R.M. Cardoso

DAS CINZAS DO OUTRORA EMERGEM LABAREDAS DE
LEMBRANÇAS!

INDESCRITÍVEL VOO

Sonhos,
ideias,
pensamentos

são
aves
multiformes
de asas
multicores

na inefável
paisagem
do indescritível
voo.

TEMPORAIS

Há
temporais
sobre
minh'alma!

Sob
o telhado
da poesia,
atenuado,
encontro
abrigo!...

NOS TERRENOS DOS MEUS SONHOS
VICEJA O TEU NOME.

IDEIAS

Tenho
um
fardo
de ideias,
dentre
as quais,
algumas
descartáveis.

MENSTRUAÇÃO

Pingos
de chuva
caindo,
caindo
sobre
a tez
das madrugadas,

são
nuvens,
só
nuvens
menstruadas.

SÍNTESE DE NÓS

Algumas
vezes -
serenos,
pacíficos...

Outras
vezes -
nervosos,
agressivos!

Somos
um
misto,
afinal,
de brisa
e vendaval!...

TROVA - 150

Se alguém padece na vida
E diz que a sorte não muda,
É que às vezes se olvida
De ao bom Deus pedir ajuda.

NO TOPO DA NOITE A SOLIDÃO DIALOGAVA COM A SAUDADE!

PORRE

Ulcerosas
madrugadas
vomitavam
fragmentos
de indigestas
utopias!

(Era
o cenário
do porre).

TÍMPANOS

Nervos
à
flor
da pele...

Gritos
de martelo
estouram
os tímpanos
da noite!...

FIM DE ESPETÁCULO

Desfez-se
o espetáculo,
desfez-se
a euforia!

Nos seus
olhos
de festa
(agora
desolados),
há
um
prelúdio
de ilha!...

CADÊNCIA

No subsolo
da noite
bailam
versos
sem
rimas
sob
a cadência
do silêncio

LIRISMO

Como
se eu
fora
o último
dos românticos,

bebo
um gole
de lirismo
e, inebriado,
desato
ardentes
cânticos!

COM OS FIOS DA FÉ
E DA ESPERANÇA
SE TECEM OS TRAJES
DO AMANHÃ.

TROVA - 151

Um desalento atordoa
A alma amarga e sentida
De quem gosta da pessoa
Que já é comprometida!...

RECORDAR É LER, DE VEZ EM QUANDO, AS PÁGINAS DA ANTOLOGIA
DO PASSADO.

ABISMO DE ESPINHOS

Eu já fui prisioneiro
de meros beijos, abraços,
dúbias promessas e juras!

Pelas esquinas do tempo
Quase tudo se perdera,
Ilusões desmoronaram!

Tornei-me bruto como as pedras
Que se hospedam nos caminhos
E meu coração se fez
Um abismo de espinhos!...

O PENSAMENTO É UM LABIRINTO
POVOADO DE MISTÉRIOS.

VÊNUS

Investigo os olhos teus,
Detecto a incomplacência
E a não receptividade
No concernente aos meus!

Apagam-se, pouco a pouco,
As chamas do que sonhara!
Sonharei enfim com Vênus
Para me olvidar da Lua, em
Cujo solo não pousara!...

ENREDO

Querer-te cada vez mais
Não é mero sentimento,
Tampouco espuma que o vento
Com leve sopro desfaz.

Será que bem ou mal faz
Não tanger do pensamento
Um querer (que não invento)
E que loucura me traz?...

E meu enredo prossegue! -
É ânsia que me persegue,
Muralha que não transponho!

Mas, se sonhar é ventura,
Que sejas minha tão pura
Na plenitude do sonho!...

POEMA AZUL

Isento
de melancolia
e com
a mente
livre
e sã,

eu
preparo
o poema
como
quem
constrói
um
sonho
sob
o azul
da manhã.

APRESENTAÇÃO

Aqui me apresento
Ostentando a verdade -
Despido de nobreza,
Sem ouro, sem fortuna,
Isento de vaidade...

Trago em minhas mãos
O calor da amizade,
Tenho a alma inundada
De amor e singeleza...

Nada vos oferto,
Senão do meu canto
(alegre ou triste),
A real simplicidade:
Minha única riqueza!

SUBLIME ILUSÃO

Noturnos devaneios
Te conduzem a mim,
Sedenta de prazer,
Desnuda de receios...

Desejos nos envolvem
Numa doação recíproca
De amor e sedução.

Oh! doce embriaguez!
Oh! sublime ilusão!...

CAMINHOS

Deixando
rastros
de versos
diversos,
sigo
caminhos
de mim.

(Caminhos
de sonhos
são
quase
sempre
sem
fim).