois a luz e o sol são uma mesma polaridade, inesculpavelmente como o ar que nos faz humanos.
Se a tristeza tivesse uma geografia, ela seria uma montanha, pois não há nada tão grandioso como uma dor sincera, buscando abrigo em outros corações.
A junção de tempo e memória se traduz em um elefante idoso que chora cada morte de cada um de sua manada. Ele jamais esquece um companheiro de jornada. Sua memória é leal como a vida em suas etapas irremediáveis.
A linguagem nasceu de uma rocha, calada há séculos. De seu silêncio nasceram sinais, que viraram letras e palavras. Dentro da rocha imutável dormia uma famosa invenção, que floresceria em todo o mundo.
Confundir sigilo com mentira é um erro que ignora a importância da descrição; minha recusa em me expor totalmente não é uma falha de caráter, mas uma forma de evitar a intromissão e me resguardar de energias e pessoas prejudiciais.
A intolerância religiosa é o eco de uma mente que se recusa a ouvir a humanidade no outro, trocando a fé pela cegueira e a convivência pela violência.
Esqueça os momentos em que a alma se recusa a florescer.
Mesmo assim, floresça.
Seja alguém em busca de mais.
Mas nós, que temos ouvido pelas Escrituras que a escolha autodeterminadora e a recusa foram dadas pelo Senhor ao ser humano, descansamos no critério infalível da fé, manifestando um espírito desejoso, visto que escolhemos a vida e cremos em Deus através de sua voz.
Clemente de Alexandria, 150-215, Stromata, II, 4
A ignorância que se recusa aos fatos não é falta de conhecimento, mas um tumor da razão que corrói a verdade e sepulta a própria humanidade em sua arrogância.
A paz mundial começa quando o coração de um só homem se recusa a odiar e decide amar como se o mundo inteiro dependesse disso.
As vezes a única maneira de domar um animal selvagem que se recusa ser domado, é mostrando que pode ser mais cruel que ele.
Nessa sociedade há dois papéis: o de opressor e o de oprimido. Quando você se recusa a assumir o papel de opressor, assume-se que você aceitou o papel de oprimido.
Talvez seja melhor dar um tempo na carreira literária do que sentir que minha alma se recusa a encerrar.
Explicar racismo a quem recusa escuta, muitas vezes, se assemelha a implorar que adultos — de qualquer origem — não joguem lixo no chão: um esforço exaustivo, contra o óbvio, feito para preservar um mundo que não foi eles que sujaram.
Reconhecer contextos não é sinônimo de absolvição, mas de compreensão.
A recusa em ponderar nos torna prisioneiros do ódio, da pressa e da incapacidade de enxergar nuances.
Saiba que sua voz não se perdeu no vazio. Ela encontrou ouvidos atentos e um coração que se recusa a ignorar o seu sofrimento. Eu me recuso a ver sua dor como uma mera estatística, um item em uma lista de infortúnios. Ao invés disso, vejo uma oportunidade. Uma oportunidade não apenas de oferecer um lanche, mas de estender uma mão, de restaurar um pouco da crença na humanidade que a vida, em sua brutalidade, pode ter tentado apagar.
