Poesia do Carlos Drumond - Queijo com Goiabada
PONDERA A FERA
pondera, ponderou a fera, da nova era
depois, engasgou-se com a tela entalada
na traquéias da goela.
Pondera... Se pintou com a poluição
tingiu a esfera colorida...
Opacando a visão do grandioso olhar.
A fera, combaliu os olhos da nevoada vida
sentindo os sentidos, esfriando
os típanos e tampando os ouvidos.
Antonio Montes
Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que num momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze --- quanta flor! --- do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?
Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados,
Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.
As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.
O meu coração desce,
Um balão apagado...
Melhor fora que ardesse,
Nas trevas, incendiado.
Na bruma fastidienta.
Como um caixão à cova...
Porque antes não rebenta
De dor violenta e nova?!
Que apego ainda o sustém?
Átomo miserando...
Se o esmagasse o trem
Dum comboio arquejando!...
O inane, vil despojo
Da alma egoísta e fraca!
Trouxesse-o o mar de rojo,
Levasse-o a ressaca.
Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...
Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
Porque a dor, esta falta d'harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora,
Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora
Meu coração no entanto não se cansa:
amam metade os que amam com espr'ança,
amar sem espr'ança é o verdadeiro amor.
Em que emprego o meu tempo? Vou e venho,
Sem dar conta de mim nem dos pastores,
Que deixam de cantar os seus amores,
Quando passo e lhes mostro a dor que tenho.
É de tristezas o torrão que amanho,
Amasso o negro pão com dissabores,
Em ribeiros de pranto pesco dores,
E guardo de saudades um rebanho.
Meu coração à doce paz resiste,
E, embora fiqueis crendo que motejo,
Alegre vivo por viver tão triste!
Três da manhã. Desperto incerto... E essa quermesse?
E a Flor que sonho? e o sonho? Ah! tudo isso esmorece!
No meu quarto uma luz luz com lumes amenos,
Chora o vento lá fora, à flor dos flóreos fenos...
SÃO MISTÉRIOS
Toque a porta para abrir
filme o filme, olhe passar o filme
pipoque a pipoca que póca, que póca...
Vamos comer, vamos assistir...
E dai... O mundo é aqui,
é assim, por ai, dai e d'aqui.
O mundo é para tu, para ti...
É para mim... Não sai, não saia dai!
Não insista! Não terás para onde ir...
Se vamos, se não vamos?!
Fica assim... Para que, insistir!
Vamos sair por ai? Tu vai? pra onde?
Vai a pé, de carroça ou de bonde...
Eu não quero, eu te espero?!
Eu não quero, eu não te espero!
... Parecem sérios, são mistério...
Das heras, são mistérios dos mundos
desde de, os tempo dos cleros.
Mesmo com tanto mistério assim...
Sem ter para onde ir, não quero adeus,
nesse intimo meu, não quero partir...
Eu não quero partir!
Partir, não partir...
Não altera os mistérios meus...
Não quero, eu não quero partir,
pelo amor de Deus!
Antonio Montes
ROUBO
Roubaram a minha bolsa,
junto foi as promissoras,
tantas!
Mas não levaram as contas,
donas d'essa carranca...
Que tanto me afronta.
Antonio Montes
NÃO SEI
Eu sei, eu sei...
Ouvi a voz,
era a minha vez,
e eu passei...
Agora, não sei, não sei!
Não sei se eu terei vez,
nem sei quem fez a vez...
Tudo que eu sei,
quando chegou a minha vez,
... Eu passei.
Antonio Montes
PAPO P'RO AR
Ouço em meus ouvidos
... Um zumbido...
Um tilintar dos anos
misturando, meus planos tinidos.
O tempo me tingiu...
E eu agora, carrego o tranco e a presencia
dos meus... Velhos cabelos brancos...
Eu tenho deitado-me,
sob meus desalentos e os sonhos, já não
me trazem, mais aquele gargalhar...
