O Poeta e a poesia

Cerca de 3802 poesia O Poeta e a

Incertezas no cerrado

Primavera, verão, outono, inverno
Qual estação no cerrado é decisão
Ficar ou partir neste desejo interno
Em ebulição no meu mesmo coração
Saudade? Tristeza? Encanto? Dorido?
Aqui debruçado na vida, em suma
Como sabê-lo? Se o incerto está partido
E os trilhos da razão dão em parte alguma.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/03/2016, 05'55" - Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Mulher

Mulheres mistério da criação
Mulheres de sexto sentido
Mães, esposas, amor garantido
Meretriz, coração sofrido
Repartido, nem sempre aceitas
Sedutoras, perfeitas, imperfeitas
Vaidosa, cheirosa, provocante
Ocultas, feiticeiras, alucinantes...

Mulheres que encantam, provocam
Com seu olhar falam, tocam
Parideiras, santas, no cio
Briguentas, humor por um fio
Beatas, rezadeiras, absintas
De almas serenas
Brancas, loiras, morenas
Pé no chão, terrenas...

Mulheres de luz, de juízo
Agitadoras, de guizo
Sedutoras no paraíso
Dominadoras com seu largo sorriso
Mãos calejadas de rendeiras
Preguiçosas, trabalhadeiras
Outras com sua ginga faceira
De pulso forte como aroeira...

Mulheres que o olhar disfarça
Perseverante, perpetua a raça
Envolventes com toda a sua graça
Conselheira de eterna ilusão
Movidas pela feminina emoção
Fascinantes nos perigos do coração
Fera na defesa de sua convicção, dos seus
Mulheres uma bela criação de Deus!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02/03/2009 - Rio de Janeiro, RJ

Inserida por LucianoSpagnol

Poema num sábado de aleluia

No apagar da quaresma
Qual cinza restou
Ou será a mesma
Se fica ou se vou

Os sinos tocam, sábado de Aleluia
Anuncia a reflexão da traição
Retire suas culpas da cuia
Da omissão. Seja oração...

Perdão

Vamos nos aconchegar
Na misericórdia
E ter braços para ofertar
De que vale negar, ter discórdia
Se somos filhos, iguais, no altar
Da criação Divina. Livres na história

Livres para sonhar
Na fé vitória
Sábios para perdoar

Ao nosso "Judas", executória
A solidariedade atar
A paz e bem, gloria!

É vigília pascal
Trajetória
No amor, o amor incondicional

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
26/03/2016, 06'10" – Cerrado goiano
Sábado de Aleluia

Inserida por LucianoSpagnol

Apanhador do cerrado

Uso o meu olhar para apanhar o cerrado
As palavras tortas compõem o mato crivado
De cascas grossas, cascalhos e céu estrelado
O chão na temporada de sequia, é maltratado
Os jatobás fatigados tão firmes como as perobas
Rodeiam os pequizeiros, tão "bãos" como as guarirobas
Cheiro forte sabor da terra, como as doces gabirobas
Entendo bem o sotaque é o povo deste chão
Sou daqui, tenho respeito a toda esta tradição
Povo das sucupiras, flores rasteiras e abelhas arapuá
Tudo aqui tem força, tem suor, é aqui, é acolá
Assim como a magia do canto da seriema e do sabia
Deste cerrado místico, torto, certo e errado, sempre a brotar
Que o tal desencanto encanta o poeta no poetar
Este quintal que é o maior do mundo, que faz sonhar
Me faz ser apanhador do cerrado, no meu versar.

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
30/03/2016, 22'22" – Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Sorriso

Sorriso pinta a tua dor
Da cor que se desejar
É ofertar com uma flor
O triste pra se alegrar

Sorriso abrevia o vazio
Se nada mais restar
Sorria um mirar macio
Aprazendo o alheio olhar

Sorriso traz à vida luz
E aos dias só encanto
Sorria para a sua cruz
Sorria pro seu pranto

E assim sorrindo, amar
Num teatro fulgente
A maioria irá pensar
Que és um ser contente

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril, 2016 – cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Outono no cerrado

Cerrado. Ao horizonte escancarado. Escancaro o olhar
Sob o céu acinzentado, admirado chão de cascalho calçado
O vento rodopiando, a poeira empoeirando a anuviar
O minguado frio sequioso outono dos planos do cerrado

As folhas bailam, rodam, caiem em seu leito ressequido
A chuva se esconde, onde o céu não pode chegar
Os sulcados arranham e ondulam o ar emurchecido
Do desconforto calado entre os cipós e galhos a uivar

Olho o céu purpúreo desenhar o frio chegando ao porto
Os arbustos rodeados de cascalhos num único flanco
Rangendo o outono no amarelado e árido cerrado torto
Num verdadeiro espetáculo de pluralidade saltimbanco

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28/04/2016, 14'25" – cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Além

Para além do tempo, a quimera
Para além da era, o amor
Para além da dor, a lágrima
Para além das palavras, porfia
Para além da vida, a glória
No epílogo da alma em poesia...

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Maio de 2017 – cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

TEMOR

Sofro... vejo o vão e o desespero envasando
Os pensamentos inventivos, agora são atoa
Abandona-me a fé, pouca, fé que me atraiçoa
Chora o peito e, o olhar, em lágrima sangrando
Me perdoa!

Que fazer pra ser os de sorte? Os de boa!
Se a ambição na lama, neste poetar nefando
Fala em glória, com aspereza de ser brando
Quando na verdade a sofreguidão amontoa
O tempo expirando!

