Desde o final do século passado e... Ana Beatriz Figueiredo Mota

Desde o final do século passado e durante a primeira metade do século XX, os pedagogos influenciados pelas teorias da chamada escola nova defenderam a idéia otimista de que a educação teria uma função democratizadora, ou seja, a escola seria um fator de mobilidade social.
Tendo em vista constatações feitas sobre a educação brasileira, chegaram a conclusões de que a escola não é equalizadora, mas reprodutora das diferenças sociais.
Segundo Arthusser, o estado tem um aparelho repressivo (exército, polícia, tribunais, prisões, etc.) que assegura a dominação pela violência, mas também se utiliza de outras instituições pertencentes à sociedade civil, como a família, a escola, igrejas, meios de comunicação, os sindicatos, os partidos e outros, a fim de estabelecerem o consenso pela ideologia, e que por isso são chamados de aparelhos ideológicos de estado.
A escola não exerce a violência física mas sim a violência mediante forças simbólicas, ou seja, pela doutrinação que força as pessoas a pensarem e a agirem conforme a ordem vigente. Os textos didáticos veiculam certos valores que visam adequar o indivíduo à sociedade, integrando-o na ordem estabelecida. O caráter ideológico existe também na literatura infanto-juvenil e em livros do ensino médio, sobretudo nos de moral e cívica, história e geografia. A criança conhece uma realidade estereotipada, idealizadora e , portanto, deformadora.
Nossa primeira escola foi fundada pelos jesuítas em 1542, na Bahia. O objetivo era propagar a fé cristã e salvar as almas daqueles que não temiam a Deus, como os índios. Hoje podemos refletir sobre a escola que está sendo construída para as próximas gerações.
Em 1930 foi criado o ministério da educação e saúde, o ensino é instituído como integral, público e obrigatório. Em 1937 o golpe do presidente Getúlio Vargas interrompe as mudanças educacionais que vinham sendo discutidas desde 1932. 1961 foi o ano da promulgação da lei de diretrizes e bases da educação nacional (LDB), tornando a escola aberta, mas não obrigatória para os concluintes do quarto ano primário. Paulo Freire promove a valorização da cultura do aluno. O ano de 1985 marca a luta estudantil. Política e escola se mesclam na luta por ideais. O impeachment (1992) repete este cenário de indignação. Em 2001 vemos a criação do programa bolsa-escola, e mais uma vez o governo se aproveita da estrutura escolar para reafirmação de estratégias políticas.
Estamos assistindo, hoje, a um incrível aumento dos programas e propostas de formação contínua, realizados por diferentes esferas dos sistemas públicos e privados de ensino, pelos sindicatos de professores e até mesmo pelas editoras de livros didáticos. Caberia perguntar que interesses movem esses diferentes órgãos e instituições a patrocinar tais atividades. Inúmeros autores têm mostrado como a política de livros didáticos serve para desqualificar o trabalho docente. Esses livros definem os conteúdos e ensino, sua organização e seqüência e a forma de transmissão, deixando pequena margem de autonomia para o docente.
Por estas análises, concluímos que a escola tem função reprodutora, enquanto peça da engrenagem do sistema político vigente. Daí se justifica as críticas sofridas por não atender os reais interesses de seus alunos e de estar de certa forma na contra-mão dos objetivos pretendidos pela sociedade. Apesar disso ela persiste até o momento, pois a escola é um espaço passível de luta, de denúncia da domesticação e seletividade e de procura de soluções, ainda que precárias e parciais.




EDUCAR COM AMOR

“Toda criança tem direito a educação gratuita e ao lazer infantil. Nesse ponto, acho que muitas crianças já estão na escola, mas é preciso que sejam escolas boas e não as que a gente vê por aí, algumas de barro, cheias de buracos, outras de lata, já pensou que calor? Juliana estuda numa escola de lata lá em São Paulo, no verão alguns de seus colegas chegaram a desmaiar por causa do calor. E quando faz frio é de gelar. Por isso, não é preciso só escola, tem que ser adequada e o ensino tem que ser bom.”


O estatuto da criança e do adolescente deixa bem claro o motivo da escola pública ainda existir no Brasil até os dias de hoje e infelizmente a resposta é uma só: por obrigação.
Não tenho vergonha de dizer que sinto vergonha em viver num país onde nada é feito por amor e sim por obrigação.
A escola pública em muitos países, até mesmo em alguns de terceiro mundo, é devidamente organizada e amparada pelos desejos e anseios de uma sociedade, possivelmente, patriótica ou que pelo menos tem respeito pelos seus cidadãos. No país em que vivemos, ou melhor, sobrevivemos, não há respeito, não há amor, não há motivação nem desejo, por parte da comunidade e dos governantes.
Com origem na revolução francesa, a escola pública se tornou fato histórico de suma importância . E atualmente, há a necessidade do desenvolvimento escolar acompanhar a globalização e os processos tecnológicos, atualizar seus conteúdos e evoluir social e moralmente.
E o mais importante, explícito na citação de Keity Jeruska Alves dos Santos Zadorosny, a escola é necessária, mas não uma escola qualquer e sim uma escola adequada, que ofereça ensino de qualidade.
Volto a afirmar, não percebemos amor na sociedade que possa move-la aos interesses alheios e eventualmente, mesmo que alguns ignorem, para seu próprio benefício, pois uma sociedade sem educação gera marginalidade e violências de todo tipo.
Nossas casas não precisariam ser adornadas por cercas elétricas, alarmes; não haveria necessidade em construir tantos presídios, não seria necessário tantos carros blindados e tanto temor das ruas e das grandes cidades, se a comunidade passasse a enxergar na educação, desde a mais tenra idade, a solução para todo mal que enfrentamos. Mas os homens se fecham em si, principalmente aqueles que têm nas mãos poder para mudar ou para lutar por justiça igualitária, e vivem como prisioneiros de seus sistemas falidos e medíocres.