Coleção pessoal de audreyponganborteze

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⁠15 de julho
Querido Josh, hoje tivemos o último ensaio antes da festa junina. Confesso que eu preferia dançar com você do que com o meu par. Eu dançaria todas as músicas do mundo com você se pudesse. Devo dizer que tive um sentimento tão descompassado hoje cedo quando vi Gio dançando com você e isso foi louco e irracional pois ela sempre foi seu par na dança. Porém, a última vez fui eu que dancei com você e o ciúmes que eu senti inflamou meu peito como se eu fosse um balão cheio de ar. Eu não entendi. Eu não entendo o efeito que você exerce sobre mim e me faz fazer coisas impensáveis e loucas sem eu perceber. Eu acho que isso se chama amor. Eu me perguntei entre o ciúme corrosivo e a insensatez porque você estava segurando a mão dela e não a minha e demorei alguns segundos para me recompor e lembrar que ela era seu par na dança. É que eu estou tão envolvida, e não era para eu estar. Não era para ser desse jeito, eu suponho. Não era para eu estar escrevendo longas cartas de amor. Eu deveria ser séria, centrada e estar usando meu tempo para estudar para o vestibular, mas quem liga? Eu só ligo para você atualmente. Penso que apenas “the Cranberries” consegue me entender, pois agora eu ouço “Linger” e parece que a música foi feita para nós. Eu queria que você parasse com seus olhares se não sentir nada por mim. Queria que retribuísse meu sentimento se sentir o mesmo que eu, mas do jeito que estamos é insustentável! Você me tem na palma da sua mão e ora me sufoca ora me liberta e isso é frustrante. Gostaria que você não tivesse mentido e complicado tudo porque eu me senti usada, humilhada, dilacerada. Você pretende deixar isso de prolongar? Porque eu posso suportar o que for se houver certeza. Se houver certeza de um amor correspondido eu faço seus joguinhos, flerto com você e até finjo estar saindo com Eric se isso fizer você tomar alguma atitude quanto a nós. O problema é que há tantas dúvidas, tantos olhares seus que eu não sei interpretar! Eu realmente sou uma idiota por você! Eu acho que talvez, eu creio, eu sinto, que há um sentimento em seu coração por mim. Talvez você nem saiba o que é. Eu também me senti assim no começo, sem saber, sem entender de onde vem e para onde vai essa sensação doce que me faz amolecer as pernas quando te vejo. O nome disso é amor e é perfeitamente natural. Não seja lógico, não seja ridículo, não tente fugir. Uma vez me disseram que o amor é um animal selvagem, por isso ou nós o controlamos, ou ele toma conta de nós. Adianto que não tenho a mínima intenção de controlar o amor, então eu não me importo de ser boba, de fazer loucuras se precisar e de te dedicar milhões de versos. Se for recíproco, qual o problema? Eu não ligo para o que vão falar. Eu não ligo para o amanhã se temos o hoje, certo? Eu tenho 15 anos e eu não tenho medo do amor, Josh. Sinto uma leveza em meu coração, então por que reprimir isso? Eu nunca me senti assim por ninguém. Eu não tinha ideia que um beijo poderia potencializar tudo o que eu já sentia por você, mas talvez tivesse que ser assim. Há uma razão mística para tudo, eu creio. Eu acho que nossos caminhos não se cruzaram por acaso e talvez isso signifique que você veio me ensinar a amar. Então eu digo que estou pronta para te amar. Isso não teria sido só um jogo para você, certo? Porque eu até pensei isso algum tempo atrás, mas então por que quando me distraio me surpreendo com seus olhos colados nos meus? Tenho certeza que não estou te ofendendo, mas a verdade é que você me confunde. Em um dia me manda um bilhete dizendo para eu te esquecer e no outro me enche de perguntas sobre o Eric e meu possível envolvimento com ele. Isso me cheira a ciúmes. E não seria o ciúme o perfume do amor como diria Vinícius de Moraes? Eu sei que onde há fumaça há fogo e se você se preocupa tanto assim com Eric é porque você gosta de mim. Por isso eu comunico que vou fazer uma loucura e me declarar semana que vem. Eu estarei sendo tola eu estarei sendo idiota? Talvez, mas eu acho que em matéria de amor vale a pena arriscar. E, se porventura tudo tiver sido uma ilusão, um sonho bom e um delírio eu peço desculpas desde já. Peço desculpas antecipado porque eu não sei se terei reação se ouvir um não. Não sei se consigo fazer alguma coisa depois disso e se tudo realmente não tiver passado de um jogo seu e eu tiver sido a idiota que acreditou no amor. Eu ligo os fatos, eu somo os pontos e penso que não faz sentido ser só enganação pois você confunde a todos e não só a mim. Lola e Sandra não entendem sua atitude também. Yuri que é seu melhor amigo acha que você está sendo um idiota e cá entre nós, ele tem razão. Agora eu venho até a sacada e faço um pedido para uma estrela para que você me ame, para que não seja só delírio de minha parte e eu tenho fé em nós, mesmo que eu possa estar no fundo me iludindo e sendo extremamente idiota.
Beijos de sua Annie.

⁠02 de julho
Meu Querido Josh,
Escrevo para lhe dizer sobre o amor que pulsa no meu peito, o amor que arde dentro de mim e me dilacera em milhões de pedacinhos sob o asfalto. O meu amor é doce e é todo seu. Sinto como se jamais pudesse haver ninguém mais exceto você e me envergonho em dizer que eu perco o sono pensando em você. É que eu não sei como dizer que eu te amo tanto! É que como Cazuza, eu preciso dizer que te amo, mas não sei como pois não existe um manual de instruções para dizer a uma pessoa como agir numa hora dessas! Seria tão mais fácil eu mandar uma de minhas infinitas cartas de amor e deixar que as palavras falassem por mim e – quem sabe- invadissem seu coração com doçura. Quem sabe? Eu sou tão sua e você nem sabe! Eu sinto uma necessidade dilacerante de gritar esse amor aos sete ventos e explicar, tentar ao menos, como meu amor é seu e como eu queria que você me quisesse também. Tanta gente quer tanta coisa e eu só quero você. Meu amor é simples, mas não é simples dizer o que sinto pois me parece que se eu falasse por horas não seria tempo suficiente para lhe explicar meus sentimentos. Sentimentos se explicam? Eu acho que sentimentos são inexplicáveis, assim como eu, assim como a adolescência e o amor a gente somente sente. O amor é um salto de fé em um abismo e eu salto sem saber o que me espera. Eu sei que pareço tola e você certamente dirá que eu sou, mas meu bem, é o amor que me faz tola e me faz perder os sentidos! Por isso escrevo tão desajeitadamente tentando buscar inspiração e palavras para dizer aquilo que não se explica e somente se sente. Eu preciso dizer que te amo tanto! Você me dirá que sou idiota, mas eu no momento não me importo. Eu não sei se rirá de mim ou se será educado ou se- talvez- vá me segredar que sente o mesmo? Por que eu sinto que você se sente exatamente como eu? Eu sinto seu amor como algo confuso e indefinido, como a melodia de um desenho incerto de Erico Veríssimo que viaja pelo ar buscando, analisando se há reciprocidade e eu lhe juro que há! Se me segredar que há outra, no entanto, eu já não sei como irei reagir e não sei se a doçura não me empedrará nas veias e me tornará amarga como um leite que azedou. Eu não sei se meu amor é extenso o suficiente para desejar que você seja feliz com outra. Acho que não sou tão evoluída assim. Enfim, minha carta era uma experiência para encontrar palavras para me declarar para você, contudo, eu não as encontrei. Talvez eu saiba o que dizer quando a hora chegar. Talvez eu paralise e faça papel de idiota. Eu só sei que eu te amo tanto!
Sua Annie.


Querido Yuri,
Eu escrevo para dizer que eu sinto muito. Eu quero dizer que adorei te ver ontem à noite e ficar com você. Você fez com que eu me sentisse, linda, protegida, adorada por alguém e isso foi novo para mim porque nunca me senti assim com ninguém antes. Foi diferente de qualquer cara com que eu tenha ficado pois não teve joguinhos, provocações ou flertes sem sentido. Você foi romântico e não fingiu ser legal ou descolado ou conquistador só para ficar comigo. Você foi verdadeiro e isso me deixou desconfortável, tanto que eu mordi o lábio para não chorar quando você desenhou um coração com nossas iniciais no vidro embaçado do carro. Você foi e você é um cavalheiro. Você é gentil, é romântico, é perfeito e nem faz esforço para isso. Eu te acho perfeito, Yuri, e eu sempre amarei essa parte sua que é boa e gentil de forma tão natural, tão leve. O fato é que ninguém, nenhum cara foi tão legal comigo antes e por isso eu peço desculpas antecipadamente. Eu peço desculpas pois pode ser que eu parta seu coração se você tiver alguma esperança sobre nós, por isso por favor não tenha! Eu te imploro! É que você é perfeito, perfeito demais para mim! Você já teve a sensação de não ser bom o suficiente para alguém? Não teve a sensação de que aquela pessoa merece mais, merece alguém melhor? Eu nunca tinha sentido isso e frequentemente sentia que eu merecia mais do que eu andava recebendo por aí e que precisava de alguém mais presente, mais atencioso, mais online para mim entre um mundo tão offline que prega o desapego nas relações. Então eu te vi, então eu te beijei e você foi tão legal comigo! Isso me deu medo e fez com que eu suasse frio, sentisse um desconforto, um medo e minha vontade foi de sair dali correndo e eu nem sei porquê. É que eu sou uma confusão que você não vai querer na sua vida, pode crer. É que você é perfeito e seria o namorado perfeito de alguém, mas eu não sou perfeita para você e você merece alguém inteira e eu gostaria de ser esse alguém, mas eu não sou. Eu sou imperfeita, cheia de paranoias e estou quebrada como uma boneca de porcelana e eu estou apaixonada por seu melhor amigo. Você vê? Você percebe que não é esse o tipo de confusão que você quereria na sua vida? Porque você merece 100% de alguém e não 50%. Você merece uma garota linda, inteligente, atenciosa e que vai amar você e ser totalmente sua e estar sempre ao seu lado. Eu gostaria de ser essa pessoa, mas eu não me encaixo! Se tivéssemos tentado antes, se eu nunca tivesse me aproximado de Josh, se quem tivesse me chamado no msn fosse você no primeiro ano, aí talvez, aí quem sabe...Essa semana vi um vídeo seu no facebook tocando “Wonderwall” do “Oasis. Wall me falou com malícia que o vídeo era uma dedicação para mim e eu respondi: “não viaja! Você está louco, Wall!” mas admito que fiquei pensando na possibilidade e meu coração se encheu de ternura e eu quis te abraçar. Eu agora ouço Wonderwall, lembro de você cantando e pendo que Wonderwall pode ser tudo o que podemos ter. Nós podemos ter uma valsa, uma música, um beijo, um momento, mas eu não mereço te arrastar para minha confusão e para o campo de batalha que virou meu coração. Você merece o mundo e eu não posso te dar mais que alguns versos mal redigidos e insensatez e loucura pois eu não sei ser racional, eu não sei te amar amando seu melhor amigo e não sei se vou saber separar as coisas. Eu não sei se sua mãe não vai me olhar com olhos de juíza, pesando que talvez eu esteja te enganando e que na verdade queira o Josh. E ela pode até estar certa pois eu nem sei o que eu quero, quem eu quero e o que vou fazer no futuro! Eu estou no segundo ano de direito e eu não sei se vou advogar, fazer concurso público ou se ainda largo tudo e vou cursar letras! Entende como eu sou uma bagunça? Eu não vou negar que você me atrai e com você o tempo voa e a conversa flui e até ouvimos as mesmas músicas e temos a mesma vibe. Eu poderia tentar, eu poderia te dar uma chance, mas ao mesmo tempo eu poderia te fazer sofrer. Então me perdoe. Perdoe-me se eu tiver algum comportamento frio, estúpido ou vil e me perdoe se eu te afastar. Eu quero te proteger, eu quero que você voe, que você se torne alguém extraordinário e que acha alguém tão incrível como você. Eu queria dizer que te amo e não ache que eu estou sendo falsa e má porque eu acho que eu realmente te amo. Você é uma pessoa muito fácil de se amar e eu tive certeza disso desde o primeiro ano do ensino médio. Eu quero que você seja feliz, extremamente feliz e ache algo que você ame fazer. Espero que um dia me perdoe, espero que eu tenha dito algo errado, sido muito ridícula e meu beijo tenha sido ruim para que você não pense mais em mim. Espero que tenha conseguido dormir bem porque eu rolei na cama a noite toda. E depois de tudo, eu acho que você é meu “wonderwall” e sempre será. Perdoe-me por tudo e aceite os mil beijos que estou te enviando em pensamento.
Sua, Annie,
(Sentimentos congelados)

