Contos de Cora Coralina

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Saíram para gravar mais uma reportagem de Telejornalismo.
O cinegrafista da faculdade e a estudante de jornalismo.
Desceram as escadas.
Ele com a câmera e ela com o microfone e a pauta em mãos.
Ela tentando segurar a vontade incontrolável de levar sua mão na nuca dele e beijar de vez o dono da voz mais excitante que já se ouviu.
Ele fingindo não ver sua excitação.
Ele deu algumas dicas pra melhorar a passagem dela, e ela viajando cada vez mais naquele olhar.
após gravações, subiram de volta à ilha de edição.

Ela, ele, a câmera cinematográfica, o ar-condicionado o computador e a televisão.

E foi exatamente nesse cenário que seu desejo avassalador explodiu.

Estava ele comentando ainda sobre a gravação que haviam feito, ela não entendia uma palavra sequer a não ser os gritos que ecoava em sua cabeça dizendo, "É agora, pula nele".

E resolveu cortar a fala do cinegrafista dizendo:

-Cê tem juízo?

Ele olha surpreso e duvidoso para ela, imaginando ter falado bobagem e responde com outra pergunta.

-Tem o que?

- Juízo, cê tem?

-Tenho, por quê?

E se aproximando com o olhar em chamas e um sorriso sedutor ela responde.

-Eu sou o fim dele.

e como quem não entende nada ele dá um passo atrás e mais uma vez questiona.

-Como assim?

-O cinegrafista e a repórter quase formada. Qual o nível do problema que isso pode dar?

Perguntou já com seu corpo colado no dele e com a mão na sua nuca, assim como desejou. Segurando a respiração e sem saber o que responder ficou apenas esperando a próxima atitude súbita da acadêmica.

Ela mesma respondeu.

- Depende. Se ninguém souber, o nível é mínimo. Se alguém chegar aqui, o nível é médio. Se a gente matar esse alguém, continua mínimo. Se esse alguém correr e dar logo um jeito de espalhar, aí prepara que o nível é máximo.

-Cê bebeu?

-Não. E considerando que não tem ninguém aqui e que a porta está trancada - mostrando a chave que ela retirou da porta após trancar - não vejo problema algum.

E o beijou como como quem sacia a própria sede.
Ps: Conto ainda não finalizado por falta de imaginação.

Inserida por JosiellyRarunny

Tudo flui porque tudo é efêmero. Nada dura para sempre.
Tudo muda. Se altera. Se distancia. Os laços perdem a força e a gravidade os derruba no chão. Até as certezas mudam e as coisas que me faziam tremer já nem me arrepiam mais.
Eu não sei o que vai ser daqui para frente, não sei se o trem continuará nos trilhos, na verdade, começo a questionar se existem mesmo trilhos e se é certo comparar a vida a um trem e se não seria melhor compará-la a uma queda livre.
Tudo é mutável. Nem mesmo o universo é estático. Paradoxo. Muitas estrelas e mesmo assim tudo é escuro. A quiromancia não me atrai e o futuro é uma incógnita que não ouso decifrar. Para que estragar as surpresas? Confusão e fluxo de consciência.
Quão consciente estou das escolhas que faço?
Quantas rachaduras nos lábios serão necessárias até que eu pare de fazê-los sangrar? Minhas mãos procuram coisas inalcançáveis e meus desejos são insaciáveis. O mundo, mon petit, o mundo é uma grande estação e sou eu que escolho se vou ou se fico.
Não durmo. Não sinto. Não sonho. Não ousarei sonhar. Jogo-me todos os dias de um precipício assim que levanto da cama. Não estou triste, não pense que choro enquanto escrevo ou qualquer coisa do tipo. Estou ouvindo Clash, ou seria Doors? Sabe que sou um tanto quanto péssima em saber nomes de bandas e músicas. A falta de bebida faz a sobriedade desse momento parece durar a vida inteira.
Não estou feliz, não ousaria dizer isso. Estou viva. Pulsando. Pulsando. Meu coração é um vale de desapegos e chove tanto lá fora. Eu me entrego tão fácil e eu encontro espinhos em tudo que é flor.
Eu estive aqui. Me derramei aqui. Me espalhei aqui. Eu amei. Amei tanto em tão pouco tempo e eu não sou de amar. Da minha dor, eu é quem sei. São quase cinco da manhã. Está ventando, o vento sul que bate na janela. Estou com um monte de perguntas na cabeça.
Só que não vou me desculpar, nem comigo e nem com ninguém, não ter porquê.

