Morre Passaro
Hoje o pássaro da felicidade veio me visitar. Desceu do céu e se "sentou" na grama do jardim, feito dono de tudo e querendo um dedo de prosa comigo.
Cantou que estava feliz em me ver, parecia sorrir com o bico.
Hoje o pássaro da felicidade veio me visitar e retocou minha alma com o bálsamo da fé e foi.
Nildinha Freitas
Vida Cigana
Encaixotei as dores e fui viver uma vida cigana de amores,
Como um pássaro, vasculhei flores, pousei em galhos firmes, espalhei frutos pela floresta e continuei a voar atrás de novos horizontes,
Vejo um rio correndo solto, levando as minhas memorias e a minha inocência na mesma direção, sigo em frente com o meu caiaque desviando do curso do rio para não cair em uma cachoeira profunda de emoções,
A chuva cai, a minha alma esta limpa, o frenesi e as experiências da vida são uma construção sem fim.
Juliana Marins (Homenagem)
Pássaro aventureiro, desbravador de mundos,
Dançou entre os povos, distribuiu seus sorrisos largos de felicidade plena, espalhou alegria, paixão pela vida e amor incondicional pelo próximo sem perder tempo a cada batida de suas asas,
voou livre e feliz, viu lugares e lugares, pousou em vários oásis, se emocionou com as rosas, chorou com os espinhos, vibrou nas nuvens, sonhou acordado nas copas das árvores,
Monte Rinjani, Indonésia.
Uma trilha na montanha, trezentos metros, a exaustão, neblina, cansaço, as asas ainda cheias de vida e sonhos batem pela última vez apenas neste plano, adormecendo profundamente no alto das montanhas.
Margarida.
O ponto de mutação
Um canto de pássaro
Aquele traço profundo
Meus passos cada vez mais lentos
Quatro ventos
Quatro pontos
Quatro estações
Não sei em qual delas eu desço
desde o começo eu desconfiava
Que essa estrada
Não leva a lugar nenhum
Pressinto o quinto dos infernos
Resumindo tudo isso
Eu meço a distância
e concluo
a relevância do nada
E é nisso
Que tudo consiste
Sigo mudo e cego
Ouvidos ouvindo absurdos
A cada dia mais corretos
E cada vez menos lerdos
Á minha esquerda
Jaz a margarida
Quase apagada
Semi-desenhada na parede
Milhões de Céus
Bilhões de mundos
Eu no chão
É quando chego ao ponto
Porém este
de interrogação
Edson Ricardo Paiva
O tempo é ferrugem
No metal da vida
A água foi sob a ponte
Um pássaro que eu nunca vi
Cantando perto da janela
Outras flores que surgem
A vida passa
Seja ela
cheia ou vazia
A lenha queima na fogueira
Ofusca a estrela lá no Céu
Um dia
de todas as estrelas que se vê no Céu
Restarão somente cinzas
Outras estrelas surgirão
Outro chão
Outros Céus
Outras vidas
Devagar e lentamente
Mas a gente nunca dispõe
de tanto tempo assim
Pra prestar atenção que nosso tempo
Diante do tempo
é nada.
Edson Ricardo Paiva.
O PÁSSARO QUE MORREU ONTEM
(Poema em homenagem ao herói venezuelano Oscar Perez)
.
Não há como ser livre
Espíritos livres, pensam liberdade
Mas meu pensamento está na alma
Minh'alma, em minha mente
E minha mente está em mim
Assim, não há como ser livre de verdade
Pois hoje eu penso não ser eu
Eu era um pássaro, que morreu ontem
No meu voar, sem precisar de amparo
Eu tinha um Deus como amigo
Que me provia a água, que chovia
No meu beber, sem precisar de cântaros
E meu cantar de pássaro subia aos Céus
Meus Céus e meu Deus
Eram bem maiores que os seus
Assim era o meu viver
Sem abrigo, anteparo e nem casa
Feliz, feito alma livre
Que não pensa, porque não precisa
E sem pensar me feriram
Quebraram-me as asas
Qual se fosse nada
Qual se fosse brisa
Mataram-me, sem precisar sentir vontade
Uma das poucas liberdades que se tem
E aquele, agora sou eu
Sou eu, sem o poder de ser eu mesmo
Mesmo assim, de alguma forma
Eu sou obrigado e vou seguindo às normas
Regras de gente, totalmente imprecisas
E já faz algum tempo que estou aqui
Pacata vida, de pássaro que não voa
Pensamento preso à alma, pois pensar precisa
Vivendo à toa, esse tempo infinito
Sentindo a saudade, que também me mata
Porém, quase nunca, uma morte certa.
Edson Ricardo Paiva.
