Literatura
guerra das biscates
guerra dos mascates daí
guerra das gueixas, daqui
entre invasões e mortes
você ainda é meu gênio
mais ainda não realizou nenhum desejo
nessa guerra de gêneros
resta um homens branco
três mulheres mestiças
indígenas
minha criança menina
a sua criança menino
a guerra na russa, implodindo bombas
cada míssil com seus próprios erros
amando desse pesadelo
nossos traumas
são dois velhos
sem almas
eu de mim com minhas fraquezas
aprendo a ser mais forte
talvez na sequência
porque é tão só minha
essa experiência chama sorte
quem sabe um dia a gente aprende
a não cair mais na inconsequência
mais vale a dor latente
que perder essa frequência
vou encontrar seu próprio mestre
meu eu superior
superar meu amor a minha dor
nossa casa feita de pele
idéia a existência é livre
meu corpo de luz tem sete cores
sete belezas e sete amores
amor pra dar na mesa
com saudade
a sala toda acesa
candelabros de tristeza
ainda sou tua
aceita com clareza
meu amor subiu na Lua
beija meus pés de realeza
guerra de biscate
que come peixe com abacate
você mordeu meu coração com alicate
agora eu que me mate
morri
só não
literatura cura
capaz da minha alma obscura
traz luz às palavras da minha loucura
escrevo sem parar até meu amor por você acabar
"TESOURO"
Amei o que era infância, ingenuidade,
e, nela, a quem primeira namorada…
Também amei, na adolescência dada,
já com gostinho de promiscuidade!
Me veio amores mais! Pessoa amada
também eu tive em minha mocidade
e, quando veio-me a maturidade,
amei de forma adulta, apaixonada!
Deixou-me, a estrada, pronto pra que agora,
quando a minh'alma velha se enamora,
eu tenha amor sereno, duradouro…
Se eu, hoje, estendo a mão a um compromisso
não quero ser, do sentimento, omisso
e faço, deste amor, o meu tesouro!
"ASSUMO"
Assumo os meus cabelos! Por que não?
Se o tempo os branqueou, foi pela vida
de luta contumaz, feroz, renhida,
que trouxe-me de pé até então!...
Talvez não fora a história pretendida
mas, certamente, tenho compreensão
que foi de muito amor e de paixão
na estrada que me foi dada e estendida.
Se vê-me sob o céu acinzentado
desse envelhecimento acentuado,
perdoe-me se tenho dele orgulho…
Os meus cabelos, pois, assumo brancos
na vida vinda a trancos e barrancos
enquanto, em gratidão e amor, mergulho!
" DESCONFIANÇA "
Se desconfias, vai-se a confiança
no elo que se efetivou no amor
e, o sonho tido, passa a ser terror
de que se deteriore essa aliança!
O que era garantia, era penhor,
se torna apenas dúvida, cobrança,
e o sentimento esfria co'a mudança
de tudo posto, agora, em desfavor.
Difícil retornar ao de consenso
pois que, o caminho a tal, se faz extenso,
bem árduo, tenso, frágil, arenoso…
Se te há desconfiança, abre o jogo…
Escutes, da razão, a voz, o rogo,
pois, sem amor, perdoar é mais custoso!
" O TENS "
Estás nos braços de outro, novo amor,
por certo enamorada, enternecida,
qual fosse-te a maior paixão da vida
a te abraçar envolta em seu calor!
Mas inda pensas no outro, o da partida,
aquele que se foi em pranto e dor
levando n'alma a mágoa, o dissabor
do teu desprezo dado, ressentida.
Se o vês, já não ocultas teu pensar
e é fácil perceber que, a lamentar,
tua alma chora o fim de linda história…
Nos braços de outro estás, se pode ver,
fingindo o tempo todo não saber
que ainda o tens, no peito e na memória!
" PEREGRINO "
O tempo é um caminhante, um peregrino,
que não olha pra trás; só segue adiante
deixando, o que passou, longe, distante
sem se importar se é cura ou desatino!
Da vida, ele é parceiro, fiel amante
que lhe concede o mais precioso ensino
selando, pra com todos, seu destino
a caminhar em passo, enfim, constante.
Há quem lhe vai atrás à todo custo
e quem se senta à espera achando justo
que ele não pare o curso de passagem…
É um peregrino, o tempo! Não tem pressa!
