Poemas Envelhecer
Carolina.
Quero morrer de amor contigo,
Isso mesmo,
Morrer de amor,
Depois de uma vida tão linda,
Só de pensar,
Um frio na espinha,
Borboletas no estômago,
Histórias,
Tempo da juventude,
Nós duas bem velhinhas,
Deitadas numa esteira ao entardecer,
Sorriso implantado ou banguela,
Não importa,
Amor de alma quero,
Ultrapassa qualquer barreira,
Transpassa,
Quero ser sua calmaria,
Enquanto você,
É vento tempestuoso,
Quero ser teu sol,
Teu abrigo,
Aquele dia de domingo que se torce para jamais findar,
Infinda,
Comigo,
Fica?
Tão sensacional
enxergar você,
vai muito além dos olhos
dos outros,
e perceber que sua pele
pode envelhecer.
Mas o que eu desejo,
vai através da minha retina,
e se enquadra dentro de ti,
como uma tela,
com várias cores,
quanto mais se aprecia,
se deseja...
Sentindo a euforia
de uma criança,
na primeira vista ao mar.
E quando a caneta não escrever mais? Quando o lápis não tiver mais grafite? Quando a borracha ja estiver ressecada?
Os olhos se esforçam para enxergar, a fala mal se pode ouvir, o corpo luta para manter-se em pé. A cada dia uma batalha diferente, bem diferente das travadas no passado.
A contagem agora é regressiva, o tempo já não tem mais valor pois dele não se espera mais nada.
A mente ainda que pensante ja não se importa mais em fazer sentido, ela apenas é e ali esta. Nada mais é criado a partir da longa experiência que foi vivida.
Os sons, os textos, as músicas, as letras, organizações sistemáticas do que se aprende a sentir e que hoje ja não as expressam.
O sentimento é o que resta, a percepção mesmo que falha é o que move este antigo ser. O caminho foi longo, não tão longo que eu pudesse crer que mais 100 anos de sentimentos eu pudesse viver.
Dossel
Um denso dossel cobriu meus olhos, e a noite caiu.
Foram-se as vozes, as cores, o toque, e no silente de um só; resvalei em mim nas lembranças que se esfumaram no tempo.
Na urgência do destino, a selfie ausente do poente não vivido. O adeus roubado.
Caminhando de olhos fechados, uma vida esvaiu-se por entre os dedos. Cansado, adormeci nos escombros de mim mesmo, a duras penas conformado.
Despertei à luz do sol, quando o vento soprou o dossel. Nesta altura, conheci — desconhecendo, as rugas na pele e os fios brancos, nascidos na dormência de quem fui.
Na esperança, sigo lutando no presente, a guardar memórias na epiderme; trapaceando o incerto blackout.
Quanto tempo me resta, não sei!
Cá dentro, é a dor no vazio da minha metamorfose que perdi.
Sem ver, envelheci!
Para viver bem, é tudo uma questão de ter:
sorria como se tivesse 10
celebre como se tivesse 20
viaje como se tivesse 30
pense como se tivesse 40
aconselhe como se tivesse 50
se importe como se tivesse 60
ame como se tivesse 70
viva como se tivesse o último
Na melhor idade...
Envelheci
Mas minha mente floresceu
Trago viva a adolescência em mim
Meus pensamentos, frutos em meu jardim
Envelheci
Aprendi do muito que posso
O pouco que sei... e me decorei
Me fiz simples, digno em meu eu
Envelheci
Mas minha mente engrandeceu
Meu corpo não acompanhou os anos idos
Nem alcancei a fruta no pé que me apeteceu
Envelheci
Muitos limites perdi nessa estrada
E, me dou a fazer o que não devo
Quiçá, porque o cérebro trai meus desejo
Envelheci
Ficou no passado, mais que minha força
Menos o instinto, inda jovem e aguçado
Esquecido que meu corpo se fez cansado
E se, e se a gente começasse a dirigir?
E se, e se fechássemos os olhos?
E se ultrapassarmos o sinal vermelho rumo ao paraíso?
Porque não temos tempo para envelhecer
Corpo mortal; almas eternas
Cruze os dedos, aqui vamos nós
O que somos, o que seremos...
O que seremos?
O que fomos?
Seremos o que fomos, mas fomos o que queremos?
Ao nascer já começamos a envelhecer...
Ser envelhecente faz parte da nossa natureza.
A criança bem instruída, tem muito mais chances nas escolhas do rumo de sua vida.
O Jovem aprendiz de si mesmo. Nossas ações são determinantes para as reações.
Quantos conselhos os mais velhos têm para nos ofertar?
Mas, quantos conselhos os mais velhos gostariam de ter tido a chance de também receber...
Ah! Quantas coisas hoje eu poderia ter feito diferente ontem...
Às vezes não foi por escolha consciente, mas por falta de instruções que poderiam ter me mostrado outros caminhos.
Mas que bom que a vida continua e ainda está acontecendo agora, e com o passado podemos oferecer novas oportunidades ao futuro de alguém... Ao nosso amanhã também.
