Cora Coralina Poema do Futuro
Escrever, hoje em dia, é um ato de resistência contra a insanidade coletiva que nos domestica, que nos embrutece, que nos impede de perceber a dor do outro. Vivemos num mundo de intolerância, de verdades absolutas, onde quem duvida morre. Na escrita, há uma brecha. Uma fresta de lucidez. Um instante de verdade.
Ali, diante da página, o poeta — como um semideus — nos apresenta a beleza honesta da dor. Ele nos representa como somos: seres humanos. Falhos, imperfeitos, mas humanos. E durante o tempo da leitura, sem nenhuma distração, sem nenhum pensamento alheio, nos conectamos com quem somos. Com nossa essência. E ao perceber isso, algo se transforma.
Porque há uma catarse que acontece. Às vezes sutil, às vezes brutal. Mas acontece. Saímos da leitura mexidos, acordados. Descobrimos a força incrível que é ser humano. O poder que temos em mãos. A capacidade de sonhar — mesmo com tudo em ruínas.
A pergunta é: o que vamos fazer com isso? Vamos tentar mudar o mundo, ou voltar à realidade mórbida, fingindo que nada foi dito? A poesia nos entrega uma verdade. E a verdade, uma vez vista, não pode mais ser ignorada.
Dizem que falar ou escrever
nos ajuda a pôr os problemas para fora, nos deixa mais leves...
Mas, e quando relembrar te faz sentir doer?
Falar ou escrever nos levará a reviver tudo novamente.
A dor passada não foi o suficiente?
Teremos que passar por tudo de novo, como que uma vez apenas fosse pouco? É algum tipo de castigo, tipo aqueles que fazíamos no passado em sala de aula, onde a professora nos sentenciava a escrever poŕ cem vezes: Não devo me levantar, sem que antes, peça a autorização da professora? Ou então, quando íamos nos confessar e o padre nos penitenciava a rezar vinte Ave Maria e trinta Pai Nosso?
Há dores que entram em estado de hibernação. Tentam se fazer de "amigas", te enganam, subornam e encontram moradia. Algumas, fazemos questão de cativá-las; nos faz sentir bem nos fazermos de vítimas para chamar um pouco mais de atenção para o inflar do nosso egocentrismo. Dores, amores, dissabores... Quais destas têm te feito cativo? Para que lado tens olhado? Qual ajuda tens buscado? Quais tipos de mudanças tens estado disposto a fazer para deixar de carregar esse julgo? Mantê-la em modo de hibernação não te ajudará em nada. Ela sempre estará alí. Precisamos nos perdoar, jogar fora essa bagagem, que por ora, nos faz sentir o centro das atenções. Não é isso que queremos. O que queremos é a libertação desse sofrimento. Para esta liberação, precisamos do nosso próprio perdão e desapego. Desapegar pode ser nossa única via a ser tomada. Percorra por esta via e se desprenda. Sinta-se mais leve, menos sobrecarregado e se disponha a errar e se refazer quantas vezes forem necessárias!
vts
Jadeilson
Meu irmão não é especial.
Não tem nenhuma virtude fora do comum.
Não brilha nas rodas,
não encanta multidões,
não coleciona diplomas.
Mas é um homem.
E isso, hoje, já é raro.
Homem no gesto firme,
no que acredita,
no que não negocia.
Rude, às vezes seco.
Mas nunca falso.
Nunca curvado ao que dizem
ou ao que esperam dele.
Ama suas escolhas,
como quem sabe o peso que é
carregar a própria vida
sem fazer dela espetáculo.
Eu, mais novo,
olho pra ele com admiração quieta.
Não por heroísmo,
mas por coerência.
Por resistir, mesmo no erro,
com a dignidade dos que não fingem.
Jadeilson não precisa saber
que escrevo isso.
Ele não liga pra palavras bonitas.
Mas o que sinto por ele
é mais velho que a palavra.
É afeto de sangue.
É respeito de silêncio.
É amor —
sem precisar dizer.
Eu sou burro, dizem.
Não aprendi a ser hipócrita.
Não sei sorrir com o fígado doendo,
nem elogiar quem me envergonha.
Nasci torto pra esse mundo liso,
onde a esperteza é se calar,
e a virtude é caber na média.