Ninguém nem mesmo sabe onde começa
nem onde irá parar a sua viagem!
Cativeiro das Palavras
Nunca sei o que escrever.
As palavras chegam sem aviso,
como pássaros desorientados
que pousam no peito
e logo se lançam ao vazio,
deixando o silêncio
como única companhia.
Sempre há dúvida.
Onde estão as inspirações?
Onde se esconderam os sorrisos
que um dia iluminaram o caos?
Talvez seja apenas questão de tempo,
tempo que não há,
tempo que se dissipa
como névoa em manhãs febris.
Mostre-me as lágrimas
que tais sorrisos trouxeram consigo,
como marcas discretas
nas dobras da memória.
Entre tantos sentimentos vazios,
confusos e desgastados,
é difícil encontrar algo verdadeiro,
algo que não se dissolva
na vastidão dos dias incertos.
" PERDIDO "
Nem sempre falarei, aqui, de amor
por meio de um soneto me inspirado!
Às vezes é melhor ficar calado
pra não colher encrenca e dissabor!
Contraditório, o amor! É bom de um lado
e, de outro, a mais completa confusão
que se perfaz, num tempo, de paixão
e nos remete, após, a triste estado.
Mas a poesia é feita dele e, assim,
eu tenho aqui por conta que ele, enfim,
precisa ser, melhor, é compreendido…
Não falarei de amor nalgum soneto,
se é ruim, se é bom, se branco ou preto,
mas se dele calar-me, estou perdido!
" TOLO "
Então, me diga aqui sem fingimento,
sem medo, sem censura, sem pudor,
se é fato ou se é mentira que o amor
não passa do mais tolo sentimento!...
Eu sei que ele te queima em seu calor
e que não te dá chance a livramento,
mas já te acostumaste a tal tormento
de forma a dar-se, assim, a seu favor.
Como é que podes, tú, amar enfim
se o sofrimento imposto não tem fim
e te acorrenta até a eternidade?...
Sem fingimentos, pois, peço: me diga…
É sábio o sentimento que ele abriga
ou tolo, mera cruz e insanidade?!…
" ÀS ESCONDIDAS "
Persegues teu amor, às escondidas,
premeditando que, encontrá-lo, é um caos
e eleva, os medos, até últimos graus
pra que jamais se dê nas duas vidas!
Tu foges para o alto dos degraus,
pro pico da ilusão, sem ter medidas,
nas tentativas tuas, suicidas,
de aniquilar amores! Bons e maus!
Por fim: queres amar ou te é bobagem?
Esqueces de esconder em tua bagagem
o sonho que te move a tal loucura…
Às escondidas, sem cautela pôr,
persegues, sorrateira, o teu amor,
mas temes o envolver-se na aventura!
" DESSA MANEIRA "
Quando ela lança o olhar desta maneira
me sinto a própria presa na emboscada
sentido o abate ali, sem escapada,
chegando de surpresa, na cegueira…
É fera, nesse lance, acostumada
a preparar a carne pra fogueira
e se eu vacilo, caio, dou bobeira,
me janta até o raiar da madrugada!
Tem ela, nesse olhar, o seu feitiço
que, ao seu querer, me faz ser submisso
e acabo que desperto em sua cama…
Assim, dessa maneira, o olhar me dado
me põe, a tal desejo seu, atado
até que eu me consuma em sua chama!
" INESPERADO "
Um dia o amor nos chega, inesperado,
pulsante de paixão, em calmaria,
por vezes num olhar que nos sorria
mas sempre bem melhor que o planejado!
Então, como o nascer de um novo dia
carrega o que é surpresa do seu lado
iluminando tudo o que sonhado
e surpreendendo a alma em sua magia.
Estrelas ganham vida, o sol, a lua,
e torna-se poesia a luz da rua
por onde o sentimento nos procura…
Inesperado, um dia, chega, o amor,
na forma de carinho aberto em flor,
sem drama, sem pudor, sem ter censura!...
" INFINDA "
Às vezes loiro, liso ou ondulado,
moreno, crespo, ruivo, sem pintura,
puxando pelo branco, já na alvura,
tingido por estar agrisalhado…
Ou ralo pela idade, com fissura,
com pouco trato ou mesmo caprichado,
cabelo deixa o rosto emoldurado
e, assim, destaca o belo da gravura.
Mas, não é dele a graça e formosura!...
O belo é da mulher que lhe depura
e, até careca, a vejo sempre linda…
Quer seja loira, ruiva ou se morena,
sem ter cabelo algum, alta, pequena,
mulher vem sempre c'uma graça infinda!
" GUIA "
Eu perguntei pro curso do destino
pra onde é que me leva a sua estrada
de curvas e ladeiras, pois, formada
de modo que o final não descortino!
Se a travessia imposta na jornada
oculta-se nas páginas que assino,
como é que vou colher do seu ensino
e compreender qualquer lição me dada?!
Queria antecipar o fim da história
pagando, à vista, assim, a promissória
a quem prestar as contas vou, um dia…
Mas o destino, sem qualquer resposta,
mandou que eu aumentasse, enfim, a aposta
e me arriscasse a prosseguir sem guia!
Expressar o humano não é arte, é uma gritaria; toda arte por natureza deve ser fingida. Se me dissestes que a gritaria pode ser arte, responder-te-ia, o belo pode ser nauseante e o agradável poderia vim a não ser prazeroso? De imediato poderia replicar que as duas coisas não necessariamente têm que andar separadas, argumentando para isso, talvez, em termos de pulsões, treplicaria, então, não há registro deles no aparelho psíquico, pois estamos vivos sabendo que vamos morrer sem nunca ter morrido, ou seja, eles nos são simbólicos em certa medida, por isso a sensação de sermos infinitos e a morte nada, em um salto de percepção desejada, em uma sensação irrefletida e apontada para o nada (o desconhecido) e em um processo contínuo de linguagem (simbólico), o tão caro nirvana dos místicos, o encontro com o dharma _encontrando-se_, e acrescentaria, não necessariamente têm que andar separadas, mas necessariamente devem andar separadas, o próprio fato de tender denuncia isto, pois quando misturadas não seria nenhuma uma coisa nem outra, não seria agradável a priori (naturalmente), porém, como uma proposta revolucionária e inovadora e boa e genial, sim todas as coisas entrelaçadas pelo desejo, e não correlacionadas diretamente em termos de implicação lógica, mas nunca vista (sentida e compreendida), por isso o processo de apreciação se dar pela exposição e absorção do discurso, ou seja, uma dessensibilização. Em síntese, se torna um absurdo defendido, pois todos desejam ('não morrer' !?) e imune a qualquer racionalização que por natureza exige coesão lógica interna e externa, além do mínimo, ou necessário, de resultados pragmáticos, ou seja, se torna um discurso esvaziado de conceito, quando muito, de rigor. Poderias fazer a observação de que há uma falha na minha argumentação, apontando para isso que as duas pulsões tendem ao infinito por não ter assinatura no aparelho psíquico, ou seja, ambos têm a mesma força de ação e presença, digo, em termos quantitativos são equivalentes, argumentaria pois que não poderia estar mais equivocada; a morte é a verdadeira significante da questão, pois o fato de não sabermos o que é o instinto de fato por sermos seres racionais, nos faz seres de linguagem, razão e sim, morte, a morte é o que nos constitui como sujeitos e humanos, homem. A vida é o enquanto, a morte é o final, o que nos aguarda e como todo final, não é desejado, por isso nos esforçamos ao máximo para tentar deixar o enredo um pouco mais interessante, mas desde o início temos somente uma certeza, a de que vamos morrer, isto é, que a história terá um ponto final e isto nos faz diferente de qualquer outro animal, ao ponto de ignorarmos o máximo possível este fato indubitável, vivaz e límpido, porém, tenebroso. Ademais, o que nos faz ser humano é o atravessamento da linguagem, a inserção da lei, isto é, da instância do superego com a pulsão de morte. Perfazendo, somos 'seres' que morrem, no mais são produções imaginárias, por vezes delirantes, por conseguinte, mentirosas.
Morri
A verdade me consome, destroça cada um dos meus átomos, sequer sabendo se são meus, sequer sabendo o que seriam de fato; o próprio fato de escrever é uma tentativa de reafirmar a vida, um salto mais uma vez à esperança, o próprio ato de escrever o é em si um absurdo, sim, o próprio ato; desisto da felicidade e só por desistir morro para mim, este ego que não me serve de nada, de mim para mim? Não sei e mais uma vez, não sei! Quão ridículo, que insípido, asqueroso e odioso é isto tudo; só por desistir de mim torno-me a busca, o objetivo; entrego-me completamente a uma estrada desconhecida em rumo ao desconhecido, em busca do perdido? Em direção ao não sei...