Um pássaro tristonho
Muito estranho e muito feio
No meio de uma noite
Apareceu num sonho meu
Mas o noite não parou
Pra que eu pudesse compreender
A vida amanhece
E cada um tem seus próprios sonhos
Cada vida traz em si mesma
Pássaros tristes
Pois eles existem
Espalhado pelo caminho
Mas nada mudam
Quando a gente não se entrega
A permitir que um deles
Venha a fazer seu ninho
Aqui no coração da gente
A estrada segue adiante, empoeirada
O pó de uma estrada
É o mesmo pó de todas as estradas
Interligadas
Entradas, saídas, partidas e chegadas
Pássaros tristes
Sonhos e encruzilhadas
A clara luz da tarde iluminando a vida
A vida também não pára
Nem o mundo esperou
Eu chorar minhas tristezas
Espalhadas pelo caminho
No galho seco, um pássaro triste
Que não canta, nem se alegra
Segue as regras que criou
Mas só vem fazer ninho
Quando a gente o convida
Então, alguém de passagem
Verá seu coração pelo caminho
Um galho seco, outra pousada triste
Mas ... se estiver só de passagem
Não vai te esperar também.
Edson Ricardo Paiva
Meu espírito de pássaro
Passou perdido por algum lugar
Faz tempo que não sabe aonde
Um mísero passarinho
Um papagaio cuja linha se rompeu
Num atalho, um retalho de vida
O olhar perdido
Acatando às vontades da ventania
Meias verdades, volta e meia
Vagueia ao Sol do Meio-dia
Implorava por um poleiro
Um sorriso de pranto, um canto qualquer
Um galho pra poder pousar
E cantar por um dia inteiro
e deixar o seu rastro perdido
Esquecido na linha
do horizonte que se rompeu
Essa vida era minha
Esse pássaro era eu.
Edson Ricardo Paiva.
O grilo
Cantava pra Lua de noite
E fugia do pássaro
Quando o dia amanhecia
Tem coisas que não se alcança
Por mais suaves
Sejam as palmas das mãos
Elas passam despercebidas
Há lugares pra se olhar de longe
E outros que se sabe
Mas nem ao longe se vê
Só não há como prender o tempo
Nem quando a gente o quiser
Nem mesmo sem o querer
O toque das mãos
Um dia deixa de ser tão suave
O canto do grilo
A Lua não alcança
O tempo troca a noite pelo dia
Correndo suavemente
Qual toque das mãos
Um dia deixam de ser tão leves
Porém são tão breves
Quanto a queda num precipício
A vida, tão linda que era
Até mesmo um encontro ela tinha
E passava toda a si mesma
A cuidar da sua própria beleza
Pois a beleza da vida
Quando a vida era bela
Jamais envelhecia
E passava sem pressa
Na certeza dessa espera.
Edson Ricardo Paiva.
Eu peço ao dia de hoje
Que ele esteja vivo
E seja livre como o pássaro
Que fugiu quando eu abri a porta
E que se a vida pudesse
Ser ao menos boa
e deliberadamente linda
Qual canto do grilo
Cantando pra Lua
Antes que finde a madrugada
E que a Lua empalideça
Grilada dos pés à cabeça
Carente daquela beleza
Que mata a gente de saudade
Mas que à luz da verdade
O morrer por saudade
Nâo seja morte que vem à toa
E quando a chuva cair
Ela jamais impeça
Que a gente peça ao dia
A presença
do pássaro que voa
Nem das flores
Que a chuva planta
Na beira das estradas
Que se percorre
durante o correr da vida
E se a vida puder ser assim
Não peço ao dia mais nada.
Edson Ricardo Paiva.
O pássaro pulou
Voou de galho em galho
cantarolou bem baixinho
Meu amor, a minha flor-de-maio
dormia ainda
Não viu esta parte linda do meu dia
Tomara que ao menos sonhe comigo
Vai ganhar café na cama
Meu amigo passarinho vai pro chão
Pegar bichinhos nas flores que cairam
de vez em quando ele pia
depois voa
Todo voo é poesia
Voar à toa
Creio que seja
A coisa mais boa que existe
Eu não voo
e nem por isso sou sempre triste
mas me pergunto:
Passarinho, por que sumiste?
Mesmo assim meu dia é bom
Pois eu sei que você e ela
Existem.
De vez em quando, meditando
Eu suponho ser um pássaro
Ou um inseto voador qualquer
E saio por ai voando
Imaginando um Mundo melhor
Das paisagens que Deus me permite ver
Prefiro as da natureza
As manhãs orvalhadas e a vegetação
A imagem da Lua espelhada no Mar
Não há nada mais divertido
do que ver a branca luz refletida
dançando lentamente
Entre as coisas criadas por gente
Eu prefiro, indubitavelmente
A Imagem da Mona Lisa
A Poesia de Vicente de Carvalho
O brilho de limpeza muito pura
dos assoalhos simples e humildes
Mas nada se compara
Aos insetos caminhando sobre galhos
Procurando atalhos que os leve
ao bico de alguma ave
Ao fundo de tudo isso
O som suave da gaita e do violão
Os sorrisos dos meus filhos
Aline e Raul, Marina e Murilo
e o do meu irmão mais velho
A vida correndo sobre os trilhos
e voltando a mim mesmo,
em questão de minutos
Assim eu começo meu dia
Muito antes do nascer do Sol
Muito obrigado, Meu Deus!
