Literatura de Cordel
A Minha Solidão!
No silêncio do meu quarto, olho a rua
pela vidraça da janela. Ouço o barulho
do vento lá fora, aqui dentro a solidão
me apavora.
Quero te esquecer, mas não tem jeito,
saudade aperta o peito, o pensamento
voa em sua direção.
Eu queria ter o poder de voar agora, e
ir para onde está o meu coração, me
aconchegar em seus braços, e saciar
essa paixão.
Impossível Fugir Do Amor!
Não adianta procurar o amor, porque o amor
não quer ser encontrado. O amor é soberano
e seu prazer é invadir os corações solitários
quando menos se espera, sem perguntar se
é a pessoa certa, se é a hora exata ou se o
lugar é apropriado.
Quando o amor acontece, não há como escapar,
o jeito é se entregar a paixão, já que não dá para
desligar o cérebro, bloquear a imaginação, nem
deletar do coração, porque é impossível fugir do
fogo, quando a chama arde dentro do peito
O Amor é Como Uma Lenda!
Quando se é jovem, vê-se o mundo sobre lentes coloridas, acreditando em contos de fadas, príncipes e princesas, almas gêmeas e, principalmente, acredita-se no amor verdadeiro, aquele que ouvimos falar desde pequeno. Aquele amor que lemos nos livros e vimos nas telenovelas, com finais felizes.
A juventude é a idade da inocência, uma idade em que ainda não se percebeu que o amor é como uma lenda que se ouve contar, mas são poucos que têm capacidade para amar, porém todos querem encontrar, porque ouviram falar, mal sabendo que a maioria fala do que nunca sentiu e aumenta sua grandeza ao repassar.
Na busca incessante pelo amor, a maioria acredita que encontrou o amor quando conhece alguém interessante, que faz coração bater acelerado, faz o sangue pulsar nas veias, sente atração física e acredita que está apaixonado. Então realizam o sonho de todos os apaixonados, casam-se, acreditando que serão felizes para sempre, como nos livros e filmes.
Mal sabendo que na maioria dos casos, o casamento é o começo do fim, porque só se descobre se o amor é verdadeiro, depois de casados, e se conseguirem manter a chama acesa diante das dificuldades que todos os casais enfrentam até se adaptar a convivência conjugal, porque haverá diferenças para ajustar, obstáculos para ultrapassar e defeitos para relevar. Afinal, só se percebe os defeitos de outra pessoa, quando se passa a conviver diariamente com ela. E são poucos os que conseguem manter a chama acesa diante da rotina e das dificuldades do casamento.
A maioria, quando os problemas entram pela porta, o amor pula pela janela. Então se separam e prosseguem com a busca incessante pelo amor verdadeiro. Alguns nem percebem que já encontraram o amor, mas o perderam em meio às crises e o próprio egoísmo. Porém, a grande maioria, procura o amor sem nem mesmo saber direito o que é, só querem encontrá-lo, porque ouviram falar, e ficam sempre atento, mantendo os olhos abertos para poder enxergar, mal sabendo que o amor não se procura com os olhos, mas sim com o coração.
Só terá capacidade para reconhecer o amor, quando encontrá-lo, aquele que consegue enxergar a beleza que não pode ser tocada, nem apalpada. Aquele que adora a luz do dia, mas se encanta com o brilho das estrelas dançando ao redor da Lua. Aquele que gosta de se aquecer ao Sol, mas também se diverte dançando na chuva. Aquele que prefere calmaria, mas consegue enxergar beleza selvagem nas tempestades, o espetáculo da natureza que ao se afastar deixa um arco com as mais lindas cores em seu lugar.
O ser humano age com o amor, assim como tolo que deixa de apreciar a beleza do arco-íris, para ir à busca de sua nascente, tentando tocá-lo com as mãos, mal sabendo que a visão ilude, e quando pensa que está perto, descobre que ele está em outra direção.
Já o sábio, esse consegue perceber que a beleza não está no brilho e nem nas cores, mas, sim na magia e no mistério, que por não estar ao alcance das mãos, ainda não foi destruído pelo homem com sua tendência em destruir tudo o que está ao seu alcance.
Terá capacidade para reconhecer o amor, aquele que tiver sensibilidade para enxergar além da aparência física, porque o amor verdadeiro se encontra na alma e no coração do ser humano, um lugar onde a maioria nem procura, porque não pode ser visto ou apalpado, por isso, seguem agindo feito tolos, iludidos pela própria visão.