Choro... sofro... sobre a desdita e a oração
Padeço no silêncio engasgado na garganta
Amarga a ilusão que na inspiração agiganta
Haja emoção!

O que se fazer neste infortúnio, sem enredo?
Sacripanta! A piedade não se fará de infanta
Deixe este poetar poetando, e levanta!
Que medo!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
31 de maio, 2019
São Paulo, SP
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

FAREWELL

Vai morrendo assim! Morrendo a cada dia
Assim! de um vazio assim!
A força, tácita e fria
Fria! silenciando tu e eu, olhos calados
Esvaindo dos meus os teus beijos gelados

E numa hora assim! Um assim! E assim não quisera
Tudo acaba, tal o bucólico fim da primavera
Sonhos, inspiração, rasgando o fundamento
Flores pelo chão, solidão, o som do vento
A alma apertada em um canto despencada...

E, aqui no peito... medos, quimera em retirada
Nós dois... e, entre nós dois, o austero adeus
Decompondo os desejos meus e os teus...

Eu, com o coração retalhado, - tão ocupado
De ti, e no desespero, de não mais ter-ti do lado
amarguradamente,
Me vejo com sentimento tão ardente
Estes que um dia foi nosso!

E eu afastando! E afastando... posso! não posso!
A noite, o dia, a doce poesia, num troço
E tão solitário, em um palpitar de despedida
Despeço de ti, e me ponho de partida!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2019, junho
São Paulo
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

Sou…
A flor da pele transpirando emoção
A mão que fuça a doce ilusão
Uma duradoura paixão...
Sou...
A noite que se faz dia
A madrugada de pura revelia
A chegada, a partida, fantasia
Sou o olhar estendido
Sou o coração partido
Sou alma de uno sentido
Sem hora nem lugar...
Sou um eterno amar!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
07’39”, 04/06/2013
cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Banana

Ah! A banana...
da terra
prata
ouro
delicia soberana

Na roça
no quintal
minha, sua, nossa
preferência nacional

Ah! A banana...
Capital!
Que da Mãe Terra emana

Viva o bananal...
natureza, prana
fortuna tropical

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
39/004/2020, cerrado mineiro

copyright © Todos os direitos reservados.
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol

Inserida por LucianoSpagnol

LÁGRIMA (soneto)

Quando meus olhos leram o cerrado
Umedeceram de lágrima ressequida
Que pagou os meus pecados da vida
E o que devo, ainda num tempo calado

Por outro lado, brada a poesia, e lida
Se não é como gastaria, é um estado
Faço todos os dias, pois me é sagrado
Nela, as lágrimas, escrevo a dor doida

Também rimam a felicidade, o meu fado
No poema misturado, n'alma repartida
Porém, cada lágrima, um sonho sonhado

De lágrima em lágrima, a poesia cumprida
A existência traduzida, o verbo anunciado
E segue, poeto, até a hora da despedida...

Luciano Spagnol
Outubro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Viva a vida, não se sinta largado
O amor no coração é muito mais
Tire a tristura, não olhe para trás
O caminho por Deus é marcado

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Família é assim, muda só o endereço
Se complicada, simples é a tradição
No sangue é o amor, o amor é união
Mas o que mesmo conta é o apreço

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Família em família tem direito e avesso
A emergência numa quase legislação
É nome, é sobrenome e de vital preço

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO PRUM ADEUS

Tendo a cova por último ornamento
Na incógnita lápide minha pequenez
Lembrança na lembrança, um talvez
Sob a terra o mais vil esquecimento

No redobrar dos sinos, a total nudez
Dum defunto sem data de nascimento
Um ninguém, de solidão e sofrimento
Dos que à vida, na vida foi escassez

Deixei atos em versos de sentimento
Podem até ser os tais sem a polidez
Mas, foram vozes, e não só momento

No adeus, o adeus com total lucidez
Pois se meu fado foi sem argumento
Então, pós morte, perde-se a validez...

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Tendo a cova por último ornamento
Na incógnita lápide minha pequenez
Lembrança na lembrança, um talvez
Sob a terra o mais vil esquecimento

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO AO PÉ DO PEQUI

O fado ao pé do pequi, no cerrado
pôs-me a ouvir e um soneto narrar
estórias que eu não podia imaginar
e que fez da gratidão o meu agrado

Era o destino me propondo reciclar
pra me tirar do espírito aperreado
do fútil que estava acorrentado
me dando a chance doutro lugar

Sim, ai eu pude então ser evocado
qual a terra prometida, vim me achar
na eterna busca de ser encontrado

De filho pra pai, pai me vi no olhar
então na compaixão fui anunciado
e entendi o doce sentido de amar...

Luciano Spagnol
Cerrado goiano
ao meu velho pai

Inserida por LucianoSpagnol

CERRADO NUM SONETO

Bendito és tu, cerrado de cascalhos
que em tuas ramas o belo derrama
num céu imenso e cheio de drama
de exóticas flores e tortos galhos

Escancaraste a janela num monograma
dum horizonte rubro e de secos borralhos
num contraste de luz e sombra em talhos
que a admiração esculpe num panorama

Bendito sejas tu, trançado em retalhos
de relva rastejantes que no chão flama
refrescantes nascentes, e áridos atalhos

E do seu sol poete, poemas declama
ipês florescentes e avoengos carvalhos
que encenam vida, e a vida proclama...

Luciano Spagnol
Outubro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Cerrado
...do seu sol poete, poemas declama
ipês florescentes e avoengos carvalhos
que encenam vida, e a vida proclama...

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol