Poemas Mar
Foi beirar o mar
Fez companhia as ondas digitarem
sobre a areia
Foi uma palavra sobre outra
Fez verso com areia
Foi o som da rima quebrar
Fez espuma pensar
Foi leitura no rosto
Fez a azul o pano de fundo
Foi uma palavra...
Foi uma palavra...
Sobre a outra
Foi beirar o mar
Com olhos a marejar, eu te ensino a sambar, com os pés descalços na beira do mar.
O amor é o criar da vida, é a batida do meu coração.
Meu samba é a minha paixão, o encanto da sereia, no brilho da areia quando vejo o seu olhar.
Sonho com a alegria, de uma eterna emoção de deixar-se amar.
Ventos da orla
Cheiro de mar
Olhares distantes
Sem pestanejar
Se me deito eu sonho
A areia é um aconchego
O vai e vem da maré
Na ponta dos meus dedos
Passam senhores e meninos
Mulheres e meus ais
Imagino o que se pode
E o que não se pode mais
Breves anos eu passei
Suspirando a beira mar
Mas eu nunca encontrei
Um ideal pra eu amar
Só o mar me corresponde
Mas coragem eu nunca tenho
De ir lá onde se esconde
O prazer e me abstenho
Se eu réles e covarde
Se eu fraco e perdedor
Não encontro a mim mesmo
Que dirá um grande amor
"Quem nasce em terra e tem alma de mar
por mais que se nega não nega amar
as ondas se entrega,o azul lhe carrega
pro fundo do mar"
"Já procurei encontrar através das ondas do mar,
o que meu coração ainda não conseguia esquecer
além do horizonte "
A alvorada sobre o mar...
Traz a luz da esperança
Se aumentando devagar
Até onde a vista alcança...
Que o leve mar me leve
Para bem longe de toda negatividade
Desse mundo louco
Só quero um pouco
De paz
LETRAS POR ESCREVER
Serão escritas um dia, da serra
Rumo ao mar
Outras letras minhas
Sereninhas,
Inocentinhas
Que enviarei desta terra
Ao vento do meu gritar
Para poisarem no telhado
Da casa da escuridão
Em que escrevo versos
Controversos
Sem me deixarem comer
Desta fome de paixão!
Que ilusão
Que bendito chão
Da pocilga em que nasci...
Pelo menos aí
E ai,
Eu era carne de minha mãe,
Que Deus tem,
Sangue dela
E a dor sentida
Repartida
A acender a primeira luz da vida
Na vela
Pelas mãos nervosas de meu pai.
ALMA PERDIDA
Caiu-me a alma.
Não sei se dentro de um rio,
Ou na turbulência do mar.
Talvez na montanha
Tamanha de frio,
No calor do estio,
Quente de enregelar.
Será que ela fugiu de mim
E se esconde na cidade imensa
À espera da recompensa,
Numa espécie de arlequim
De rir pelas ruas
Sujas e nuas.
O que é que minha alma pensa?
Fartei-me dela, tão tensa
E cada vez mais pretensa
Gozando comigo sem par,
Que não perco mais um minuto
Em absoluto,
Para a encontrar!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 23-09-2022)
P A R E I
Precisava do ar das serras.
De tantas terras.
Faltava-me o iodo do mar.
Nem um ou outro eu pude aspirar,
Porque me prenderam no mesmo lugar.
Diz-me, então, porque paraste
Porque de ser tu, deixaste?
- Sei lá!...
Só sei
Que quando parei,
A minha vida ganhou outra luz
Como candeia que reluz
No quarto da solidão
E transforma a minha cruz
Num madeiro de expiação.
Afinal,
Até ao juízo final...
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 11-10-2022)
A V I D E Z
Tanto ávido à espera
Da esfera
Por armilar,
Para se poder guiar
No mar da ganância
E jactância
Onde se vai afundar.
São como cegos
Coxos e moucos,
Para alimentar os egos
Neste inferno de loucos.
Calcam e recalcam
O pai, a mãe
E todo o alguém
Que assaltam
Em nome da avidez,
Da sofreguidão
Que alguma vez
Os há de fazer penar
E findar,
Então!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 15-11-2022)
AMOR FUGIDIO
Luz que vieste do oculto
Luz que cega sem brilhar,
Que convida a mar de amar
Maré negra de outro vulto.
Por que andaste no ofusco
Do meu sol de companhia,
Quando eu somente te pedia,
Essa coisa do amor que busco.
Fugiste. Eu vi, eu sei,
Porque por ela me dei,
Na noite longa que dormia.
Um sono de olhos abertos,
Como que a fixar a luz,
A tua, dos olhos incertos.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 06-01-2023)
MAR LONGE DE TÃO PERTO
Um dia destes vou morrer, ó mar...