⁠Eu tenho medo de sair dessa escola e nunca mais sentir o que eu sinto por Josh por mais ninguém. Eu tenho medo de esperar anos para dizer a ele o que eu sinto e que por esperar demais ele nem se interesse mais por mim. Eu tenho medo de não arriscar todas minhas fichas em alguém que eu amo e o momento simplesmente passar por mim e que daqui dez anos eu olhe para trás e pense: “meu Deus, por que eu não arrisquei? ”, “por que eu não lutei por ele se eu o amava? ”. É esse meu medo. Eu não quero olhar para trás aos 25, aos 30 ou sei lá em que idade e pensar que se eu tivesse feito diferente eu poderia ter mudado tudo. Se não der certo, Lola, não vai ser por minha causa!
(Mais que palavras)

⁠02 de junho
Querido Josh, primeiramente eu queria dizer que eu te odeio. Eu odeio a maneira como você me faz te amar, mesmo me humilhante perante todos e sendo uma criatura vil e nojenta. Você é vil, eu sou depressiva e no fim talvez a gente se mereça. No final talvez nenhum de nós valha muito e a gente mereça ficar junto. Eu ultimamente me vejo afundando, me sinto afundando em um pântano, em um lugar ermo que eu desconheço e eu me sinto andando em meio à nevoa, em meio ao caos, mas uma parte minha gosta disso. Uma parte minha acha que o amor não existe sem a dor, que nenhuma alegrai vem sem sofrimento e é grata a você por tudo. Eu não sei se um dia lerá essa carta, não sei se seu coração gelado e sua mente limitada são capazes de entender a extensão e proporção de meus sentimentos, mas antes que seja tarde, antes que eu me arrependa, antes que eu te odeie de novo, eu queria dizer que te amo infinitamente e meu amor é levado pelo vento como pétalas de rosas. Uma rosa envelhecida e triste, atingida pelo desespero e frio do inverno, mas ainda assim, uma rosa. O engraçado é que eu fiz um papelão na última janta e eu nem ligo. Danni teve que em ajudar a chegar em casa, Abílio e Murilo me colocaram dentro de um carro porque minhas pernas travaram e eu sei que pareci- fui- ridícula cantando Adele no meio da grama. É que Adele parece entender a extensão da minha dor, ao contrário de você. O engraçado é que eu paguei esse mico gigante e eu não estou nem aí. Eu não estou nem aí para o que vão pensar ou falar. Eu só quero você. E sei que esse amor é fado ao desastre e que você não me quer de volta e talvez nem mil anos serão o suficiente para você me querer. Eu não entendo então seu ciúme quando alguém pronuncia o nome de Eric. Eu não entendo porque me olha tanto. Talvez eue esteja alucinando. Eu sempre vou amar você...E por te amar demais sem ser correspondida, eu desejo sua ruína. Eu desejo que um dia você ame tanto alguém que isso te destrua. Eu desejo que você sofra, que ninguém nunca te ame, que você nunca seja feliz, que nunca passe no vestibular, nunca tenha sucesso em uma carreira, nunca tenha dinheiro, nunca construa uma família. Eu desejo sua dor. Eu sei que não estou sendo civilizada, mas você foi? Algum dia você foi? Algum dia você será? Eu não vejo essa possibilidade. Eu queria te desejar flores, amores, poesia e uma dança ao luar. Queria te desejar louros e vitórias, mas eu não posso. Eu não posso porque você me destruiu, e você não precisava fazer isso. Eu poderia estar ok, sabe? Eu poderia ter ficado com o Rick e eu acho que por mais que ele seja palhaço e cafajeste, ele não é cruel. Você é. Eu acho que Rick não teria rido de mim quando eu caí pela segunda vez na grama e não consegui me levantar de bêbada. Você riu. Você debochou. Você me usou. Você só queria perder a droga do bv, então por que eu? Por que não a Lola, Sandra ou sei lá quem? Você poderia tentar a sorte com qualquer uma, então por que me escolheu? Por que eu também era bv? Isso foi cruel. Se tivesse sido sincero teria doído menos. Se tivesse falado que só queria perder o bv eu teria ficado chateada, mas não te odiado. Eu te odeio com um ódio que me queima de dentro para fora e não me orgulho disso. Hoje de manhã Sandra pediu se eu estava bem e eu fiz sinal de positivo e ela disse: “você é das minhas”. Danni pediu se eu queria conversar e eu disse que estava ok, mas eu estou tudo menos ok. Não é só o fato de ter ficado bêbada- algo que nunca tinha acontecido- mas é o fato de você rir de mim, de você dançar tango sobre meu caixão, de se achar- porque eu sei que você fez isso- de se achar pelo fato de eu estar brigando e sofrendo por você. Eu me enfiei em um buraco escuro e não sei como sair e eu sei que a culpa é toda sua.
-Annie.

⁠30 de abril
“Escrevo-te estas mal traçadas linhas meu amor porque veio a saudades visitar meu coração”. É assim que Erasmo Carlos começa a música A carta, a qual compôs com Renato Russo, mas eu acredito que eles não iriam se ofender com o fato de eu dedicar essa música para você. Eu dedicaria toda poesia do mundo a você se pudesse. Eu escreveria cartas e mais cartas se isso trouxesse você para mim. Seria tão lindo, tão épico se eu lhe mandasse uma carta e você de repente respondesse docemente e dissesse que sempre me amou, dissesse que foi um idiota e que fez isso só para se achar para os seus amigos, mas que seu coração conta outra história. Dissesse que seu olhar conta outra história. É difícil entender a complexidade de meus sentimentos, meu amor sem fim e o ódio que inflama. Eu já não me conheço e me vejo fazendo coisas idiotas que eu mesma condenaria ano passado. Por exemplo ontem depois da aula eu te liguei. Eu liguei para sua casa e você atendeu. Meu mundo inteiro parou naquele momento e eu ouvi você repetir “alô” diversas vezes quando o que eu queria era dizer “eu te amo” quando eu queria que você dissesse que me amava. E isso foi ridículo, ridículo, ridículo! Depois eu liguei para Sandra e contei o que tinha feito e ouvi ela me chamar de idiota sem parar pensando que merecia um sermão da minha amiga pois eu havia sido louca. Imagina se você descobre se sou eu? Imagina se você nem descobre que sou eu. O Luís do segundo ano contou ontem no recreio que você falou de mim para ele e ele disse que quando você falava de mim era diferente. Disse que pelo jeito que você falava parecia que você gostava de mim. Meu coração se inflamou com essa informação- que eu nem sei se é verdade- e eu fiquei toda agitada. Frejat canta “eu não sei dizer te amo” e traduz tudo o que eu sinto. “Se você fosse calmaria eu seria temporal”. “Eu não se dizer te amo”. Eu aprenderia mil línguas- até mandarim- para dizer que eu te amo se isso tornasse tudo mais fácil, se você fosse rir e me puxar em direção a seus lábios. Será que você também não sabe dizer “te amo”? Eu sei que eu não sei. Eu nunca disse pessoalmente, de verdade, olhando para a pessoa face a face. Eu ficaria pálida, desmaiaria e faria o maior papelão. Se eu tivesse certeza de seu amor eu gritaria, eu arriscaria pular, arriscaria passar vergonha e falaria, cantaria, gritaria com toda força de meus pulmões como eu te amo. Como eu ardentemente te amo. Eu tenho vergonha de dizer que eu decorei seu número- só para se precisar- mas sejamos realistas, quando é que eu precisaria? Nós não fazemos trabalhos juntos nem nada na escola. Na verdade, quando a professora começa a falar “trabalho” a Lola gruda em mim como uma sanguessuga e não deixa ninguém chegar perto. Eu deveria te dar um gelo, eu sei- se isso fosse fazer você correr atrás de mim- mas eu não sei porque é tão fácil ignorar outros garotos e não você. Você tornou o mundo um lugar bem difícil para mim, sabe? Eu não consigo amar mais ninguém. Eu penso- com muita integridade- muitas vezes em tentar descobrir se você ama alguém para assim ajudá-lo a ficar com ela talvez, mas a quem estou querendo enganar? Eu não sou tão evoluída assim, nada disso. Eu quero que qualquer garota que olhar para você arda no mármore do inferno e eu quero ser a única e dizer te amo, te amo, te amo, te amo!

⁠13 de maio
Querido Josh, hoje é meu aniversário. Claro que você sabe disso porque a prof. Mia fez todo mundo cantar parabéns para mim na aula de literatura. Todos cantaram parabéns e na hora do “com quem será? ” Disseram seu nome. Eu quis que um buraco se abrisse no chão para me engolir. Você retrucou a disse para a professora Mia que se casaria com uma velha rica. Ela te chamou de idiota por abrir mão de “uma jovem bela” como eu por uma velha rica. Eu ri no momento, mas agora eu sinto a depressão se arrastando sobre mim. Eu fico pensando se ter feito você esperar pelos meus 15 anos para me beijar teria tornado as coisas diferentes. Teria feito você me amar? Eu creio que não. Eu não sei se certas coisas são evitáveis e você escolheu mentir para mim e isso é imperdoável. Mesmo te amando eu me pergunto se um dia eu poderei confiar em você novamente pois o fato de você mentir para mim quebrou qualquer confiança que eu poderia ter em você ao longo do tempo. Eu ando pela sala e olho um retrato do ano passado-semanas antes da formatura- e acaricio seu rosto. Maria Bethânia canta no rádio e eu choro pensando que “no nosso retrato pareço tão linda”. Eu estava linda. Eu estava feliz. Eu estava inundada de amor e poesia e...esperança. Eu era completamente diferente na época e nem sabia! Eu nem sabia que te amava, Josh! Eu nem sabia que dentro de mim cabia tanto sentimento! Josh, estamos tão felizes na fotografia e eu era feliz, eu era feliz, Josh! Tom Jobim e Chico Buarque não leram minha alma ao comporem a música pois eu não existia na época, mas eu agora me sinto desnuda como se Bethânia revelasse todo sentimento em mim. É como se eu visse toda minha dor de uma vez só exposta no rádio, exposta em carne viva para qualquer um que passar na rua ver. Ver que eu te amo. A minha dor é tão evidente que eu até tenho olheiras. Eu, no auge dos meus 15 anos tenho olheiras e eu nem sei quando ao certo elas surgiram. Elas surgiram do dia para a noite tal qual meu amor por você e como ele elas me ferem continuamente e me maltratam, como me maltratam! Pensei em te ligar e dizer confusões no gravador, algo para você me notar, para pensar em mim e para certamente me achar tão ou mais ridícula do que você já acha, do que você já pensa de mim. Ano passado era dezembro de um ano dourado, era amor, era primavera, era verão, era poesia, era calor, era delírio. E hoje eu já nem sei o que é. Eu já não me reconheço mais, eu não pareço fazer mais parte desse mundo como Marilia de Dirceu a procurar seu amor, seu amante que nunca voltará. Quando a prof. Mia contou a história de Marília eu quis chorar pois Josh eu sou a Marília de Dirceu do século XXI! Eu sou a moça esperando na janela para o cavalheiro vir busca-la, vir amá-la para tirá-la do sofrimento e ela chora! E ela sou eu e eu já não sou a moça sorridente do retrato. Eu já não sou tão linda e meu sorriso não é mais luminoso e meus olhos estão sempre molhado e eu sinto uma dor que eu não sabia ser possível sentir! Eu queria gritar com você e dizer que você me desgraçou para sempre e que eu te quero tanto! Eu gostaria de poder voltar...voltar para dezembro, para o bolero, para um tempo em que minha alma exalava Tom Jobim e bossa nova e eu amava sem saber, mas já amava você. Eu sinto que não terei teus beijos nunca mais e penso que não é justo, não é justo porque eu te amo. Era para você ser meu e eu ser tua! Era para você ser Dirceu e eu Marília e você cantaria para mim ao pôr do sol e diria “carpe diem” porque o dia acaba e precisamos vive-lo antes que seja, tarde, antes que ele vá. E no fim de tudo a minha carta é um lamento, um pedido, uma súplica. É um pedido para você me amar antes que seja tarde pois a adolescência é um pôr do sol e quando a gente pisca é adulto sem perceber. Eu quero que você aceite meu pedido e me abrace ao pôr do sol porque logo anoitece e sinto frio. Segure minha mão e vamos ver o pôr do sol antes que ele morra, antes que eu cresça e te esquece, antes que eu desfaleça. Ao invés disso seus olhos fogem dos meus e eu não sei se te esqueço ou se olho o retrato, mas rezo para que a música não seja uma profecia e que eu ainda te beije, que ainda haja esperança para nós dois.
Com amor, Annie.

⁠Nunca senti tanta conexão e essa vontade louca de escrever como sinto agora. O amor é minha conexão com a poesia e eu sinto uma emoção, uma eletricidade dentro de mim como se fosse uma corrente elétrica que me conduzisse através das linhas, como se algo maior guiasse minha mão através do papel, como se eu fosse mero instrumento do amor e ele me levasse pela vida, pela poesia. Cazuza dizia que “ tem gente que recebe Deus quando canta” e eu acho, eu sinto, que recebo Deus quando escrevo. Eu sinto qualquer coisa divina cintilando dentro de mim como um cristal puríssimo quando eu escrevo. Eu sinto que quando eu escrevo sou purificada pelo poder das palavras e qualquer coisa, qualquer do vale a pena se for para poder escrever, para a poesia poder se derramar pelo papel como água. Acho que toda dor de amor vale a pena se for pela poesia. Acho que é por isso que tantos cantores, poetas, escritores, músicos são infelizes. Acho que é preciso um pouco de sofrimento para haver poesia, para haver magia...o amor por si só não faz belos versos, mas a dor do amor, ah, essa sim! Talvez escrever seja meu dom, meu propósito, minha maldição e salvação nesse mundo. Talvez eu tenha vindo para essa vida com o claro propósito de escrever e a dor faça parte dessa trajetória. Quem é que sabe, não é mesmo? Eu escrevo pata aliviar as dores de minha alma, escrevo porque o vento sopra e me inspira. Escrevo para refrear as lágrimas que surgem aos meus olhos a todo instante. Escrevo pois me sinto só e busco conforto. Escrevo para não pensar, não sentir e não viver. Escrevo quando a música me alegra e escrevo para não explodir. Escrevo. E pronto. Escrevo, apenas escrevo...

⁠Eu tive um sobressalto ao ouvir a música pois ela parecia ter sido feita para mim. Parecia ter sido feita para mim pois durante as aulas eu me sentia queimar e parecia que eu estava em brasa, em fogo e ardia e me consumia em mim mesma e Josh... Josh só estava lá no canto dele olhando para mim como se nada tivesse acontecido nunca, como se ele nunca tivesse me beijado, como se nunca tivesse causado uma erupção dentro de mim, uma explosão que destruiria continentes com a intensidade que é o meu amor por ele. O pior era que eu gostava de tudo isso como se eu fosse uma espécie de pessoa doente e masoquista que gostasse da dor que ele me causava pois se eu nunca tivesse o beijado eu jamais teria sentido a intensidade avassaladora do amor. Por isso eu não, não me arrependendo nenhum pouco de ter ficado com ele, mesmo que isso estivesse me destruindo agora. Ele tinha me visto chorar aquele dia e nem tinha se abalado como se para ele estivesse tudo bem, como se ele gostasse de me ver chorar e sangrar por ele constantemente com o se eu fosse uma espécie de diversão para ele, um ratinho que ele pudesse torturar. Meu Deus, a música era tão minha, tão minha e nada da Rihanna no final das contas pois eu o amava, amava o jeito que ele mentiu que me amava para ficar comigo, pois se ele tivesse sido sincero desde o início eu teria me sentido ofendida e não teria ficado com ele. Eu amo o jeito que ele mentiu para mim e que me deixou tão vulnerável a ele. Eu gostava do jeito que o amor dele doía em mim como um corte aberto ainda sangrando. Gostava de toda dor que acompanhava o amor como se eu soubesse que o amor nunca vem só, sendo sempre acompanhado da dor, sendo grata pela dor pois sem ela não haveria o amor.

⁠Querido Josh, eu primeiramente queria dizer que eu odeio, odeio você! Eu pensei, por um breve momento de felicidade, que você de fato gostasse de mim- sim, eu acreditei nisso! Eu pensei que poderíamos ser como Baby e Johnny em Dirty Dancing, apesar de eu não saber dançar, mas você poderia me ensinar! Eu pensei que você me lançaria diversos olhares, como estava fazendo, e certo dia diria algo como “ninguém deixa Baby de lado” e me puxaria para uma dança, para um beijo e tudo ficaria bem entre a gente. Eu...eu realmente acreditei em você e isso me dói. A consciência clara me liberta da cegueira do amor, da ilusão que eu acreditei ser verdade. Por alguns dias eu cri que você estivesse sendo verdadeiro comigo. Eu cri que você fosse verdadeiro, mas agora vejo como é falso como bijuteria e isso me dói. A consciência de que fui enganada me dói como uma faca cravada nas costelas e me arde com a fúria do sol do meio dia. Eu odeio! Meu Deus, como eu o odeio, Josh! Eu o odeio por ter me beijado e tirado minha inocência, como se eu fosse uma donzela que tivesse perdido sua virtude e estivesse destraçada e perdida para sempre! Você foi quem me deixou à mercê da ruína e eu odeio por isso! Eu o odiarei para sempre! Meu Deus, como eu o odeio! Odeio mais do que posso suportar escrever! Eu odeio o fato de eu ter gostado de ter te beijado, odeio o fato de eu ainda te amar e desejar beijá-lo de novo. Eu odeio a mim mesmo de modo que quero vomitar! O pior é que eu quis, eu realmente insisti nessa história e eu achei que tudo seria diferente quando a gente ficasse. Eu achei...eu prefiro vomitar do que ver sua cara novamente! Eu o odeio por ter estragado Dirty Dancing e Blck Eyed Peas para mim para sempre e ter feito com que minha mente associasse a música a você de algum modo e não sei se algum dia vou poder ouvir “the time” sem me lembrar de você! Arg, eu o odeio mais do que suporto escrever Adeus!

