LASANA LUKATA

⁠
Imagem hedionda


desastrado,
seaamadaénegra,
nãoinscrevaseunome
numtroncodeárvore:
chegadetronco.

⁠inefável
o impossível coice de um cavalo-marinho
abriu a ostra onde havia pérola
e se eu não tivesse naufragado
jamais veria esta cena
e não teria este colar de ilusões
para aliviar a aspereza destas noites nervosas
em que o poema não vem
ou rebenta ao mínimo ruído como se fosse solitária
e o que deveria ser tudo metros mais de quinze
no papel é pouco milímetros quase nada
e em mim fica presa uma enorme madrugada
inefável indizível cá por dentro deformada

⁠e pela linha vermelha,
numa tarde de pudim,
vieste como uma abelha,
deixaste teu mel em mim.

⁠pela claraboia da tua blusa,
a primavera entra e espalha flores,
em nenhum momento se recusa,
ira pra sempre aonde fores.

⁠⁠
teia


a tristeza tem feito teias em meus olhos
e vez por outra outros olhos são capturados
e me descobrem completamente nu
enquanto são devorados

⁠dos pastores,


não seja um Melquizedeque,
se vende por um copeque.

⁠alienação


um homem ia ao mercado,
ia tão alienado,
sem saber que repolho
brota aberto e, trancado,
ensimesma-se do mundo.

⁠fórceps

garça força a saída do peixe;
dentista, a saída do dente;
poeta, a saída do verso;
inclusão, entrada forçada;
este mundo
nem me ouve,
nem se abre,
só a sabre
penetrei.

quebra palavras contra os muros;
⁠escreve entre quatro paredes,
mas no quarto há uma rachadura,
por onde entra a voz do povo.

⁠não só o corpo, a alma também tem que perder peso.

⁠há uma crença na imortalidade da lama

Não sei de onde tirei a ideia de que poderia caminhar ao seu lado.
Creio que em delírios, carrego nos meus braços o esqueleto da Esperança.