Moacir LuÌs Araldi

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A Vida
A vida é um jogo que gira
Ou você entende e joga,
Ou então pira.

Inserida por Moapoesias

Quanto vale.

Quanto vale um homem?
Não “essezinho” que se emociona
Com uma despedida,
Com uma partida inesperada,
Com uma (ou a falta) declaração de amor.
Não este que vai às lágrimas
Ouvindo músicas, vendo filmes,
Lembrando momentos.
Esse não, esse não conta.
Afinal! Isso é risível pra não dizer ridículo ou cafona.

Digo homem MAIÚSCULO.

Que não tem medo de magoar alguém.
Que se dá bem na vida independente da forma.
Que mantém a neutralidade
Diante das malesas do mundo,
Que não se deixa levar por estas “bobagens” da vida.
Falo do homem que não vê beleza
Num por de sol, num céu estrelado.
Que não contempla o mar com um olhar
De admiração.
Esse sim é forte.

Quanto vale?

Quanto vale o homem
Que não se abala nem se sensibiliza.
Não tem lágrimas, não precisa de um abraço,
Não sente saudades?

Que valor terá depois que
Permitiu que as coisas ásperas da vida
Acabassem com sua capacidade de sentir?

Prefiro acreditar que tem maior valor aquele que permite ser medido pela sua capacidade de se emocionar, pela sua emotividade, pela sua vulnerabilidade, pelos seus sonhos, pela sua humildade, pela sua fragilidade e, principalmente pela sua humanidade.
Certamente este tem muito mais valor. Ao menos eu creio nisso.

Reflexo

A vida me mostrou,
Que portas se fecham.
Que nem todo espelho tem reflexo.
Que NÃO também é resposta.
Que loucura é ponto de vista.
Que amor não se hipoteca.
Que os que amamos também partem.
Que solidão não se reparte.

Que humildade é caso a parte.
Que só eu respondo por mim.
Que amigo falso é pra descarte.
Que o certo e o errado andam de mãos dadas.
Que o sol brilha de graça sim.
Que riquezas materiais não servem pra nada.

Que o rio também seca.
Que amando também se peca.
Que estamos sempre na reta.
Que o erro mais se destaca.
Que na defesa muito se ataca.
Que a união tende a ser fraca.
Que com riso o olhar tem mais graça.
Que é mais feliz quem vive sem máscara.

Inserida por Moapoesias

Bom

Ah Deus!
Como seria bom viver sem dizer adeus.

Inserida por Moapoesias

Olhar

Às vezes que falo pouco trago às palavras certas no olhar.
Basta querer ouvir.

Inserida por Moapoesias

Rosas

Não mandarei no teu endereço levar
Nem trago, pra você, rosas na mão.
Por saber onde sempre vais estar
Entrego-as direto ao meu coração.

Inserida por Moapoesias

Que não escrevi

A bela poesia que não escrevi
Faz-me lembrar do tempo passado.
Do fogo clareado que acendi.
Das noites quentes que ainda assim não dormi.

Das geadas branqueando as laranjeiras,
Das chaminés fumegando,
Dos sonhos cruzando as porteiras.
Da felicidade que encontrei chorando.

Revivo em silêncio sofrendo calado.
O cisco foi pra fora varrido.
Adormeço calmamente pra não ser acordado
Fecho a porta lentamente para ser esquecimento.

Inserida por Moapoesias

Frete

Pago frete pra vida me levar.
Vou com ela sem destino.
Por vezes correndo num disparar,
Por outras, calmo feito sonho de menino.

Não me preocupo em fugir do pedágio.
Abro porteiras no caminho,
Raramente vou acompanhado
Comumente ando silencioso e sozinho.

Esqueci numa parada escura
Meus sonhos dourado de poeta.
Minha preguiça passou do outro da rua
Pedalando lentamente a sua bicicleta.

Subitamente acelero o pé pesado da saudade.
Morre os anos, mas não mato o que quero.
Não envelheço. Que se dane a idade.
Encontrar-te feliz sorrindo desejo e espero.

Inserida por Moapoesias

Fadas e cinderelas

Vista teu sorriso contagiante.
Expressão alegre de Mona lisa.
Combine com teu semblante elegante.
Traga no olhar a meiguice de uma sacerdotisa.