Não sei me vender.
Não sei bajular.
Não sei.
Só sei ser inteiro.
E isso, hoje, é burrice.
Vejo os que vencem —
sabem o tom, a pose, o disfarce.
Sabem dizer sim sem concordar.
Sabem pedir desculpas sem culpa,
elogiar sem respeito,
defender sem acreditar.
Eu não.
Eu sangro na frente de todos,
falo o que penso,
perco amigos,
perco oportunidades,
perco o conforto.
Mas durmo.
Durmo sabendo quem sou.
E isso, talvez, seja o que ainda me mantém
vivo — mesmo fora do rebanho.
Eu sou burro, dizem. Não sei me posicionar, não sei me calar na hora certa, não aprendi a jogar o jogo. Nunca entendi o valor de um elogio falso, nem a importância de um aperto de mão estratégico. Não sei fingir respeito, não sei sorrir com o fígado amargo. Nunca aprendi a ser hipócrita — e isso me custa.
Enquanto outros sobem, eu permaneço. Enquanto fazem alianças por interesse, eu perco oportunidades por lealdade. Enquanto moldam a voz ao que o outro quer ouvir, eu falo o que penso, mesmo que doa, mesmo que afaste. Eu não me adaptei. Não consegui. Há quem chame isso de orgulho, de teimosia, de burrice mesmo. Eu só sei que não consigo ser outro pra agradar. Só sei ser eu — e isso, hoje, é visto como falha.
Não é que eu goste da solidão. Nem que me orgulhe da minha margem. É que a conta que me pedem pra pagar pra caber no mundo — ela custa minha alma. E isso, não. Prefiro perder, prefiro errar, prefiro andar só. Mas durmo. Durmo sem vergonha. Durmo em paz com o homem que carrego dentro. E isso, talvez, ainda seja o que me salva de virar o que todos esperam.
LABIRINTO
Andei sem rota,
batendo na porta
que não se abria.
Meu medo sumiu.
Perdi a razão.
Neguei ao oráculo
meu sangue e perdão.
A musa Ariadne
se esqueceu de mim.
Não veio ao encontro
marcado no fim —
no fim da viagem,
da tola miragem
que venderam pra mim.
Eu sei que estou
perdido no caos,
no vácuo do mundo,
sem paz ou redenção.
Sou homem, sou tolo,
vestido de púrpura,
coroa de espinho,
ferida divina,
forjada do barro
que volta ao chão.
Nada me inspira mais do que a raiva. Não essa raiva histérica, superficial, que grita sem saber por quê. Falo da raiva que nasce do abuso, da injustiça cotidiana, do silêncio imposto aos que ainda têm alma. A raiva que surge quando vejo gente boa sendo engolida por um sistema que premia a mentira, que endeusa o disfarce, que trata a hipocrisia como virtude social.
A indignação me dá vida. Me acorda. Me empurra pra escrita. Não sou movido a paz interior, nem a frases de autoajuda. O que me move é o desconforto. O que me guia é a vergonha de ver o mundo como está e fingir que está tudo bem. Eu não me adapto, não consigo. E não quero.
Escrever, pra mim, não é florescer: é rasgar. É reagir. É cuspir de volta o que me enfiaram goela abaixo. Minha arte não é gentil — é necessária. É a forma que encontrei de não enlouquecer. Porque se eu me calar, se eu aceitar, se eu sorrir junto, aí sim estarei perdido. A raiva me lembra que estou vivo. A indignação me prova que ainda sinto. E enquanto isso durar, ninguém vai me domesticar.
Entre Salomão e Nietzsche, a Senda do Poeta
Ser poeta não é ser um sábio, embora o poeta caminhe com os olhos cheios de mundo.
Ser poeta é, talvez, saber desviar dos abismos do saber.
Salomão provou de tudo: da carne e do vinho, da justiça e da insônia. Escreveu provérbios como quem grava cicatrizes em pedra. No fim, chamou tudo de vaidade. Mas errou — não porque ousou saborear o mundo, mas porque se esqueceu de manter acesa a lâmpada interior. A sabedoria sem direção vira labirinto. E o poeta não pode se dar ao luxo de se perder.
