Coisas Novas
Se a mídia gera sedução, ela é feita pelo objeto de prazer: o
poder. Se as pessoas estão procurando acompanhar os padrões que a mídia
fabrica é porque querem ou são obrigadas a estar dentro do padrão social generalizado, para não serem excluídas do sistema. Portanto, se a
personagem da novela é uma sem terra, a única opção que a mídia coloca
como melhoria de sua condição social é a de se casar com o personagem
milionário da história.
A mídia cria uma espécie de vertigem coletiva, pois em maior ou
menor dimensão a figura da mídia é articuladora de transferência de valores na sociedade, ditando regras morais, costumes, comportamentos e dando a
aparência, numa visão fria e desenvolvida em estúdios, de que a sociedade é realmente aquilo que ela desenvolveu dentro de seu espelho contextual.
Assisti a um seriado da Rede Globo, chamado Decadência, que
fazia uma abordagem irônica sobre as seitas evangélicas. Em especial, a
Globo tentava atacar o Edir Macedo, e o artista Edson Celulari, que fazia o
papel do personagem Emannuel, um motorista que vira bispo e enriquece, num dado momento da história fala que ninguém quer ser feliz depois que morre, e por isso as religiões evangélicas estavam ganhando fiéis, pois elas prometiam a felicidade aqui e agora.
A influência dessa mentalidade imediatista das novas tecnologias é de que tudo é vendido, tudo é comprado, e o “Baú da
Felicidade” já não é mais propriedade exclusiva do apresentador de televisão
e empresário brasileiro Sílvio Santos.
Convencem-nos a formar determinadas imagens estéticas: um exemplo é o de que o certo é cultivar a estética de ser magro, bonito e bem sucedido na vida. Dessas imagens saem as figuras vendáveis de Carla Perez,
Lair Ribeiro e “Rambo” (Sylvester Stallone).
Na novela O Rei do Gado (1997) da Rede Globo, uma sem-terra, interpretada pela atriz Patrícia
Pillar, acaba se casando com o proprietário de terras e criador de gados interpretado por Antônio Fagundes. A novela mostrou que, em vez de a sem-terra continuar no
movimento e tentar ganhar uma causa coletiva, era mais fácil pensar em si
própria e se aliar à classe dominante. Esse é o pensamento neoliberal, da
globalização e do capitalismo sem força de atrito, como relata o capítulo “Um computador em cada mesa, em cada casa” do livro de Bill Gates, ou seja, cada um no seu universo particular e não coletivo.
Outras influências das novas tecnologias dos meios de comunicação são as de, sustentar a indústria dos sonhos e da fantasia que o mercado capitalista nos dá e amplia, através do mercado eletrônico, numa comunicação aparelhada em redes.
A tela do computador, os canais das televisões a cabo, com emissoras particularmente especializadas em venda de produtos, serviços e informações estão ampliando o mercado, e o desejo de consumo também.
A máquina TV não só pode ser, como relata Giovanni Sartori, de fazer dormir, porque quando a ligamos à noite nos relaxa a ponto de fecharmos os olhos, mas também aquela que nos fez, em épocas ditatoriais, “dormir de olhos bem abertos”.
No Brasil, a televisão, oscilando entre um período criativo e um período sombrio, foi como um calmante nas massas, também; no período de
ditadura militar, atuou como remédio para fazer dormir longamente, remédio
que se perpetuou por cerca de - duros - 20 anos, mal resolvidos na mente
das pessoas até hoje, porque a ditadura passou, mas a força das imagens na cabeça das pessoas não se apaga tão simplesmente.
A democracia fica sombria e acaba quando as novas tecnologias
de comunicação “modernizam” o autoritarismo, seja nos países islâmicos e
fundamentalistas (como países árabes), ou no racismo que tinha a África do
Sul ou nos regimes ditadores como os da América Latina.
Com a descentralização do poder dentro do próprio poder político,sobra só o totalitarismo das imagens, que convencem com maior facilidade do
que o próprio poder relacionado ao governo.
Os militares envelheceram nossa mentalidade durante esses
longos anos, até deixarem caduca nossa noção de cidadania e nossa
memória e história política.
A Rede Globo soube usar essa “modernização” a seu favor no
regime militar brasileiro, e tinha recursos de sobra acrescidos por um contrato inicial com a Time-Life para investir na modernização gerencial e no
refinamento técnico.
Dentre as prioridades estratégicas dos militares estava a consolidação do vasto território e unificação dos 120 milhões de brasileiros do
censo da época. Torres de microondas foram construídas a cada 60
quilômetros, ligando as principais cidades, de forma que os sinais pudessem chegar a cada canto do país. O poder financeiro da Globo lhe dava condições de alugar a metade das ligações todo tempo
Embora vivendo em regime democrático, os meios de comunicação continuam formando uma sociedade autoritária e continuam submetidos à tutela do Estado.
Em 1969, nasceu a ARPAnet. Os militares achavam que os
Estados Unidos eram muito vulneráveis a um ataque soviético. Naquele tempo,
os computadores eram enormes trambolhos. A rede de defesa foi expandida, já nos anos 70, para os computadores das universidades e centros de pesquisa nos Estados Unidos. Mais tarde, nos anos 80, a Europa entrou em rede e, depois, o Japão. Finalmente, nos anos 90 empresas comerciais foram admitidas e a Internet ganhou, então, suas feições contemporâneas.
Em certo sentido, portanto, as novas tecnologias de comunicação servem para influenciar a redemocratização da sociedade quando quebra monopólios, mesmo que depois outros monopólios
estrangeiros ocupem o lugar. Mas temos que ver que o lugar de origem de domínio do primeiro já não é o mesmo, e pode se modificar pelo fato de não haver estagnação do mesmo poder no mesmo lugar.
No final dos anos 80 e início dos anos 90, a Globo apostava que o
futuro da tevê por assinatura estava na transmissão direta por satélite para
casa - e criou a Globosat. Na mesma época, o grupo Abril, principal
concorrente da Rede Globo na TV por assinatura no sistema de transmissão
por microondas, criou a TVA. Estudos da HBO, TV a cabo dos EUA, diz que o
Brasil tem potencial de mercado superior ao resto da América Latina e pode chegar a 7 milhões de assinantes em cinco anos. Algumas empresas, hoje em poder do Multicanal, foram negociadas por cabeças de gado.
Em julho de 1984, o Departamento Nacional deTelecomunicações (Dentel) liberou o uso das antenas parabólicas sem fins comerciais para pessoas. Daí em diante, o mito pela técnica abriu a
sociedade para adorar a “coisificação” dos equipamentos dos meios de
comunicação, daquilo que eles podem abranger na sua capacidade e
potência de imensidão e pela sua insaciabilidade de abraçar o planeta de uma vez só.
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