Cartas e Prosa de Fernando Pessoa

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Esquizofrênico assumido

Não sou maluco.
As pessoas que vejo e converso?
São todos uma parte de mim.
O que são essas vozes em minha mente?
São minhas criações e meus algozes.
Tenho consciência. Confundo-me apenas quando tenho certezas.
Na verdade sou tão grande que não caibo num corpo só.

Inserida por Epifaniasurbanas

"Já foi provado, o universo é extremamente hostil a vida.
Mesmo sem as devidas condições, com apenas partes das substâncias do espaço o homem se fez.
Deve ser essa a razão de nossa conexão com os céus, lá vemos nossa própria essência, como poeira de estrelas.
A humanidade é o milagre! Somos a própria teima."

Inserida por Epifaniasurbanas

"Eu não quero viver pela fé! Mesmo sendo ela um atributo divino.

A fé é o último estágio... é quando tudo deu errado, e não se tem mais expectativas em nada.
A fé começa 'somente' quando se esgotam todas as esperanças.

Isso não é vida pra mim, não é vida pra ninguém!
Eu não quero contar sempre com Deus.

Quero sim, agradecê-lo por ter conseguido sozinho, quero ser grato por não me sentir só, enquanto eu conquistava.
Quero que ele me dê esperanças, para sempre acreditar que tem jeito, que com um pouquinho mais de esforço é possível!

A esperança é melhor que a fé!
Uma vida norteada tão 'somente' pela fé é uma vida muito triste."

Inserida por Epifaniasurbanas

⁠Voa minha ave
Voa sem parar
Viaja pra longe
Te encontrarei
Em algum lugar
Permaneço em ti
Como sempre foi
Mais perfeito e mais fiel
Mesmo sozinho sei que estás perto de mim
Quando triste olho pro céu
Quando eu te vi o sonho aconteceu
Quando eu te vi meu mundo amanheceu
Mas você partiu sem mim
E sei que estás em algum jardim
Entre as flores
Anjo, meu tão amado anjo
Bem sei que estás
E eu do brando sono hei de acordar
Para os teus olhos ver uma vez mais
O verdadeiro amor espera uma vez mais

Ivo Pessoa

Nota: Trecho da música Uma vez mais.

Inserida por droplets

Bom Dia, Não sei o porque isso acontece, nem por que não consigo mudar meus pensamentos, até acho que sou só um Zé Ninguémque vive em busca de algo...
Só não entendo por que a vida tem que ser tão cruel assim; Quando penso em parar, ela vem e alimenta essa vontade, essa esperança e tudo começa de novo... Não sei quanto tempo isso pode durar mas sei que isso pode doer mais ou melhorar de uma vez...
O que eu posso dizer? Acho que não seja tão forte quanto imaginava, mesmo eu agindo diferente, sendo diferente ainda não é suficiente, Por que?
Talvez eu esteja trilhando em um caminho sem sentido, ou Não? e se esse for a melhor opção? Afs, tão confuso que nem consigo mais pensar direito Bom Não importa, vou até o final, e ver o porque o jogo dessa vida!

Inserida por Uelintonpessoa

Encho a cara sozinha aos sábados esperando o telefone tocar, e nunca toca. Sofre horrores mas continua do bem, sempre inventando histórias com final feliz. Tenho medo de já ter perdido muito tempo. Tenho medo que seja cada vez mais difícil. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapaçar dentro de uma solidão – escudo. E à noite eu ainda te espero, mesmo quando sei que você não virá, só para ter saudade.

Esse é só um dos sintomas, ficar muito tempo deitado. Tem outros, físicos. Uma fraqueza por dentro, assim feito dor nos ossos, principalmente nas pernas, na altura dos joelhos. Outro sintoma é uma coisa que chamo de pálpebras ardentes: fecho os olhos e é como se houvesse duas brasas no lugar das pálpebras. Há também essa dor que sobe do olho esquerdo pela fronte, pega um pedaço da testa, em cima da sobrancelha, depois se estende pela cabeça toda e vai se desfazendo aos poucos enquanto caminha em direção ao pescoço. E um nojo constante na boca do estômago, isso eu também tenho. Não tomo nada: nenhum remédio. Não adianta, sei que essa doença não é do corpo.

Vou te procurar entre as estrelas e os satélites distraídos, que confusos me ditaram caminhos errados e esparsos. Eu irei caminhar por trajetos errados em diferentes passos. Em destinos errantes nas mais estranhas pegadas na areia. E vou te encontrar em um planeta abandonado no curto espaço entre nós dois. Em nossos abraços, em seus sorrisos largos.