Quantas e quantas vezes em sono,
eu sinto a presencia do pesadelo,
e ao acordar me sinto...
Sonhando de papo p'ro ar.
Antonio Montes
Correnteza
Vivo em constante luta
Coisas em mim que assusta
Mesmo comigo é mais astuta
Nem certo nem errado
Eu estátua e ela significado
Significa estou parado por um momento
Ela em constante movimento
Estou sobre o tempo
Ele age conforme
Tudo se ajusta em movimento uniforme
Não tenho nome
E ela tem fome
Sou o alimento
Ela se alimenta
Até onde o tempo aguenta ?
Paralisou meu corpo novamente
Eu quis troca-lá
Mas quem me dera ter uma nova mente
É tanta gente
Isso todo mundo sente
Por isso sei que me entende
Mas não é tão fácil beber do copo quando se tem água corrente
Se não entende
Aprende
Que tudo na vida prende !
Enlevo....
Silêncio querido
Deixa-me beber todo esse instante,
de entrega tua à mim ...
Tão raro te ter assim
Cativo, submisso aos desejos meus,
fazendo festa nas curvas do meu corpo...
Ah meu doce, quietinho...
Murmura apenas meu nome
Faz-me saber que sou eu o motivo dos teus enlevos
E eu.
Ah, eu me deleito em ser o teu prazer!
Tem muito fotógrafo famosinho" se sentindo o Deus dá fotografia...
Enquanto Mestres dessa arte, humildes como iniciantes.
Isso só prova que há uma real diferença entre Artistas e Poser's.
Por mais amor e menos ego.
Podem aprisionar meu corpo.
Torturarem minha alma.
Sufocar o meu amor.
Mas meus versos;
Esses, sempre serão livres.
Pacificando a alma.
E alegrando os corações.
(Ana Jalloul )
Sen-ti
Tento lembrar tuas formas
Vivas quanto almas
Ambos olhos brilham tanto
Lembram mais belo canto
Busquei outras caras
Pensei achar alguém
Após horas...
Cheguei algum aquém
Nada além deti
Quero para sorrir
Busco formas deter
Sonhos para viver
Minhas lentes sofrem
Brigam entre linhas
Deve faltar alguém
Para ouvir... poesias...
Desisto! Meu amor não cabe em dissílabos.
O MEDO FRÁGIL
O trato que tu fizeste...
Com seu íntimo amigo caco
destrinchado em confete...
Saiu do seu reles comodato,
e confessou, quebrou o pacto.
O frágil quando se mete,
em sua pose todo garbo...
Expele sebo dos pedaços,
treme chão com seu mormaço
e desequilibra em seu voar.
Desfaz do seu pesado fardo
... Dança fado sem as asas,
junta lágrimas p'ra chorar
tilinta a taça do seu medo
e bota o sebo p'ra coçar.
OCEANOS EM VIGOR
Sempre existirá oceanos
sucumbindo os pássaros, sem
sair do lugar...
Enquanto longe de mim,
a sua felicidade floresce os jardins
dos seus dias... Há meu lado,
A solidão, sacia seus momentos
emanando os entrevero dos seus
vil sentimentos.
Antonio Montes
ORDINAL
Estava pelo meio, quando você veio
e, interveio o meu querer, tão logo,
me carimbou com seu rascunho...
Marcou a minha paixão, moendo-me
como se fosse, muinho ou ciclone
de redemoinho.
Eu era um rabisco, de um mundo vago
um pássaro sem céu,
um cisne sem lago...
Nunca estive cheio! Perecia de sorriso,
esbanjava tristeza, e a solidão permeava
a minha realeza.
Então você veio, apareceu e interveio,
jogando tudo para escanteio!
Passei a fazer parte do seu entrevero
mesmo sabendo que no seu mundo...
Eu nunca fui o primeiro!
Antonio Montes
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