Nyll Mergello
O sertão não forja homens comuns. Ele esculpe sobreviventes entre a poeira, a fome e o açoite do sol.
Houve um tempo em que a lei da bala, do punhal e da ignorância pesava mais que a própria letra da lei — dissonante, injusta e opressora. Feita não para os pobres, mas para perpetuar, justificar e sustentar, imoral e descaradamente, os privilégios das elites dominantes. Sem mesuras, sem compaixão, sem respeito pelo ser humano — e, por conseguinte, sem qualquer temor pelo Deus dos humildes e dos oprimidos.
Tacaratu, meu verso primeiro
Nasci onde a aurora não apenas nasce — floresce,
como se o céu inteiro se inclinasse pra beijar a terra.
Ali, o luar não ilumina — acaricia,
com a ternura de um sonho que insiste em ficar.
Meu lugar…
ah, meu lugar é espelho da alma minha:
tranquilo feito riacho que desliza em segredo pela planície,
sereno como prece que o coração murmura sem voz.
Falar de Tacaratu é perder-se em devaneios sem fim,
é tecer saudades em fios de vento,
é chorar com os olhos fechados
por memórias que doem — e acalentam.
Tacaratu, terra de gloriosas nostalgias,
de encantos agrestes e eternos.
Altiva, como as serras do Piranhas que te guardam,
parte nobre do velho e sonhador maciço da Borborema.
És mais do que berço:
és raiz e voo,
és chão e reza,
és a metade de mim que nunca se ausenta.
Tu és minha.
E eu, irremediavelmente teu.
Somos feitos um do outro,
em silêncio, sol e saudade.
Charadas. Enigmas do mundo. A vida e suas incógnitas intrínsecas. Quem irá desvendar o insondável? Quem perscrutará o que não pode ser desmistificado em seu complexo mistério profundo? Quem discernirá as metáforas proferidas no silêncio das blasfêmias nos altares de hereges santificados? Quem decifrará os sussurros de solidão que ecoam na vastidão da penumbra? A virtude, sob a forma de um anjo branco, revela-se — no espelho indigesto da alma — negra de essência, peçonhenta e funesta.
Tem gente que defende a mentira com a ousadia de quem é dono da verdade. Eu sou daqueles que ousam sustentar a verdade com a coragem dos que não tem parceria com mentira e falsidade.
A ficção e sua irrealidade confundem-se com a vida real e sua surrealidade. No que há de mais comum e brutal, ambas não se diferenciam tanto — ao contrário, completam-se de forma absurdamente íntima.
Alguns erros humanos são tão profundos que reverberam através dos séculos, estremecem as paredes da eternidade e, mesmo no infinito, continuam a suscitar perguntas, provocar clamores e arrancar lágrimas que jamais cessam de cair.
A mentira só não é mais poderosa que a verdade; no mais, reina absoluta, soberana e, em muitos casos, até mesmo inquestionável
O mentiroso é um ser perverso de mente pervertida; não hesita em caluniar, nem se compadece do inocente, pois seu mérito é construído sobre a falsidade.