Inserida por PaulaChiodo

⁠Um Dia Todos Seremos Memórias!

Autor: Igidio Garra®

Era uma manhã de outono, daquelas em que o vento sussurra segredos entre as folhas douradas e o sol parece hesitar antes de aquecer a terra. Clarilda, uma mulher de cabelos grisalhos e olhos que carregavam o peso de muitas histórias, sentou-se no banco de madeira no quintal.
Em suas mãos, um álbum de fotos amarelado, cujas bordas denunciavam o passar dos anos.
Ela o abriu com cuidado, como quem manuseia um tesouro frágil, e deixou que as lembranças a envolvessem.
A primeira foto mostrava um piquenique à beira do rio.
Lá estavam ela, ainda jovem, rindo ao lado de Pedrusko, seu marido, enquanto os filhos, Ania e Jony, corriam atrás de uma bola desajeitada.
O cheiro de grama molhada e o som das gargalhadas pareciam saltar da imagem, tão vivos que Clarilda quase podia tocá-los.
"Éramos tão felizes", murmurou, um sorriso tímido desenhando-se em seu rosto enrugado.
Folheou mais algumas páginas. Havia o dia do casamento de Ania, com seu vestido branco esvoaçante, e a formatura de Jony, o orgulho estampado em seu olhar.
Mas também havia silêncios nas fotos que não estavam ali: os dias de despedida, as lágrimas que não foram capturadas, os momentos em que a vida insistiu em seguir, mesmo quando o coração pedia uma pausa.
Clarilda fechou o álbum e olhou para o horizonte.
O vento trouxe o aroma das flores que plantara com Pedrusko, décadas atrás.
Ele se fora há dez anos, mas as flores continuavam a brotar, teimosas, como se carregassem um pedaço dele. Ania e Jony, agora adultos, viviam suas próprias vidas, distantes, com filhos que mal conheciam a avó.
E Clarilda sabia: um dia, ela também seria apenas uma memória, uma foto desbotada em um álbum que alguém, talvez, abriria com o mesmo carinho.
Levantou-se devagar, apoiando-se na bengala, e caminhou até a árvore onde Pedrusko gravara suas iniciais 70 anos antes.
Passou os dedos sobre as letras tortas – "C & P" – e sentiu uma paz estranha.
"Um dia", pensou, "todos seremos memórias. Mas, enquanto houver alguém para lembrar, ainda estaremos aqui."
O sol finalmente venceu a timidez e banhou o quintal em luz.
Clarilda voltou para casa, o álbum sob o braço, carregando o peso e a beleza de saber que a vida, no fim, é feita de instantes que ecoam além de nós em nossas memórias e de quem nos suceder!

Inserida por IgiWiki

Cara Clara,
conte à vida como anda o coração —
reclame dos amores errados, passageiros, atordoantes.
Relate o que houve com aqueles que quase deram certo,
mas que não eram pra ser.

Fale dos seus romances de contos de bruxas.
Pergunte pelos anjos negros:
ficaram loucos? Ficaram cegos?
As flechas foram lançadas — mais de uma, algumas,
mas não se fixaram, só feriram.

É, porém... pensando bem, querida Clara,
senhora do insano,
quem pode permanecer em meio ao caos?
Você é o caos, dona do desvario!
Aturde, espanta seus príncipes —
a culpa é sua!

Admita.
Conte isso à vida também.

Inserida por mairany

"O Rei do Espelho Quebrado"

Havia um rei que reinava sobre um castelo de espelhos. Todos os espelhos refletiam apenas a sua imagem — bela, imponente, inatingível. Quem ousava dizer o contrário era expulso do reino.

Mas numa madrugada chuvosa, um trovão caiu e rachou o maior espelho da sala do trono. Pela primeira vez, o rei viu outra imagem: um menino pequeno, de joelhos, segurando uma coroa muito maior que sua cabeça.

