R.M. Cardoso
INSONE
Da boca
da noite
vinha
um
bafo
de outono.
Nos braços
do poema
gemia
uma
lembrança! -
E eu,
sem
sono!...
INUNDAÇÃO
Dilúvio
de silêncio
inunda
a madrugada...
Restos
de lembranças
flutuam
na escuridão...
Afogam-se
ideias,
pensamento,
inspiração!...
CONVERSANDO COM AS PEDRAS
Pelos
caminhos
que trilho
tenho
o estranho
hábito
de conversar
com
as pedras
e - penso -
cada
uma
delas
me escuta
e me entende
no mistério
do seu
silêncio.
EXTASIADO
Muitas vezes não entendo
O querer extasiado
Que não deixa sossegado
Quem, ao certo, está sofrendo.
Quem, sonhando, vai vivendo
Em penumbras mergulhado,
Qual poeta alucinado
Versos loucos escrevendo.
Mas em ti não antevejo
Prosperar nenhum lampejo
Que ilumine a minha estrada.
A ansiedade tortura,
É tamanha esta loucura!
A esperança... quase nada!...
INCÓGNITA
A remoer ressentimentos,
Subia, incerto e só,
Intermináveis ladeiras
De uma estrada sombria!
Encharcado de angústias,
Roendo as unhas do tempo,
Sentindo o bafo do vento,
Passo a passo, prosseguia.
Cantava mil queixas -
E quem para ouvi-las,
Senão velhas pedras,
Inertes, tranquilas?
Dentro da mente
(Ainda sã)
Levava a incógnita
Do amanhã.
INFALÍVEL
Alguns
versos
meio
tristes
que minh'alma
rabiscou
na lousa
do sentimento,
com
sua
esponja
infalível
o tempo
apagou!...
PONDERANDO
Honestidade
e harmonia
entre
os poderes,
não
me engano:
Agulha
no meio
do palheiro
e alfinete
no fundo
do oceano.
TROVA - 163
O mundo é escola, sim,
Eis um dito relevante!
Mas reprovará, enfim,
Quem não for bom estudante.
VERSOS D'ALMA
Se queres ouvir de alguém
O canto de amarga queixa,
Ouve em silêncio e deixa
Que a alma ouça também.
Se queres ouvir os ais,
Ouve em silêncio agora,
Que o sentimento vigora
Nos versos que a alma faz.
Por certo, no mesmo instante,
Verás que é angustiante
E incômodo o tormento!
E, pela primeira vez,
Hás de traduzir, talvez,
Um querer... um sentimento!...
LÂMINAS DO SILÊNCIO
Indiscerníveis conceitos,
Vagas, pálidas palavras
E inválidas ideias,
Tudo, tudo se dissolve
Na ressonância do nada...
Diante da irreverência,
O uivo do não consenso
E a exiguidade de senso,
Sanciono a indiferença
E exibo o desprezo
Nas lâminas do silêncio!
AVENTURAS
Vão-se-me
pouco
a pouco
esmaecendo
as alegóricas
noites
de êxtase
e loucuras...
Eis
que me liberto
do cárcere
de supérfluas
e ilusórias
aventuras!...
SEGREDOS
Consumo
um
fardo
de horas
tentando
domar
teus
medos,
desatando
enigmas
e investigando
manhas,
no ardente
e doido
intuito
de romper
os teus
segredos.
BUSCA
Pulam
pensamentos,
bailam
ideias,
vibra
a palavra! -
E eu,
em
busca
do poema
que só
a alma
lavra!
RESGATE
No universo
das quimeras
há
mares
revoltos
e inúmeras
ilhas
habitadas
de silêncio,
solidão
e desalento.
Náufrago
em
lenta
agonia,
celebro
meu
resgate
nos braços
da poesia.
TÚNEL DO TEMPO
Fomento
a memória
vasculho
o túnel
do tempo
restauro
fatos,
paisagens
(e revigoro
o agora).
SÃO LUÍS DO MARANHÃO
Caminho
na Ilha
conheço
as trilhas
mar
e marés
mariscos
e mangues
mistérios,
magias
sotaques
e poesia.
MUTAÇÕES
Rubras
centelhas
se movem
ao vento
fervem
caldeiras
sobre
as trempes
telúricas -
mutações
do tempo
INDAGAÇÕES
Às vezes,
Eu me olvido de mim mesmo,
Dos caminhos que trilhei
E masco o tempo a formular
Um saco de indagações:
O que fui?
O que sou?
Que serei?
De onde vim?
Onde estou?
Aonde irei?
E - da garganta do silêncio -
Desgarra-se um eco:
- Não sei!...