Madasivi
Enquanto você dorme, eu aqui escrevo,
E o sonho da reconciliação bate na porta,
O pesadelo da desconfiança é o maior empecilho que entra pela janela,
Enquanto você dorme, eu aqui escrevo,
E alguns nascem após a dor do parto que passa e outros partem deixando a dor que não passa,
Seu corpo pintado de vermelho e seus lábios vestidos de escarlate,
Meu coração sem cor de tanto pulsar nesta noite rubente,
Seu não que diz sim,
Meu sim que ouve não,
Noite que se alimenta de ambrosia,
Seu beijo de avelã com chocolate,
Meu beijo que desde então te pertence,
Café pra estancar bem cedinho,
Almoço bem quentinho,
Cabeça pra baixo no escurinho,
Palavras escritas pra tocar devagarinho,
Aquilo que não posso ter de pertinho,
Centenas de nuvens fartas no teto do céu,
Festa escura com lua, brisa e um cheiro de sossego enorme,
Por um instante tudo aquieta este papel,
De preto,
Ela vem toda graciosa,
De preto,
A passarela é toda dela,
De preto,
Ela tira meu sono,
De preto,
A festa se alegra nela,
De preto,
Suas belas pernas vestidas encantam,
De preto,
Minha vontade se apaixona por ela,
De preto,
A elegância da sua sombra marca presença,
De preto,
Vejo minha atenção presa nela,
De preto,
Ela fica linda e eu fico sem fôlego,
De preto,
Quero novamente apreciar a obra-prima da formosura vestida de preto,
Só escrevo,
Letras, palavras, frases,
Com o propósito,
Da desordem, discordância,
Desobediência e dissonância,
Lua graúda,
Lua cheia,
Noite nossa,
Noite luminosa,
Lua clara,
Lua rara,
Noite boa,
Noite toda,
Estrela Lua,
Lua Super,
Super Santa,
Santa Estrela,
Que ascendeu,
Esta ofuscante noite,
Que nos veste,
Ingente,
E, luzente,
E vem todo lânguido,
Chorando suas tristes façanhas,
Azedo como limão ele balbucia seu desespero,
Tenta fugir desse labirinto de Creta e mutretas,
Em um instante revoa um pensamento são e desatinado,
Tão doce quanto maduras mangas,
São sabores de um bom papo quase embriagado,
Coragem de tentar, errar, de ter medo e sobreviver,
Coragem pra ter bravura,
Coragem, só um pouco,
De coragem da coragem,
Barguzin e sua força,
Leva tudo para o nada,
O chocalho da morte,
Não silencia em sua sorte,
Fica aquele gosto,
De mais um pouco,
Uma pandemia inimaginável,
Horror pandêmico,
Que contamina o pânico,
Deste isolado mundo assustado,
Que está acometido por um tempo ínvio,
Que adoece, mata, castiga, escabuja,
Coronavírus maldito, sorumbático, nefando,
Arranca pedaço para além-mundo,
Tofana possui admirável perdão,
De suas mãos,
Chegava a salvação,
Saciou com água tofana muita sede,
Inebriou toda gente,
Seus eflúvios de incomparável liberdade,
Distante das torturas medievais,
Que revelaram como somos infernais,
Inimagináveis horrores brutais,
Igualmente letal, mas Tofana de forma precisa,
Tinha a fórmula calculada,
Do misterioso, silencioso e jeito sem dor da ida
Pau que canta,
Árvore de outono,
Folha de asa,
Galho carregado,
Frutos verdes,
Maitacas maduras,
Pé de aves,