Aterrorizado, ordenou que cobrissem todos os espelhos com panos dourados. Mas à noite, em seus sonhos, o menino voltava — e chorava, silenciosamente, por não ter sido visto.⁠

Inserida por DaniLeao

⁠*A Espada na Boca*

Havia uma mulher que nascera com uma espada presa na boca. Desde pequena, toda vez que falava, cortava. Era o que aprendera: quem fala mais alto sobrevive.

Cresceu entre muros altos e vozes que não escutavam. Então aprendeu a gritar.
Quando os outros sangravam por suas palavras, ela se orgulhava: “Pelo menos, ninguém vai me calar.”

Mas, certa noite, sonhou que tinha um jardim na garganta. Flores queriam crescer, mas a lâmina impedia. Acordou com gosto de ferro e silêncio.

Começou a falar menos. A ouvir mais. A espada ainda estava lá, mas, pouco a pouco, foi deixando de ser arma — e virou ferramenta.

Porque aprendeu que verdade sem ternura vira corte. E a coragem não está em falar tudo, mas em acolher o que o outro não diz.

Inserida por DaniLeao

Encanto

⁠Enquanto canto encanto tantos com o conto que eu conto quando canto
E quando canto cada canto que encanta em todo cantoeu me encanto
E em todo canto em que eu canto busco tanto uns quantos contos pra ter canto;
Mas nenhum conto com meu canto eu encontro para um canto e desencanto...

E sem um conto e sem um canto e sem encanto por todo canto ainda canto
Pois quando canto, me encanto e então eu canto um lindo conto enquanto canto
Por todo canto eu conto tantos que se encantam vezes sem conto com o meu canto
E nem mil contos, e nem mil cantos contam tanto o quanto eu sinto enquanto canto!

Inserida por maria_beserra

Entre o silêncio eo segredo


Ela sempre o observou de longe, com um desejo silencioso que se enraizava a cada olhar furtivo. Anos passaram, e aquele homem que parecia inalcançável virou uma presença constante na sua mente, um segredo guardado no silêncio do coração.

O destino, porém, tem suas artimanhas. Um dia, ele se tornou seu personal trainer. A proximidade diária fez crescer algo que ia além do físico: uma conexão intensa, uma química impossível de negar. Aos poucos, os encontros profissionais deram lugar a encontros secretos — eles se tornaram amantes, escondidos do mundo.

Na penumbra desse relacionamento proibido, eles se encaixavam perfeitamente. Cada toque, cada sussurro era uma explosão de desejo e cumplicidade. Mas para ela, o que era apenas prazer se transformou em amor. E com o amor veio a necessidade de honestidade.

Decidiu então acabar com os encontros às escondidas. O término foi difícil, mas necessário para preservar o que sentia de verdade.

Com o tempo, encontraram um novo equilíbrio: a amizade. Continuavam trocando ideias, conversas cheias de intimidade e respeito. Porém, quando se viam, algo inexplicável pairava no ar — uma faísca sempre acendia a possibilidade do reencontro dos corpos e desejos.

Eles eram amigos, confidentes e talvez algo mais — um segredo guardado entre sorrisos e olhares que falavam tudo sem precisar dizer.

Inserida por anacarol_1

Depois que passou doeu menos
E a faca cortante partiu
Um ferimento profundo
Doído de se ficar senil

Não pude prevenir
Estourei minha idade
E a felicidade Divergiu
Fugiu correndo da felicidade

O que ficou
Pássaro levou
Para outros ares
Longos Lírios afastados do céu

Não sei o que senti
Só sei que parti
Na direção da melodia
Entre fermatas e curtas pausas

Me apaixonei pela vida
E me acompanhei de meu amor inócuo
Um deleite que não me priva
Meu constante amor próprio

Inserida por Lupaganini

421
Dor inquietante

Se entender meu coração é difícil
Esqueço o que sofri quero amar
E me enfrento novamente sem artifício
É chegada a hora de andar

Essa dor inquietante
Que tira meu sono
Balança minha cabeça a todo instante
A um não a dizer sim

O que fazer
Se a amnésia tomou conta de mim
E novamente amo
Para onde correr

Se todos os caminhos me levam ao seu
E seu olhar já cansado
Me persegue
E me desejas sem que eu sossegue