Você Foi Uma Ilusão!
Você foi um enigma que tentei desvendar,
de uma história que comecei a contar,
num livro que não consegui terminar,
porque você foi uma ilusão que eu criei,
num sonho lindo que ousei sonhar,
mas a realidade insistiu em me acordar.
Espírito sociangustista
Nas ruas da desilusão,
Onde o eco da injustiça ressoa,
Caminhamos com o peso da opressão,
Na sociedade que nos despoja e magoa.
Erguem-se muros de indiferença,
No labirinto do progresso vazio,
Onde a esperança é uma crença,
E o amor, um bem desafio.
Mas ainda na angústia coletiva,
Há uma chama que persiste,
A luta por uma vida ativa,
Onde a justiça enfim existe.
Quebraremos as correntes do medo,
Com a força da união e da palavra,
Por um futuro onde haja mais enredo,
E menos dor que a alma lavra.
Pois somos mais que meros números,
Somos vozes, sonhos e ação,
Contra os abismos sombrios e erros,
Levantamos a bandeira da transformação.
"A poesia que eu li em você"
Ao partir do caminho iniciado, me afasto cada vez mais do que eu queria ser.
Disposto a sacrificar meus finos
No escuro vi o brilho e ouvi os sinos
Que badalavam a melancolia do anoitecer.
Para ser...
Aquilo tudo que talvez queria
Vivendo essa total histeria
Escuto as sinfonias que a mente cria
Deliberando a afasia que me dificultam te compreender.
Parei... pensei...
Olhei
Para a luz e refleti um pouco
Observando o feixe com meus "zóio torto"
As atitudes ofuscante dos seus tons de ouro
É tão brilhante que faz o mais belo sorriso escurecer
Só é possível ver o vel que cobre a sua íris
Escondendo as raízes
Que ja sangrava muito antes de florescer!!!
Compreender...
Que essa vida é um tabuleiro de jogo
E quem tem a peça mais resistente
Não usa ouro...
Quem terá mais chances de vencer na vida e se dar bem.???
Com um cavalo manco
Ou uma torre desmoronando
Meu peão é persistente
E pensa antes de se mover
Para vencer...
A inteligência é estrategicamente elegante
Um ser pensante é mais excitante
Move um mundo inteiro
Simplesmente pra encontrar você
Não é preciso carruagem de fogo
Ou ter um castelo no topo do morro
Pra te encontrar
Escrevo tudo que vejo e anseio
Das páginas folheadas da vida, ás frases que leio e receio.
Percebo...
Algumas linhas do meu cotidiano.
Misturadas com os parágrafos dos dias medonhos.
Vou transformando letras em palavras
Pra escrever um texto de sonhos.
Onde eu possa finalmente entender
Que...
A caneta escreve a poesia que li em você.
Thibor
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DÓ
Fadado,
Farto do acordar,
Levantar-me e entender ter,
ser e viver mais um dia.
Há letras sobre o meu pesar,
pensamentos que me envergonho,
lembranças que são só lembranças,
deixaram por anos-luz de ser sonhos.
Enquanto todos conseguem sorrir,
finjo felicidade num mundo ao cair,
serão meus olhos por serem escuros,
meu coração por não ter sangue,
acrescido duro ?
Ou seria a ignorância de tudo,
onde não falta nada e se cria um mundo.
no qual eu não pertenço,
desculpe-me vida,
tomar-te tua a minha partida,
faca-te uma história e que sei,
tristemente que pela ausência da arte,
e beleza nas vistas,
por pouquíssimos olhos de estrelas,
Será lida.
Rodrigo S Rosa
Tudo Na Vida Tem Seu Tempo!
Somos reféns do relógio, o cronômetro do tempo. Até para o amor há um tempo, porque é o tempo que determina quando é tempo de se apaixonar e por quanto tempo amar a mesma pessoa.
Uma pessoa sabe que está amando, quando passa todo tempo pensando em alguém, porque é o último pensamento antes de adormecer e o primeiro ao acordar. E mesmo quando não há tempo para pensar, continua pensando e contando o tempo para se encontrar, abraçar, beijar e passar o maior tempo possível juntos.
