Memória
Na minha memória fiquei tranquilizado com o barulho da água maravilhado, esta água era vida bem viva, mergulhei encontrei minha história era de uma pessoa cativa e meus suspiros de exílio talvez perdido em alguma ilha.
Me perco em inúmeros livros no caos da vida, no repouso da noite é com os papéis que me desabafo deixo registro do que as mentes silenciosas falam.
Não apague lembranças más da memória uma historia de sucesso só é contada com desafios que foram superados.
MEMÓRIA
Minha avó fazia café bem doce. Talvez, por uma necessidade de se procriar além dos filhos legítimos. Biscoitos na gordura, pão de queijo no forno, bolo de chocolate em cima da geladeira. O cenário aparentemente bucólico escondia guerra das mais matutas em orvalhos e outras fragrâncias. Cheirava a cozinha um cheiro forte do que se come. No quintal, cheiravam as flores um cheiro que se vislumbra. Alimentar dos produtos da casa vigorava a minha carne. Alimentar do beija-flor que tomava o néctar de hibiscos em diversos matizes alimentava a minha alma. O cachorro latia freneticamente. Eu não sabia que o bichinho também comia: a alegria das folhinhas em domingo. Ao pé da jabuticabeira, meu Drummond chorava todos os lirismos nascidos da terra caudalosa, terra de muitas veredas e rupturas. Minha mãe afagava meus cabelos, o pai e os tios viam futebol, a pequena irmã devorava porções de desenhos animados.
Não fosse eu poeta, esta prosa seria pólvora. Não fosse eu poeta, partículas cintilantes de minha vida perderiam na guerra dos tempos que não se curam: saudade.
Sabe por que ainda te amo?
Porque não há distância que apague a memória do coração e as malhas da saudade só alimentam ainda mais o amor...
Não se precisa da boa memória pra lembrar de quem nos deu a mão quando precisamos, e de quem nos negou.
A minha memória meramente falha, por alguma razão consegue lembrar perfeitamente meus momentos quando criança...
Lembro de todas as casas que pintei em troca de comida e uns poucos trocados do meu patrão, que eu chamava de pai, já que não sabia o paradeiro do meu.
Eu nunca entendi o porquê das outras crianças serem tão diferentes de mim, elas frequentavam a escola, tinham amigos e não precisavam trabalhar pra comer.
A minha vida era uma prisão, mas a minha alma ingênua não compreendia tal fato.
Trabalho infantil não é uma brincadeira de criança. Denuncie! Disque 100!
Ao natural
Se desse pra te tirar da memória
Eu já teria te deletado do sistema
Só que eu lembro de quase tudo
E estou com um baita problema
Na areia da praia ou na calçada
A saudade leva o mesmo nome
Até no lado de lá deste planeta
Não há outra a quem eu chame
Política, economia e sociedade
Fico atento às novidades todas
Mas sem nenhuma notícia tua
De Dubai, as experiências boas
Sinto em segredo, sei esconder
Falar sobre tudo sem me expor
Evocando os teus olhos verdes
Crise fiscal só me causa torpor
Foi um prazer ter te conhecido
Na contramão da miopia geral
Uma observação atenta saberia
Que só por ti escrevo ao natural.
Em algum canto empoeirado da memória, contorno traços desbotados e refaço em frente ao espelho baço um rosto que já não é meu.
Deixe na memória de quem passa pela sua vida apenas amor, o resto é tudo perecível e não sobrevive ao tempo.
...no caminho da memória,
o prazer lento da nostalgia puxa o fio das lembranças,
e, surpreende o coração.
Pessoas ingratas tem duas características: possuem memoria curta e por mais que você faça, jamais estarão satisfeitas.
à memória vêm-me recordações perdidas no correr dos anos, insiste o sonho, como se fosse a última manhã luminosa da primavera...
Minha memória vem se perdendo a cada dia na voracidade do cotidiano…Mas algumas lembranças permanecem intactas em meu ser.
Às vezes me deparo olhando suas fotos´, nossos vídeos. Olhando cada detalhe e admirando seus traços marcantes que minha recordação insiste em sempre se lembrar e estas tem o dom de me fazerem parar no tempo, como se tudo continuasse a se movimentar rapidamente, mas meu ser e o seu conectasse os planos em que vivemo hoje, separados. Como se estivéssemos juntos novamente sem nada que pudesse nos impedir ou apressar o tempo. Aproveitamos para nos olhar, para aquecer nossa alma de toda alegria que proporcionamos um ao outro.
Cada flash do passado vai surgindo como aquelas cenas de filme e me fazem recordar de tudo o que vivemos. De tudo o que superamos juntos. E também daquilo que poderia ter continuado mais e mais infinitamente. Do riso, das lágrimas, do encanto da alma mostrado no olhar e sentido ao respirar. Da energia que me transportava e que sei que ainda me envolve com sua luz, de algum lugar…
Como pôde a vida nos separar? Como pôde modificar tudo aquilo que vivemos em questões de segundos? Aos poucos vou aprendendo de uma forma árdua que a vida não é igual aos contos de fadas em que com uma simples magia posso lhe trazer de volta. Que podemos confrontar ao mundo para nos trazer de volta. Pois nada adiantaria se você não estivesse aqui conosco. Eu não tenho força para lutar sem você aqui. Eu não tem forças para respirar mais sem seu olhar junto ao meu. Mas eu vivo na certeza que um dia, em uma outra vida iremos nos reencontrar e nossa alma poderá se abraçar eternamente.
Minha memória vem se perdendo a cada dia na voracidade do cotidiano…Mas você nunca desta irá se ausentar.Estou aqui e você aí em algum lugar bonito e repleto de paz como merece. Continuaremos juntos, conectados através do tempo, dos pensamentos contantes e da luz que mutualmente irradiamos um ao outro. Fique bem, meu bem.