⁠Querido Josh, esta é a primeira de muitas cartas que lhe escreverei e elas servem para dizer o que eu não posso (ou tenho vergonha) de lhe falar. Eu queria lhe dizer que quando olho para as estrelas penso em você. Quando o vento sopra e entra pela janela do meu quarto bagunçando meus cabelos eu penso em você. Na verdade, ultimamente, qualquer coisa me faz pensar em você e eu acho que isso é um sinal de que estou apaixonada, pois eu simplesmente não consigo tirar você da cabeça. Hoje voltando da aula eu ouvia a música “marry me” do Train e pensava em você, e, de fato escuto a música agora e me sinto flutuar lembrando das nossas mãos entrelaçadas. Acho que relacionar música a você é um sinal de que estou incondicionalmente apaixonada e eu realmente espero do fundo do meu coração que esse sentimento seja recíproco. A paixão é um sentimento extraordinário, Josh. A paixão nos eleva, nos faz flutuar, sonhar...as pessoas deveriam estar sempre apaixonadas e ver o mundo assim, cor- de- rosa. Eu sinto sua falta quando você está longe- mesmo que a gente se veja todo dia na aula- e isso é meio sem sentido, mas, meu bem, acho que no fundo a paixão não foi feita para fazer sentido, certo? Se você quer que algo faça sentido, vá estudar matemática, química ou exatas. A paixão é substantivo abstrato, querido, e ela por si só não faz sentido. Enfim, eu espero, rezo, para que você goste mesmo de mim, pois, se eu gosto de você agora, o sentimento tende a aumentar. O fato é que eu agora lhe escrevi e lhe escrever é fatal. Escrever é derramar meus sentimentos no papel sem dó, sem filtro. Escrever é abrir meu coração e ter acesso ilimitado a uma série se sentimentos que eu não demonstro no dia a dia, pois as cartas, as palavras, vêm do fundo de minha alma, de modo que uma vez aperta a porta dos meus sentimentos é muito difícil fechá-la. Já é tarde e eu não vou dizer um “marry me” , mas um “i promisse to sing to you when all the music dies”. Boa noite, Josh.

Acho a função referencial importante, a conotativa me chama a atenção, a metalinguística me confunde, a fática me resgata de uma distração, e emotiva faz os pelos dos meus braços se arrepiaram, mas é a função poética que faz meu coração disparar. A função poética eleva minha alma e me faz escrever como de fato me fez pegar a caneta e o papel na aula de Mia e derramar frases sem sentido que pareceriam vir do fundo do meu coração.

