Maria Almeida
Quero um início sem fim, uma continuidade, um pulsar frémito e tranquilo, risos soltos, dedos entrelaçados e abraços espontâneos.
Preferia, sinceramente, que as pessoas que querem ir, fossem de uma vez, em vez de irem subtilmente. Se tiver que ser uma ilha, sê-lo-ei. Nunca estarei só. Tenho-me a mim e Deus é o meu chão e a minha mão.
Perdoar não apaga o que foi feito. Não se pode, simplesmente, passar uma borracha na memória e apagá-la completamente. Isso é impossível. O possível é determinarmos-nos a andar com a mochila vazia de ressentimentos e de compreendermos, claramente, que não podemos transformar o acontecido no tempo.
Perdoar é um presente. E é-o para nós mesmos.
Se percebessem, ao menos, como é profunda a minha ligação a Deus e a tudo o que Ele me doa todos os dias, a vida, a natureza e o sentimento uníssono com o Universo, talvez, por um segundo, sentissem em si mesmos a beleza do mundo e a do bem que me faz viver feliz.
Abre-te mundo, para mim, levo comigo toda a força da vida e toda a plenitude do Universo, transporto os meus sonhos e a enorme vontade de viver, e, em Deus, tudo posso e tudo vou realizar.
O amor só respira quando a amizade é serena e a sua implicância reside em reconhecer o outro na sua totalidade.
Se eu me fundir nos outros não poderei ser eu e não poderei viver em liberdade. Se eu continuar comigo, ainda que sozinha, poderei submergir-me continuamente na dança melódica e doce da vida.
Entendo que a ausência de palavras seja apenas cansaço. Às vezes também me canso. As palavras deixam de surgir e passa-se somente a sentir.
Às vezes sento-me no topo do Universo e vejo o mundo passar apressado. Sorrio sem querer, balançando as pernas no vácuo, e contemplo a galáxia firme e distante, traduzindo a liberdade e o sonho longínquo dos felinos. Meu Deus, como é bom estar aqui!
O pacto entre as almas jamais poderá ser destruído. A sua solidez é a aceitação das tonalidades contidas nas diferenças, na calma tarde de domingo passada a assistir um filme, perna cruzada com perna, na revolta dos lençóis e na resistência a qualquer ameaça de vendaval.
Praticar o bem é oferecer puramente sem esperar nada em troca. Amar é a amizade vestida de reciprocidade.
Amo incondicionalmente a minha filha, possibilitando-lhe viver a sua própria vida e dando-lhe liberdade para explorar as suas próprias decisões e as consequências de cada uma delas, nos seus erros e acertos.
Como filha, é minha.
Como pessoa, não me pertence.
Meu amigo perdido, desejo-te toda a paz do mundo.
Eu sei. Eu sei, bem lá no fundo, que o teu abandono e o teu silêncio são a forma mais bonita para me protegeres de ti e para te protegeres de mim, mesmo que não tenhas nunca entendido que jamais foste e jamais serás uma ameaça para a minha alma. Sendo água de rio, nunca os teus dedos de mar me causariam mal. E, como água de rio, nunca deixaria de ser tua amiga no cuidado, no respeito, na confiança e na compreensão, diluindo em cada gota dos meus abraços as tuas mágoas, as tuas revoltas e os teus medos. Só a água de rio pode amar o mar e entrar nas suas águas sem medo, pois o seu amor é forte e profundo. Fica bem. Desejo sinceramente que assim seja. Assim como desejo intensamente que a vida te dê o que precisas. Que as tuas lágrimas sejam beijadas por Deus quando chorares. Mas, quando rires, que o teu riso seja por Ele transformado em muitos outros. Caminharás comigo em cada oração que os meus lábios murmurarem a Deus para que todo o bem te encontre, te alivie e te refaça. Mesmo que nunca o saibas, serei o sempre que proferi e que guardo em mim, da mesma forma que nunca te passará pela memória que eu olhei a estrada, vezes sem conta, na esperança de te ver chegar. Talvez um dia, em outro tempo, Deus permita que as nossas almas se conheçam outra vez e que tu não sintas mais medo de mim como eu nunca senti de ti. Deus te abençoe.
Certas palavras que agora chegam até mim soam estranhas, talvez por a vida me ter desabituado das mesmas.
Determinadas pessoas gostam de levar a paciência dos outros ao limite, reproduzindo-se no tempo, e por isso deixam de ser desejadas. Uma coisa é não ligar uma ou outra vez, mas quando a insensibilidade começa a roçar a falta de consideração e a avolumar-se como uma teimosia monótona e exaustiva, torna-se veemente a nossa responsabilidade na colocação de um ponto final às situações em que nos expuseram sem o pedirmos.
A paciência deve voltar-se para aquilo que não depende de nós e para aquilo que merecemos, e não para o silêncio eternamente complacente objectivando a ausência de conflitos. Não devemos ser cúmplices das atitudes que nos causam desconforto. Há um “chega”. E existe um “basta”. Guardemo-la como um bom comportamento decisório para mudarmos o que nos afeta e como uma sabedoria interior para a leitura das pessoas que a colocam à prova de forma apenas ingénua ou informal.