Livre para Voar sem Destino
Já me perguntaram a razão de tantos pensamentos lançados sem destino certo. Respondo que não escolho fazê-lo, pois que brotam de mim como lavas de um vulcão a que não resta alternativa senão lança-las para fora. Assim como ao pensador, ao vulcão não importa que distância alcançam, e menos ainda o tipo de terra que cobrem. O que a ambos suscita é que a mesma lava que parece tão destrutiva no momento da erupção, ao longo de toda a eternidade continuará fertilizando o solo que a acolhe.
O destino das sementes as separa em três grupos: as que se espalham sobre rochas impenetráveis e fenecem; as caídas sobre terras rasas que não conseguem aprofundar suas raízes, e logo secam; e as que encontram terras férteis e profundas que em seguida as transformam em árvores frondosas!
Não ando por sobre trilhos, que já me chegam prontos e me conduzem para um destino pré-definido. Vou sempre preferir trilhas que me cobram abrir picadas, escolher entre múltiplos destinos e lidar com descobertas que os trilhos não podem dar.
Não adianta eu fingir que tem saída pois não tem, tá no meu destino passar por isso tudo, tudo de ruim, eu já tou esperando eu vou sofrer eu vou morrer inocente, eu não sei quem eu sou ainda, mas se eu for que vcs tão pensando pode fazer de tudo eu ainda vou voltar vivo, pode até me congelar me pinicar fazer tudo eu vou voltar vivo, se eu for quem eu tou pensando eu vou morrer e voltar para minha vida original eu já sei que eu vou morrer só tou esperando e resistindo até o fim, se eu for quem eu tou pensando eu sou um dos anjos e não um caído! Não sei qual eu sou.
A vida é um caminho, uma jornada, um destino...
Nele você engatinhará, andará, correrá e por fim se arrastará...
Não é uma competição, onde o vencedor é quem primeiro chegará...
Muito menos um trajeto traçado que seu corpo simplesmente acompanhará...
A vida é muito mais que isso...
Nesse percurso, que é o viver, quem ganha não é o que souber correr...
O que sempre ultrapassar e em primeiro chegar...
Logrará êxito quem do trajeto se aproveitar e pelo caminho gozar...
Um gozo merecido, pelo esforço aguerrido...
Pelo percurso conquistado, pelo semblante suado...
Uma glória obtida pela vitória sofrida, findada pela vida, por seus poros esvaida. ...
A única certeza vivida, a fronteira final, no limiar da chegada dessa guerra travada e finalmente vencida!
Se eu dissesse que tenho à venda o meu destino a custo zero, seriamente estaria a fazer publicidade enganosa.
PEREGRINAÇÃO
Ele...
Ontem, ao cair da noite
Saiu do mundo sem destino
Nem lua, só ele num afoite
Para beber tempos de menino.
Saltou caminhos, subiu montes
E relembrou visões fantasmagóricas
E sons de corujas a beber nas fontes
Das suas memórias pitagóricas.
Cansado, sentou-se numa pedra
Que teimosamente ali estava
Desde os tempos da sua medra
Como marco da sua vida brava.
Viu e chorou o casebre onde nasceu
E o espetro das casas das avós eternas
No vazio de já não ver o céu
Dos tempos de um ontem que morreu.
Meteu pernas de volta, mas não sozinho
Levava então com ele para casa
Naquele breve e longo caminho
Os lugares e rostos dos idos em brasa.
(Carlos de Castro, in Argoncilhe, 21-06-2022)
O CÃO QUE CANTAVA ÓPERA
Eu já tive um cão
Baixinho como eu que o sou
No destino e na pernada,
Que cantava ópera farsada
Sempre que eu dizia ao serão
Versos de dor a uma fada.
A ópera do meu cão, uivava
Numa voz tão pura de fina
Como alguma jamais encontrada
Em cantares de gente canina.
Tinha um não sei quê de magia
Saída pelos foles da garganta,
Sim, porque um cão triste canta
E encanta
No silêncio da noite vazia.
Um dia de sábado pela manhã fria
O meu cão de ópera já não operou...
Estava rígido, teso, na alcofa
Que ele tinha, meu Deus, tão fofa!...
Nem se despediu de mim
O companheiro amado...
Ele acabou o seu fado
E eu, sozinho assim
Não voltarei a dizer poemas
Porque dão azar e penas!
(Carlos De Castro, in Igreja de Argoncilhe, 22-06-2022)
PRAGAS E MAUS OLHADOS
Rude destino
Este que só me deixou
Desde menino
Ser o que sou
Sem ser o que queria:
Ator de ganha pão,
Cantor,
Escritor,
Poeta maldito,
Sonhador proscrito,
Padre,
Frade,
Na madre
Mãe do meu grito.
Maldito destino,
Espírito atroz,
Sem letra nem hino,
Demoníaco,
Algoz,
Cardíaco!
Maldita praga
Aziaga,
Me rogaram!
Aterrador olhar me deitaram
Logo à nascença,
Ou talvez até quando espreitaram
A barriga de minha mãe,
Quando como uma prensa
Começou a inchar
A crescer,
A medrar...
(Carlos De Castro, in Poesia num País Sem Censura, em 28-07-2022)
Se o meu destino tivesse sido de luz e ouro, nunca eu poderia ter escrito aquilo que gravei na escuridão da pedra rija e negra do meu ser.
CRUEL DESTINO
Pedem-me amor
E eu não sei o que isso é;
Porque nunca o tive ao pé
De mim.
Assim,
Não sei se ele é dor
Ou prazer do início ao fim.
Pedem-me poemas
E eu não sei o que isso é;
Porque, malditas as minhas penas:
Poemas, será gente de fé?
Não quero nada,
Porque nada sei dar
Desde menino,
A não ser meu cruel destino
De querer amar
No já,
A quem nada me dá.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 08-11-2022)
Nessa vida cada um escolhe seu destino e seus caminhos, o que importa é que a base de tudo seja sólida ai, tudo será apenas uma questão de opção... nada mais !!
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