Poesia Curta
Não há corpo igual. Não há cheiro nenhum no mundo que colmate o meu vício por ti. Não há tragédia igual. Drama incorruptível.
O tamanho de tudo, encaixe perfeito, a dimensão do conjunto e a distância entre opostos.
permanecem estáticas as pontes do boassú
as pontes da boa vista
tivéssemos dinheiro vontade
compraríamos pão
mas essa casa de velhos
tão próxima ao campinho
onde torcidas formigas
vibravam milhões
essa casa aos olhos
congela mangue
manga e tijolos
houvesse gana cimento
pegaríamos a br 101
de resto
pensava não
com o cérebro
com o corpinho
úmido e mole
que nem ela
nem a lesma
eram fortes
como o tardígrado desidratado
que vira e amara
no espaço sideral
radiograma
Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
Não sei se lavo as mãos,
Ou esfrego o corpo.
Se me isolo então
E me entrego todo.
Talvez assim
cheio de mim
viva mais um pouco
Até voltar a saber
o que não fazer de novo.
André Luz
aspectos
as coisas são
como estão?
o cão vê o gato
bem diferente do rato
(questão de defesa e ataque)
aurora e crepúsculo
são noite dia ou mestiços?
(depende do ponto de vista)
o sol é para todos
e a chuva?
finjo-me esfinge
meia lua meu amor
é tua
a outra metade
guardei-a para o compadre
que me beija a boca
quando chegas tarde
da casa da outra
pôr de lua
estou naquela fase
cheia de resumo
foge-me o verso
a rima escapole-me
peço a são jorge
lave-me leve-me
love me
Que eu esteja vigilante
Aos discursos incoerentes
Aos números que mentem
As massas não convergentes
Aos que fingem gostar de gente
Ao frio que forja o quente
Ao sorriso do demente
As dores dos que não sentem
Ao cinza que rega o verde
Ao latido dos intransigentes
E a sanidade dos doentes
Caminhos
Se caminhamos juntos,
se juntos dividimos,
quem sabe da renúncia
que nos vai conduzindo?
Quem sabe dos intentos
tão distantes, tão próximos,
que amamos em silêncio
como um segredo nosso?
Quem sabe do caminho,
se tudo é tão noturno
e o sonho é como um sino
além, além do mundo?
Tudo isso e mais a fome
da cidade e do sertão,
tudo isso e mais o gosto
da pimenta e do limão,
tudo isso, minha gente,
vai perdendo a tradição,
vai ficando na saudade,
na forma de algum refrão,
de algum discurso eficaz
que possa matar a fome
comendo apenas o nome
das comidas de Goiás.
Eu quero mais é a dor de ser gente
e esse medo macabro de já não o ser.
Quero a angústia de quem sente,
se ressente por sentir,
mas se dói dos insensíveis.
Se pudesse o menino pularia
corda
com a linha do horizonte,
se deitaria sobre a curvatura
da Terra
para sempre e sempre
saudar o sol,
encheria os bolsos
de terra e girassóis.
Mas chove uma chuva
fina
e o menino vai até a cozinha
fritar ideias
Poeta suburbano!
referência do cotidiano!
Abrindo nossos olhos, fechados pela rotina e a convivência!
com colírio do amor, com sua arte e sua sapiência!
Gotas
Se ferem e se fundem?
Acabam de deixar de ser a chuva.
Travessas no recreio,
gatinhos de um reino transparente,
correm livres por vidros e corrimãos,
umbrais do seu limbo,
se seguem, se perseguem,
talvez vão, da solidão ao casamento,
a se fundir e se amar.
Ilusionam outra morte.
Escrevo, escrevo, escrevo
e não conduzo a nada, a ninguém.
As palavras debandam ao me ver
como pombas, surdamente crepitam,
arraigam-se em seu torrão escuro,
se prevalecem com escrúpulo fino
do inegável escândalo:
sobre a imprecisa escrita sombra
mais me importa amar-te.
Curriculum vitae
digamos que ganhaste a corrida
e que o prêmio
fosse outra corrida
que não bebeste o vinho da vitória
mas teu próprio sal
que jamais escutaste ovações
mas latidos de cães
e que tua sombra
tua própria sombra
foi tua única
Diálogo
Ele abre a boca
é vermelha por dentro
ela abre os olhos
sua córnea é branca
como a lua
está quieta
a córnea lua
iluminando apenas
a bem-amada gengiva
dentro
com silêncio
à boca fechada
às escuras
habitam ambos
Persona
o querido animal
cujos ossos são uma recordação
um sinal no ar
jamais teve sombra nem lugar
da cabeça de um alfinete
pensava
ele era o brilho ínfimo
o grão de terra sobre o grão
de terra
o autoeclipse
o querido animal
jamais para de passar
me contorna
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