[...] Sabe o que eu sinto? Tem duas coisas me puxando, dois tipos de vida — e eu não quero nenhum deles. Quero um terceiro, o meu. Que ninguém tá curtindo. [...] — não estou conseguindo viver como eu gostaria — e não tenho coragem de ficar sozinho e tentar, você me entende? Acho que não. Eu vou levando, tenho horas de soluções drásticas, vou levando. Mas não sei até quando. [...] E eu fico muito comigo mesmo nisso tudo — cada vez mais sufocado, mais necessitado que pinte um VERDADEIRO ENCONTRO com outra pessoa, seja em que termos for. Parece que ou eu ou os outros não somos mais tão disponíveis. Será que estou fechando, perdendo a curiosidade? Eu não sei. Vou dormir. Amanhã te escrevo mais um pouco.

Vontade só de dormir, dormir muito, para nunca mais acordar. (...) Só tenho passado, o presente é esta viscosidade, o futuro não existe. Ah, eu queria ter um objetivo na vida, uma coisa que sugasse todas as minhas forças, conduzisse todos os meus gestos e todas as minhas palavras. Não tenho nada, só este vazio.

Como se algo estivesse perfeito. Eu insisto no perfeito, era assim: pouco antes da perfeição se cumprir. Perfeito, preparado para acontecer e, de repente, não acontecesse. Não acontece. E logo depois, quando você ainda nem entendeu direito o que aconteceu, ou o que não aconteceu, ou por que deveria ter ou não ter acontecido, vem alguém de repente e te dá um soco no estômago. E a mão que daqui a pouco você tinha certeza que ia estar cheia, pronto!, está vazia de novo.

Foi a última paixão. Paixão é o que dá sentido à vida. E foi a última. Tenho certeza absoluta disso. Agora me tornarei uma pessoa daquelas que se cuidam para não se envolver. Já tenho um passado, tenho tanta história. Meu coração está ardido de meias-solas. Sei um pouco das coisas? Acho que sim. Tive tanta taquicardia hoje. Estou por aí, agora. Penso nele, sim, penso nele. (...)

Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo, mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir por quê.

(...) Ouvir umas histórias. Contar algumas também. Botar a conversa em dia… Falar sobre nós um pouco, talvez. Contar umas estrelas. Fazer uns pedidos. Quem sabe realizar alguns meus. Rir um pouco. Sentir-se leve. Esquentar um pouco os pés frios… O coração vazio. Se não quer sentar e relembrar o passado. Matar essa saudade. E essa vontade. Quem sabe sentir alguma vontade. Não sei…

Dessa vez não vou querer tudo de uma vez, porque sempre acabo ficando sem nada no final. Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronto pro primeiro capítulo.

Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência, embora eu pudesse preenchê-lo - esse espaço branco - de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. Ou não-palavras e não-ações, porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, naquele tempo, para ocupar meus dias.

De vez em quando choro. É bom chorar. Eu não tenho vergonha, mas em todos os momentos existe a certeza de ter feito uma escolha acertada, de estar caminhando em direção à luz. Não nego nada do que fiz, também não tenho arrependimentos ou mágoas: eu não poderia ter agido de outra maneira — mesmo em relação a você — levando em conta o quanto eu estava confuso naquela época. Também já não tenho aquelas queixas infantis, na base do ‘tudo dá errado pra mim’, ou autopunições como ‘eu sou uma besta, faço tudo errado’. Nada é errado, quando o erro faz parte de uma procura ou de um processo de conhecimento. Gosto de olhar as pedras e os desenhos do vento na superfície da água, gosto de sentir as modificações da luz quando o sol está desaparecendo do outro lado do rio, gosto de sentir o dia se transformando em noite e em dia outra vez, gosto de olhar as crianças brincando no corredor de entrada e das palmeiras que existem no meio da minha rua — gosto de pensar que vou sempre ter olhos para gostar dessas coisas, e por mais sozinho ou triste que eu esteja vou ter sempre esse olhar sobre as coisas. Não sei muito, também não tenho muito, também não quero muito, mas estou aprendendo a respirar o ar das montanhas.

Porque fé, quando não se tem, se inventa... para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal... Deus, põe teu olho amoroso sobre todos os que já tiveram um amor sem nojo nem medo, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem... sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma — sobre esses que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões... envia teu Sol mais luminoso...

Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio...

"...E decidiu: vou viajar. Porque não morri, porque é verão, porque é tarde demais e eu quero ver, rever, transver, milver tudo que não vi e ainda mais do que já vi, como um danado, quero ver feito Pessoa, que também morreu sem encontrar. Maldito e solitário, decidiu ousado: vou viajar."