Não há lugar
Não há lugar e não há nada que minha consciência não toque, nesta mesma ânsia de ser tocado; não há paisagens que minha imaginação não anteceda, crie, ou fabrique; não há nada que me possua por mais tempo, mas por hora, vezes ou outra há um desejo que me consome, me arrebata e me quebranta e tudo isto para nada, não há lugar...
O saber é um descaber que descamba
Um dia aquele que disse,
Desesperou-se dia neste,
Mesmo aquele não sabendo
Que sorriu um dia, esse.
Se diz pouquíssimo não
Se pouco jaz não, ou algum se há?
O restrito mesmo, este
e não aquele, chora,
por pouco não? (...)
Colega de Quarto
Era noite de terça-feira mas, para ela, os dias apenas passavam de forma consecutiva. Ela estava terminando de jantar algo que escolhera de forma bem consciente:
— Algo com valor desnutritivo que não me mantenha viva por muitas sequências de semanas.
A luz acabou.
Silêncio.
A TV desligou e interrompeu alguma coisa que ela estava olhando sem ver.
— Preciso me distrair de algum outro jeito.
Meio derretida pelo sofá, ela olhou em volta. Encarou aquela casa que parecia meticulosamente comprometida com o medíocre. Não que isso a incomodasse.
— Casa é só pra passar a noite.
Passou alguns minutos completamente inerte encarando a TV desligada até perceber na tela o reflexo de algo que deixava uma fresta de luz passar.
Ela não se lembrava mais que tinha uma janela naquela casa mas ao menos tinha conseguido esquecer da existência daquela cortininha terrível.
— Odeio essa cortininha terrível da antiga moradora.
Passou mais alguns minutos completamente inerte encarando a TV desligada, colocando numa balança imaginária o gasto energético para ir até a janela contra o peso do tédio que sentia.
Resolveu que valia a pena ir mas ainda tinha dúvidas.
Pesou as coisas em sua balança ainda mais duas ou três vezes e resolveu que valia a pena ir mas, ainda assim, hesitou.
Estava cansada.
— Estou cansada.
Ficou mais um tempo ali parada. Nem para respirar se mexia muito.
— Pequenos goles de fôlego já bastam para sobreviver.
Foi preciso a ameaça de uma reflexão vir à mente para ela, enfim, se levantar.
Ficou de pé e foi. Sentiu até orgulho de si.
— Quanta aventura para uma noite.
Com algum tipo de cuidado, puxou uma cordinha velha que fez subir a tal cortina encardida que estranhamente, era menor do que a janela.
Agora ela tinha acesso às duas folhas de vidro completamente embaçadas e que, ao invés de deslizarem suavemente iam quicando pelo trilho, fazendo um som alto e triste ao mesmo tempo.
— Parece o choro reprimido de uma dor profunda.
A janela, que nunca fora aberta por ela, parecia estar emocionalmente agarrada à sua própria moldura e disposta à frustrar qualquer esforço para abri-la ou fechá-la.
Ela pensou em desistir várias vezes mas já tinha aberto uma brecha.
— Vai dar mais trabalho fechar do que abrir.
Arrependida e, à esta altura, já com uma certa raiva, deu um forte solavanco que escancarou a janela.
Sentiu um vento frio entrar, desses que parece de alma penada.
Mas antes que a raiva a fizesse amaldiçoar a ideia, ela olhou.
Não só olhou, ela viu.
Uma imensidão de céu exageradamente estrelado, iluminado por uma lua que parecia estar se exibindo num tapete vermelho. Chegava a ser cafona de tão bela.
— Como pode o céu existir a tantas milhares de semanas e nunca estar cansado? Como pode ter tanta vida em algo rotineiro?
Foi exatamente ali que algo mudou dentro dela.
E enquanto seu cérebro finalmente voltava a fazer conexões neurais ao som de uma agitada sinfonia de Beethoven, sentiu um vulto passando por ela e percorrendo aquela casa toda apagada, iluminada só pela lua.
Ela viu a sombra se movendo, mas sabia que não havia mais ninguém.
Ela sorriu bem baixinho e voltou a olhar o céu.
Ela entendeu que a luz tinha voltado e finalmente o passado tinha ido morar em outro lugar cujo céu não iluminasse.
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