Dê passos firmes sem visualizar o chão.
Pise como se nas nuvens estivesse.
Na passarela da vida abre-se um clarão,
Palmas de alegria são dadas a quem merece.

Curve-se ao final da aquarela.
Deixe teu cabelo brilhar nas telas.
Sinta o gosto de estar sempre bela.
Faça a vida de fadas e Cinderelas.

Disfarce

Sonhas em ser feliz?
Tente ser humildemente você.
Cuide-se, alimente sim suas vaidades.
Tendo vontade disfarce até a idade.
Sinta-se bem. Julgue-se bonito.
Respeite sempre seus princípios
Mas arisque um pouco mais.
Lembre-se que o mundo do faz de conta é finito.
E a perfeição artificial
Acaba fazendo mal.

Inserida por Moapoesias

Defumando versos

Tirou do violão, talvez a derradeira nota.
A voz não respondeu.
Mudo, apoiou o rosto no próprio instrumento.
O fogo ainda o aquecia.
A parede da alma amarelada.
O tudo de mãos dadas com o nada.
A fumaça aumentava
Preenchendo cada vazio da poesia da sua vida,
Defumando os versos, provocando tosse na rima.
O pensamento mal cavalgava lembranças
De um alfabeto extinto.
De súbito soprou a vela
Percebendo a complexidade escura do labirinto.
Apenas vestígios de carvão.
Nas cinzas, o destruído eterno.
Nada mais das chamas galopantes
Vistas pouco tempo antes.
De costas deitou-se no chão.
Cobriu o rosto com o próprio chapéu.
De qualquer forma não viria o céu.
Nos olhos apenas nuvens formando véus.

Inserida por Moapoesias

Última foto
Era a última foto.
E toda aquela seriedade não se justificava.
Exatamente num dia de mau humor ela foi tirada.
Agora, por muito tempo assim estará.
Faltará nela o sorriso.
Melhor estar sempre pronto para a última foto,
Sorrindo para a vida,
Extrapolando a alegria,
Esbanjando simpatia.
Mantendo a expressão linda
Mesmo sem saber qual será seu dia,
Afinal a vida com tristeza será sempre mais vazia.

Inserida por Moapoesias

Sem metáforas
Feito menino atrás da bola.
Feito caderno indo à escola.
Feito pipoca pulando na panela.
Feito príncipe na busca da Cinderela.

Toco na pele cheirosa e macia
Da mais inspirada e sensível poesia.
E do verso balançado pela ventania,
Brota sorrindo o mais belo cacho de alegria.

Sigo no sinal verde da vida.
Escrevo uma frase para nunca ser lida.
Bate a angústia intrometida,
Soa o sinal, é hora da despedida.

Inserida por Moapoesias

Presente
Abri a caixa com cuidado.
Era o presente da minha vida.
E como eu estava lindo nela.

Tive vontade de correr na rua
De sentir a chuva,
Não me contive, pulei a janela.

Se for idiotice não importa.
Chame-me pra dentro
Que desta vez entrarei pela porta.

Inserida por Moapoesias

Não esta aqui
Olhe esta velha foto.
Até já marcou de tinta o álbum.
Eu tinha entre doze e quatorze.
Sim, pode rir, faz tempo. Isso eu sei.
Os olhos vermelhos?
Era assim, os outros todos estão assim.
A calça do Chico! Que é aquilo?
Nunca mais soube dele...
Sonhava em ser piloto.
Naquelas árvores ao fundo tem um riacho.
Muitas vezes pescamos por lá.
O Juca, este alemãozinho aí, mudou-se ainda menino.
Foi para o Mato Grosso.
Ele não queria ir, mas o pai vendeu tudo aqui e foram.
Casou, teve filhos.
Morreu há pouco tempo num acidente.
A do cantinho é a Nina irmã do Zeca.
Uma mulher linda! Eu era apaixonado por ela.
Nunca mais a vi.
Este outro retrato me faz rir,
É muito engraçado.
Mas a que eu procuro... Não esta aqui!

Inserida por Moapoesias

Maresia
Do mar,
Restou-me a maresia.

