Poesias de Luis de Camoes Liberdade
Masculino singular
Se quiseres dormir,
Não sou o sono,
Nem tão pouco a cama.
Procure outro lugar.
Se quiseres despertar,
Sou o despertar.
Masculino singular,
Louco pra te acarinhar.
Se quiseres amar
Venha me encantar.
E em mim pra sempre
Poderás ficar.
Como vai você?
Madrugada lenta,
Onde escondeste o dia que não chega?
Morto neste colchão,
Abraço o silêncio e a solidão.
Atrasado chega o dia, bocejante,
E pede que me levante.
O hotel se torna borbulhante.
Já sei que a rotina será maçante.
Sem escolhas vou adiante.
Bom dia. Como vai?
Olá. Tudo bem?
As pessoas bem dormidas,
Não sabem da minha vida.
Das esquinas descabidas.
Das péssimas investidas.
À tarde os importunos se multiplicam,
Ficam ainda mais pedantes.
Sem escolhas vou adiante.
Tentando não parecer arrogante.
Boa tarde. Como vai?
Olá. Tudo bem?
A noite outra vez me escolta,
Sábia e cheia de contra indicações.
Sigo cabisbaixo conduzindo minha revolta.
Ainda encontro uma multidão
Chata e sem emoção.
Boa noite. Como vai?
Olá. Tudo bem?
Em fim fico só comigo,
Empalideço a fisionomia.
Deito em meu jazido.
Meu corpo parece
Embalsamado pra aula de anatomia.
Entre paredes melancólicas deste mausoléu.
Refaço minhas angústias.
Minha consciência atrevida,
Pra infernizar ainda mais minha vida,
Pergunta destemida:
Olá. Tudo bem?
Como vai tua vida?
Aprendiz
Discutimos Aristóteles.
Platão, existencialismo.
Discutimos
O estado.
Atenas,
Esparta.
Discutimos
Classes,
Sociedade,
Competição.
Discutimos
Como bestas.
Como bostas.
E o que importa se Deus existe?
ESCRITOR E POETA
Há poucos dias, vendo uma entrevista na TV câmara com o escritor Ledo Ivo, (falecido recentemente) o apresentador citava o entrevistado como escritor e poeta. Logo apareceu a legenda “escritor e poeta”. Sempre se fala assim. Pensei: o poeta é o quê, afinal?
O SEQUESTRO
Após o sequestro fui roubado.
Levaram-me a vontade de escrever.
As rimas.
Os versos.
O poema da poesia.
Dureza foi ver a inspiração
Sendo carregada sem dó.
Eu que a preservava tanto.
Mas eles, pra meu espanto.
Consumiram-lhe em uma vez só.
Meu último poema
Foi arrastado ainda inconcluso.
Puxaram-no pela perna.
Ainda estava tão frágil,
Tinha versos pela metade.
Sem título definitivo.
Não entendo tal maldade.
Um bebê em gestação.
Rodando pela cidade.
Que ato de crueldade!
Não existia motivo.
A maior atrocidade.
Nunca saberei a razão.
Despi-me de vaidades
Pra fazer o pedido de prisão.
Por favor, prendam estes bandidos.
Eles foram muito ousados.
Levaram um poema inacabado.
E mantiveram o poeta silenciado.
Pensando por outro lado,
Talvez nem sejam tão culpados.
Eu tenho sido descuidado,
Ando muito distraído
Melhor perdoar estes indivíduos.
NEM SEI
Construí imaginários sobrados,
Os mesmos antigos.
Enormes abrigos.
E fiz jardim
Ao fundo.
O mundo de branco,
Pintei.
E te encontrei
Entre cervejas
Que foram abraços.
Foram beijos e desejos.
E te paguei.
Quanto? Nem sei.
E agora,
Estou envergonhado.
Por ter comprado
O que não dei.
A SAUDADE
Seguro tua cabeça entre as mãos.
Olho fundo em seus olhos,
De infinitas verdades.
De inúmeras realidades,
E sinto tremer
O seu corpo.
Aquecer o sangue.
Encaixa-se em mim
E respira fundo.
Seu mundo
Nosso desejo.
E na mágica
O beijo.
Afago seus cabelos.
Afogo as palavras.
No chão silêncio de felicidade.
E no beijo de adeus
A saudade.
ANOS DE MIM
Aprendi a cantarolar
Pra deixar o tempo passar.
Aprendi a contra balançar.
Anos de mim tento administrar.
Aprendi a interiorizar
Tudo que quero analisar.
Anos de todos que conheci
Deram-me vontade de partir.
Aprendi a viver bem comigo,
A me aceitar resignado.
Aprendi a não ficar desanimado
Quando foge um carinho anunciado.
Aprendi a falar baixinho
Pra não me acordar assustado.
A caminhar bem devagarinho
Pra não despertar meu eu menininho.
Aprendi acordar bem cedo.
Para escutar os passarinhos
A abrir a porta das minhas mágoas
E deixá-las repousadas num pergaminho.
Aprendi a conviver com as picadas.
Admirar de tudo um pouquinho.
Não fazer terra arrasada.
Buscar só o bom caminho.
TEMPO
O tempo que tenho,
Fui juntando aos pouquinhos
Quando ganhava guardava.
Já vinha meio desatualizado.
Ou então quando o encontrava abandonado.
Aliás,
Como existe tempo perdido.
De forma que
Posso dizer:
Meu tempo é assim...
Meio reciclado.
BEM-TE-VI
Quanto canta,
Bem-te-vi.
Se me viu
Também te vi.
Bem-te-vi
Bateu asas.
Sem elas
Fiquei aqui.
Porta-malas
Primeiro eu bebia minhas tristezas.
Hoje sou abstêmio.
Depois eu as fumava.
Sou ex-fumante.
Então passei a comê-las.
Fui pra dieta.
Jogava.
Parei.
Agora as absorvo.
Não tenho mais fuga.
Coloco-as no porta-malas da memória
Em pequenos pacotes assim
Atrapalham menos e
Fica mais fácil levá-las comigo
Sem que sejam notadas.
O FUMANTISMO
Admiro incansável o escritor. Este colega do dia-a-dia. Conta
suas produções com tal entusiasmo que me excita a escrever algo. Qualquer coisa. Se sair em linhas subtraídas chamo poesia, se extenso, conto.
Tarefa guerreira é escrever. Às vezes uma palavra atira-se em outra e quebra a muralha destruindo a frase. Não a recomponho. Se esta, por ventura, vier a ser tombada pelo patrimônio histórico literário, os historiadores que a reelaborem. Pior mesmo, e isto é o mais provável, se não tiver nenhum valor. É enrolar o papel o lotar o balde de lixo. Para mim há uma saída quando faltam palavras. Ascendo um cigarro e elas emergem em meio a fumaça. Mas os escritores (ou não) que não fumam? Deve ser terrível. Talvez consumam "chicletes" ou sei lá o que fazem. Agora, uma coisa é certa: nada melhor que a fumaça do cigarro para trazer ideias brilhantes. Não importa se o pulmão está cancerígeno. Se a garganta incha, se o coração dispara. Afinal, o escritor não precisa destes em pleno funcionamento, sua tarefa é apenas escrever.
Portanto o escritor pode ser fumante. Se morrer jovem ótimo. Se for vítima do cigarro, excelente. Não e mais fácil à obra fazer sucesso após a morte de seu criador?
Então, fumemos colegas "escritorinhos". Fumemo-nos mutuamente, até o dia em que os críticos cedam e reconheçam este novo movimento literário: O FUMANTISMO."
ÉBRIO
Um uísque.
Duplo, por favor.
Preciso desentalar da garganta,
Este nó, esta dor.
Só não me sirva com desdém,
Sou humano como você, meu bem.
Não faço isso todos os dias,
Só bebo quando me convém.
Anos de vida me fizeram mole,
Saudade é o que sinto agora,
Por mais que eu me enrole
Talvez eu fique ou vá embora.