Vamos dar as mãos nesta era que se inicia todos os dias ao nascer do sol, a era da evolução. Transformar profundamente a educação.
Quem somos?
Somos a revolução.
(Aline Salla Carvalho - inspiração matutina de um dia lindo italiano 03/08/21)
Tempo: compositor de destinos
O tempo é quem escreve a partitura
Que rege a sinfonia do início ao fim
No começo é tão extenso ... parece eterno
Mas de um instante para outro,
Torna-se escasso
O tempo vira conciso,
de forma fugitiva.
Corrói matéria viva
Quem dera ter tempo
para o tempo que preciso
É o tempo que me dá
o tempo do indeciso
O tempo para o devaneio
O tempo para o cuidado
Sem tempo para o esperneio
Sem tempo para o açodado
Porque o tempo é dono da razão
É maestro do aprofundado
É dono da vida; até do coração
Sem pena do acovardado
O tempo é assim: abusado
Já não tenho mais este segundo
O agora? Aqui é passado.
Tita Lyra
Cabelos Grisalhos
Cada fio de cabelo branco, uma história
de tristeza
de alegria de viver
de saudade
de paixão
de amor
de amizades conquistadas e perdidas
da criação
da dor de perder
do ser ou não ser
da fé, ao perceber aonde acertou ou errou
do envelhecer
do propósito percebido após o grisalhar dos cabelos
de ver que a busca por Deus é infinita, por não perceber que ele está dentro do meu coração de menino.
Francisco Pontes
Felizes aqueles que envelhecem sem se tornarem velhos
Os eternos aprendizes de novidades
Os que aplicam as experiências vividas com sabedoria
Os que admitem os erros
Os que replicam a felicidade
Os que alimentam o espírito de amor
Esses florescem !
Já os que permanecem nas teias das frustrações e se embrenham nos emaranhados de inveja
Perecem
Tomo café bem lentamente, enquanto isso penso na vida.
Lembro da minha vó, que sempre dizia:
Não vai, filho, abrir a geladeira.
Mas eu sempre fui assim, teimoso, imprudente, curioso, separador de sujeitos e verbos.
Bebo mais um pouco de café e penso nas suas propriedades químicas. No pó que se faz líquido. Nos prótons livres sambando na minha gastrite.
Penso na vida novamente, no quanto somos transitórios.
Nascemos gasosos, expansíveis, livres, capazes de ocupar qualquer lugar e forma no espaço. Incontíveis.
Crescemos líquidos, adequados aos recipientes que nos colocaram. Metamorfos, porém carentes dos invólucros.
Envelhecemos sólidos. Rígidos. Firmes. Sustentando tudo que nos cerca. Magnéticos.
Frágeis à qualquer possibilidade de mudança.
Então sublimamos. Somos gases novamente.
Eu carrego na bagagem
Os lugares que já vi
Muita gente que se foi
Com quem eu já convivi
Estou ficando maduro
Mas só penso no futuro
Naquilo que está por vir
No dia em que eu parar e pensar "em breve irei partir", espero que eu esteja em ótima companhia e possa falar sobre isso, quero estar rindo com tranquilidade nesse momento.
Para mim isso seria a Paz.
Espere um pouco e verá, envelhecerá e perceberá...
que as convicções de ontem, hoje, podem estar fragilizadas...
que a razão de outrora, hoje, pode estar ofuscada...
que a certeza se tinha, hoje, pode ser vaga, pois
tudo o que se provou foi provado em meio aos anos da juventude
ou em tempo em que pouco se era experimentado.
No final, por mais que vivas, sempre permanecerá
a verdade, como sempre, invariável, inabalável e absoluta, e você
um mero aprendiz que pouco sabe sobre quase nada!
Eu no espelho
Minha pele amanheceu seca
Diante do espelho uma ruga que antes não tinha
Uma pinta que eu não conhecia
Os olhos caídos e cansados
Não são resultados de uma noitada
nem de uma jornada de trabalho
Acabei de acordar
E não me reconheço
Quem é essa no espelho?
Será que dormir por anos?
Ou me esqueci de viver?
A verdade é que vivi
para satisfazer a todos menos a mim
Será esse o meu fim?
Será Que ainda há tempo para mim?
A minha pele é um livro aberto
Uma página escrita da minha vida
Leio-me pelos caminhos que em cada ruga
Percorre a minha pele, como uma nascente
Que se torna num rio que vive correndo para o mar
Revelando a todos que me acompanham tudo que vivi.
A minha pele é um livro aberto
Uma página escrita da minha vida
Leio-me pelos caminhos das minhas rugas
Revelando a todos que me acompanham
Tudo que vivi.
Não sei se viverei para tê-los,
mas desde adolescente que eu gostaria de ter cabelos brancos.
Eu gostaria de já ser um senhorzinho de uns 70 anos,
com pele enrugada e um sorriso bondoso.
Mas o destino é cheio de ironias
e meu biotipo indígena é até difícil para envelhecer.
Sigo pois, com este semblante jovem,
sem combinar comigo mesmo.