Da minha música preferida...
Notas sentidas.

Do amor...
A poesia.

Das enumeras palavra...
A hipocrisia.

Das promessas...
Demagogia.

A água vazou
A caixa ficou vazia.

O carnaval morreu
Pela falta de folia.

Emoção ancorou
Naquele fatídico dia.

Inserida por Moapoesias

Finitude
Que a cada dia eu tenha um objetivo e um motivo pra lutar.
Que eu agradeça sempre antes de deitar.
Que a tristeza e as desilusões não me façam perder a ternura.
Que eu entenda que nem tudo o que quero é viável.
Que não se vive sem uma pitada de dor.
Que a finitude seja por mim respeitada.
Que algumas saudades não significam nada.
Que passo rapidamente de decapitador e decapitado.
Que quanto mais ofereço mais sou recompensado.
Que sou humano, mas nem sempre sou errado.

Inserida por Moapoesias

Pó alérgico
Desafiante é calar o silêncio noturno
Escrito na profundidade oceânica
De uma voz insistente que nada diz.
Sou na vida apenas um atrapalhado aprendiz.
Sou regra
Desconheço a exceção.
Aprendi a dar
Mesmo sem receber perdão.
Sinto o ácido correr-me a alma
Letal e amargamente sem pressa.
Dizer a quem?
A ninguém interessa.
O pó alérgico da insônia me faz suspirar
E fico sem sono para deitar.
Perdi a matricula para a escola do viver.
Não sei como é.
Assim é minha vida.
Assim são meus dias.
Assim pra sempre há de ser.

Inserida por Moapoesias

Quando o sonho termina

Quando acaba o sonho
A vida dispensa o estepe.
Sopra um vento enfadonho.
A alegria desaparece.

Quando acaba o sonho,
Perde-se a vontade de acordar.
Passa-se a viver com sono
E a não mais se suportar.

Quando o sonho termina
Ficam lembranças armazenadas
A luz da alma não mais ilumina
Tudo fica triste não se quer mais nada.

Quando o sonho se vai
O amor não vai junto
Pela porta ele não sai
Apenas adormece em algum ponto.

Quando o sonho diz adeus
O ânimo desanda
Nas lembranças os momentos meus e teus
Emudecendo os instrumentos da banda.

Inserida por Moapoesias

Estação vida

Não deu tempo.
Atrasei-me.
Ao longe ainda pude ver a felicidade partindo.
Tentei gritar, correr, ligar,
Já era tarde,
Ela foi.
Eu fiquei.
E pensar que tentei sair apressado,
Deixei até algumas coisas
Espalhadas.
Nem sei onde me deixei esquecido.
Não pude ver onde pendurei minha alegria.
Ficou lá.
Talvez esteja no mesmo prego do meu sorriso.
Um sobre o outro. Não os vi.
Tomara que alguém, ao encontra-los, faça bom uso.
Estou preocupado com minha vida,
Deve ter ficado num cabide.
Tão frágil!
Será que vai sobreviver?
A esperança... Que dó!
Morreu no frio das noites passadas.
Nesta estação à beira da estrada,
Não me resta mais nada.
Se alguém perceber que não fui
Quiçá, ao menos, dirá: Caramba!
Como pode não ter embarcado?

Inserida por Moapoesias

Cela
Busco entender as penas que este tribunal me imputa.
Só recebo sentenças mesmo que não haja crimes comprovados.
Será esta a lei da vida?
Abdico a ideia de réu confesso.
E o propalado direito de ampla defesa?
Julgado a revelia sem ser avisado
Fui prejudicado na condenação.
Arrancaram-me a razão.
Subtraíram-me os argumentos.
Transplantaram-me o coração.
Prenderam-me nesta cela
Que se chama ilusão.

Inserida por Moapoesias

Nuzinho em pelos

Siga contente.
Siga falante.
Sempre adiante.
Ande de cabeça levantada.
Apanhe a margarida.
Dê boas gargalhadas.
Deixe risadas espalhadas.
Abrace a “rapaziada”.
Sorria para a vida
Daqui não se leva nada.
Deboche das esquinas.
Siga no proibido
O ridículo também deve ser vivido.
Dê um sorriso para o tempo.
Abra a boca, coma o vento.
Dê a mão para o destino
Picolé para o menino.
Estenda os braços pra voar
E o coração para amar.
Desalinhe os cabelos.
Sinta-se nuzinho em pelos.
Lágrimas só as tolas,
Pelo efeito da cebola.
Se por sozinho optar
Beije a felicidade ao se abraçar.