Não consigo entender
o motivo
De Deus ter me feito homem
Se me deu uma alma de pássaro
Um pobre pássaro
Sem asas para voar
e nem rios ou cântaros
Onde beber
Um pássaro que vive
Num lugar onde não chove
Um homem que vive
Uma rara doença
Muito grave
de enxergar a dureza do mundo
Com uma alma um tanto suave
Esperando que um dia, finalmente
Essas asas me venham
Lá do Céu
E que as Mãos de Deus
Me levem.
Haverá respostas
Se vivermos por buscá-las
Encontrará quem não viver só pela vida
Como um pássaro pequeno, que não voa ainda
Aguarda em paz
E sabe mais que todo aquele
Que não vê mistério em nada
E tem sido sempre assim...eis a graça e a lei da vida
O conflito interno, a guerra, o dia ruim
A terra embrionária...flores mortas
Que visão mais torta, que dores são essas?
E, sem pressa, estrelas
Esperando lá no céu, para poder ser lidas
Vida celular oculta, secular.
Areia do deserto
A vida, uma arquiteta paciente
Aguarda um dia a nuvem vir chover lá perto
Repletas do saber de Deus
Noite alta de profundos sonhos
Enquanto a brisa leve cruza o mar à luz da lua
Desenhando um novo mundo
Que vem lá de não sei onde
Ninguém sabe a vida e o que ela traz
A parte que te cabe é tentar perceber
A melhor maneira de vivê-la
...ou viver só por viver
Eis a graça e a lei da vida
Edson Ricardo Paiva.
Hoje amanheceu chovendo
O pássaro dormia, ele partiu
Meu dia amanheceu calor
Olhando o mesmo mundo
O vejo mais distante
Desejo ao pássaro
Uma boa viajem somente
Não tem como sentir
A dor de fazer tudo igual, diferente
Meu dia amanheceu
Tão quente
Sem motivo pra calar
Não faz mal estar tudo bem
Quando estar tudo bem
Não é, nem de longe, importante
O ar quente do balão
O vento forte contra a asa do avião
O tempo breve, cuja vida abrange
A grandeza do anjo
A beleza do jardim lá fora
O pássaro que há muito adormecido
Fez uma curva no céu
Acenou-me um adeus
Era a hora de partir
A corda do violão
Arrebentou, quando eu não estava perto
Se fez algum ruído ou não
Não sei
Somente o anjo, coração deserto
Decerto estava lá pra ouvir.
Edson Ricardo Paiva.
O pássaro foi preso porque ele tem asas.
A tarde vai
Noite cai depressa
Parece que não faz sentido
Vai-se como o pensamento
Uma vontade que, apesar de enorme
Sucumbiu, perante o tempo
Em frente da verdade
Te vejo chegando e pergunto
Meu Deus, o que foi que te trouxe?
Quisera fugir de desejo tão doce
Quem dera se ao menos tão breve não fosse.
Tudo são peças
De todos os quebra-cabeças
Mas a vida é toda feita tardes e manhãs
E tortas de maçãs
Esfriando, nas janelas do passado
Aquelas que, de vez em quando
A gente se recorda
Nunca ouvi falar de orgulho que não perecesse
No mais, tudo se ajeita
A tarde passa depressa
De maneira que foi só desejo
Que se põe pra sempre
Lá no fim da linha
Todo fim de tarde é uma visão perfeita
Onde um mundo de horizontes
Se enfileira bem diante
de todos os olhos do mundo
Quando finda o dia e a luz do sol se aninha
Mas a vida toda, ela consiste
De manhãs e tardes
Onde existe a pressa e o vice-versa
E nuvens que não passam por aqui
Se uma só, triste, passasse
Juro como eu lhe pedia
Que me ensine levitar
Que eu revelo a ela
O peso de pisar em brasas
O pássaro foi preso porque ele tem asas
Os pássaros são livres por estarem presos...às próprias asas
Eis a nossa natureza
Hoje eu olho para o céu, nada se move
Todo dia é todo feito de manhãs e tardes
E janelas a se abrirem pra jardins de flores mortas
Portas, donde agora estamos. Ah, se elas se abrissem!
Tardes passam, sem fazer sentido
Algodões que não se movem, que não chovem, que não nuvens
que não nevam, que não levam nada
Vão vivendo a vida, sem ligar se faz sentido
São borrões no céu, apesar de parecer felizes
Se passassem por aqui
Pedia pelo menos pra que ouvissem meu pedido.
Edson Ricardo Paiva.
