Poesia Operarios em Construcao
O que quero dizer com meus poemas?
O que interpreto?
Ora, me digas tu.
Minha liberdade poética,
És sua liberdade de pensar.
Cativeiro das Palavras
Nunca sei o que escrever.
As palavras chegam sem aviso,
como pássaros desorientados
que pousam no peito
e logo se lançam ao vazio,
deixando o silêncio
como única companhia.
Sempre há dúvida.
Onde estão as inspirações?
Onde se esconderam os sorrisos
que um dia iluminaram o caos?
Talvez seja apenas questão de tempo,
tempo que não há,
tempo que se dissipa
como névoa em manhãs febris.
Mostre-me as lágrimas
que tais sorrisos trouxeram consigo,
como marcas discretas
nas dobras da memória.
Entre tantos sentimentos vazios,
confusos e desgastados,
é difícil encontrar algo verdadeiro,
algo que não se dissolva
na vastidão dos dias incertos.
Demônios Internos
Não há demônios sob a cama,
nem monstros à espreita
nas frestas da escuridão.
Procure-os dentro de si
e os encontrará,
enraizados na alma,
como raízes densas
de medos nunca podados.
Eles se alimentam
do silêncio amargo
das noites insones,
bebem das culpas
que se ocultam
nas sombras da consciência,
crescendo nas rachaduras
dos segredos sufocados.
Não há monstros lá fora,
não há presenças que assombrem,
apenas os fantasmas
que nós mesmos criamos
com os escombros
das verdades que tememos.
Eles não gritam,
não quebram portas,
não urram no escuro.
Sussurram
na voz da ansiedade
que ecoa dentro do peito,
esperando que um dia
tenhamos coragem
de encará-los
sem medo do reflexo.
Instantes
A vida é boa, de fato.
Mas a felicidade
é um enigma sem tradução,
uma chama que dança
no vento do acaso,
iluminando breves instantes
antes de se perder
como areia escorrendo
pelos dedos distraídos
de quem tenta aprisioná-la.
Não há palavras
que a definam,
nem mapa que revele
onde repousa.
Ela surge sem aviso,
num sorriso que rompe
a monotonia dos dias,
num abraço que se prolonga
além da urgência
e da insegurança.
É indescritível,
porque não se fixa
no intervalo de uma frase
nem se dobra
ao tempo de uma vida.
Quando nos toca,
é silêncio e pulsar,
uma vertigem de ser
sem o peso da identidade,
um vislumbre de essência
quando esquecemos
de existir.
Tem gente que caminha reto…
mas vive torto por dentro.
A coluna aguenta.
Mas a alma… geme em silêncio.
A gente acumula o que não vê.
Não são malas, nem caixas.
São camadas de silêncio.
Palavras que ficaram presas na garganta.
Olhares que machucaram sem dizer nada.
São dores que ninguém sequer notou.
mas que moram bem aí no fundo.
Desde cedo...
Ensinaram a engolir o choro,
a não demonstrar fraqueza,
a ser forte e não incomodar.
Mas ninguém explica…
que ser forte o tempo todo
também adoece.
Então você vai…
vai fingindo que tá leve.
Sorrindo pra não preocupar.
Segurando pra não desabar.
Aos poucos, você vai deixando de existir dentro do próprio corpo.
Até que um dia, o corpo grita.
O cansaço que não passa.
A raiva sem motivo.
Com essa vontade silenciosa...
de simplesmente... desaparecer.
Mesmo quando, por fora,
parece que tudo tá certo.
Bonito.
Normal.
Lá dentro, a alma sabe.
Ela sussurra, no intervalo entre um suspiro e outro:
“Me ouça.”
Hoje talvez seja o seu rito.
O momento de parar.
De abrir mão do que você carrega.
De sentir o que ainda te pertence.
E deixar no chão o que virou peso morto.
Você não precisa contar pra ninguém.
Nem se justificar.
Só respirar…
e deixar ir.
Porque, às vezes,
a maior força não está em continuar,
mas em soltar.
Início do Fim
A morte
não é um golpe final,
nem o apagar abrupto
de uma chama que ardeu em vão.
Ela começa
no primeiro sopro de vida,
como um murmúrio ancestral
gravado na espinha dorsal do tempo,
uma promessa silenciosa
de que tudo que nasce
traz em si
o prenúncio de partir.