Te amo
E se nosso tempo é curto
Que eu venha a sua vida
Feito cronômetro

Passarei as mãos em seus sentimentos
E mansamente alcançarei os ponteiros
Do maior termômetro do amor
O que nos embala em delirios

E assim não paro de pensar
Que meu coração aperta a sua distância
E mesmo sem aliança
Sou casada com seu distanciar

Lupaganini
3/11/17

Inserida por Lupaganini

418
Não tolha sua criança
Ela quer esperança
E anda sem fazer lambança
Querendo um carinho ganhar

Não agrida sua inocência
Que quer somente viver
E mesmo andando sem saber
Tenta
Tenta
sem poder escolher

Não desentenda com esse pequenino
Que mesmo sendo tão menino
Sabe do futuro
Quer ser maduro

E no vai e vem do mundo
São tantas imperfeições a corrigir
Que se pensar bem
Nem tem tempo de sorrir

Entenda hoje a criança tanto faz
Porque se tanto ela desfaz
Acabará se tornando um adulto qualquer um
E isso não é bom demanda juízo

Demanda tanta calma
Que a criança cresce sem alma
Procurando sempre a superação
E quando não se tem apoio
Vem e vai desilusão
A criança cresce sem ação

Assim sem encantamento algum
Seguem crianças tanto faz
E adultos qualquer um
Porque lá atrás
Quando não faltou o pão
Deixou-se faltar o insubstituível carinho
Aquele que abriria o caminho
E mudaria o destino
E uma criança tanto faz
Não se tornaria um adulto qualquer um jamais.

Luoaganini

Inserida por Lupaganini

Tentar

Porque não tentar?
Porque abrir os braços na esperança
Quando a cobiça espera a fadiga?
Porque morarmos em buracos fundos ,dia após dia na esperança do ócio fatídico.
O segredo da vida está na tentativa ; essa do não não passa, Em compensação as consequências da não tentativa são desastrosas.
Não viaje de avião na tentativa, viage de trem , calculando cada esquina,, olhando cada jardim florido , sentindo o cheiro de cada flor e, depois de já calculado e ganho o espaço, depois da calmaria da tentativa, ande de avião pois, todo o tempo que se perde é perda e toda perda é motivo de reflexão e algumas vezes nos faz falta.
Fique sóbrio em suas decisões, não se embriague com o orgulho , o preconceito, a paixão e o que pode te cegar.
O cego precisa apurar outros sentidos para caminhar e nós , nós não temos esses sentidos apurados.
Não se livre dos percalços de forma abrupta, eles, uma vez interrompidos sem critérios , voltarão e com outra dimensão, outras consequências, muitas vezes maiores.
Tente, tente , tente, e tente. Tentar significa ter e estar, tentando você sempre estará presente ; em sua própria vida , na de seus amigos, de seus parentes, estará na admiração de cada um, estará no coração de todos.
Inunde-se de perspectivas , tenha fartas opções, precise sempre. Tenha um lugar para amar e que seja sempre bem-vindo.
Nunca seja hóspede de última hora, as entradas com as tentativas sao distintas e amplas e você tem que ver várias portas abertas, quem tem só uma porta aberta corre o risco do vento soprar contra e fecha-la quando você estiver entrando.
Crie hábitos nobres, espurgue a possibilidade de pensamentos obscuros direcionarem sua vida; sorte não existe, existe um amontoado de causas e efeitos dos quais só nós temos responsabilidade.
a vida é uma contabilidade; uma contabilidade amorosa.
Faça presente a nobreza, essa é elegante e nunca sai de moda , além de fidelizar as pessoas.
Tire um tempo para tomar um chá, ler um livro, arrumar seu armário, reservar uma boa hora para resgatar aquela amizade sem cuidados.
Remonte-se,tente, tentar nos põe vivos e quando a música da vida estiver alta, tente abaixa-la ,mas não desligue o som, só abaixe o volume. A vida tem que ter alegria , e essa alegria vai depender diretamente de nossas tentativas e do volume de nossa música interior.