Então, chaga o tempo de terminar, o tempo de chorar e sofrer por aquele amor perdido. Mas, a Terra gira, o segundo fecha o ciclo do minuto, o ponteiro fecha o ciclo da hora, o ontem já virou passado, o hoje, amanhã será ontem e, assim o tempo vai passando lentamente sem ser notado, até chegar o tempo de esquecer, porque tudo passa com o tempo.
E, se percebe que deixou de amar aquela pessoa, quando ao acordar leva um tempo até se lembrar que aquela pessoa existe, e com o passar do tempo, só volta a se lembrar quando ouve uma canção ou acontece algo que faz recordar aquele tempo que estavam juntos.
A verdade, é que o tempo não apaga as lembranças, sejam boas ou ruins, o tempo só mostra que é tempo de amar novamente, é tempo de se apaixonar por alguém diferente, é tempo de voltar a sonhar e de acreditar que encontrou aquele amor que o destino lhe reservou e, finalmente conseguir desfrutar a felicidade que por toda vida procurou.
Mas, não esqueça que é o tempo que determina que tudo tem seu tempo, porque nada nessa vida é para sempre, eterno é só o tempo.
O Herói da Mulher!
O herói esperado por toda mulher, não é nenhum super-homem, basta ser um homem maduro e responsável, do tipo que dá segurança, não por ser forte e musculoso, mas sim por ser gentil e carinhoso.
Que seja aquele parceiro que a faz se sentir confiante quando está insegura, o protetor que fica ao seu lado nas horas difíceis, abraçando-a forte e garantindo que tudo vai ficar bem, porque ele estará ao seu lado.
Que seja o companheiro, aquele que anda ao seu lado orgulhoso, segurando a sua mão, o amigo que comemora junto com ela as vitórias, que a faz sorrir quando está triste e dá risadas de suas piadas, mesmo quando não tem graça.
Que seja também o amante ardente na intimidade do quarto, mas, principalmente, que seja o eterno namorado, aquele que leva flores, que a elogia mesmo quando acaba de acordar, que canta junto com ela, mesmo que seja fora do ritmo e dança com ela na chuva, fazendo loucuras e rindo à toa, sem se importar se os outros vão pensar que são loucos.
Afinal, o amor é isso, uma loucura vivida a dois, movido por dois corações batendo no mesmo ritmo e alimentado pela ilusão de que será para sempre.
A Vida é Feita de Momentos!
A felicidade eterna não existe, o que existe são momentos bons e momentos ruins. Se tudo fosse perfeito em nossas vidas, então todos os dias seriam iguais e nossa existência seria monótona e sem graça, pois o que torna a vida interessante são as constantes variações, porque a beleza da vida está nas batalhas e nos desafios que enfrentamos diariamente na busca incessante pela felicidade.
Afinal, nunca saberíamos como é bom voltar para casa, se nunca tivesse partido. Jamais sentiríamos o prazer de uma gargalhada, nunca tivesse chorado. Não saberíamos qual é o sabor da vitória, se nunca tivesse sentido o gosto amargo de uma derrota. Não conheceríamos a sensação de um coração vibrando com o retorno de um grande amor, se nunca tivesse sentido a solidão de um adeus. Nunca saberíamos como é bom amar e ser amado, se nunca tivesse sido magoado e desprezado.
Enfim, o prazer da vida está nas grandes batalhas e nas pequenas vitórias, basta saber aproveitar os momentos felizes, e tentar ver algo de positivo nos momentos ruins, porque a vida é como a arte e precisa ser inovada a cada dia, porém, nem todo ser humano é um artista na arte de viver.
guerra das biscates
guerra dos mascates daí
guerra das gueixas, daqui
entre invasões e mortes
você ainda é meu gênio
mais ainda não realizou nenhum desejo
nessa guerra de gêneros
resta um homens branco
três mulheres mestiças
indígenas
minha criança menina
a sua criança menino
a guerra na russa, implodindo bombas
cada míssil com seus próprios erros
amando desse pesadelo
nossos traumas
são dois velhos
sem almas
eu de mim com minhas fraquezas
aprendo a ser mais forte
talvez na sequência
porque é tão só minha
essa experiência chama sorte
quem sabe um dia a gente aprende
a não cair mais na inconsequência
mais vale a dor latente
que perder essa frequência
vou encontrar seu próprio mestre
meu eu superior
superar meu amor a minha dor
nossa casa feita de pele
idéia a existência é livre
meu corpo de luz tem sete cores
sete belezas e sete amores
amor pra dar na mesa
com saudade
a sala toda acesa
candelabros de tristeza
ainda sou tua
aceita com clareza
meu amor subiu na Lua
beija meus pés de realeza
guerra de biscate
que come peixe com abacate
você mordeu meu coração com alicate
agora eu que me mate
morri
só não
literatura cura
capaz da minha alma obscura
traz luz às palavras da minha loucura
escrevo sem parar até meu amor por você acabar
Se a vida fosse uma empresa,
Na fila dos que querem ser poetas,
Eu estaria.