A memória, através das lembranças, se transformou na mensageira do passado que trabalha arduamente no presente e que já tem o seu ofício garantido no futuro.
Retalhos da Memória
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(O CONTRASTE DO GARI MAIS POLITIZADO DA PARAÍBA)
Por: Anna Paula Oliveira. jornalista
No dia 11 de janeiro de 1972, num barraco da maior favela da cidade, a Cachoeira, nascia José Martins de Paiva, O Gari . Sentindo-se um pré destinado à miséria, com ar de tristeza e desolamento, contou-me sua história, definindo suas lembranças de criança como “infância do pesadelo”.
A fome, maior bandida de sua vida, o devorava e enfraquecia. Sua refeição diária era um prato preparado com um bocado de farinha, cebolas cortadas em pequenos pedaços e uma pitada de sal o banquete descia goela abaixo acompanhado por 3 ou 4 copos de água. Em dias que nada tinha para preencher os buracos do estômago espetado pela dor que roncava, o menino dormia anestesiando a fome que atormentava , e que apunhalando forte, por vezes o fez desmaiar.
As lágrimas presas no semblante escurecido ficaram nítidas, ao falar sobre o sonho de criança: ir à escola.Mas, seu desejo foi roubado pelos ratos que além de morde-lo durante à noite, roeram seu registro de nascimento , documento que na época custava caro e era imprescindível para matricula na escola. Angustiado , lembrou-se ainda do diálogo com a mãe:
_ Mãe, me bote na escola!
Que aos tapas lhe respondia:
_ Pra que que tu quer estudar miserável? Caderno de pobre é o roçado e a caneta a enxada. Vai trabalhar vagabundo!
Já que filho de pobre não ia à escola, sua rotina se alternava entre as esmolas que pedia nas ruas e as víceras de galinha procuradas entre as penas nas sarjetas das granjas.Entre as lembranças remoídas , falou com olhos distantes sobre a história da galinha preta, morta, abandonada em um córrego sujo.Obrigado a descer à margem, a mãe o apedrejou, por ele não ter forças de trazer o jantar do dia para cima. Um engenheiro que trabalhava em uma obra observou a cena e chocado,e aos prantos o ajudou a subir. Passando as mãos carinhosamente pelos cabelos do menino que chorava disse:
_ Minha senhora, não faça isso com seu filho...Tome esse dinheiro e joga isso fora, que isso não é comida de gente. Agradecidos, mãe e filho se despediram do homem generoso, e enfim, quando já não havia mais ninguém à vista, voltaram ao córrego, apanharam a galinha e comeram.
Crescendo dentro da favela, recebeu os beijos de rejeito e viu-se em um dilema: a revolta ou a conformação. Entre lutar para crescer ou roubar par viver, trilhou os dois caminhos _mas não sem medo. Afinal sua mãe o repreendia com palavras duras, ditas sempre com um facão em punho:
_ Olha desgraçado, no dia que você roubar, eu meto essa faca no teu bucho e corto seu pescoço, seu infeliz miserável.
As palavras secas e cruas ecoaram por muito tempo em sua cabeça perturbada pelo destino difícil. Quando adolescente, apesar das ameaças da mãe, passou a viver como menino de rua. Sem trabalho e oportunidade de estudar, acompanhado por uma tropa de meninos, quebrou vidros de carros, pegou morcego em ônibus e derrubou muitos tambores de lixo, onde o proibiam de catar os restos.
Aos 15 anos, mesmo sem registro de nascimento, começou a freqüentar clandestinamente a escola. Porém a hostil bagagem das ruas o tornou agressivo ao ponto de em uma briga na escola, furar com um lapiz um colega de classe. Mais uma vez o sonho de aprender, escapou de suas mãos.
Com o tempo, muitos amigos morreram tragados pela criminalidade das ruas ou assassinados pela polícia_ polícia essa que na favela da Cachoeira, entrava batendo nos “ciladrões”, porque ali todos eram culpados até que provassem o contrário.
Aos poucos com ajuda de amigos, aprendeu a ler e aos 18 anos, passou no concurso para gari, onde foi batizado com nome que o tornou conhecido, Gari da Cachoeira. Durante as coletas do lixo, os livros que para uns não tinham mais utilidade, eram levados para casa como peças valiosas. As obras eram lidas entre os intervalos do trabalho e as folgas no fim de semana. Ao longo dos anos tornou-se sindicalista atuante na categoria. Através de programas sociais de alfabetização de adultos concluiu o ensino fundamental e posteriormente o ensino médio por meio de supletivo.
Sua participação na luta por condições dignas de moradia aos moradores da favela da Cachoeira, foi determinante nas ações sociais que foram aplicadas na habitação e saneamento básico da comunidade.
Hoje a favela já não existe mais, A Cachoeira virou bairro da Glória, e embora as paredes sejam de concreto e não de taipa, o desemprego, a fome e o sofrimento causado pelas diversas faltas, permanecem ainda ali impregnados nas pessoas que continuam sem efetivas oportunidades de mudança.
O Gari da Cachoeira, casado, pai de 4 filhos, sindicalista, político atuante, candidato por duas vezes a cargos públicos, estudante de Direito, continua engajado em ações sociais que contribuam para mudanças no quadro infeliz de miséria sentido na pele, onde carrega ainda muitas cicatrizes.
Burrice do Saber
"Nada muda na vidaDe quem não quer mudar,Nascer burro e morrer cavaloÉ mera utopia,Pois a pior fantasiaÉ não querer aprender.”
José Martins de P, gari da cachoeira
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