Fado

Cerca de 235 frases e pensamentos: Fado

INVENTÁRIO (soneto)

Dos detalhes os anos tomaram conta
Já se foram muitos, algumas cicatrizes
Pois, lembranças, são meras meretrizes
Dum ontem, no agora não se faz afronta

O meu olhar no horizonte é sem raizes
Pouco lembro onde está a sua ponta
Tampouco se existe algo que remonta
O remoto perdido, pois sou sem crises

Gastei cada suspiro pelo vário caminho
Brindei coisas, na taça deleitoso vinho
Na emoção, chorei e ri, a tudo assistia

Em cada tropeção, espinho e carinho
Ali aconcheguei o meu lado sozinho
Não amontoei nada, nas mãos, poesia

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Abril de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

TUDO É FOI (soneto)

Num piscar de olhos, tudo é foi
Outros aléns são rapidamente
O tempo feroz é que nos corrói
E gera o amanhecer diferente

Então que o erro nos perdoe
Que a sorte seja contundente
Os olhares, olhares nos doe
Momento, muitos e ardente

Presenças, maior que a falta
Onde amor seja lhana pauta
E nos incendei da tal paixão

Nada nem sempre é à ribalta
Apressado por nós sem falta
A vida, em sua combustão...

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, 27 de maio
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

GRILHÃO

Por que hei, desta solidão, o memorial
Por que hei, do silêncio, o chamamento
Se o caminho tem o seu início e o final
E o fado nunca é só descontentamento

Fosse possível ser apenas um ato fatal
Depois de tanto e tanto aborrecimento
A vida seria apenas passagem acidental
E no acaso não teríamos o sentimento...

Vária lembrança no tempo, nunca lento
De vias que nos parecia uma eternidade
E que nos foi reservado no esquecimento

Por que? Me encadeias sem piedade
No grilhão do vil ignoto e do tormento
No cárcere dum martírio da saudade?

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
25 de setembro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

Com licença poética

Quando nasci um anjo barroco,
desses rechonchudos, disse:
- ide e seja devaneador e louco
trovador, saia da mesmice.
Aceito está sorte, tampouco,
serei neste fado só sandice,
terei, também, a imaginação.
Não sou tão eu de maluquice
que venha sem a razão.
Acho o cerrado uma beleza
ora sim, ora não, darei adeus ao sertão.
Mas o que sinto, e que seja pureza
ponho a inundar o meu coração.
Dor tenho não. Só leveza!
Se choro ou lamento é de emoção.
Cumpro a sina!
Já a inspiração a levo aonde vou.
Se é maldição, eu, ave de rapina.
Poeta é fingidor. Eu sou.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Setembro, 29, 2018
Cerrado goiano
Paráfrase.

Inserida por LucianoSpagnol

Xis

Não me perdi numa ilusão. Perdi-me
Na incoerência, entre os devaneios
E no poço sem razão encontrei-os
Débeis, onde a cortesia os oprime

E num inconsequente e fatal crime
Duma imaginação, tive sonhos feios
Onde a inspiração de olhares cheios
Da mesmice, deixou de ser sublime

Mas há tempo no bem, compreenda
Não só os que se tem, - os fugitivos
Os da fé do amor que não nos infama

São tais como o andejar de uma lenda
A alma terá sempre os homens vivos
No afeto, ardentes como uma chama

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018, 14
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Ora (direis) ser quem sou! Exato.
Me perdi no caminho, me achei, no entanto
A cada passo, erro e acerto, vários o relato
Vou andando, o atrás se desfez por encanto

Inserida por LucianoSpagnol

ERRANTE

sonho
tornei-me assim devaneador
quando o anseio, enfadonho
despiram as quimeras em dor

de mim então fracassei
me achei e me perdi
nesta vontade, chorei!

ficou a frustração comigo
criou raiz na imaginação
tal um áspero castigo
indignação...

os olhos de tristura
choviam pela emoção
escoando amargura

sou tal qual um incessante
enxurro, transbordo, derramo
teimosia, um pescador andante
sangro, e no amor me esparramo

(nesta turra, errante!)

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
19/09/2017
Araguari, Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

ajuste

o relógio rege a hora
o estro rege o verso
a sorte afável senhora
então, sonho eu peço...

o segundo rege a vida
o silêncio cala o momento
tudo está de partida
já o amor, vital sentimento!

então, ajuste a batida!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
26/09/2019
Araguari, Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

bafios

eu era simplista
bastava a valeria
na agonia fui artista
poetando com maestria
na busca de conquista
baixas, também alegria
sem querer ser alarmista
no é fugaz, até a ousadia
abaixou a crista
e as dores em cortesia
fizeram da queixa ritmista...
e o dia, leveza vadia.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
8 de outubro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

REMENDO

Foi o devaneio que guilhotinou
os sonhos. Os fez sem aparato
E se estão intactos, aqui estou
invisível no evidente anonimato

Desenhei quimeras com giz
sem tronco, cabeça e braços
Colhi amor que ninguém quis
pra remendar os meus pedaços