Este copo aqui, ó, vazio.
Avermelhou-me o rosto,
Desequilibrou-me o corpo.
Atingiu-me a voz.
Barganha
Eu sempre desejei que os abraços fossem apertados.
Que os sorrisos fossem sinceros.
Que as despedidas fossem exterminadas.
Que o tempo não fosse contado.
Que a corrida não fosse só para a vitória.
Que não se fizesse só pela história.
Que coisas ruins saíssem da memória.
Que todos merecessem a glória.
Tudo o que eu mais quis.
Que toda pessoa pudesse ser feliz.
Que só existissem balas de anis.
Que a fé não precisasse remover montanhas.
Que as medalhas não fossem apenas para quem ganha.
Que todos, na vida tivessem o poder de barganha.
Dores
Bom era quando as dores vinham das pancadas.
Das pisadas em pregos.
Do braço quebrado.
Dedo queimado.
Das enroscadas em unhas de gato.
Das caídas em barrancos.
Das picadas de insetos.
Era um tempo em que a cura não demorava.
As dores de hoje atingem a alma.
Degeneram o cérebro.
E não tem medicação.
Novidade
Quando nasci foi tudo tão normal.
Até o parto.
Não houve um grande temporal.
Foi apenas mais um ato.
Não aconteceu nenhuma comoção social.
Ninguém considerou a data como um evento.
Cumprimentos só alguns,
Eventuais.
Nem houve um grande sopro de vento.
Só minha mãe se emocionou
Naquele momento.
Tudo monótono na cidade.
Eu
A única novidade.
Sombras
As nossas andam separadas.
Em outros tempos eram vistas de mãos dadas.
Eram enormes ao final do dia,
Agora já não são mais nada.
A companhia boa é aquela que não se precisa.
Tu eras a sombra que a mim encantava.
A minha hoje, anda sem camisa.
A tua era a proteção onde eu me sentava.
Talvez sejam vistas
De outras acompanhadas.
Não uma,
Mas duas imagens sombreadas.
Olhos machucados
Vi que olhos arregalados me fitavam.
Deles demandava uma frieza nunca vista.
Fixei meu olhar por um instante,
Vi que estavam distantes.
Olhavam-me ao léu.
Olhar triste de partida.
Portas opacas do inferno.
Em nada lembravam o céu.
Olhos malvados.
Machucados.
Desesperados.
Olhos apaixonados?
Olhos d’água.
Com olhar de águia.
Olhos com água.
Com olhar de mágoa.
Um olhar de tantos olhos,
De histórias não contadas.
Tristes olhos sem brilho
Na despedida brotaram em lágrimas.
Que bom seria
Que bom seria se as segundas chances fossem reais.
Se os amores fossem imortais.
Se os pecados não se tornassem imorais.
Se os reencontros não fossem banais.
Que bom seria se a vida fosse de paz.
Se não quiséssemos deixar os outros pra trás.
Se de perdoar todos fossem capaz.
Se a fraternidade prosperasse cada vez mais.
Que bom seria se só tivéssemos alegrias.
Se o sofrer fosse abortado em cirurgias.
Se a felicidade viesse numa magia.
Que bom seria se o mundo fosse de igualdade.
Se o respeito existisse em qualquer idade.
Se o ser humano se despisse de falsidades.
Bolsas nos olhos
Meus olhos tentam guiar meus pensamentos.
Quando não querem me mostrar
Desviam o olhar num rápido movimento.
Porém se não vejo posso imaginar.
As bolsas que trago neles
As causas não são do tempo.
São depósitos daqueles
Que de amor alimento.
As pálpebras fecham com rapidez
Para evitar o pó da estrada
Tentam esconder de vez
Os tropeços da caminhada.
Quando estão fechados
Não sei por onde seguir.
Vou para o lado errado
Precisando me redimir.
Portanto, olhos meus,
Estejam sempre alerta.
Se rondarem os teus,
Façam a escolha certa.
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