Somos nós
quem tenta adiá-la
ou apressar sua chegada,
como se a permanência
fosse um direito herdado,
como se o fôlego
fosse posse
de quem o exala,
esquecendo que o ar
é só um empréstimo
da eternidade.
Entre o nascer
e o desfolhar da última pétala,
somos intérpretes falhos
de um roteiro
traçado pelas mãos do acaso,
dançando na corda bamba
do existir,
prolongando cada passo
como se a terra
não estivesse sempre
a um deslize
de nos tragar.
A morte
não é antítese da vida,
mas sua sombra inseparável,
um vulto paciente
que nos acompanha
até o instante
em que já não há mais corpo
para projetá-la,
quando o vazio,
enfim,
reivindica o espaço
que sempre lhe pertenceu,
e nós,
como poeira,
nos dissolvemos
no ventre do universo.
Aparência de Vida
Não há vida.
O que sou?
Um coração que pulsa
por reflexo de um hábito ancestral,
meus órgãos em perfeito estado,
como engrenagens meticulosas
de uma máquina que opera
sem memória ou intenção,
mantendo o teatro fisiológico
de um corpo que respira
por mera obediência biológica,
como se o oxigênio
fosse um combustível imposto
e não uma escolha consciente
de permanecer.
De certa forma,
sinto-me morto,
não pela ausência de pulsação,
mas pela falência do querer,
pela insuficiência da alma
em habitar o corpo que a carrega.
Sou um vulto cotidiano,
uma sombra que vaga
nas bordas do tempo,
um espectro inacabado
que percorre os dias
como um verso esquecido
no meio de um poema
que nunca se completa.
Vivo,
mas sem a densidade
de quem ocupa o próprio ser,
de quem molda o instante
com a intenção de permanência.
É como se a pele
repelisse o próprio contorno,
e o corpo,
apesar de intacto,
fosse apenas a moldura
de uma ausência dolorosa,
uma estrutura que insiste
em se manter ereta
mesmo quando o espírito
já desabou.
Versos de Revolta
Deixo meus versos
como rastros de fogo
num caminho que arde
pela culpa dos insensatos.
Minhas palavras ficam,
gravadas como cicatrizes
na pele da memória,
reação contra a hipocrisia
que escorre
das bocas ornadas
de tantos "intelectuais",
cuja erudição é verniz
sobre o vazio.
Não há o que temer!
Pois tudo já é temido!
O perigo não se manifesta
onde a covardia se veste
de autoridade,
onde a segurança se impõe
como jugo elegante,
um escudo frágil
contra a incerteza
que ruge no mundo.
Vivo em segurança?
Ou em confinamento?
Essa segurança sufoca,
nos molda em cúpulas
de certezas frágeis,
ergue muros invisíveis
que nos protegem
do caos lá fora,
mas nos exilam
dentro de nós mesmos.
Há de parar!
Ou então, pararemos nós!
Porque quem vive assim,
enjaulado em verdades prontas,
aprende a temer
até o próprio pensamento.
E se o medo crescer
maior que o desejo de liberdade,
é a alma que se condena
ao cárcere da resignação,
onde as palavras morrem
antes mesmo
de se tornarem grito.
Os versos que deixo
são insurgências contra o conformismo,
ecos de um coração inquieto
que se recusa a aceitar
a rotina disfarçada de escolha.
É urgente quebrar o silêncio
que nos encobre de poeira,
é preciso incendiar
as ideias moribundas
antes que a chama interna
se apague de vez.
Cicatrizes que Florescem
Eu carrego o peso dos dias não ditos,
os ecos de passos que não me pertencem,
fragmentos de uma estrada sem destino,
onde a dor se enrola nas raízes do tempo
e floresce como cicatriz que canta.
Há um grito em cada gota de chuva,
uma confissão no som que corta o vento.
A alma se espraia pelos campos secos,
e o coração, inquieto,
brota em flores que não pediram cor.
Sou rio que deságua na própria margem,
meu curso incerto entre pedras e paus,
correndo por entre trilhas rasgadas
que costuram minha pele ao chão da existência.
Não há ponte que atravesse o que sou.
Em noites de silêncio denso e cru,
a lua sussurra verdades que não quero ouvir,
desvenda os espelhos internos,
onde sou herói e vilão,
onde luto contra meu próprio reflexo
até me tornar pele, osso e vontade.
E quando o sol, ao fim de seu fôlego,
se deita sobre os montes quebrados,
meu corpo, feito de sonhos e poeira,
abre os braços para um horizonte que se dissolve
no vão entre ser e querer ser.
Eu permaneço inteiro
na tempestade que arranca galhos secos,
pois sou árvore que cresce do avesso,
raiz que abraça o abismo
e flores que desafiam o solo.
Sou também a calmaria que sucede o caos,
a certeza que nasce do chão devastado,
o tronco que se curva, mas não quebra,
que desafia o vento com sua seiva viva
e canta, mesmo quando a dor ecoa.
Entre o Assassino e a Vítima
Quem sou eu?
Um humano imperfeito,
destroçado entre o espelho e a carne,
cometendo crimes contra mim mesmo,
atentados sutis que corrompem a alma
e rasgam a pele da consciência.
Sou vítima ou assassino
daquilo que me tornei?
Voluntário no ato de me ferir
ou involuntário na arte de desmoronar?
Sou necessidade que enlouquece,
psicose que se veste de razão,
ou um delírio lúcido que encena
a tragédia de ser quem sou?
Sou mesmo louco?
Ou a loucura é a máscara
que uso para não ver a verdade
do caos que me habita?
Sou mesmo eu?
Ou sou um espectro fragmentado,
uma nota dissonante
na sinfonia do que jamais fui?
Indizível.
Como nomear o vazio que preenche
os espaços entre meus gestos?
Como afirmar com certeza
que sou algo além do que falha
ao tentar existir por completo?
Se a dúvida me define,
sou tanto a ferida quanto a lâmina,
a mão que acolhe e que esmaga,
o vulto que se esconde atrás de um rosto
que mal reconhece sua própria sombra.
E se o espelho estilhaçado
reflete múltiplos eus
que coexistem na fissura do real?
Serei eu o caco que corta
ou o reflexo que sangra?
Sou a colisão entre o ser e o não ser,
o vértice do abismo onde a dúvida ecoa
e a própria identidade se desfaz.
Há um grito que rompe o silêncio,
uma palavra que treme na garganta,
como se nomear-se fosse desabar
e aceitar-se fosse um pacto
com a dor que me habita.
E no limiar dessa guerra interna,
sou o paradoxo que respira,
uma verdade que mente para si mesma
enquanto tenta sobreviver ao próprio fardo.
Ser é ser incompleto.
Sou a imperfeição que sobrevive
no abismo entre razão e caos,
desafiando a lógica
com um coração que ainda pulsa
mesmo quando a mente implora por trégua.
Um dia
Um dia...
Um dia tudo terá fim
Esses olhos não mais verão
Esses dedos não mais tocarão
E esse coração que hoje bate por ti
Não irá bater...
Nem por ti e nem por ninguém mais
Ele irá perecer
Será decomposto
Pelo verme que come
Os míseros restos
Que sobrarão do meu ser
'Que morbidez!'
Você pode dizer...
Mas apenas escrevo
O que vai acontecer
Porque um dia tudo terá fim
Ao vento será deixado
E tudo que há em mim
Será apenas pó espalhado
Eu creio na meiga canção que sopra da aurora
E que ecoa na última lágrima de despedida
Eu creio com a mesma fé das árvores
Que se alimentam das horas
para proclamar o ano da bondade do Senhor
e o dia da vingança do nosso Deus;
para consolar todos os que andam tristes
Aos olhos de todo pobre homem, o mundo é excasso de riqueza, pois o pobre homem só enxerga o que deseja.
Assim como eu, a chuva vai em suas cantorias pelas estações do ano, interrogando a vida e a que viemos...
Sua melhor versão era aquela em que se travestia de poeta e inundava o mundo inteiro com seus versos.
é incrível quando apenas uma musica é capaz de lhe lembrar uma pessoa que já dominou o seu passado...
- Relacionados
- Poesia de amigas para sempre
- Poesia Felicidade de Fernando Pessoa
- Poemas de amizade verdadeira que falam dessa união de almas
- Poesias para o Dia dos Pais repletas de amor e carinho
- Poesia de Namorados Apaixonados
- Primavera: poemas e poesias que florescem no coração
- Poesia Felicidade de Machado de Assis