Poesias de Pedro Bandeira Mariana
Meu pequeno Gigante
Quando eu era uma menininha
Papai me carregava ao pescoço.
Ele era do tamanho da Torre da nossa igreja.
Lá de cima eu via o mundo fantástico.
Ficava tudo muito longe de mim.
Eu ia a balançar as pernas
Manejando o meu leme, a cabeça de papai.
Quando ele me punha no chão, gritava:
Agora veja se me alcança.
Eu saia dando pulinhos tentando cobrir
Suas passadas
Sem jamais conseguir
Também pudera. Papai era um gigante
Que calçava as botas de sete-léguas.
Ele já se foi pra outra morada
Eu fiquei aqui com a saudade e a doce lembrança
De um pequeno pai com um pouco mais de um metro e sessenta.
Apaixonada
As minhas madrugadas fervilham de sonhos
Eu os apanho nas notas musicais soltas das vozes
Que brotam das gargantas apaixonadas
Embriagadas de luares tintos de luz
E dos amantes bêbados de amores
Dos chilreado quente e agudo que o prazer
Provoca quando o roçar dos lábios
Desemboca
Num quente e ardoroso beijo.
E sou fico assim enamorada
Apaixonada
Pelo amor.
Mundo de Alegria
Não vou economizar candura
Nas minhas palavras recheadas de amor
Nem na brandura
Dos meus gestos e carinhos
Quando chegares
E bem devagarinho
Ei de sorver o teu cheiro
E provar do teu sabor
Terei mais vida no meu mundo
E um mundo de alegria em minha vida
Meu coração é quem me diz
Talvez eu fique tão emocionada
Que eu posso até morrer de tão feliz
Migrantes
Migro minguando a minha vida
Já esfacelada pelas intempéries
De uma Nação em desconstrução
Abatido. Faminto e desesperançado
Magras migalhas me jogam por onde passo
Penetro
Estreitas passagens debaixo de arames farpados que
Roçam minha pele abrindo feridas pelo meu corpo
Ou pulo cercas
Suado. Cansado pelo caminhar desnorteado.
Minguantes. Crescentes. Novas
A Lua não muda a minha sorte
De migrante destruído pelas armas
E corações empedernidos
Com discursos de ódio
Locupletam as esferas de poder
E por querer
Um mundo indiferente
Patético, assiste a minha triste sina...
De ter nascido numa Pátria fria
Calculista.
Onde o ouro negro jorra
Materialista
Contrastando com o vermelho
Dos que tombam sem nenhuma chance de vida.
Ainda que como a minha
Vida MINGUANTE.
Miligrama de verso XXIII
No dia em que milagrosamente, o meu caminho com o teu se cruzar...
Podes se quiseres, até me abraçar.
Quando nasci
O amor escolheu entre 7,2 bilhões de pessoas
Você e eu pra entrarmos num caleidoscópio
De olhares refulgentes. Tintos do vermelho
Das paixões ardentes.
O amor ordenou que eu atravessasse milhões de
Invernos rigorosos para estar aqui
Neste verão ardente diante do seu olhar
Exigiu que eu permanecesse muda e quieta
Diante das vitrines dos homens deste mundo
Eu não os via. Não os ouvia.
Era uma vivente assexuada e fria
Agora, você me olhou. E então
Aconteceu uma explosão
De querer vivenciar, saborear o amor
E, somente Neste mágico instante...
Que de fato, nasci.
Explosões
O riacho soluçou sombrio
Havia sonhado ser um rio
O rio queria ser um mar aberto
O mar sonhava ser deserto.
O deserto pedia ser abismo
O abismo sem nenhum altruísmo
Queria ser o nada devorador de tudo
E o nada emitia um agudo
Bocejar de esperança de virar ao menos
Um riacho inda que pequeno.
Insípido, vagaroso e sereno.
É a vontade da essência que se dilata atrevida.
É a vida que explode dentro de outra vida.
Verdade tão bonita que faz jus ao próprio nome
Até Deus quis ser outro, e nasceu homem
Meu Manacá
A Lua está no teu sorriso cheio
De promessas de amor com que me acenas
Deixando-me prisioneira e feliz nas tuas redes
Os teus braços são laços de ferro fundido
Quando abarcas meu corpo e fugir nem poderia
Mesmo que quisesse, mas não quero.
A tua boca é o mar mediterrâneo
Que se abre sobre mim e me engole inteira
Sou tragada pelas infinitas ondas
De carinhos da tua essência
Teu cheiro é manacá na madrugada
Exalando um perfume embriagador
Teu nome tem a sonoridade da palavra amor
Bem-te-vi
Bem-te-vi não vi meu bem
Pelos caminhos que trilhei
Ele deve estar aqui, porém...
Não andou por onde andei
Bem-te-vi vê se me ajuda
É enorme a minha dor
Tudo passa tudo muda
E não vejo o meu amor
Às vezes vivo às vezes morro
É dilacerante a minha dor
Na estrada que eu percorro
Não encontro o meu amor.
Meu desgosto é profundo
Meu pesar causa torpor
Vi, não vi, vi todo o mundo
Só não vi o meu amor.
Minha pena não é pequena
Meu viver é um constante dissabor
Vi tanta gente, vi o rico o indigente.
Mas, não vi o meu amor.
Ah! O Amor...
Eu dei inúmeras chances para o amor
Que sequer me deu uma única
Desconstruí meus projetos de felicidade a dois
Aprendi a me amar o suficiente pra seguir
Pela vida sem um par
De amor, de brincos, de qualquer outra coisa
Que me transforme em dona.
