Poesia do Preconceito Vinicius de Morais

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FOGO-FÁTUO

Cabelos brancos! Dá-me calma no espanto
A esta tortura de sonhador, tolo e sofista:
No tempo o desdém ao tempo, veloz tanto,
E assim perdido pelo mais que não exista;

Tal fogo, que no espírito me é pranto
Me enregela e logo encalma, sou artista
De quimeras, reveses, e que no entanto,
Deste fado, que ao criar tenho luz à vista:

Dando a melancolia remédio de alegria,
A razão saudade, e a loucura esperança
Assim, ardendo no peito a doce fantasia;

Se absurdo, absurdo é não ter teimosia
Pra fugir com a ilusão onde ela alcança
E então, ter a realidade cheia de poesia...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Setembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

REMORSO

Hoje, eu sei, a contrição com a dor
Te beijei na saudade, e assim ando
Forjando e padecendo, até quando
O teu cheiro será o meu condutor?

Às vezes, eu me vejo te chamando
Nas lágrimas versadas sem expor
Da alma, me calo, e torno sofredor
Cansado, neste tal sentir nefando...

Sinto o que no tempo desperdicei
Choro, no início da minha velhice
Cada seu, que eu não aproveitei…

E nesta ilha de suspiros e de tolice
No teu breve adeus, tarde cheguei
Sem que desta falta remorso visse!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, fim de setembro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

VERSOS DE AMAR (soneto)

O poetar que sofre, desgarrado
Da emoção, no exílio sem pejo
Da inspiração, ali tão separado
Calado, e sem nenhum desejo

Não basta apenas ser criado
Moldado na doçura dum beijo
Nem tão pouco ser delicado
Se o cobiçar, assim me vejo

O poetar que tolera, e passa
Sem se compor com pureza
Não há quem possa ele criar

E mais eleva e ao poeta graça
É trazer na poesia a grandeza
E a leveza dos versos de amar.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, outubro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

SEGUNDO DIA

O segundo dia
Da nova semana, depois
Do primeiro dia do ano
Tudo continua, como dantes, pois
O dia a dia no seu plano
Caminha igual
Ao último dia do ano passado
E neste ano renovado
Da graça de Deus
Que tenha chegado
A lua o sol a terra e os seus
Giram o segundo dia
Como o primeiro girou
E nesta trilha ininterrupta
O que ficou, se expirou
Agora nas lembranças
E nesta nova captura
De novos tempos
O passado passou
O presente em novos momentos
Choros e risos
Em pleno voo
Seguros ou indecisos
O acaso vai, eu vou
É nestes tantos imprecisos
Amanhece o segundo dia do ano
Que a cada segundo
Minutos, no relógio vai badalando
Até o último dia do ano
Num vicioso ciclo se formando...
O fado a vida devorando!
É o segundo dia do ano...

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
02/01/2015, 05’05”
Cerrado goiano

A TRISTURA

Iracundo, de má sorte, rubicundo
No cerrado, rabisca dor na escrita
Brada gemidos na secura maldita
Erigindo um cântico corcundo

Imundo, profundo e tão desdita
A mágoa verte gosto moribundo
A cólera vinga no fado furibundo
Poetizando a lágrima anafrodita

E nesse fecundo olhar em febre
Rasga o peito tal caçada lebre
Uivando agrura sem candura

Nas minhas profundezas, pesar
A trava alma no sereno a chorar
E a ventura rimando com tristura

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Início de agosto de 2018
Cerrado goiano

um poema à hora do almoço

um poema à hora do almoço
degustado na inspiração

rezo o Pai Nosso,
em gratidão
e neste esboço
um poema na refeição

mastigado entre folhas
arroz e feijão
rimas nas escolhas

agrião
alface
almeirão

servido com vinho de classe
é hora do almoço
o pensamento na sua direção...
alvoroço.

prato pela metade
mastigação
ansiedade

chega sobremesa na opção,
não
somente o café.

e a conta!

afinal de conta
o coração
pensa em você!

agitado pra te ver.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
08/08/2018, 12’00”
Cerrado goiano

CAFÉ DA MANHÃ

Quero um afago simples
Tal um pingado, pão e manteiga
Na ingenuidade, sem porquês
Com a doçura e palavra meiga
Dum bom dia! Sem a obrigação
Do perfeito, tal feito, duma cantiga
Degustada pelo coração.
Na sua fome de encontrar...
E então, neste dejejum
Pra quem acabou de levantar
Sirva o amor, não ímpar, mais um
No café da manhã, e sim, um par
Cheio de olhar, ao afeto comum
Antes da rotina começar.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, agosto
Cerrado goiano

DEMÊNCIA SENIL (soneto)

Nos fios brancos do silêncio, a quietude
Nubladas recordações, escura solidão
Horas lentas no tempo, e vazia emoção
Que tateiam o que outrora foi plenitude

E nesta distância do devaneio e o são
O mesmo mutando numa outra atitude
Tremulando o olhar numa lacuna rude
Sorrindo sem riso e andando sem chão

E no papel sem margem, a negrutude
Que esgaça a ilusão sem dar demão
Onde tudo é vagar e pouca amplitude

Assim, neste empuxo sem ter tração
Se não reconheço, sabes do que pude
Então, assiste este sóbrio senil coração

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
À meu velho pai

PARA OS AVÓS

Abraço doce, amor terno
Aconchego nas vontades
No coração sempre eterno
Vô e Vó, nossas metades
Num todo. Gesto fraterno
Colo que o afeto abriga
Dobro materno e paterno
Exemplo pra toda vida
Avós, a nossa bênção
No bem querer acolhida
Razão, emoção, paixão...
À vocês reverência incontida!

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano

FRIO (cerrado)

Quem o contentar dirá destas noites de frio?
Corre no cerrado de galho a galho, arrepio
Dum vento seco e bravio. E eu, aqui tão só
Em queixas caladas, calafrios, é de dar dó
Recolhido na tristeza do invernado cerrado
Cheio de solidão, de silêncio e de pecado...

Que corrosiva saudade! Esquisita e estranha
Uma está lembrança forjada na entranha
Do inverno, caída de outrem, fluindo amargor
Onde, em sombrio sonho, eu vivendo a dor
Sem querer, na ingratidão, com indiferença
No vazio da retidão, da ilusão e da crença

Que acirrado frio, sem piedade, ofensivo
Que me faz reclusivo, neste cárcere cativo
Insano, em vão, duma melancolia lodaçal
Que braveja, me abraça e me faz tão mal...
Por que, pra um devaneador esta paragem
Que ouriça, e é tão deslocada de coragem?

Ah! quem pode me dizer pra que assim veio?
Se está tortura é passageira, assim, eu creio.
E a minha miséria aberta, escorre pelo olhar
Receio... e mais gelado fica em mim o pesar.
Uma prosa alheia, uma penitencia escondida
Se é só o frio, por que esta insânia homicida?...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
14 de julho de 2019
00’17”, Cerrado goiano
Olavobilaquiando

MORRE POR INTEIRO

Tem os que nunca partem
Vive em nossas lembranças
Da nossa nostalgia vão além
Alimentam nossas esperanças

Nesta passageira caminhada
Tecem fios de teia de amor
Forrando por toda estrada
O carinho, o afago, o calor

À distância nesta separação
É temporária, bem breve
Que conforta o coração
Faz desta ausência leve

Se partiu, deixou verdades
Norteou de afabilidades... (a vida!)
A emoção! Perpetuando afinidades
Pois morre por inteiro quem não deixa saudades.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho, 01 de 2010, 09’13”
Rio de Janeiro, RJ

FISIOTERAPEUTA,

Doutor do movimento,
auxilia na dor, no alívio, alento,
mãos que tocam manobra,
atento.
Ao aflito: regente, presente.
Profissional da saúde,
do amparo, da evolução,
o que está ali em plenitude,
no socorro da superação...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro
Cerrado goiano
dia do fisioterapeuta

(en)canto

no cerrado canta a cigarra
quer o (en)canto dum par...

canta, numa tal algazarra
até o teu peito estourar...

e neste som de guitarra
baila, seduz, sem parar...

de carência ou garra
a cigarra quer casar...

