Moradores de Rua
E ela segue encantando
Deixando pelos cantos
Hematomas
De palavras
De laços desfeitos
Que lhe emendaram
Uma força tremenda no peito
E tantos goles
Um copo
Seu corpo
Sua liberdade é ouro
Madura
Sai pela rua
É tão desprecavida do tempo
Se entrelaça com o vento
Sem pressa
Sempre a espera
Do seu sorriso
Da sua mania de ser esconderijo
E se perde
Para se encontrar
No seu próprio
Amor
Vestígios!
Amando eu o meu próximo, como posso dormir tranquila, sabendo que muitas pessoas não fizeram refeições? Não tomaram um banho, não têm um lar, dormindo nas ruas em situação precária?
Luz.
Carreira.
Mesa suja e cheia.
Jurídica justiça sem juz.
Injusta.
assusta.
Frusta.
Reproduz.
Palavra entre beco.
Rua sem saída.
desprovida.
Bico seco.
Boêmio e teco.
Malandragem.
Boteco.
Abordagem.
A vida enquadra.
De toca a ladra.
Se emboca.
Desbocada
Singela
Madrugada.
Em aquarela.
Água com churumi.
Temperada com chimi churry
Ilustre término impune.
Clima tenso nunca mais viela.
Esqueci como é ser criança,
Problemas...Pesos...Responsabilidades.
Aprendi a encarar essa realidade.
É difícil ser o que me tornei,
Não o "eu" oculto,
Mas o "eu" adulto.
Esquecemos dos sorrisos que dávamos,
O nosso ego nos cegou.
Se quer notamos quem estar ao nosso lado.
Perdemos a inocência,
Movido por desejos carnais e matérias, apenas...
Aos poucos vamos caindo igual Atenas.
O que antes acordávamos
Para brincar com os vizinhos da rua,
Hoje acordamos para servir uma rotina sem vontade nenhuma.
COISAS DE MENINO DE RUA
Um menino de rua pode ser doutor?
No meu tempo podia..
O menino de rua era o dono do lugar;
Ele podia ser o que bem queria.
O menino de rua no meu tempo:
Tinha termo, se divertia;
Tinha vida, sorria e gargalhava;
Tinha casa e cama macia.
O menino de rua no meu tempo
Ia pra escola, fazia fila;
Cantava o hino nacional;
Jurava devoção à pátria mãe.
Memorizava as cores da bandeira;
Rezava de mãos posta no peito;
Chorava e não se envergonhava...
Pois, amava a pátria que nasceu.
O menino...
usava uniforme azul e branco,
Meias brancas, branquinhas,
Conga azul ou kchute preto...
No pescoço tinha uma gravata.
Fui menino de rua...
A mãe sabia, o pai espiava sisudo;
A vizinhança sentada na porta da casa
Da meninada, cuidava.
Menino de rua do meu tempo...
Se quis virou doutor, professor, jogador
Por isso sou poeta ...
Em versos escrevo história.
COISA DO DIREITO DE SER
Há tempos que se deve ser para outros,
O que elas querem que se seja, é acordo
É respeito, é por um tempo;
Sempre se é, o que se quer ser!
Será perda de energia se não for...
Calo-me para não desperdiçar-me;
Sou a resiliência, sou multiforme...
Discutem, discordam e insistem, logo se vão!
Volto sempre a ser eu, quando estou só;
Volto a ser eu quando estou pensando;
Volto sempre a ser o que gosto de ser.
Volto a ser eu quando encontro pessoas que amo;
Volto a ser eu , perto de quem sabe quem sou
Volto a ser eu, quando durmo, reinvento-me!
RESPEITO PELAS COISAS
Não me incomoda o incômodo;
Sei aonde é meu lugar no mundo.
Atiro-me só no que espero e quero,
E esmero-me para ser o melhor humano.
Se o meu lugar no mundo incomoda,
Peço, não se preocupe, a ocupação é breve.
Um tempo e já não sou...
Num estalar de dedos e já não estou.
A vida é breve...
O tempo corre e voa;
Muitas coisas passam, e já não voltam mais;
De outras que ficam, nada é demais.
Não me incomoda o incômodo;
Sei onde é o meu lugar ao sol...
Sei também aonde é o lugar das coisas
Pra ficar peço licença!
MEU CHÃO
Gosto de pisar descalço.
Ficar de pé no chão;
Gosto de ter um punhado de terra
O resquício do que sou...
Ainda serei natural.
Em grãos de areia, na praia,
Ao pisar me sinto forte;
E com poeira na mão...
Fica a sensação interior,
de controle sobre mim mesmo.
É de pulsar forte o coração!
A RUA
Não era itinerário nem outra nova direção
Suspiros! Calor no cerrado. Lembrança
Aqui havia uma rua, casa em demolição
O tempo era maior. A nostalgia uma lança
Tantos são os mortos na minha indagação
O tempo roendo a recordação, em dança!
E nas casas, impregnada de tenra poesia
A saudade, e não mais havia vizinhança
Tudo em ruína, mais nada dizia...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, dezembro
Cerrado mineiro
Dignidade Humana
O contexto social de um morador de rua me causa tanto inconformismo que chego a sentir culpa por ter um teto para morar.
Aprendi desde muito novo que, sempre que nos fecham uma porta, devemos sair airosamente pela janela da rua.
[miséria diz]
Aflora, dignidade,
pois quanta maldade eu vejo aflorar
a noite afora
no frio, no vácuo
morre na ponte
cai do telhado
queimado, sem teto
Aflora, dignidade,
pois toda a miséria é indigna
em casa, a forra
no seco, coberto
digno de gestos
cai da boca migalhas,
todo o pão
FOTO
Passei o dia olhando a foto
de uma linda mulher.
Para mim ela é especial.
Nela pensei um bom tempo.
Vi-a, andando na rua com um
sorriso curioso, estava como
na foto, vestido longo branco
as pernas exuberantes os seios
fartos e lindos.
Seu olhar era só para mim.
Só eu a via desse jeito,
para mim era um amor perfeito,
pena que em uma fotografia.
Roldão Aires
Membro Honorário da Academia Cabista. RJ
Membro Honorário da Academia de Letras do Brasil
membro da U.B.E
As vezes tenho vontade de chegar en alguem bonita e aléatoria da rua e perguntar; "até que você é bonitinho e ja olhou muito pra mim... então para de enrolar e me pergunta, pelo amor de deus meu numéro." Mas lembro que não tenho nem coragem de por o "autor" aqui...
GRITOS
Os gritos de milhões,
Sacode os alicerces da terra!
O grito da alma ensurdece a razão!
O grito da paixão, perturba o coração...
Os gritos da rua, desperta uma nação alheia.
Entretanto, na maioria das vezes,
Grita-se e ninguém ouve!
SAUDADES
Saudades...
Só o silêncio explica.
Pra solidão o peito parece pequeno;
A falta cala os argumentos...
Quando contar os dias;
É colecionar lágrimas.
