Nara Rúbia Ribeiro
Espinhos aguardam
Há milênios muitos
Que as estrelas quedem
Na solitária dor
Do existir.
Mas é imperioso destronar o medo.
Delinear a esperança
Serena
Em meio ao sismo da noite.
Desafiar a amplitude das sombras
Na sobra do afeto.
Sussurrar um poema de vida
Pois o céu
Desfolhado de outono
Ainda é capaz de florir
Um coração em primavera.
CANSAÇO
Deveria haver na vida
um tempo
de férias do existir.
Assim,
quando o caos das horas
nos visitasse o relógio da alma,
uma calma inexistência
nos levaria a paragens
onde todo sonho é possível,
pois tudo o que existe
ainda está por nascer.
Nara Rúbia Ribeiro
Do livro "Pazes"
Comparação
A vida é uma dança desengonçada
No salão do infinito que somos.
O sabor das coisas insípidas,
A casa que nos esconde,
O sorriso que nos camufla,
O sonho que nos move...
Tudo, tudo é nada
Se comparado à comida domingueira
De minha falecida avó.
Quero crescer, vó, mas onde?
Aonde?
Eu quero mais é a dor de ser gente
e esse medo macabro de já não o ser.
Quero a angústia de quem sente,
se ressente por sentir,
mas se dói dos insensíveis.