Nietzsche, por sua vez, levou a lucidez até os ossos. Arrancou o véu de todos os ídolos, inclusive o de Deus. Mas pagou um preço alto: foi vencido por aquilo que desejava superar. Ficou só, dentro da própria mente — uma caverna onde ressoavam apenas os gritos do seu gênio cansado.
Eu não quero ser como Salomão, que confundiu sabedoria com impunidade divina.
E também não quero ser Nietzsche, que confundiu liberdade com exílio da alma.
Quero escrever versos que me mantenham de pé.
Quero uma poesia que não apodreça, que não me transforme num profeta vencido pela própria visão.
Quero a palavra como caminho — não como cova.
Porque a verdadeira maturidade não está em saber tudo, mas em saber o que deixar de lado.
E a verdadeira poesia não nasce do delírio nem da vaidade — mas do silêncio que vem depois de ver demais.
O Alter Ego e o Labirinto
Na literatura, o alter ego do autor raramente é um só.
Ele se desdobra, se infiltra em múltiplos personagens, e por vezes se oculta no que não é dito, no que se evita.
Em Labirinto Emocional, meu primeiro romance, publicado em 2005, meu alter ego se dividiu em dois homens: Valter e Paulo.
Valter é jornalista, alcoólatra, devastado por uma perda que o tempo não cura — um filho perdido na Europa, tragado pelos rastros da guerra.
Ele carrega o peso da memória e do fracasso, mas também da lucidez crua de quem já viu o mundo pelo avesso.
É um homem que já foi centro, mas hoje gira em torno de um vazio.
Paulo é músico da noite, filho da boemia carioca.
Conhece Valter em Copacabana, num tempo em que os bares tinham alma e a amizade era vício raro.
Paulo vê em Valter um espelho trincado — e, talvez por isso, não foge dele.
Eles criam uma amizade intensa, marcada por silêncios, desconfianças e lealdades tortas.
Enquanto Valter afunda nas suas crises, entre surtos e lapsos, Paulo se aproxima de Rute, a filha única de Valter — a mais bela, a mais viva — e casa-se com ela.
Não há escândalo. Há destino.
Paulo se torna o cuidador de Valter, quase um herdeiro não nomeado.
É ele quem permanece quando o mundo se vai.
Talvez o alter ego não esteja só em Valter. Nem só em Paulo.
Está no abismo entre os dois.
Na fronteira tênue entre decadência e continuidade.
Na pergunta silenciosa: quem somos quando os outros começam a cuidar do que um dia foi nosso?
Labirinto Emocional é isso.
Não é apenas um romance sobre amizade, amor, decadência e lucidez.
É um romance sobre o artista diante do espelho:
partido entre o que viveu e o que ainda insiste em escrever.
Não permita que te destruam, pois é facil fingir algo que não é, apenas para alcançar um objetivo onde você não se inclui na vitória.
Se o passado se prender em seu interior, faça logo uma limpeza na alma. Pois não se pode viver com fantasmas assombrando. A vida segue e existe muita luz pelo caminho, pra que andar na escuridão se podemos enxergar muito melhor em meio as luzes sejam elas do sol ou da lua que mesmo na penumbra ilumina a todos que acreditam nela.
Na vida tudo é uma lição a ser aprendida no dia a dia. Muitos nem prestam atenção, Nem sequer comungam com a situação, depois reclamam que a vida é superficial e injusta.
Muitas vezes afastamos as pessoas da gente por medo. Um medo bobo que nada justifica. Pois nem todos são iguais, algumas pessoas só querem nosso bem, mas se a presença é ignorada ou mal vista, acabam que se afastando por achar que há outras intenções, triste entendimento mas que acolhemos de bom grado e damos ao outro a distância tanto desejada.
A dor só vem apenas para aqueles a quem as palavras afetam (ferem). Se não diz nada a seu respeito não tem porque se ofender.
Você é Linda e maravilhosa como uma flor e não existe nada nesse mundo mais Bela Do que você, que você é o tesouro mais valioso nesse mundo e não existe nada nesse mundo mais valioso do que você pra mim só existe você..
Não há como viver nesse mundo,sem Deus na nossa Vida que Deus é mais que tudo na nossa vida só nele nós podemos passa pelo mal que existe nesse mundo...
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp