Coleção pessoal de Madasivi
Como a claridade,
Expressa,
Que assombra a escuridão,
Tácita,
É a convicção da ambiguidade,
Fecunda,
Que amua o coração,
Tristura,
Como a de agora que lateja saudade,
Falta,
Escrever o que não vale ser lido,
Basta só escrever,
Mas as mãos estão assim,
Sem forças para fugir,
Escrever nunca agarrou tanto minhas mãos,
Como raiz em terra boa,
Escrever ânsias que já foram tão escorregadias,
A mente continua dando letras, palavras, frases,
Como frutas no pé,
Num instante tudo para,
O que fica em movimento é a sensação,
De que a beleza está sempre de atalaia,
Para surpreender,
Como as estrelas numa noite destampada,
Sem fim pode ser,
Aquilo que me prende por um instante,
Como a criança dormindo,
Com aparência de contorcionista,
Que me faz lembrar uma obra de Arte Renascentista,
Escher revela o que está e não está de nossa ilusão,
Euclides e a pluralidade unida com precisão,
Schrödinger e a caixa do instante exato da incerteza,
Bach e seu cravo temperado mastiga as mazelas do mundo de rudeza,
Dante muito além da religião do verso,
Claudel esculpe o cinzel do universo,
Amor cientificamente artístico,
A casa de agora,
É mortiça, a lucidez faz dela inabitável,
Cada canto moribundo está sombreado,
Todo móvel tem lembranças fantasmas,
O silêncio não é inocente,
O sentimento é uma densa fumaça,
Que impregnou a estrutura da alma desta casa,
Que não é mais lar, mas pedras sem graça,
A casa inesperadamente,
Muito depressa mudou,
Sem alaridos,
Com dissimulada e tacanha obscuridade,
Súbito perecimento inexplicável,
Que estamos fadados,
Execrados, amaldiçoados,
A casa de outrora,
Era mais que mágica,
Imobiliada de fragrância de vida e canções desprendidas,
Sem ponto, poucas vírgulas,
Mais eteceteras e reticências de toda sorte,
De inolvidáveis momentos,
Era lar dentro de uma casinhola,
Diante deste mundo maluco,
Portanto,
Sou mais um louco,
Que elogia,
O Doido de Roterdã,
E todos os possíveis insanos,
Que pensam,
Que suas mentes são,
Eternamente sãs,
Como o luar,
Do Golfo Pérsico,
Que acende a escuridão,
Do árido deserto,
E de um ávido coração,
Que sempre te admirará,
Esse ligeiro desaparecer,
Que a memória devora,
Faz daquela presença,
Que parecia eterna,
Que tudo preenchia,
Exaurir,
Em momentos triviais,
Precisamente como este,
De um silêncio visceroso,
É que sinto plenamente materializado,
A imensurável insuficiência que insiste,
Em existir,
É agora que,
A realidade fica insuprível,
Muito mais doída,
Pela irônica e tão temida,
Possibilidade da falta não dissipar,
Diante dos pequenos instantes,
Que sua ausência grita,
A inexistência,
Há pouco,
Pouco demais,
E o tempo não teve tempo,
De fazer a casca desenvolver,
Por cima deste sentimento,
Cortado com as frias,
Lâminas curvas da foice inevitável,
Da existência,
Na afoiteza para o amanhã,
Sobram certezas que amenizam,
O furor de uma realidade indominável,
Que os bafejos de paz abrandam,
Com astros e abraços de noturna lã,
Tem coisa que nasce assim,
Com singeleza atrevida,
As duas almas que vivem em nós,
São alimentadas pela arte vida,
Venustidade sem fim,