Não sirvo pra mais nada
Nem faço outra coisa, senão poesia.
Este é o meu compromisso!
Ao chegar no RH, logo diria:
Não que eu faça muito bem,
Mas tudo que faço é isso.
Envidraçada
Você disse: “Não me questione... nunca...”
Frase feita, determinada.
Mas, a cozinha era pequena com fogareiro de duas bocas, perdido sem intenção de nada e o pior, não havia cheiro e calor de coisa alguma.
Mas o aroma de seu beijo navegava em minha boca e eu precisava dar um jeito de digerir seu feitio.
Tínhamos que namorar. Peguei suas mãos ásperas para sentir seu movimento, sua energia e o modo que manipulava e você as retirou: triturei as cebolas e
Chorei!...
Olhei em seus olhos sem desviar, para descobrir qual era o seu tempero e a sua hora. Você desviou e duvidou e eu acreditei no Curry como condimento e companheiro.
Abracei você desavisado na sala e sussurrei amores e você desdenhou.
Fui à cozinha novamente, piquei as maçãs ácidas e verdolengas e percebi que estava em descompasso, não era a hora.
Na biblioteca, você distraiu na leitura sobre motores e aquecimento e observei sua atenção e namorei seu perfil e sua paz.
No quarto, sozinha, retirei o avental, pintei minha boca e desejei a mim mesma, paz e discernimento das verdades.
Voltei ao escritório e com segurança disse que estava tudo pronto.
Você, descansadamente, arqueou as sobrancelhas e perguntou:
—O que você fez hoje?
Respondi:
—Frango ao Curry.
E você. num silêncio mordaz, sentenciou:
— “Não como frango!"
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Às vezes, olho para minha estante de livros e penso que um dia vou morrer sem nunca ler muitos desses livros. Algum deles poderia mudar a minha vida e eu nunca vou saber.
O turbilhão
Sentou-se diante do espelho encaixilhado, abraçando anjos,
e ele a refletiu, e ela perguntou:
– Qual é a distância entre o Amor e a Paixão?
O reflexo fragmentou, partiu-se, dividiu-se em mil faces, ela
percebeu que era uma viagem cheia de adversidades e surpresas.
Chorou, lamentou, arrumou as malas, dobrou sentimentos e
saiu de bagagem desarrumada. Mas esta era uma pergunta que não ficaria no espaço, sem resposta.
Caminhou e viu a tarde chegar.
Ficou ali, estática, observando, e viu que as tardes são as
paixões. Elas simplesmente caem, silenciosas, misteriosas e sem questionamentos.
E, de repente, você apalpa a escuridão da noite, a paixão não sabe o que fazer e pinta a lua cheia no céu para você não ter medo.
Mas você não desiste, fica de perna bamba, tropeçando e
transpirando.
E a paixão novamente, insistentemente, pinta estrelas no
céu para que olhe somente para ela, e tudo seja somente um céu estrelado de uma noite escura.
Vem o frio da alma e nada aconchega. Você torce para que
amanheça e a noite da paixão ainda quer te confundir, e sopra neblinas e dúvidas esfumaçadas.
O frio anuncia o dia: você amanhece, apesar de tudo.
Você acorda confusa, de ressaca. Nem de dia, nem de noite,
simplesmente amanhece no conflito do dia, na discussão da moeda corrente, nos afazeres das cordialidades, fingindo que ontem não foi nada e hoje tudo vai acontecer.
Para transtornar todos seus dias!
Ao dia o AMOR chega: queima sua pele, lhe dá um abraço
aconchegante e você, desavisadamente, acredita que todos os erros que cometeu e todos os pecados com os quais dormiu tem perdão.
No ocaso, às 15 horas, você percebe o que lhe foi dito: é
diferente.
