Poeta
A beleza envolvente de uma bela mulher deixa a imaginação de um poeta embriagada. E se ele não se cuidar, o seu coração o deixa no mundo da lua.
Tudo que é belo atrai o poeta, assim todas as mulheres lhe fascinam, contudo, apenas a musa lhe completa, a sua noção errônea de completude.
FINGIDOR
Poeta é tão sentimental
Finge o "que deveras sente"
E às vezes é providencial
Para não parecer incoerente
Na verdade, é sua armadura
Uma maneira de se defender
Às vezes a vida é tão dura
Que só lhe resta escrever
É sua forma de se expressar
Vivendo o que é inacessível
E nele podem ou não acreditar
Mas fingir amor? Impossível!
Ele é denunciado pelo olhar
Numa alma que é tão sensível...
O poeta sempre será um fingidor, viverá intensamente e sentirá a dor, a dor deveras que o mesmo sempre pressente.
Céfalo — Certa vez, indagaram ao poeta Sófocles, em minha presença:
— Qual é tua opinião a respeito do amor, Sófocles? Ainda te julgas capaz de amar?
E ele respondeu:
— Falemos baixo! Libertei-me do amor com o prazer de quem se liberta de um senhor colérico e truculento.
A República de Platão
Respondendo ao desafio do Vaqueiro aboiador.
O desafio foi aceito
e o poeta aqui chegou
eu não canto do seu jeito
porque vaqueiro não sou
mas eu admiro a arte
e fazer verso faz parte
e por isso aqui estou...
ÊÊÊÊÊÊ.
E o vaqueiro consagrou
a arte de fazer toada
mas aqui tu encontrou
alguém que não leva lapada
o seu verso é soberano
mas eu sou Paraibano
Cabra da rima afiada...
ÊÊÊÊÊÊÊ.
Já tive uma namorada
lá pra bandas do sertão
moça simples e educada
apegada em religião
mas depois fiquei solteiro
por causa de um vaqueiro
que roubou seu coração...
ÊÊÊÊÊÊÊÊ.
Hoje estou na solidão
sem ninguém pra me amar
se sangrou meu coração
um dia vai se curar
e eu ando país inteiro
procurando um vaqueiro
pro mode deu me vingar.
ÊÊÊÊÊÊÊÊ.
Há dois homens no interior do artista: o poeta e artesão. Um já nasce poeta; o outro se torna artesão.
Você sabe qual a causa das palavras do Poeta?
Será o amor ou a tristeza? E as lágrimas? Também fazem poesia?
Qual a fonte de tanta inspiração?
Ocasiões ou sentimentos? Força ou fraqueza?
Angustia?
As vezes nem mesmo na dor somos capazes de produzir palavras poéticas!
Mas e o amor?
Eu sei o que é o amor! Mas eu ainda não sei amar...
Como eu vou falar de amor se eu não souber amar, eu preciso de alguém para me ensinar!
Quem é o poeta? Oque faz a poesia?
Palavras poéticas?
Eu sei que os poetas não têm medo, e que o que flui em suas palavras é estritamente de dentro, no fundo da alma e do coração...
Quer saber a causa da minha inspiração?
-É a primeira palavra deste poema.
Permanência
Não peçam aos poetas um caminho.
O poeta não sabe nada de geografia celestial.
Anda aos encontrões da realidade
sem acertar o tempo com o espaço.
Os relógios e as fronteiras não tem
tradução na sua língua.
Falta-lhe o amor da convenção em que nas outras
as palavras fingem de certezas.
O poeta lê apenas os sinais da terra.
Seus passos cobrem
apenas distâncias de amor e de presença.
Sabe apenas inúteis palavras de consolo
e mágoa pelo inútil.
Conhece apenas do tempo o já perdido;
do amor
a câmara escura sem revelações;
do espaço
o silêncio de um vôo pairando
em toda a parte.
Cego entre as veredas obscuras é ninguém
e nada sabe— morto redivivo.
Tudo é simples para quem
adia sempre o momento
de olhar de frente a ameaça
de quanto não tem resposta.
Tudo é nada para quem
descreu de si e do mundo
e de olhos cegos vai dizendo:
Não há o que não entendo.
Não escrevo com gênero defenido
Porque quando um poeta escreve
Por mais triste e sentido
Ninguém entende o que é dito.
As Possibilidades Perdidas
Fiquei sabendo que um poeta mineiro que eu não conhecia, chamado Emilio Moura, teria completado 100 anos neste mês de agosto, caso vivo fosse. Era amigo de outro grande poeta, Drummond. Chegaram a mim alguns versos dele, e um em especial me chamou a atenção: "Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive".
Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais.
Nota: Texto originalmente publicado na coluna de Martha Medeiros, no website Almas Gêmeas, a 20 de agosto de 2002. O texto é inspirado no poema "Canção" do autor mineiro Emilio Moura.
...MaisPalavras de ordens
"Patativa do Assaré poeta do sertão, reivindicando seus direitos rumo a revolução"
Ser poeta é mais que formar lindos versos e encantar corações.
É sentir com os olhos da alma e transcrever em palavras inexplicáveis emoções.
É amar, sonhar acordado, chorar sorrindo...
Ser poeta é dom Divino. É ser homem, mesmo sendo um eterno menino!
(Luiz Machado)
E pinga a tinta que inicia a obra, de um poeta,
com a caneta onde a ponta, aponta um conselho.
Inquieto me aquieto enquanto a mão arquiteta
escrituras, que registram tudo que aconselho.
POETANDO
O poeta é um amante eternamente insatisfeito. Entre a paz do doce lar e as incertezas das noitadas, prefere se esgotar nos braços das madrugadas, beijando estrelas, acariciando a lua, deitando e rolando nas praias, perseguindo estradas, pulando cercas, usurpando alcovas de cetim, invadindo cabarés, escolhendo trilhas, adentrando Casas da Luz Vermelha, galgando montanhas, repetindo mergulhos abissais em busca das sereias, adentrando bosques ansiando fadas, esgotando bares...
(Juares de Marcos Jardim)
