Cronicas de Luiz Fernando Verissimo Pneu Furado

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Todo mundo tem direito de interromper um convívio por não gostar de uma pessoa e senti-la interferindo no seu emocional. Mas o desistir de alguém se mostra mais sensato quando a razão, e não a emoção, é o que norteia o rompimento, ao se concluir que a natureza irreversivelmente distorcida do outro nada nos acrescenta, tornando a distância a única garantia de preservação do bem maior, que é a nossa paz.

No primeiro momento de nossas vidas – o mais equivocado deles – nos afastamos das pessoas que não nos dizem o que queremos ouvir; num segundo momento passamos a romper com as que não vivem para nos cativar; no limiar da meia-idade tendemos a excluir aquelas que nos criam dificuldades; mas é a sabedoria da maturidade que nos leva a concluir que deve ser a irreversibilidade, e não a imperfeição, o critério de decisão entre as que saem e as que ficam.

Contrariando várias teorias psicanalíticas, valorizar o recolhimento pode indicar ampliação do significado atribuído às coisas simples em vez de acreditar que todas as importantes estão fora de alcance e precisam ser buscadas em algum lugar. Invertendo o estabelecido, esta incessante necessidade de buscar fora pode apenas indicar a incapacidade de encontrá-las em si – ou de entender formas que escapam aos padrões ditos “normais” de felicidade – enquanto a referência deveria ser o quanto cada qual se sente bem com sua própria receita.

Não existe nada mais improvável que a alma humana... E mais inútil ainda é tentar explicá-la. Que nunca se duvide do poder de influência de uma pessoa sobre outra, mesmo quando sua inteligência prognostica o contrário. Daí porque escolher não ter ídolos, nem líderes ou paixões pode ser o caminho do meio que aparece para nos redimir de nossos medos, e talvez a alternativa para a ovelha do aprisco moldada para reproduzir o pensamento de seu pastor.

Algumas pessoas não possuem dentro de si qualquer sentido de generosidade ou compaixão para oferecer a outrem um benefício espontâneo que lhes aflora da alma. Até mesmo suas “bondades” são cuidadosamente planejadas para resultar em um ganho mais à frente, onde os favores prestados não passam de investimentos naquilo que já trazem em mente para o período da “colheita”. Depois que o descobrimos tanto o perdão deixa de ser uma virtude como temos certeza de que não lhes fará qualquer diferença, exceto a de poder continuar nos usando.

Quem foi que disse que a primeira impressão é a que fica? Conheço quem passou toda sua existência tentando aplicar o golpe perfeito, e na última oportunidade o consegue... E sai como mocinho desfrutando de todas as prerrogativas dos heróis, onde os golpes de uma vida inteira são zerados porque se mostrou bastante convincente no último.

Por conta de uma sociedade que se estruturou sobre corrupção como meio de vida, sou um desses sujeitos tidos como “certinhos otários”, ingênuos candidatos a vítimas preferenciais dos “mais espertos”, ou tidos sistematicamente como inflexíveis e fora de contexto, até descobrirem que sou apenas mais um “panaca” que optou por ser honesto.

O que se mostra mais insuportável para os que se alimentam do controle sobre todos que os cercam é constatar que já o perderam tanto em relação à situação quanto sobre si mesmos, só lhes restando exercê-lo sobre a raiva que trazem represada dentro de si para não confirmar que alguém mostrou mais inteligência do que a que precisam provar que possuem.

Se você supõe oferecer muito acima do que o outro merece, mas este se mantém firme para sustentar posições que o contrariam – mesmo com risco de perder a posição que você tão magnanimamente acredita estar lhe proporcionando – um pouquinho de bom-senso e inteligência o fará concluir que ninguém escolhe perder algo que o esteja realizando simplesmente para ser do contra, e só isso já deveria prestar-se a uma reflexão se o que está oferecendo em troca daquilo que cobra é tão bom assim quanto você acredita.

