R.M. Cardoso

TROVA - 131

Eu mendigo o seu amor
Mas ela nem me consola,
Pois lhe peço, com fervor,
E me é negada a esmola!

TROVA - 133

É feito jogo o amor
E a tática é tamanha!
Nem sempre quem é melhor
É aquele que mais ganha!

A HIPOCRISIA ANDA SEMPRE BEM TRAJADA
PARA FINGIR QUE TEM STATUS.

TROVA - 132

Lá vem ela - que loucura! -
O desejo me consome.
Vislumbro tanta fartura
E vivo passando fome!...

TROVA - 134

Quem anda com esperança,
Anda em boa companhia!
Só assim é que se alcança
O que foi sonhado um dia.

SOMOS, DE FATO, UMA CONTÍNUA METAMORFOSE.

TROVA - 135

Do meu coração, às vezes,
Até chego a sentir dó!
Já sofreu tantos reveses,
Mas não ousa viver só!...

REGANDO A ESPERANÇA

Rego,
a cada
alvorada,
o canteiro
da esperança,
enquanto
aguardo
o sol
para
salpicar
de brilho
o chão
da minha
estrada!

NO AMOR, A VIGÊNCIA DA VENTURA SE NUTRE DA RECIPROCIDADE.

HÁ UM SONHO AINDA INTACTO SOB OS ESCOMBROS DO TEMPO.

HÁ UM LAMENTO ESPETADO NOS OLHOS DO HOJE.

A HUMANIDADE SE FEZ REFÉM DE PSÍQUICAS TURBULÊNCIAS!

NAVEGA UM SONHO À DERIVA NO OCEANO DA PAZ!

CÓPULA

A inspiração
(no cio)
passou
quase
a noite
inteira
copulando
com
o poema!

EM MEIO ÀS TREVAS PROSPERAM AS TROVAS.

POEMA

Por
detrás
da madrugada
há
um
poema
pulsando
entre
metáforas
e mistérios!

TROVA - 136

Quando se acende a chama
De um abraço sedutor,
Todo o corpo se inflama
E ignora-se o pudor!...

COMBUSTÍVEL


Do poço
do tempo

extrai-se
o combustível

que move
a máquina
da memória.

LUZ

Só
quando
a alma
imerge
em trevas,

é
que se reconhece
todo
o poder
da luz!...

HÁ MOMENTOS QUE SÃO COMO ESPARADRAPO NA PELE
DO TEMPO.

SONHADOR

Imune à desventura,
Pela vida afora sigo,
Levo a verdade comigo -
A alma plena de ternura.

Quem faz (do amor) doce procura,
Tem na esperança abrigo
E transforma sonho antigo
Em emoção nova e pura.

A sonhar, serenamente,
Passo a passo vou em frente,
Fiz do verso o meu louvor.

E a cada passo que é dado
Me sinto realizado
Só em ser um sonhador!

SOMOS, AO
CERTO, UMA INCESSANTE FUGA DE NÓS MESMOS.

LEMBRANÇAS: MEMÓRIA EM ÓRBITA DOS TEMPOS.

POEMA MATUTINO

...E, da janela,
eu
via:
O pequeno
jornaleiro...
um
vira-lata
e uma
cadela
no cio...

Era
o cenário
que a manhã
me oferecia
para
a elaboração
da poesia.

CATANDO QUIMERAS

Cantando
cantigas
de antigas
querenças

catando
quimeras

contando
lembranças

retiro
poemas
da cinza
das eras.