Poemas do Século XIX

Cerca de 1376 poemas do Século XIX

A amizade era, em mim, desde muito, a simples sentinela do amor; não podendo mais contê-lo, deixou que ele saísse.

Machado de Assis
A desejada das gentes (1886).

A distância não descasou os nossos espíritos, tão sinceramente amigos um do outro.

Machado de Assis

Nota: Carta para José Alexandre Teixeira de Melo, escrita em 22 de novembro de 1864.

⁠Quando um homem sente em si uma grande ambição, não pode deixar de realizá-la, porque justamente nesse caso é que se deve aplicar o querer é poder.

Machado de Assis

Nota: Trecho do conto Uma águia sem asas (1872).

⁠Há umas plantas que nascem e crescem depressa;outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881

⁠Não havendo nada que perdure, é natural que a memória se esvaeça, porque ela não é uma planta aérea, precisa de chão.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881

⁠Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881

— Está explicado, ou adivinhado, pelo menos. Comparados os dous maridos, o melhor, o mais terno, o mais fiel, era justamente o de Marcelina; o de Luísa era apenas um bandoleiro agradável, às vezes seco. Mas, um e outro, ao passarem pelo espírito das mulheres, mudavam de todo. Luísa, pouco exigente, achava o Candinho um arcanjo; Marcelina, coração insaciável, não achava no marido a soma de ternura adequada à sua natureza... O subjetivo... o subjetivo...

Machado de Assis
ASSIS, M., Questões de Maridos
Inserida por gabipinho

Acrescia o abatimento que era impossível evitar no meio de tanta fadiga, certo cansaço dos olhos, que os fazia moles e talvez mais adoráveis, um rosto sem riso nem vivera, um silêncio atento e laborioso.

Inserida por pattynoturna

A fidelidade à moda custava-lhe um pouco, quando esta não ia a passo com a impaciência.

Inserida por pattynoturna

Quando me perguntava se sonhara com ela na véspera, e eu dizia que não, ouvia-lhe contar que sonhara comigo, e eram aventuras extraordinárias, que subíamos ao Corcovado pelo ar, que dançávamos na lua, ou então que os anjos vinham perguntar-nos pelos nome, a fim de os dar a outros anjos que acabavam de nascer. Em todos esses sonhos andávamos unidinhos. Os que eu tinha com ela não eram assim, apenas reproduziam a nossa familiaridade, e muita vez não passavam da simples repetição do dia. Alguma frase, algum gesto. Também eu os contava. Capitu um dia notou a diferença, dizendo que os dela eram mais bonitos que os meus, eu, depois de certa hesitação, disse-lhe que eram como a pessoa a pessoa que sonhava... Fez-se cor de pitanga

Machado de Assis
Dom Casmurro
Inserida por pandavonteese

Eis aqui um que não fará grande carreira no mundo, por menos que as emoções o dominem...

Machado de Assis
Dom Casmurro
Inserida por pandavonteese

Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: - decifra-me ou devoro-te.

Machado de Assis
ASSIS, M., Memórias Póstumas de Brás Cubas
Inserida por tuud

Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno. Este outro suplício escapou ao divino Dane; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos cabelos de Capitou, mas então com as mãos, e disse-lhe, – para dizer alguma cousa, – que era capaz de os pentear, se quisesse.

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).
Inserida por lobothais

Um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).
Inserida por gtrevisol

Cada beleza moral ou mental era atacada no ponto em que a perfeição parecia mais sólida.

Machado de Assis
O alienista (1882).
Inserida por bruna1992

Chega a fazer suspeitar que a mentira é, muita vez, tão involuntária como a transpiração.

Machado de Assis
ASSIS, M. Dom Casmurro. Rio de Janeiro: Garnier. 1899
Inserida por pensador

Não mofes dos meus quinze anos, leitor precoce. Com dezessete, Des Grieux (e mais era Des Grieux) não pensava ainda na diferença dos sexos.

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).
Inserida por Nunees17

Eu creio que a senhora sonha talvez demais. Sonhará uns amores de romance, quase impossíveis? Digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).
Inserida por KeeyMachado

A Corte divertia-se, como sempre se divertiu, mais ou menos, e para os que transpuseram a linha dos cinquenta divertia-se mais do que hoje, eterno reparo dos que já não dão à vida toda a flor dos seus primeiros anos. Para os varões maduros, nunca a mocidade folga como no tempo deles, o que é natural dizer, porque cada homem vê as coisas com os olhos da sua idade. Os recreios da juventude não são decerto igualmente nobres, nem igualmente frívolos, em todos os tempos; mas a culpa ou o merecimento não é dela, – a pobre juventude, – é sim do tempo que lhe cai em sorte.

Machado de Assis
A mão e a luva (1874).
Inserida por lucijordan

A deliciosa paisagem ia ter enfim uma alma; o elemento humano vinha coroar a natureza.

Machado de Assis
A mão e a luva (1874).
Inserida por lucijordan