Inserida por Lupaganini

Crônica

Quem sou

Em encontros com amigas, nos questionamos que tipo de mulher somos, a pergunta paira no ar, o silêncio , por um segundo responde: Sou moderna, sou antiga, sou meio termo, sou totalmente doidona... O silêncio volta a falar e nos olhamos repetidamente, não era essa resposta que queríamos ouvir, queríamos ouvir respostas que nos ajudasse a definir nossas vidas, que dessem rumos a nossas dificuldades, que emoldurassem soluções e , como num piscar de olhos tivéssemos dentro de um quadro fixo onde nossa vida recebesse uma bela receita e pudéssemos segui-la , repetidamente, sem tropeços, sem amarras, sem novelos de linhas embolados, onde a trama fica tão difícil que nós , ou jogamos todo o rolo de linha porta afora, ou seguimos cortando os nós cegos.

Após aquele momento,olhamos novamente e quase que mudas e com um sorriso amarelo, não conseguimos responder à pergunta; melhor reconhecer a dificuldade e seguir em frente, como um pedreiro que não consegue desenvolver a sua tarefa e entrega a obra.
Razoável penso.
A dúvida fica ainda maior quando nos olhamos e nos vemos no mesmo barco, com os braços cansados de remar e sem remo suficiente para conseguirmos navegar. Por um momento me sinto fraca, com medo, sem atitude.

Em outros momentos , como aquele , me distraio olhando a roupa nova de minha querida amiga Lucíola, seus brincos novos e como o seu novo amor que a fez mais bonita, mais amável e bem mais feliz.

A fuga foi desnecessaria, quando estava novamente me escondendo , voltei a pergunta e me vi sem resposta: Será então que nada sou? Será que me escondi tanto que sumi. Que me estreitei junto a becos e situações inconformadas que maltrataram tanto o meu coração que já não sei tal definição, ou será que simplesmente entreguei meus pontos,simplesmente não tenho as respostas que o medo me dariam.

Tomei coragem, enchi o peito de dúvidas e reenviei a pergunta, desta vez mais agressivamente:

-Vamos meninas que tipo de mulheres somos? Vamos !

O silêncio passou a ser o anfitrião da reunião, ninguém se atreveu a definir.
Será que havíamos perdido a identidade?
Será que não sabíamos mais quem éramos?

Rosângela timidamente respondeu:

Eu sou Rosangela, sou morena, amo meu marido, amo meus filhos, meu filho está indo pro Canadá, meu filho vai se casar e ele também vai trabalhar lá, minha família é linda, apesar do filho único...

Fiquei olhando minha linda amiga Rosangela definir como sendo ela a sua pequena família, fiquei assustada como em poucos segundos, definimos nossos filhos, nossos parceiros mas não nos definimos,definimos a nossa viagem em família, mas não definimos uma linda viagem sozinha, para fazermos novas amizades, olharmos nossas vidas com olhares de distância, curtir a solidão em companhia própria.

Entendi tristemente que algumas de nós havíamos perdido nossas identidades quando deixamos nossos direitos em prol nossas obrigações, nossos sonhos pelos sonhos familiares, nossas vontades mais ocultas, por um lar quente para que nossos filhos possam se sentir felizes pelo aconchego do lar.

Entendi que, muitas vezes, perdemos nossas respostas pela inutilidade de querer vivermos vidas que não são as nossas, decisões que nos dá prazer mas que dá aos nossos filhos desconforto, daí pensamos muito e chegamos a conclusão que nossos filhos ficariam mais felizes de um determinado jeito. E que aquele jeito não seria o nosso.

E que o incômodo de nossas decisões aflora em nossa família a sina da culpada.
“Se eu não tivesse feito aquilo meus filhos estariam melhor”... Balela! Nada é melhor que a atitude justa , nada é tão verdadeiro que o gosto de se falar um não sabendo que esse não é honesto e necessário.

O que mais me irritou foi que após pensar desta forma , não falei pra minhas amigas, não compartilhei com quem também estava tentando se reinventar.

Daí tristemente, olhei minhas amigas, levantei do banco em que eu estava me assentando e fortemente disse:

Eu consegui me definir:
Todas olharam para mim curiosas, e como uma pessoa que começava a andar novamente após ter as pernas amputadas,
Disse:

Eu sou a escolha, e a dúvida:
A escolha por minha família e a dúvida de que um dia eu morrerei de arrependimento por feito essa escolha.


