Luz e Trevas
O nosso mundo interior recria, para o bem ou para o mal, as condições do mundo exterior. A falta de interioridade, ou melhor, espiritualidade dá margem para que se reproduza um verdadeiro desastre no planeta.
Suas decisões semeiam luz ou trevas.
Lembre-se disso quando tudo estiver escuro!
Absolutamente tudo tem o seu fim. Inclusive qualquer fortuna ou intempérie. Até o dia mais claro vê chegar as trevas. Até a noite mais densa testemunha o chegar da luz.
Sobre os que habitam as sombras…
Há, na vastidão da vida, criaturas que não conhecem o ímpeto de criar, nem o ardor de conquistar. Sua existência se arrasta como um nevoeiro denso, alimentando-se não daquilo que oferecem, mas do que sugam de outrem. Estas almas, tão desprovidas de força para erguer a própria morada, preferem rondar as ruínas alheias, como aves que não sabem cantar nem caçar, mas que vivem à espreita do cessar de um coração.
Vou te contar sobre os urubus. Eles não possuem garras para o ato feroz, tampouco asas para o voo nobre. Não derramam sangue por um combate justo, nem se encharcam na coragem de um enfrentamento direto. Sua subsistência é a morte alheia — um banquete que não provocaram, mas que esperaram pacientemente, com olhos vazios e fixos, na esperança de que a vida, por si só, lhes conceda o que não têm coragem de buscar.
E o que dizer dos homens que se assemelham a essas aves? Há quem passe os dias não vivendo, mas observando. Seus olhos não enxergam horizontes próprios, apenas os passos titubeantes dos que ousam caminhar. Não se movem pela criação, mas pelo colapso. Não brilham, mas se alimentam da escuridão. Esperam, no silêncio de suas sombras, que o fracasso de outro lhes sirva de sustento, como se a queda alheia pudesse, de algum modo, preencher o abismo dentro de si.
Mas eis a ironia: os urubus, tão acostumados à calmaria fúnebre, tremem diante da luz e do movimento. A claridade os cega, o ritmo os desorienta. Da mesma forma, essas pessoas que vivem à margem, à espreita, só conseguem se aproximar de quem se detém, de quem apaga o próprio brilho para caber na penumbra que elas habitam.
Então, se desejas manter os urubus — humanos ou não — longe de ti, a resposta é simples: brilhe. Não um brilho qualquer, mas um que irradie tua essência, tua verdade, tua capacidade de criar, mesmo em meio ao caos. E não pares. O movimento contínuo é o antídoto para os olhos que vigiam e as mãos que esperam. Quem brilha e avança não deixa espaço para os que vivem da espera.
Pois, no fundo, a luz não apenas afasta as sombras; ela as dissolve. E o movimento não apenas confunde; ele liberta. Que tua jornada seja uma dança incessante de luz e vida, um espetáculo que os urubus jamais poderão alcançar.
A paz é própria dos grandes seres humanos em qualquer tempo, os menores, os covardes, os parias e desajustados de qualquer cultura, preferem a guerra, como oportunidade marginal de se sentirem vivos.
SEGUNDA-FEIRA COM OZZY – UM RITUAL DE MEMÓRIAS E PRESSÁGIOS
(Por John Rabello de Carvalho)
Ontem era só mais uma segunda-feira comum.
Ou pelo menos, parecia ser…
Mas às 9h da manhã, quando meu irmão Estevão me chamou e me perguntou: e aí cara, você viu a mensagem que te mandei? Respondi que não, então ele me chamou até a sua casa e me mostrou as carnes para um churrasco, com as cervejas e o vinho, algo estranho começou a tomar forma.
Um espírito antigo acordava no som do primeiro riff...
Ozzy Osbourne começava a cantar…
E o tempo parou.
Não sabíamos porquê, mas estávamos ali:
Celebrando sem motivo. Brindando como profetas do nada.
Rindo, lembrando histórias, ouvindo — de “Mr. Crowley” a “Mama I’m Coming Home”, como se fosse o último disco antes do fim do mundo.
Falávamos dele, do Sabbath, da história, da loucura.
Como se estivéssemos preparando uma despedida...
…sem saber.
E o dia passou inteiro assim.
Ouvindo o Príncipe das Trevas.
Mas quando a madrugada caiu…
Veio o silêncio por dentro.
Três e pouca da manhã.
Ozzy ainda tocando em meu celular,
e meu peito apertando como quem pressente o fim.
Um choro travado. Uma tristeza sem nome.
Como se o tempo estivesse me dizendo:
"Isso que você sente é real.
Você está de luto por algo que ainda não aconteceu."
E então eu vi:
Não era só sobre música.
Era sobre tudo o que vivi até aqui.
Era sobre mim mesmo, meu passado, minha juventude, meus medos,
os fantasmas que gritam nos solos de guitarra.
Era sobre a fragilidade do eterno.
Hoje acordei e ainda ouço Ozzy.
Mas não é mais ele cantando para mim.
Sou eu cantando por ele.
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E então veio a notícia. A dor tomou forma.
Infelizmente, nesta terça-feira, 22 de julho de 2025,
meu coração vestiu o luto eterno,
porque John Michael Osbourne, o eterno Príncipe — Ozzy — partiu deste mundo.
E eu não sei como lhe dizer adeus…
Mas creio, sim — creio que suas músicas viverão até o fim do mundo.
Agora, apenas virão os dias, os meses, os anos,
até que chegue a nossa vez…
E quando chegar,
espero ouvir, na travessia do além,
um último acorde ecoando em trevas e abrindo a porta para a luz:
"I’M GOING OFF THE RAILS ON A CRAZY TRAIN..."
Descanse, Príncipe. Viva eternamente em cada alma que queima com tua voz despertando bons sentimentos.
Ainda existe um lugar...
Onde não há mais risco de queda,
Onde não é preciso concorrer com ninguém,
Onde luz e treva estarão sempre em locais fixos.
Este lugar se chama... FUNDO DO POÇO!
É lá que você quer estar?