Inserida por Moapoesias

Perfume

Desperto. Percebo alguma claridade,
Ao meu lado ainda um saldo do teu calor.
O perfume nas cobertas entranhado.
No banheiro teus pertences espalhados.

Olhos semiabertos espiam a rua,
Nem mais um passo teu,
Na memória a mais linda imagem crua,
Teu gosto doce nos lábios meus.

Busco motivos pra enfrentar este dia,
Imagino seus cabelos desalinhados, seu rosto, seu sorriso,
Busco no espelho meu olhar sem alegria
Pensamentos de mim decolam sem juízo.

Consome-se em teu dia atarefado.
Nem notícias tuas consigo receber.
Dou passos te imaginando ao meu lado
Buzinas, barulhos, correria nada me faz te esquecer.

Inserida por Moapoesias

Pietá

Decepciono-me ao ver o mapa
E o traçado final estampado.
Queria o segredo no cofre guardado
Porque amar é a arte de tentar, de se doar, de renunciar.
Teus amores deliciosos, onde estão?
Agora em meu rosto só a expressão de Pietá,
Minhas mãos vazias pra mostrar.
Nestas noites em que só palavras voam,
E dos meus dedos brotam céus em desalinho,
Giro neste quarto de chão molhado
Tropeço no escuro do caminho.
Nem sombras dos que me pediam
Pra mais alto eu falar.
Nem pontes unindo sul e norte,
Nem em aquarelas vejo teu olhar,
Só um vento que sopra melancólico e forte.
Mas há de haver um ponto sagrado
Onde o mundo possa ser ancorado
E viver em harmonia
O sonho pela vida sonhado.
Onde o sol bronzeie a pele
Onde a semente germine
Onde a realidade sorri.
E a vida, preciosa, se ilumine.

Inserida por Moapoesias

A última lambreta

Descia pela ruazinha de terra e pedras. Magra, leve, parecia perfeita para a lambreta que tinha.
Era uma época em que os empregos do sonho, nesta região, eram de motorista do caminhão do leite ou da Kombi escolar, ou este dela, em que passava nas pequenas propriedades vacinando o gado.
Naquele dia ela chegou mais calada. Percebia-se que algo não estava bem. Após almoçar fartamente a pequena veterinária passou a comentar suas angustias. Tudo mudaria. Estavam tirando as lambretas de serviço e colocando as Turunas (Moto que fez muito sucesso naquela época)
Olhando para mulher falante e tão minúscula, fiquei impressionado com a sua decepção. Falou que iria sentir muito a mudança. Definitivamente não aceitava ficar sem “lambretear”.
Ela que muitas vezes foi vista como a rebelde da família, pois entrava em si mesma e produzia alguns textos de qualidade questionável apenas para relaxar.
Em certa ocasião, após uma queda e com uma forte batida na cabeça, perdeu um pouco a lucidez. Naquele dia salgou o café ao tentar adoça-lo. Fez uma frase que eu nunca mais esqueci: “Se é no sábado, todos sabem que é domingo.” Exatamente assim se pronunciou. Uma frase, para mim, símbolo das confusões mentais em que ela poderia estar metida.
Mas o entusiasmo dela ao falar da velha lambreta era algo impressionante. Não parecia ter nenhum “parafuso a menos”.
Na hora de ir embora, vi que chorava e falava que nunca mais veríamos uma lambreta. Que aproveitasse aquele dia.
Indignada, parecia mesmo que estava para cometer o suicídio, pois disse que sairia de todas as formas de convivências sociais. Disse que iria se esconder, que não daria mais notícias. Nunca vi alguém tão indignado por tão pouco.
Fiquei com aquela imagem dela subindo pela estradinha e dizendo: Nunca mais. Aproveitem a última lambretinha. Nunca mais saberão de mim. Nunca mais, nunca mais...

Inserida por Moapoesias