Tenho o nada por pertencimento de coisas
Mas, porém, me fortaleci em sentimentos
Ainda que solitária, sou um ser de Luz.
Miligrama de verso XX
Podes ir para o outro lado do mundo
Posso nunca mais ouvir falar de ti
Ouvir teu nome.
Jamais te esquecerei.
E olha que já tentei todas as rotas de fuga
Nenhuma surtiu efeito.
Nada
Lá vem a saudade roubar
A minha cor, me desbotar
Mudar meu tom de ouro em amarelo-pálido.
Transmutar minha melodia em uivo lancinante.
Meu tom destoar e aferroar minha garganta
Até que eu grite ou fique muda.
Esvaziar minha alegria, murchar minha euforia
Derrubar-me do pedestal da minha indiferença
E deixar a minha crença
No amor virando nada.
E desobrigada
De crer e de ser.
Boba e Insonsa
Não sei por que, mas deixei a minha alma
Pendurada em uma cerca de arame farpado.
No meio de um pasto.
Quando atravessei por ela
Ela quis ficar ali retida naquela morna paisagem
No meio do nada.
E quando estou triste, cansada, desiludida, é lá que eu fico
Paralisada
Sem memória da minha real história
E do porquê de ser são tola e pequena assim.
Talvez que eu sinta a minha vida
Igual àquela nesga de lugar
Boba e insossa.
O choro da Mãe TERRA
Rasguei a minha carne e engoli meus filhos
Ainda regurgito alguns aflitos,
Outros padecem nas minhas entranhas
Para serem completamente esmagados pelo meu peso insuportável.
Não estável
Devido à movimentação das minhas placas tectônicas.
Que estão à deriva sobre um magma incandescente
Onde sobre elas transita muita gente
E não posso me acomodar indefinidamente
Com a estabilidade da inércia.
Vez ou outra revolvo e fraturo minha coluna
Despedaço-me e fabrico milhões de lacunas
No meu corpo
Num sopro
De morte
E sem mesmo querer
Fazer padecer minhas crias
E depois vou chorar com a garganta do vento
Explodir em lágrimas de amar, o mar
Tentando tragar
A incomensurável dor
Dos padecentes sobreviventes.
Amor
Foi inevitável
Quem me dera pudesse fugir
Não pude. Não posso, não poderei jamais
Cessar o rio caudaloso que deságua na minha alma
Revoltoso. Tempestuoso qual paixão
Só tal, pois qual não é
Arrasta-se pelo tempo desde o início
Imortal.
Então amor
Porém, fatal
Não cessará a chama devoradora
Arrebatadora que só faz aumentar
Vilão que me consome
Tira meu chão e me joga à deriva
Sem piedade
Tragando-me a eternidade
E tudo o que vejo e percebo
Não vai além de você.
Meu Universo
Meu motivo.
Minha vida, minha morte
Minha sina e minha sorte.
Miligrama de verso XXI
Pia... pia... pia...
De agonia
Minha alma
Piu... piu... piu...
Quem foi que viu
O meu amado
Eu não vi não.
Chora... chora... chora...
O meu coração.
Vida e morte.
Faço-me leve pra que me carregues.
Torno-me doce pra que me tragas.
Tempero-me de ternura pra encher o teu pote
E embriagares bebendo em minha boca
Minha saliva que em amor dissolvida
Penetra nas tuas papilas e ensopa teus sentidos
Meus sabores vão de adocicados
Aos extremos apimentados
Quando gemo de prazer mordiscando a tua boca
E rolo me enrolando no teu colo
Entranhada num abraço
De vida e por que não?
Que de tão forte.
Também o é, e muito mais, de morte.
Folha seca
Sou uma folha seca ao léu
Solitária...Ao relento...
Sopra o vento
Qualquer vento
Mínimo vento me carrega
Pra bem longe
Desgarrada da origem
Atravessando uma existência inteira
Sem amores
Murchando...
Morrendo
E lá vou eu percorrer
Mundos estranhos
Alheios à minha vida
Cheio de multidões
Com nada a ver comigo
Talvez eu caia
Numa noite chuvosa
Em poça de lama
E fique lá até virar humo
Apenas...
Para Cristiano Araújo
O uirapuru há de calar sentido
Lembrando do menino que partiu tão cedo
Pequeno tempo pode ser vivido
Pelo cantor que se jogou sem medo
Nos braços de uma plateia embevecida
Ficando a voz num ressoar de asas
De Anjos e Arcanjos que o receberam
Lá no alto, patamar de glória.
Verá o mito toda a sua história
Desfiar nas bocas tantas que o amaram
Partiu... Que pena...
Quanta dor!
Fica a saudade
Que nada mais é do que a lembrança
Recheada de amor.
Comunhão de almas
Quero que permaneças ao meu lado
Depois de todas as minhas estórias serem contadas
Ainda que com voz rouca e trêmula pelo cansaço
Do tempo eu gagueje ainda ruborizando com teus beijos.
Um leve toque no meu colo
Um murmúrio em êxtase pelo teu olhar
Infiltrado nos meus olhos
Ardentes e apaixonados
Mesmo depois que o tempo tenha descolorido
O brilho e o viço da nossa mocidade.
Continua segurando a minha mão
E fica em silêncio porque as palavras
Já não serão mais necessárias
E os nossos corações já conhecedores
Das razões um do outro
Saberão traduzir nossos desejos.
E sem rodeios, seremos....
Corpos em comunhão de almas.