Lupaganini

Inserida por Lupaganini

Lá vem deslizante
Não sei se vem ou se vai
Não sei se lava
Ou se retrai

Lá vai água boa
Que lava meu sorriso
Ou em beleza magma
Se torna lágrima

Vertente sem pegada
Como nada engraçada é perigo
Um sem abrigo
Sorriso ou dor não sei

Lá vem água boa
Meu sorriso assim define
Pois passeia em meu corpo
E torto no horto sou oco

Lá vai água boa
Que lava
Enxágua
E me banha

Me assanha
Me alegra
E em nenhum momento
É tormento

Porque água tudo lava
Água tudo leva
Água banha
Assanha
Acalma

Água lava a alma
Quando a tristeza bate
Quando não nos queremos
Quando de nós nos perdemos

Lá vai água boa
Não sei se vai ou se vem
Não sei se é magma
Não sei se é lágrima

Inserida por Lupaganini

Os olhos e o coração

Um belo dia, uma doce garotinha perguntara ao seu avô:
- Vovô, por qual motivo sentimos vontade de chorar?
O senhor, atento à pequena, prontamente respondeu:
- Contar-lhe-ei uma história.
Certa vez, o coração, tão tímido e apaixonado pelos cristalinos e profundos olhos de sua amada, diante de seu amor impossível, prometeu-a que mesmo não podendo tê-la, estaria sempre presente e que ela o sentiria, mesmo sem poder tocá-la.
Ocorre que fruto dessa paixão, o coração enchia-se como a vastidão do mar.
Gota por gota, a cada suspiro de amor, aumentava lentamente.
Quando não suportando de paixão, transbordava, escorrendo pelos olhos e percorrendo o rosto de sua amante.
Pediu-a que toda vez que sua face encher-es de lágrimas, lembrar-se-ia que esse era o presente mais vívido e constante de seu amor e que logo após, sentiria o alívio de seu amor, aliviaria seus sentimentos.
Diante da história contada pelo avô, a garotinha respondeu:
- Então as lágrimas não são tristes vovô?
- Nem todas. Elas são a expressão da maior qualidade humana, a de sentir.
E devido à paixão do coração pela sua amada, alivia-nos constantemente diante de qualquer sentimento através das lágrimas.
- Incrível vovô! O Coração sim soubera presentear sua amada. Aliviava seus sentimentos através do seu amor, refrescava sua alma tal como o mar nos refresca no calor.
- Certo meu bem! O amor é assim mesmo, imenso e vasto. Quando não cabe no coração, transborda pelos olhos e logo após nos alivia!
- Obrigado vovô!
- Lembra-se pequena, quando sentir-se triste e seus sentimentos transbordarem por através de seus olhos, não esqueça do presente que o coração deu a sua amada! Ele encheu-se de amor para aquecer a frieza da tristeza, refrescar o calor da emoção a ternura da felicidade e aliviar o amargor da emoção!
As lágrimas são um remédio renovador, capaz de encher nosso ser com a oportunidade de recomeçar mais leves!

Inserida por romulohendges

O amor não tem frágeis elos, sucumbi nossa alma com a fortaleza de uma muralha, o mistério da anatomia humana e cria vozes límpidas de ternura e bom grado.
Não sei se amo, porquanto ainda não tenho essa combinação rigorosa de sintomas que me fazem sentir falta do que não me falta. Será assim mesmo ? Esse amor sentido, fincado em peito aberto que me faz calar a boca e perder o sono? Será que finda ao início de poeira duvidosa e refresca minhas ideias ao pequeno bem tratar? Não! O amor é finito, não se cobra , mas se sente, não se emborca de dívidas mas se analisa e, se arrastado , não caminha, visto que um deleite o desvirtua . O amor é nobre mas decisivo , robusto em decisões firmes porque os porquês são muitos e, quando amamos permitindo o erro, nos afundamos em fogo brando porque corrói a missão , objetivo principal do trajeto a dois.