⁠23 de dezembro
Meu querido Rick, por muito tempo hesitei se deveria lhe escrever de novo pois desde que percebi que o amor que eu tinha por você cessou pareceu-me inútil lhe escrever. No entanto, eu preciso lembrar que te amei por quatro longos anos e por isso creio que eu lhe deva pelo menos isto: uma carta de despedida.
Eu queria dizer que eu te amei vagarosamente, pouco a pouco, pelos detelhes, pela gentileza, pela forma doce como você me acolheu quando eu comecei a estudar com você na quarta-série, apresentando os colegas e os professores e se oferecendo para me acompanhar até em casa. Eu te amei quando você elogiou minha tiara cor-de-rosa e por isso eu passei a usar tiara todos os dias. Creio que todas as meninas fiquem bonitinhas de tiara aos 10 anos, mas na minha mente eu era a mais linda pois você disse que eu era e eu acreditei. Eu te amei quando você me trouxe um bombom e quando pediu para ficar comigo na quinta-série. Eu te amei em cada detalhe de uma maneira doce que era só minha, por isso eu tinha medo que qualquer pessoa estragasse esse sentimento. Eu tive medo que alguém interferisse nesse meu sentimento e tornasse ele amargo. Talvez tenha sido por isso que eu odiei tanto a Tati: ela poderia vir a ser uma ameaça. A Tati sempre foi bonita e a maneira como você a olhava me irritava tremendamente. Eu lembro como eu subia nas árvores da escola na quarta-série para ficar olhando para você. Lembro de como fiquei assustada um dia em que a bola ficou presa na árvore em que eu estava e você foi lá para pegar. Meu coração parecia que ia se explodir em milhões de pedacinhos! Eu fui te amando pouco a pouco, de grão em grão, e quando vi, Rick, eu estava apaixonada! Eu surtei quando mudei de escola pois iria ficar longe de você e não ver você todos os dias parecia que ia me destruir. Meses passaram, depois anos e eu fui te amando em palavras, fazendo você reviver em meus versos, em minhas lembranças, como um artista que pinta uma paisagem bonita que viu para nunca esquecer dela. Eu te amei em versos, eternizei sua memória em meu coração e passei a sonhar com o dia que eu fosse te ver, que fosse falar com você. Eu sonhava com o dia em que você acordaria e se daria conta que sempre me amou e que essas meninas vulgares não fazem nem nunca fizeram seu tipo. Eu queria dizer que te agradeço por toda gentileza da quarta-série, pelo bombom e por todo afeto que me dedicou, mesmo que sob o meu ponto de vista esse afeto nunca tenha sido suficiente. É engraçado o desenrolar dos capítulos da nossa vida, você não acha? Parece que as coisas acontecem como devem acontecer, Rick, porque quando finalmente você me procurou e pediu para ficar comigo eu de repente não queria mais você. Eu não entendi na época qual era o problema comigo e porque de repente eu não te queria se na minha mente eu te amava perdidamente! Mas a verdade é que eu já não te amava há algum tempo, Rick. Eu amei a lembrança, eu amei o quadro, eu amei a paisagem, eu amei a rosa da primavera que murchou no inverno. Eu amei aquele Rick, aquele Rick que eu conheci na quarta série que era gentil! Isso não quer dizer que você não seja uma boa pessoa, por favor não me entenda mal! O que eu quero dizer é que eu amei a sua lembrança e não propriamente você. Quando finalmente conversamos, eu percebi que você era tão diferente! Pode ser que você tenha tido a mesma impressão de mim, quem sabe, mas o fato é que eu não te reconheci como a pessoa que eu amava e de repente, Rick, eu não queria ficar com você porque eu já não amava você. De repente, sem eu perceber, sorrateiramente, alguém havia entrado no meu coração e ocupado o lugar que anteriormente era seu. Nem eu percebi quando ao certo isso aconteceu. Na verdade, a paixão não é um marco histórico, um evento que você sabe exatamente quando ocorreu e de que maneira. A paixão é como o vento, que vem sorrateiro até você, vindo não sei de onde, não sei porquê e quando você percebe, tornou-se uma ventania. Certo estava Camões, quando disse: “Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê”. O amor é uma ventania que chega sorrateiramente e te leva com ela sem você perceber, Rick. Eu fui levada pelo vento e quando percebi meu coração acelerava quando eu chegava perto do Josh. Quando me dei conta, eu queria ficar falando com ele por horas e horas sobre discos e livros sem razão aparente. Ele me deixa desconcertada. Ele me deixa acelerada e muito nervosa. Quando eu me dei conta que meu coração não acelerava mais por você e sim por ele foi como se eu encaixasse uma peça faltante no quebra-cabeças da minha vida e tudo fizesse sentido. Veja bem, eu nem gosto de quebra-cabeças; eles me irritam pois eu sempre sou muito lerda para montar, porém devo dizer que quando eu encaixei essa última peça do quebra-cabeças que é a minha vida tudo serenou. Eu não sei se você sabe o que é amar alguém e como é sentir o nervosismo, o coração acelerado, o panapaná de borboletas do estômago, mas eu desejo que um dia você saiba, Rick. Eu desejo que um dia, subitamente, como em uma armação do destino, você encontre uma garota que te faça perder a fala, que te deixe constrangido, que vire seu mundo do avesso! Eu desejo que ela te ensine a amar, Rick. Talvez um dia certo? Sei que você não acredita no amor e a maioria dos garotos na sua idade não acredita, mas eu acredito no amor, Rick. Eu acredito que o amor é esse sentimento doce e mágico que nos eleva, nos transborda e nos consome. Espero que um dia você entenda. Então eu lhe desejo toda sorte do mundo e que você tenha uma vida maravilhosa e realize todos os seus sonhos.
Com amor,
-Annie.
(Anseios de uma jovem escritora)

⁠Lembrei da viagem para Porto Alegre e da vontade súbita que eu tive de chamar Josh para falar da música que eu estava ouvindo, tendo a sensação de que ele me compreenderia. Eu naquele momento não entendia racionalmente porque eu sentia vontade de conversar com ele. Racionalmente, eu não entendia, mas talvez meu coração já entendesse. Talvez durante esse tempo todo o meu coração estivesse tentando me dizer o quanto eu gostava de Josh e eu não tenha dado ouvidos a meu coração, prestando atenção somente no cérebro, somente no que eu conhecia como fatos científicos. Quem sabe durante esse tempo todo meu coração tenha tentado me avisar pouco a pouco, cantando uma música bem baixinho, bem suave, uma música que eu não tinha parado para ouvir...uma música ao longe que eu não tinha dado conta de que existia. Esse tempo todo eu tenho evitado o Rick não apenas porque ele é esnobe e eu saiba que mereça alguém melhor, mas porque meu próprio coração já tem dono. Coloquei um CD do Tom para tocar e fui adormecendo lentamente embalada pelo som do piano e das batidas do meu próprio coração que batiam ao som do piano, ao som da poesia, ao som da paixão.

⁠Coloquei música no meu ipod e uma melodia suve me invadiu. Garoava lá fora e a cidade parecia levamente cinzenta. Pessoas andavam na rua apressadas com seus guarda-chuvas enquanto Edu Lobo e Tom Jobim cantavam “Luiza” no meu ipod fazendo eu divagar e pensar em como seria morar ali, se seria caótico, se seria mágico, se as pessoas liam Erico Verissimo e ouviam Tom Jobim, como eu. A chuva caía suavemente escorrendo pelo vidro da janela e uma moça corria segurando um guarda-chuva vermelho. Eu achei a imagem digna de um quadro e se eu fosse artista eu pintaria um quadro, mas eu sou escritora, então escrevo, então descrevo. Descrevo como o guarda-chuva revolto se agitava com o toque do vento, de como a garoa aos poucos queria se transformar em uma chuva. Descrevo como um sol preguiçoso se escondia atrás da névoa... fui tomada de uma onda de suavidade e eu tive me segurar para não cutucar Josh no banco da frente e mostrar a música que eu ouvia e dizer como era bonita, como era poética. Eu queria dizer que o cenário lá fora combinava perfeitamente com a música e como daria um belo quadro, uma bela canção, um belo poema. Eu queria dizer tudo isso, mas me detive. Ele certamente acharia que eu era idiota. Eu não sei dizer diário porque pensei em cutucar Josh e falar para ele sobre bossa nova e sobre poesia aquela hora da manhã. Não sei explicar logicamente a mim mesma porque entre tantas pessoas ali no ônibus eu pensei em Josh. Não sei dizer porque eu pensei que certamente ele seria a única pessoa no mundo que poderia entender, que poderia me entender. Pensei que nenhuma de minhas amigas entenderia aquele momento de sensibilidade em que a chuva caía suavemente e como a música corria por minha mente, levando-me com ela. Nenhuma de minhas amigas entenderia pois elas jamais teriam a sensibilidade suficiente para isso, para sentir a música e a poesia correndo pelo corpo como chuva, mas eu pensei que Josh entenderia e não sei dizer ao certo porque tive essa sensação naquele momento.