é sofrença ou farra
ou carma a carregar?

neste mantra se agarra
até a lua raiar...

é fanfarra
é verão à anunciar...

então, canta cigarra
a vida tem de continuar!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro de 2019
Cerrado goiano

em novembro

vai precisar de festejo
é mês das quarenta velas
assoprar num só bafejo
sem ter parcelas...
são ainda com um tal ensejo
de serem bagatelas

afinal, os primeiros quarenta
e viver se pode, ao dobrar
somado com mais uns “enta”
a vida começa (a)pesar...

coragem e água benta!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro de 2019
para o Márcio Francisco

ego

o poeta, um falsificador
destrincha a escrita
e ele que chora de dor

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado - outubro, 2019 - Cerrado goiano

lombeira

passa lento a lentidão
devagar que dá canseira
o vento sopra mansidão
no cerrado dá lobeira

pasmaceira de vidão...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano

SONETO DO MEU POETAR

Basta-me apenas um verso
Onde seu gesto fale de amor
E comigo venhas sem dor
E nele eu me torne imerso

Pra sempre, sem nenhum pudor
Sem palavras caídas do universo
Do dissabor, e que seja inverso
A trovas desbotadas e sem cor

É só ter um deslize no disperso
Pra que ele fale o que é perverso
Em linhas omissas e sem frescor

E nem por isto deixo de ser diverso
Num poetar que gosta de ter odor
Aos olhos do doce amoroso leitor

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano

SONETO DE INVERNO

Frio, uma taça de vinho, face em rubor
No cerrado ivernado pouco se aquece
Um calor de momento, o vinho oferece
E a alma valesse neste desfrutar maior

Arrepio no corpo, do apego se apetece
Pra esquentar a noite, tornar-se ardor
Acalorando o alento do clima ofensor
Tal é perfeito, também, o afeto tece

E na estação de monocromática cor
De paixões, de misto sabor, aparece
Os mistérios, os desejos, os sentidos

Assim, embolados nas lareiras, o amor
Regado de vontades, no olhar floresce
Pra no solstício de novo serem acolhidos

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano

SONETO DO IPÊ

O cerrado se prepara para a primavera
No chão cascalhado, a florada anuncia
Os ipês amarelos ornando de luz o dia
E o horizonte se vestindo de quimera

Sai o inverno, setembro, vem a ventania
E mal surgia, e caem sem assim quisera
Em implacável jornada, acatando a era
Atapetando o chão de matizada magia

E neste, veste e despe, a beleza gera
Espanto da sina acirrada em tirania
Do ipê ser algoz na sua pouco espera

No processo que penaliza a flor fugidia
Em ser uma desgarrada na atmosfera
Faz-se o prosseguir a vida em romaria

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano

SUSPIROS (soneto)

Um pesar tão mais saudoso, assim não vejo!
Um vazio no silêncio, barulhento, sem pudor
De tão é a infelicidade, que terebrante é a dor
Que vagar algum pode ofuscar o tal lampejo

Dias rastejam, noites em romarias no andor
Da angústia, que enfileiradas num cortejo
Levam preciosos instantes, pra num despejo
Jogá-los ao luar, sem quer um pejo, amor

Ah! Que bom seria, eu ter qualquer traquejo
No dom da oração, e me ouvisse o Criador
Através do meu olhar, rogando por ensejo

Essa saudade tão mais triste, ainda é clamor!
Inda estão nos versos que no poetar eu adejo
Tentando recreio, para os suspiros transpor

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho de 2016
Cerrado goiano

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