Inserida por Lupaganini

"Eu cansei, cansei de pessoas que vivem atrás da tela do celular o tempo todo, escravas do julgamento dos outros, todos com joguinhos de visualizar e não responder, de se fazer de difícil, de tentar impressionar alguém que você nem sabe quem é.
Eu quero é que o celular descarregue e que todos os carregadores do mundo tenham acabado. Quais relações sobreviveriam? Quais romances seriam capazes de ainda se manter? A resposta é simples, seriam os mesmos doidos que não se preocupam de demonstrar que sentem falta! De nada adianta anos de relacionamento sem intensidade? Mais amor se pode gritar em poucos meses do que em anos de silêncio.
Não te conforma com esse silêncio, vai atrás do amor que te é gritado no domingo de amanhã e na quinta de madrugada. Fica com quem é capaz de pegar um avião por ti, fica com quem te da aquele presente barato, mas que representa tanto. Aquela pessoa que fala de ti para todos os amigos, que te manda músicas, que não pensa duas vezes antes de te chama para a estreia de um filme bom no cinema. Tu não és segunda opção, para quem só tem tu no coração.
Mas agora, só fiques se for com honestidade, se for para ser doido junto. Uma pessoa que grita amor sozinha, uma hora perde a voz."

Inserida por helena_valentine

Você posta uma foto nova e espera likes, mas não é qualquer like que você quer, não é? Sua foto nova pode ser a mais perfeita do feed e ter recorde de likes. Mas a pessoa que você realmente queria impressionar não curtiu, você atualiza e atualiza desesperadamente procurando aquele coraçãozinho no meio de tantos outros banais.
Então te vem o desespero, você tenta fazer histórias para ver se ele visualiza. Coloca uma coroa de flores na cabeça, mostra o que está assistindo na netflix, posta foto no espelho e nada. Você confere seu whats para ver se ele está online e ele está, ele só não se importa mais com você e não acha mais suas fotos com filtro de gatinho fofas. Agora ele curte as fotos de outras pessoas e assiste as histórias de outras pessoas.
E você vai fazer o que? Vai continuar esperando likes e fazendo histórias para o passado ou vai apagar todo esse feed preto e branco, deixar o celular em casa e viver sua vida sem se importar com as visualizações?

Inserida por helena_valentine

A Lenda do Vale Onde as Vozes Criam Sombras.

Diz o povo antigo que, muito antes de qualquer aldeia existir, havia um vale profundo que guardava um segredo: a terra respondia às vozes humanas.
Não às palavras doces, nem aos cânticos de alegria mas aos gritos.

Os anciãos chamavam aquele lugar de Vale das Sombras Sonoras, porque acreditavam que cada grito lançado ali não desaparecia.
Ele ganhava forma.
Ele criava sombra.
Ele vivia.

O início da lenda.

Conta-se que certo dia um jovem caçador, chamado Maraí, entrou no vale irritado com a própria falta de sorte. Gritou contra o vento, contra o céu, contra a própria vida.
O eco devolveu suas palavras multiplicadas mas algo estranho aconteceu:
o chão tremeu.

Das pedras saiu uma figura feita de poeira e som, sem rosto e sem pés, mas com uma fúria igual à dele. Era a sua própria raiva, moldada pelo vazio.

Assustado, Maraí correu até os anciãos, que lhe disseram:

— No Vale das Sombras Sonoras, tudo o que se grita ganha corpo. Por isso, filho, lá se entra de boca fechada e coração aberto.

Mas o jovem não acreditou. Voltou ao vale, agora decidido a provar que medo nenhum o controlava.
Gritou de novo.
E de novo.
E de novo.

E passaram a surgir outras sombras uma para cada explosão da sua voz.

O peso das sombras.

Com o tempo, as sombras começaram a segui-lo para fora do vale porque já não cabiam mais alí, cabiam nele.
Onde ele ia, elas iam.
Onde dormia, elas o observavam.
Onde tentava amar, elas se deitavam entre ele e quem ele amava.

Maraí se sentia mais pesado a cada dia. Era como se carregasse vários homens sobre os ombros.
Então procurou novamente os anciãos.

— Como me livro delas?

E o mais velho respondeu:

— Quem cria sombras com gritos só as desfaz com calma. As sombras bebem tua cólera. Mas morrerão de fome se beberem tua paz.

O retorno ao vale.

Maraí voltou ao vale, não para gritar mas para silenciar.
Sentou-se na terra que um dia tremeu sob seus pés.
Respirou profundamente.
Falou baixo.
Depois falou mais baixo ainda.
E então permaneceu quieto, dia após dia ele repetia a sua volta até aquele vale praticando o exercício da orientação que receberá do sabio ancião de sua aldeia.