⁠Eu me vi chorando e ouvindo Ney Matogrosso cantar “retrato em branco e prato” sem entender o porquê. Eu não sabia se chorava porque havia perdido o Rick, se eu o amava, se o queria, porque eu já nem sabia mais nada! Eu me sentia um lixo e nem estava de TPM para isso. Parecia que ele tinha ido para sempre e isso era muito triste. Eu abracei um travesseiro chorando e pensei que as palavras dele foram ásperas, foram rudes! Ney cantava e eu sentia que a música era para mim pois eu me sentia uma tola procurando o desconsolo que eu cansei de conhecer. Eu escrevia, eu trazia o peito repelto de lembranças do passado e colecionava um soneto, uma carta, uma porção de sentimentos e palavras. Eu negava o amor que eu sentia pelo Rick, evitava, mas parecia que ele voltava a me enfeitiçar como se eu fosse uma tola e não tivesse me imunizado para o vírus que era o amor dele. Eu não sei na verdade o que eu sentia pois parecia que eu sentia de repente todo amor e toda dor do mundo e isso vinha tudo de uma vez e caía sobre mim como se eu fosse acertada por um raio e isso me deixava subitamente tonta!! Eu não queria ficar com o Rick, mas não queria perde-lo, diário, e eu sei que você vai dizer que isso é egoísta, porque é! Eu o queria amarrado, preso a mim do mesmo modo que eu fui presa a ele por anos, mesmo sem eu querê-lo agora.

⁠Enfim, hoje à tarde eu fui até a sacada e fiquei ouvindo a música “poema”, que é lindíssima. A música é de Cazuza, mas ninguém supera a versão do Ney Matogrosso. Então, eu estava na sacada pensando sobre a viagem que faremos com a turam daqui a uns dias, sobre as provas que se aproximam e o ensino médio que está logo aí quando subitamente, meus pensamrentos tomaram outra direção como que soprados pelo vento. Ney Matogrosso cantava “Poema, Frejat tocava guitarra e eu de repente me sentia tonta e sentimental. De repente eu sentia falta daquele sentimento doce de amor que se esvaia de mim, que quem sabe já havia se esvaído...! Eu tentava me agarrar a ele, agarrar-me a esse amor, a um tempo que já foi e sentia uma súbita vontade de chorar! Eu lembrava da quinta-série, da quarta, daquele arrepio na espinha que eu sentia quanto chegava perto do Rick! O fato é que eu não sentia mais isso quando falava com ele, quando conversávamos, e o fato era que o Rick não era mais a mesma pessoa por quem eu me apaixonei no passado. Talvez, quem sabe, eu não fosse a mesma pessoa...O fato é que esse sentimento doce de amor me iluminava diariamente. Eu sentia-me banhada de amor como quem se sente banhada pelo sol em um dia quente na praia, no entanto..., no entanto, eu já não amava mais o Rick e eu percebia isso agora. Eu me prendi a ele com medo de perder qualquer coisa, com medo de perder uma parte importante de mim, mas eu não o amava mais há algum tempo e mesmo assim o amor florescia em mim como uma rosa vermelha e fazia minha alma se arrepiar inteira. Eu estava cheia de amor, mas não pelo Rick e eu não entendia, não entendia esse sentimento doce de onde vinha, para onde ia e eu tropeçava naquela frase de Camões, que dizia: “Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê”. Esse amor me doía e me queimava ao mesmo tempo que afagava minha alma, como que me embalando o sono. Minha mente estava tão confusa e tentava organizar os pensamentos e entender. Eu jamais me senti tão poética, tão cheia de versos, tão cheia de amor. Eu jamais tive tanto medo e o que eu conhecia como amor era algo diverso do que eu sentia agora. Era um sentimento diferente. O final de tarde exalou um perfume de flores desabrochando na primavera e eu me senti leve. “De repente a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa morna e ingênua que vai ficando no caminho” dizia a música e eu me sentia assim. Parecia que eu havia perdido algo que deixei não sei quando, não sei onde, mas então por que é que minha alma parecia transbordar de amor?

⁠Quando eu escrevo, o mundo inteiro desaparece por baixo das palavras, meus dramas deixam de ser dramas e passam a ser histórias, as preocupações se amenizam, os amores intensificam, os parágrafos tomam forma, a caneta desliza no papel suavemente como se dançasse ao ritmo de uma música e as histórias pouco a pouco se petrificam para sempre no papel.

Hoje eu trabelhei em home office, assim como todo o Poder Judiciário e isso foi tão estranho para mim... Parece uma gripe, mas não é uma simples gripe, é um vírus que está matando as pessoas! As determinações são para não sairmos de casa e pouco a pouca as cidades vão se tronando cidades fantasmas. Parece que estamos vivendo em um filme, um filme ruim digno de uma framboesa de ouro no qual 80% do elenco morre em decorrência do vírus e os 20% restantes precisa lidar com a fome, a escassez de recursos e as mortes. Em meio ao caos, precisamos ter fé, calma, respirar e ficar em casa. Tudo parece tão distante de nossa realidade agora...Eu realmente entrei na formatura com "everybody wants to rule the world" há um ano? Eu realmente sonhava acordada totalmente apaixonada ouvindo "Just like heaven" há um ano e meio? Quem tem a ousadia de sonhar agora? Quem tem coragem para viver um romance agora? O mundo de repente parece envolto em trevas e eu me sinto mais adulta do que nunca trabalhando em home office e assistindo o noticiário. Ontem houve 1 morte, hoje 4, amanhã 8, e assim sucessivamente. Foi mesmo nesta vida que ouvimos "More than words" no fisk? Foi nesta vida que eu estudei no fisk ou realizei um intercâmbio? Quem possui a coragem para fazer um intercâmbio agora? Precisamos ter fé e eu por enquanto ainda tenho. Há tanta beleza e tragédia no mundo...mas em meio ao caos eu ainda tenho fé.

Seja a mudança que você quer ver no mundo.