Caixão com Espelho
O reconhecimento tem que ser em vida, de nada adianta chorar em tampa de caixão ou botar coroa de flor.
Essas noites em que estás longe, minha cama assemelha-se a um caixão. Mas, quando você chegar, por favor: ressuscita-me; e tire desse sepulcro fedido com o odor da saudade...
Atrás do caixão do defunto, nunca vi nenhum caminhão de mudança!!
Por tanto nada daqui se leva, só se deixa!
Saudade, Lembranças, ensinamentos essa pra mim é a melhor herança!
Dar adeus é mole, seja ele com um caixão, flores e uma novena, ou com malas no chão esperando o próximo trem para ir para algum lugar. O mais difícil é lidar com o que fica, com o que não foi dito, o que foi comemorado, tudo que foi acalentado e todas aquelas fotografias mentais que chamamos de memórias. Complicado mesmo é carregar um coração cheio de saudade, uma mente povoada de lembranças. Tudo que remonta o que foi verdade, seja uma música, uma comida, um lugar. Com um “tchau” dado às pressas, tudo se perde, ficamos apenas com o espaço liberado para novos hóspedes se alojarem. Isso é, se permitirmos isso algum dia.
Nosso maior bem se tornou com o tempo o "prego do caixão", nossa maior prisão, maior castigo, o "nó corrediço", inundada de negativismo e achismo, detentor de todos os males, mas também única que pode salvar: A RAZÃO.
Vida longa ou longa vida / Só depende da caixa.
Treta pak, berço ou caixão /
ambas nos embalam para uma vida longa / ou longa vida.
A vida e as pessoas tem sido assim...
Na maioria dos velórios muitos carregam o caixão do morto, porque não carregam as pessoas em vida e principalmente as que estão caídas.? E agora, na maioria dos cemitérios já tem até um carrinho especial para fazer o transporte do falecido...deixa-me ficar quieto.
A vida é uma caminhada que o olhar contempla, o pecado julga, o tempo condena, o caixão alivia, a juventude lembra, as atitudes organiza, o promotor é nossa mente e as decisões são juízes insanos, o cálculo é duvidoso, o resultado uma incógnita, a certeza pode ser a tarefa executada, mas a natureza da alma revelada, oh, somente o tutano do senhor, as respostas vem, a sentença, a liberdade, a prisão a eternidade, escuta o vento que traz resposta, ninguém viu.
Giovane Silva Santos
Estou tetraplégico. Não consigo sair do caixão que é o meu próprio corpo! Todos os meus meus pensamentos estão encerrados no meu corpo morto! Sinto a permanente asfixia que me esmaga o meu peito de ferro! Todos os meus sentidos estão esmagados pelo meu corpo esquife! Todos os meus pensamentos berram ululantes pela libertação, pelo oblívio, pelo alívio que nunca mais chega e me afoga em loucura! QUEM TEM O DIREITO DE ME IMPEDIR DE QUERER PARTIR E DEIXAR TANTA DOLOROSA LOUCURA! QUEM?!!!
DÁ-ME ╭✿
Dá-me dêem-me as tábuas
Daquelas que se constroem tudo
Que serão para o meu caixão
Essas tábuas de madeira firme
Rijas pelo tempo de belas árvores
Nas folhagens do despojamento
Para decorar com o uivo dos lobos
Um belo sentido poema jamais escrito
De palavras perfumadas em poesia
Madeira repleta de letras de tantos poetas
Vestidos de leitura despidas de palavras
Dêem-me as tábuas que eu quero escrever
Como foi a minha vida vivida em harmonia
Com o perfume da poesia, dá-me as tábuas
Podem ser de cerejeira, pinho ou castanheiro
Para eu possa finalmente descansar o corpo.
“Quando tio Libório ficou viúvo, chorava copiosamente ao lado do caixão com semblante triste e desolado. Passada a quarentena da viuvez decidiu viver a vida e frequentar os bailes tal como fazia nos anos de juventude. Agora usa gel no cabelo e um largo cinturão de couro na cor branca abotoado com uma reluzente fivela em formato de cavalo. O sapato com solado de madeira impecavelmente lustrado reflete o brilho da camisa de cetim com mangas longas e listradas. Suas calças de tergal foram feitas sob medida em tons que variam do marrom ao abóbora. Voltou a falar gírias e palavras que eram consideradas modernas nas décadas de 1960 e 1970. Chama as garotas de `broto` e `brotinho` e cumprimenta usando o termo `chuchu beleza` no instante que estende o polegar. Para as coisas ruins acrescenta os dizeres `é de amargar`. Desde o início do ano adquiriu um `smartfone` e ingressou com força nas redes sociais. Ao final da tarde manda mensagens de boa noite em todos os grupos e ao nascer do sol replica narrativas de bom dia. Sua Belina II na versão Ghia é lavada e polida semanalmente junto com os tapetes e os coxinilhos dos bancos. Tio Libório agora é outra pessoa. Tá esbanjando saúde e no último sábado foi visto tomando uma tigela de açaí na praça de alimentação do shopping. “