Sem te poder sequer avisar
Ou mandar um recado pelo ar
Pela terra e não por mar,
Que mar já és tu tão distante
Deste meu penado cante,
Poema ao longe sem te abraçar.
O que me fizeram, ó mar!?...
Agora que não tenho força de andar
Para sentir-te num solfejo
E amar a areia que amas num beijo.
Manda uma concha da tua água até mim,
Que mate a sede dos meus pés
E abrande a minha mágoa sem fim.
Que a tua água salgada
Seja cura abençoada
Das chagas deste meu ser
Um pouco antes de eu morrer
Na cama deste poema,
Dilema sempre de mim.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 05-02-2023)
ESPINHO-MAR PÃO E
ÀS VEZES MAR CÃO
Como eu te amo, Espinho
Flor do mar
A brotar
Num lençol de verde linho
Nesta minha inquietude
Cravada na solicitude
Daquele botar
Do barco ao mar
A querer buscar
Algum peixe graúdo
Que os deuses
Por vezes,
Só te dão
Em ração
De pão
Miúdo.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 13-04-2023)
ROSA RECALCADA
Rosa formosa dos seios grandes
Com cheiros de mar nas axilas
Trazias em ti almoços de sandes
E no coração memórias de pilas.
Nas tuas pernas feitas almofadas
De sal ao sol já tão crestadas
Alapavam outras de estofadas
Peles e espumas contaminadas.
Rosa enjeitada rameira sem nada
Objeto abjeto corpo de diversão
Em que tornaram o teu destino coitada
Mulher viva e tão morta de ilusão.
E um dia na campa ao lerem o teu jazer
Hão de estar sem arrependimento
Todos os que exploraram o sofrer
Do teu corpo de fora para o de dentro.
(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 18-04-2023)
MEU MAR MINHA LINHA
Era eu um pequenito
Naquela praia grande
De areal imenso
Do então Espinho extenso.
Eu ficava sozinho
Sentado numa pedra
Mais ao longe
Como que a comandar
A proa do meu barco
Rumo àquela linha do horizonte
Que eu via sempre direitinha
Com aqueles barcos grandes
De cargas de pão, de ouro
E especiarias, nos porões
Das fantasias.
Se calhar alguns petroleiros
Assaltados pelos piratas
Da minha verde imaginação
Que passavam com pachorra,
Na linha, do mar quente de verão.
E eu então imaginava:
Para além daquela linha, ficava
A Beira de Moçambique,
Era aí que o meu pai morava.
Não muito longe, eu via numa tela:
A Caracas do meu tio Vitorino,
Emigrado em Venezuela.
Depois, de barriga vazia
Voltava à areia da praia,
Morna da sorna da tarde
Que se ia com os barcos
E convidava ao sono.
Então, eu cobria-me com o meu manto
De areia
E, entretanto,
Adormecia...
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 30-05-2023)
PROGENITURA QUIÇÁ
Pai, é barco
É vela,
É uma caravela no mar
Manso
Ou bravo,
Lutando contra a maré
E disputando com a ralé.
É aquela flor chamada cravo
Que nunca renega a fé
Quando o barco ameaça partir-se
Nas ondas revoltas,
Tortas,
Da vida.
Então aí, a mãe ao sentir-se,
Toma conta do leme
E não treme
Nunca no torto
Até o barco amainar,
Serenar,
Em bom porto,
Ainda que isso lhe vá custar
Em contrapartida,
Alguns anos a menos da sua própria vida.
(Carlos De Castro, em Há Um Livro Por Escrever, em 15-07-2023)
NA NOITE
Era noite escura,
Tudo invitava ao descanso,
Até o rugido do mar era manso,
Convidando ao remanso.
Nisto, o chiar de pneus no asfalto,
Como um grito alto
Na noite serena e pura
Toda silêncio de negrura.
Gritos e bebedeiras loucas na noite.
Músicas tolas debitadas às paletes,
Que mais pareciam um açoite
Nos ouvidos, como foguetes
Estourando nas retretes.
Era uma discoteca na estrada,
Urros de animais grotescos,
No rebentar de fluidos
Dos possuídos
De duas patas quixotescos.
E a noite ia avançando
A chorar pelo seu descanso,
Já em maré de balanço.
Lembrou-se então,
Com emoção,
Dos tempos
De outros tempos,
Que era a dona do serão.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 31-10-2023)
MELANCOLIA
Cai a tarde lenta em brasa,
Num céu de mar ondulante,
Enquanto este vai e vaza,
Meu coração está distante
Pensando em ti, ó sereia
Que vi uma vez ao luar,
Em noite de lua cheia
Nas águas de prata, a rolar.
Que saudades sobre o mar
Meu coração lá deixou;
Tristezas de fazer chorar...
Enquanto eu não encontrar
Esse amor que lá ficou,
Farei na areia um altar...
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Triste Por Escrever, em 08-03-2025)
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