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

ciscando

busco significação
no cesto de entulho
do fim do ano
e eis que tenho na emoção
- monotonia –
uma folha em branco
e uma acinzentada poesia...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

RETROSPECTIVA (soneto)

A vida na vinda e ida tem multidões
Não percebi todo o vento a suspirar
Tão pouco todas as cantigas de ninar
Foram cantadas nas minhas emoções

Tive chances no partir e no chegar
Os medos os pus nas contradições
No tempo rompi todas as estações
E nem todas as flores eu pude amar

O trem teve distinto as suas estações
O doce da quimera o seu mel a melar
E o tanto de carinho as suas aluviões

Na curva da esquina, solidão pude visar
Nos prazeres os feitos e as proibições
Porém, primaveras, também, vi florar...
(Nesta retrospectiva particular) ...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
29/11/2016, 10'00"
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Inspiração

Uso a poesia para falar de meus silêncios
Para a magia das palavras ter companhia
Em cada rima o hospício de meus suplícios
Assim, falo e ouço, escrevo o real e fantasia
Dou importância na simplicidade do fictício
Vivendo na levitação da imaginação, do só
Que possa vir e me trazer algum auspício
Assim, somos fadados, na matéria e no pó
Tudo na sorte com os seus diversos vestígios
E nos desperdícios das palavras dou um nó
Me perco no desenrolar de cada emoção
Pois cada trova no meu poetar é um cipó
Onde eu gangorro solitário na inspiração

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SORTE (soneto)

Na minha má sorte, a boa é pendente
Eu nunca inferi por que. Não entendia
Nos prados do fado estava ausente
Indaguei a vida por que era. Não sabia

Na quimera do meu dia, fui inocente
De uma tal timidez íntima e correntia
Que o passar do tempo foi em frente
E as venturas pouco tiveram cortesia

E assim, o sonho se fez bem distante
O vario momento me foi um instante
E por eles pouco soube dessuar valor

Sinto, sem, no entanto, ser dissonante
Que se fiquei ou se eu passei avante
O importante é que fui e serei amor...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

ventania

talvez a gente se esbarre
numa destas confusões do sentimento
onde o tempo no tempo nos agarre
nas lembranças, e nos carregue no pensamento...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Carrilhão

Na casa calma o carrilhão toca
O carrilhão na casa então canta
Teu sussurro que no ar carpanta
Alto, em altas horas dorminhoca

O carrilhão toca. Na casa espanta
O silêncio, assim, faz uma troca
Em reza tal a uma velha coroca
Prum ritmo numa batida santa

Toca, santa, canta, uma maçaroca
Chora afiado o carrilhão, encanta.
E na casa calma e vazia e ampla
O carrilhão chora e ali agiganta

Carrilhão, a que horas você levanta?
O coração triste e vazio aqui potoca
Em cada batida pulsa tal badalhoca
O que espera mais... Carrilhão canta!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2018
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

OCASIÃO (soneto)

A coerência lá se foi tão espantada
por um tropel de vândalos da rudeza
E mesmo o depois de tanta clareza
quedam robóticos, sem mais nada...

No escarcéu disperso, contos de fada
O veras, sem exatidão, e sem defesa
expõe toda a burrice e a estranheza
do revelado na dada outra jornada...

Sobra “Inania verba”, nenhum intento
ao mourejar hercúleo do lhano cidadão.
Indiferentes, só importa o seu contento!

Mas não é meu. Se afasta da tal meta
de parceiro, de irmão, fazer a ocasião
Cria-se curvas, e não a essencial reta...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

Num instante

Os anos passam, e se vai o encanto
Tal a rapidez nos muros o cipreste
O olhar de cada velho nos diz tanto
Que a velhice de ilusões se veste...
Espanto!

Mas as almas permanecem com odores
Não envelhecem, são cheias de quimeras
Se nas poesias as desventuras e dores
Também tem as perfumadas primaveras...
e os amores!

Assim, neste fugaz passado e presente
Os sonhos são de todas as realidades
Orvalhada com seu sabor ardente
De saudade! Lembranças... e saudades!
Vorazmente!

Uivam os relógios, o tempo brada
Agitam-se as horas no horizonte
Da vida... torna-se uma escalada
Em um implacável desmonte...
rumo a eterna morada!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
17/07/2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando

Inserida por LucianoSpagnol

gangorra

e nesta ciranda de querer e opor
num coração sulcado
se tem a saudade de amor

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

picadeiro
estou num picadeiro
na arena sou mágico
trapezista, Brasileiro (até no sobrenome)
de compasso trágico
poeta por inteiro...

eu sou equilibrista
no desequilíbrio...
nas horas vagas pipoqueiro
dum circo de ludíbrio
corriqueiro!
sobrevivente!

paralelamente um sonhador
na arte dum eterno amador

vivo num suspense
neste bio circense!

© Luciano Segantini Brasileiro Spagnol
poeta do cerrado
26 de setembro de 2019
quinta feita, 05’55”
Araguari, Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

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