As sombras, sem alimento, foram se desfazendo como tinta na água.

Quando o sol se pôs, o jovem saiu do vale sozinho.
A voz dele havia mudado.
E quem o encontrou nos dias seguintes dizia que, ao falar, era como se o vento o escutasse com respeito.

Moral da lenda.

Os velhos contavam essa história às crianças para ensinar que:

Gritos criam sombras.
Palavras serenas criam caminhos.
E o silêncio cura aquilo que a fúria feriu.
Autor: Escritor:Marcelo Caetano Monteiro .

Inserida por marcelo_monteiro_4

A Lótus que Veio da Noite de Paris.

O século XIV envolvia Paris em névoas frias e sinos distantes. Naquele cenário de becos estreitos, enfermidades que ceifavam esperanças e uma cidade dividida por crenças e paixões, dois jovens encontraram um ao outro como quem encontra uma estrela caída em plena terra. Éloise, com olhos de alvorada cansada, e Mathieu, aprendiz de iluminador de manuscritos, descobriram-se destinados desde o primeiro toque das mãos.

Amavam-se com o ardor silencioso dos que sabem que cada instante é ouro. Lutaram contra a miséria, contra as dores físicas que o tempo lhes impunha, contra a indiferença dos que zombavam de sonhos simples: casar-se, formar uma família, colher o pão que o próprio trabalho oferecesse. Foram ternos um com o outro até nas febres, na fome, nos invernos impiedosos da alma.

Quando a Noite de São Bartolomeu cobriu Paris com o sangue dos inocentes, eles fugiram por ruelas que pareciam gritar, protegendo um ao outro como se fossem muralhas vivas. Mas o destino, numa dessas esquinas onde a história decide seu rumo, tomou-lhes a carne. Caíram abraçados, misturando as últimas palavras numa promessa: “Se eu partir, te buscarei. Se te perder, te encontrarei.”

No mundo das almas, despertaram separados pela espessa névoa que antecede o esquecimento. Procuraram-se, chamaram-se, vagaram por décadas que pareciam séculos. Enfrentaram regiões sombrias onde o eco da dor faz tremer até os espíritos valentes. Passaram pelos domínios de Hades, atravessaram o torpor quase fatal do Lete, onde memórias se desmancham como tinta na água. Viram, com os próprios olhos do espírito, os abismos semelhantes aos descritos por Dante Alighieri, onde almas perdidas repetem dores que não compreendem.

Eloise e Mathieu resistiram.

Chamaram um ao outro com a força de um amor que se lembrava mesmo quando a memória tentava se desfazer. Desafiaram os ventos que queriam dispersá-los. Até que, numa região de luz tênue, avistaram-se. Não correram: flutuaram um para o outro, como se a eternidade inteira os puxasse para o reencontro. Tocaram-se e o toque incendiou universos.

Naquele instante, compreenderam que jamais suportariam outra separação. O amor que possuíam não desejava apenas viver; desejava ser.

Decidiram, então, um gesto extremo e sublime: renascer não como dois, mas como um só ser, impossível de ser fragmentado pelas sombras, pelos séculos, pelos mundos.

E reencarnaram.

Transformaram-se numa única flor de lótus de luz, pulsante e pura, flutuando eternamente nas mãos seguras de Buda, como símbolo do amor que atravessou mundos, mortes, infernos e esquecimentos e venceu.

Ficaram assim, unidos para sempre, não como corpos, mas como essência; não como promessa, mas como eternidade. Porque um amor que desafia tantos véus não precisa mais temer o tempo, a morte ou o destino.

O amor de Éloise e Mathieu não apenas sobreviveu ao aço e ao fogo das mortes da Noite de São Bartolomeu; elevou-se acima de todas as geografias da dor e se tornou luz permanente. No gesto de reencarnar como uma única flor, compreenderam que a verdadeira vitória sobre o sofrimento é transformar-se no que nenhuma força pode destruir. Tornaram-se imortais não por fugirem da morte, mas por transmutarem o próprio sentido de existir.

E hoje, na lótus de luz que repousa nas mãos de Buda, vivem o triunfo silencioso que só o amor absoluto conhece.
Marcelo Caetano Monteiro.

Inserida por marcelo_monteiro_4