Cronica de Graciliano Ramos
As explosões de hostilidade psicótica que de vez em quando despejam toda sorte de detritos mentais não só sobre a minha pessoa, mas também sobre a de meus alunos, [...] expressam a natural reação de um meio tradicionalmente hostil ao conhecimento e por isso mesmo ávido de compensações psicológicas para um MONSTRUOSO e, no fim das contas, justificado complexo de inferioridade intelectual.
A vocação é a coisa principal na vida, porque a maior parte do seu tempo você vai gastar trabalhando. Então, se você não está realizado no seu trabalho, você não vai se realizar em parte alguma. O que é este realizar-se? É você ter prazer o tempo todo? Não é possível. [...] Aquilo que é mais importante do que você. Aquilo pelo qual você morreria, como Cristo na cruz. Você acha que Cristo estava muito feliz de estar lá pregado na cruz? Ele fez por prazer ou por dinheiro? O resumo da humanidade é Jesus Cristo. Ele está lá pendurado na cruz é por amor. Não é nem por prazer, nem por dinheiro. [...] é o amor por uma coisa que é mais importante do que a sua vida, que vale mais do que a sua vida. Isso é a verdadeira vocação.
"Denomina-se 'ideal' a síntese em que se fundem, numa só forma e numa só energia, a idéia do sentido da vida e a do preço de sua realização: diz-se que um homem tem um ideal quando ele sabe em qual direção tem de ir para tornar-se aquilo que almeja, e quando está firmemente decidido a ir nessa direção."
Sem a síntese, que o ideal opera, entre o impulso de universalidade e os interesses do organismo psicofísico, não haveria meio de fazer um homem sacrificar-se, impor-se restrições, contrariar desejos e reprimir temores, em prol de algum valor moral, social ou religioso, para alcançar sua plena estatura humana e tornar-se, talvez, maior do que ele mesmo.
O ideal é a bússola que assinala para a alma uma direção firme e constante por entre as incertezas. Por isto, o sentimento de insatisfação, de vazio e de tédio que experimentamos quando traímos ou esquecemos o ideal é o sinal de alarme que nos permite corrigir o rumo e reencontrar o sentido da vida.
Se o sentido é aquilo a que se orienta a nossa vida e a que ela tende com todas as suas forças, então, deve estar colocado num outro tempo ou num outro espaço que não os do presente e do imediato num futuro ou num plano mais abrangente de realidade. O ideal é a presença deste futuro no presente, deste outro espaço no aqui e no agora.
A exaltação imaginativa é um estado em que a mente, embevecida com o seu ideal, se identifica mais ou menos inconscientemente com ele e atribui a si as perfeições que a ele pertencem, como se já as tivesse realizado. [...] O exaltado toma o potencial por atual, imaginando possuir as perfeições a que aspira.
A banalização consiste neste nivelamento-por-baixo do sentimento moral e estético. Ela permite que o indivíduo adote, como normais e indiferentes, atitudes e opiniões que antes lhe pareciam imorais e desprezíveis. Não raro a mutação apaga blocos inteiros da memória, de modo que o indivíduo, para sustentar com alguma coerência o seu novo padrão de comportamento, chega a negar os fatos mais óbvios e patentes que presenciou.
[...] a neurose do idealista exaltado tem sua origem na soberba, pois o ego, ao identificar-se com a imagem do ideal, atribui a si mesmo, atual e efetivamente, qualidades que só lhe pertencem de modo virtual e por espelhismo. É uma forma de autolatria. Quando os teólogos dizem que a soberba é a raiz de todos os pecados, é isto o que eles têm em vista: o idealista exaltado corrompe o bem na sua própria raiz, corrompe-o na medida em que tem por ele um amor egoísta.
Uma sociedade voltada para a busca de um ideal religioso, moral ou cultural universal, e dotada dos instrumentos educacionais capazes de viabilizar a realização humana de seus membros, produz, certamente, uma esplêndida floração de individualidades vigorosas e ricas que, por sua vez, contribuem para o progresso e o brilho da sociedade.