Para quem usa de rigor no cumprimento de suas responsabilidades muitas vezes se mostra extremamente sofrido – e até torturante – ter que deixar o balde entornar quando a outra parte envolvida simplesmente ignora o acertado para se manter dando as cartas, como é de sua natureza. Dói principalmente saber que outros pagarão o preço do que deixará de ser feito, mas se continuarmos a apagar incêndios de última hora para prevenir mortos e feridos nos tornamos coniventes com o domínio ilegítimo que tentam impor sobre o nosso inalienável direito de escolha, e jamais voltaremos a recuperar as rédeas da própria autonomia.

Se você tem medo de chutar o balde quando se vê impedido de continuar crescendo, saiba que esse pontapé pode ser tudo o que precisava para resgatar sua dignidade, lembrá-lo de que tem muitos talentos, insuflar-lhe auto-estima, devolver-lhe a alegria, ampliar-lhe o leque de alternativas e descobrir que só precisava da decisão para retomar o gosto pela vida, transformando-a numa nova sequencia de conquistas.

Você nunca precisará se preocupar com o que eventuais adversários poderão dizer de você. Nada falará mais alto do que a credibilidade que angariou em sua trajetória, nem poderá haver escudo mais resistente contra os que tenham interesse em desconstruir sua imagem do que a consolidada sob a égide da integridade ao longo de todo um histórico de vida. É em sua história, portanto, que deve concentrar sua atenção desde o começo, pois só ela terá poder de confirmar ou desmentir seus oponentes.

Fausto, personagem de Goethe, disse: “Isso [chegar aos corações alheios] você não vai conseguir, apesar do seu ardente desejo, se você não sente o que declama [ou proclama]; se isso não vem do fundo da sua alma e com encanto muito poderoso e fundado você não convence os corações do auditório (...) você pode até conquistar a admiração das crianças e dos macacos, se esse é o seu gosto, mas nunca fará seu coração chegar aos corações dos outros se isso não sai do fundo do seu coração”. Saramago falava e escrevia coisas com convicção e coração. Podemos não concordar com várias das suas teses, com sua narrativa muitas vezes exageradamente detalhista, mas não se pode negar o seu valor, o seu estilo, porque tudo foi escrito com muita humanidade (e muito coração). Enfrentou polêmicas homéricas em razão das suas convicções, mas levou-as até o final. “O homem é o que ele acredita” (Anton Tchecov, russo, dramaturgo).

Os grandes e famosos artistas, os esportistas notáveis, os empreendedores de sucesso ou mesmo os aprovados em provas difíceis possuem muita coisa em comum: uma delas, sem sombra de dúvida, reside no esforço diferenciado. “Falhar em se preparar é se preparar para falhar” (Benjamim Franklin, americano, cientista, político e filósofo). Gente de sucesso exuberante não é inimiga da disciplina nem tampouco amiga do talento caótico. Mozart morreu muito jovem e aos dezenove anos já era um sucesso. Mas nessa altura ele já tinha cerca de quinze anos de trabalho duro e persistente (visto que começou a tocar e compor, por influência do pai, aos cinco anos de idade). Uma constatação importante: não basta só se esforçar. É preciso fazer benfeito o que deve ser feito. De outro lado, tudo deve ser feito do “jeito direito” (Nizan Guanaes). Nada de indisciplina, nada de desorganização, nada de improvisação. Para você alcançar o mundo do sucesso a fórmula mais garantida é a perseverança nos seus ideais, mas com ordem, com método, com planejamento. Recordemos: “Planejamento de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com o futuro de decisões presentes” (Peter Drucker, austríaco, escritor e consultor de negócios).

O filósofo espanhol Jaime Balmes (citado por Faya Viesca) não atribuía o sucesso das pessoas à sorte, à inteligência, à formação escolar ou à sua posição social, sim, à “cabeça de hielo (fria), ao coração de fogo (quente) e à mão de ferro”, que significa luta, perseverança, aspiração ardente de vencer, esforço fora do comum, vontade firme de triunfar, anseio inabalável e resoluto de se superar, em síntese, vivo e forte desejo de superação. Isso é o que realmente faz a diferença na nossa vida. Cabeça fria, por seu turno, significa cabeça que calcula, que planeja, que projeta o empreendimento ou a ação, que decide na hora certa, que fixa objetivos atingíveis, metas realistas etc. Coração quente (coração “de fuego”), por último, significa emoção, motivação, empolgação, entusiasmo, ter ganas de êxito, esperança, ter desejo profundo de fazer, de criar, de desenvolver, em síntese, de empreender. Triunfa, em suma, como dizia Critilo (El criticón, de B. Gracián), o que deseja ardentemente e o que se esforça de maneira perseverante com vontade resoluta e firme.