E esta voz não se cala, é a paixão.
E quando abandona nossa existência de lembranças, deixa
um brinco de estrela cravejado de brilhantes, para lembrar que ela (a paixão) não é o sol do dia nem as estrelas que povoam o céu.
Banimento não existe.
Somente luto, aflição, agonia, amargura, angustia, ansiedade, desgosto, consternação e dor.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Construa uma casa
Que tenha ressonâncias
De sua infância
Que seja tão ninho
Quanto as choupanas de Van Gogh
Ou tão forte
Quanto o endométrio
De seu primeiro abrigo.
Construa uma casa
Cristalina
Como seu coração
Meigo
Grato
Que entoe sempre
O exercício fugitivo das saudades.
Construa uma casa
Onde haja o convívio
Da escuridão e da luz
Onde insetos e nepentes
Travarão um pacto
De néctares e cantos
Ninguém precisará evadir-se
Não haverá amantes trágicos
Ou reféns
Nas manhãs silenciosas de inverno.
Construa uma casa
Onde tudo seja permitido
Bailar com os morcegos
Acariciar as estrelas
Ao som dos soluços da madrugada.
Construa uma casa
Onde possa ouvir
O ruído das águas subterráneas
E o adormecer das cigarras
Onde possa ver um imenso ramo de oliveira
Fraternal,
Devorando a indiferença dos homens.
Livro: O Outro Braço Da Estrela – Poemas
Capa e ilustrações - M. Cavalcanti
Todo tempero do mundo:
Carneiro com Hortelã
Pensando:
“Decidi encontrar com ele. Não posso mais voltar atrás e me
despir desse sentimento. Só quero o movimento desse amor, que sinto tanto, para guardar em minha memória e meu coração. Amar não é pecado, pecado é não amar e nunca decidir. E toda decisão, às vezes, não é pela paixão, mas pelo o que construímos pelo caminho.”
Eu criei tanta coragem e tantos anos para dar aquele telefonema.
Acho que meu erro foi ser ovelha, número quatro, depósito,
e ainda disse:
–Boa tarde!
E você, que nunca reconheceu minha voz, me disse:
– Quem é?
– Sou eu!
– Diga.
– Está ocupado?
– Estou esperando dois telefonemas.
Pensei: “Dois, começo de alguma conversa que pode dar
certo”. Mas você nunca acreditou em numerologia, silenciei.
– Pegue o calendário vamos nos encontrar.
E você atirou pimenta malagueta em meu rosto, disse:
– Capsicum bacctum, não enche o saco. Você é...
E não completou.
Continuei.
– Fale, gosto de saber dos meus defeitos para corrigi-los. Não gosto de charadas.
Acho que desistiu de dizer por que viu o que ardia em meus
anseios.
– Não gosto de brigar, entende?
E não estava ali para brigar, mas te beijar.
E disse que sim, mas eu não entendi aquela violência comigo
e as feridas se abriram, empanadas de pimenta malagueta. E tremia, mal consegui erguer e caminhar uma xícara de café com anis estrelado em minha boca.
Saí de tudo, fui até a janela para acreditar como fui
sobrevivente e aterrissei depois de tanta turbulência, como deixei de gostar de mim mesma.
Chorei.
E tudo escorreu calado debaixo daquele que nunca viu e
sentiu. Recolhi toda indigestão com minhas mãos que cheiravam a anis estrelado.
Pensei em Monteiro Lobato, íntimo naquela hora.
Toct passe - Tudo passa.
Toct casse - Tudo quebra.
Toct lasse - Tudo se gasta.
Naquele instante eu era outra substância e a minha energia e
transcendências ficaram presas em suas palavras.
Não fluíram.
Capsicum bacctum, pimenta malagueta, você esgalhado,
folhas ovais agudas e alternas, flores solitárias.
E eu cheirando à China, Illicium anisatum, erva doce de sete
ou oito cápsulas, comprimidas, avermelhadas e guardando uma semente:
“O sentimento”
Desistam: ISTO NÃO É RECEITA DE NADA.
Eu era uma vela, um tremular, uma intenção. Era a mesma,
mas havia mudado a substância e o tempero.
Deliberei.
Esmaguei anis estrelado com pimenta malagueta e muita
hortelã para aliviar.
Temperei o carneiro, era quase Páscoa.
Paz.
O resto exalava paixão.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
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