"[...] E se é fato que 'chegará o momento em que cada um, sozinho, privado de todo contato material que possa ajudá-lo em sua resistência interior, terá de encontrar em si mesmo, e só nele mesmo, o meio de aderir firmemente, pelo centro de sua existência, ao Senhor de toda Verdade', não é menos verdade que está somente nas mãos de cada qual dizer a este mundo sedutor e ameaçador: [...] 'Podes latir, mas não podes morder, a não ser que eu o deseje'."
O aprender e o ensinar caminham juntos, o professor ensina e ao mesmo tempo aprende, faz parte de sua vida, às vezes ele fica confuso, mas com dedicação e estudo, logo descomplica... É belo poder descobrir algo novo, ir além de nossa imaginação, ter a visão ampliada, entender o desconhecido e viver de forma descomplicada... A sabedoria é algo que Deus nos dá de graça, que por alguém, jamais poderá ser tirada... Estude e aprenda para poder ensinar, pois uma mente repleta de informações exatas, é e sempre será a nossa maior arma!
A doação deve ser algo sentimental, seja de nossos dons ou mesmo de algum real, deve ser espontâneo, em agradecimento pela vida, por nossas conquistas e bênçãos recebidas, entendo ser natural, fazer algo sem pensar no retorno material... Quando se doa pensando em receber algum benefício em troca, se perde a essência da ajuda, do agradecimento, do servir à pessoa próxima... Pois quando doamos um pouquinho de nós, com carinho, agradecimento e verdade, Deus nos dá em dobro tudo o que precisamos, esta é a verdadeira essência da vida, esse é o verdadeiro sentido da caridade...
"Só há duas fontes de conhecimento: a intuição e o testemunho. Intuição não é 'apreensão pelo subconsciente', 'penetração no interior das coisas', 'sentimento de identificação', nem nenhuma dessas patacoadas. É PERCEPÇÃO IMEDIATA DE UMA PRESENÇA. Um raciocínio ou demonstração lógica não passa de um encadeamento de percepções intuitivas da identidade ou diferença entre proposições (presentes à consciência). Tudo o que não é conhecimento intuitivo é confiança num testemunho. Não há uma terceira maneira de conhecer. Isso NÃO É diferente na religião e na ciência."
Numa discussão, a superioridade intelectual nem sempre é vantajosa. Quando excessiva, torna-se um inconveniente, pela simples razão de que nada pode fazer um debatedor render-se a um argumento que esteja acima da sua compreensão. Quanto mais esmagado sob montanhas de fatos e provas, mais ele se sentirá imune e vitorioso, saindo do debate persuadido de que foi vítima de injustiça. Se há uma força invencível neste mundo, é a burrice.
"Se, como dizia Husserl, não há consciência 'em si', consciência vazia, mas toda consciência é consciência de alguma coisa, estão é absurdo dizer que a consciência está 'no' sujeito cognoscente: ela está numa relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto, a qual não pode estar inteiramente neste nem naquele, mas simultaneamente nos dois."
"O universo à nossa volta, com o nosso próprio ser dentro dele, compõe-se de objetos materiais estruturados em formas, sendo portanto inseparavelmente material e imaterial, corporal e espiritual. A consciência é a relação formal que se estabelece entre duas formas, a forma de uma individual psicofísica humana e a forma de uma presença corporal imediata ou mediata."
"A identidade do 'eu' é a própria unidade do real que se manifesta na existência de uma substância em particular que sou eu. Nenhuma explicação causal tem o poder de reduzi-la a qualquer fator, pois é ela que unifica todos os fatores. A existência do 'eu' é o inexplicável por trás de tudo o que é explicável."
"A consciência cresce na medida em que se reconhece, e não pode reconhecer-se senão abrindo-se permanentemente a conhecimentos que transcendem o seu patrimônio anterior. A abertura para a transcendência – para aquilo que está para além do horizonte atual de experiência – é portanto um dado permanente da estrutura da consciência."
A filosofia parece ser compatível com todas as posições de classe, com todas as condições profissionais e econômicas. Sócrates era um empreiteiro aposentado, Platão um aristocrata, Aristóteles um filho de funcionário público, Epicteto um escravo. Descartes era militar, Bacon juiz de direito, Espinosa técnico em fabricação de lentes, Leibniz diplomata, Vico mestre-escola, Marx jornalista e, last not least, Gramsci operário e depois agitador profissional.