Tenho o necessário, básico para viver, não tenho pouco e nem muito. Tenho uma família que me ama, tenho uma família que amo, tenho bons amigos, velhas e novas amizades, em mútuo movimento, enquanto alguns saem de minha vida, outros entram. Não tenho muito dinheiro, não tenho pouco, tenho o ideal, a quantidade que me faça satisfeito, mas a quantidade que me faça batalhar. Nunca fui de muitos amores, mas também não tive poucos, não sou do que faz sucesso unânime, nem o que é fracassado. Sou normal, fico triste as vezes, mas me considero feliz. Creio que a felicidade não está na totalidade de dias felizes, não preciso estar sorrindo todos os dias para ser feliz, nem preciso estar chorando todos para estar em depressão profunda. Sou feliz porque me contento com que tenho, busco mais, não por ganância, ou algo a mais como dinheiro e mulheres, mas por amor, por amor próprio, por amor alheio, por um amor que seja cíclico como o de família, ou linear como o de uma mulher. Acho que o que buscamos cada vez mais, que lutamos dias após dias, seja nosso objetivo claro e determinado, ou seja sem ele mesmo, não é o sucesso, não é a fama, mas é o amor, podemos ser fartos ou famintos, felizes ou infelizes, mas se temos o amor, em suas mil faces, temos tudo, somos tudo, nos completamos e alcançamos com êxito, qualquer objetivo, seja claro e explícito, ou confuso e implícito.

Ao final, a praga do politicamente correto é apenas mais uma forma enraivecida de recusar a idade adulta e de aniquilar a inteligência. O que ela mais teme é a coragem. Por isso, diz que o povo é lindo quando não é, diz que as mulheres estão bem sozinhas, quando não estão (estavam mal acompanhadas e agora estão pior sozinhas, porque a humanidade é basicamente infeliz e incoerente com relação aos desejos e às expectativas), diz que a natureza é uma mãe quando ela é mais Medeia, nos proíbe de reclamar de gente brega ao nosso redor, mente sobre aqueles que lutaram contra a ditadura (eles não eram muito melhores do que os torturadores se tivessem a chance de torturar alguém), nega a importância da culpa porque é mau-caráter, enfim, não é capaz de reconhecer valor em nada porque nega a própria capacidade humana de fazer discernimento.

Um brinde às pessoas que leem e lendo compreendem o que leram. Àquelas que sabem expressar o que sentem, e ainda não se sucumbiram em locar espaços do seu discernimento para se integrar num grupo ou comunidade. Um brinde às pessoas que pensam diferente, que pensam grande e não tem medo de sonhar.

É direito de todo indivíduo levantar a bandeira que quiser, como também é direito de outros recusarem-se a compartilhar trincheiras pelo simples fato de, pelo menos em tese, possuírem interesses comuns. Ninguém pode ser forçado a ocupar lugar na trincheira de outrem por ter voz como pessoa pública, possuir representatividade, ou ser formador de opinião apenas porque alguém quer reforçar a própria trincheira valendo-se de tal notoriedade, e acha que seu direito de cobrar posicionamentos é maior que o do outro de fazer suas próprias escolhas. Militância é uma decisão pessoal, e dar-lhe tratamento de obrigação é totalmente equivocado, pois que contraria o princípio da igualdade de direitos.

Todos buscamos uma poesia mas não a perfeição, porque ela não existe, desejamos apenas a verdade, reconhecendo que cada um tem suas próprias limitações, renúncias e sacrifícios, suas inseguranças e medos. Em outras palavras, pretendemos encontrar alguém, ainda que não seja perfeito, mas que seja verdadeiro.

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