LASANA LUKATA

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a poesia apodrece a realidade

Inserida por lasana_lukata

o lodo se arrasta sempre
e quando sobe
é apoiado na parede

por todos os mares,

em surdas remadas por águas injustas,

o peixe a acardumar-se para indignar-se

contra as ondas que o empurram para as margens,

para longe dos hiperônimos, dos hipônimos,

e, fora do vinho,

por todas as terras,

convertido em hiena que fatalmente ferida

busca um lugar para o seu fim,

vim hoje aqui

para morrer neste poema.

Inserida por lasana_lukata

poeta não é para ser canonizado,
é para ser carbonizado,
renascer das cinzas.

Inserida por lasana_lukata

absoluta
sentada no ombro esquerdo,
eu navio adernado,
ninguém no ombro direito,
para sempre desequilibrado.

Inserida por lasana_lukata

inoportuno


na escuridão marítima
cego apoio-me na garça
vou com suas pernas
o coração aberto como uma ferida
sem rota
anda pelo mar
este grito que não tem onde atracar

Inserida por lasana_lukata

antiquario

(poeta frustrado)

sobre a antiga escrivaninha,
sustentada por altas pernas de garça,
ficam os grandes poetas...
embaixo,
na prateleira inferior,
para versos inferiores
e o desejo de ganhar altura,
tropeça minha poesia.

Inserida por lasana_lukata

Tarde de outono
Na terra ensanguentada
banham-se pássaros.

Inserida por lasana_lukata

não basta saber-se garça,
fazer-se garça,
é preciso aceitar-se garça.

Inserida por lasana_lukata

com o mar aprendi
como rápido se fecha uma ferida.

Inserida por lasana_lukata

se a poesia evapora,
o lago diminui.

Inserida por lasana_lukata

chega um tempo de cair umas pedras de sal em nossa feijoada,
pedras que nós mesmos produzimos.

Inserida por lasana_lukata

serei poeta nem que seja por usucapião

Inserida por lasana_lukata

feito pardais
os meritienses vão chegando em bandos
e das dezessete e quarenta em diante
a praça se enche de conversa e pássaros

Inserida por lasana_lukata

sereníssima fingida


olheiras verdes
mascarada de esperança
também a garça oferece pão aos peixes
e os devora

Inserida por lasana_lukata

não é hora de matricular-se no silêncio,
contra quem levanta a garça a sua lança?

Inserida por lasana_lukata

a garça voou
sumiu nos telhados do antigo cinema
voou na cidade
às cinco da tarde
me trouxe um poema

Inserida por lasana_lukata

vigia de mar


eu jogava tintura Márcia
no bigode branco do navio
e o tempo passava ao largo
distante da proa e de mim

Inserida por lasana_lukata

garça garça
por que o desprezo ao bando
se ao voar muitas asas
a vida machuca menos?

Inserida por lasana_lukata

sabe a garça o voar pesado, voar de pedra...
embriaga-se de vento
para o voo luminoso.

Inserida por lasana_lukata

o amor encurta os dias

Inserida por lasana_lukata

em dias de garças
a vermelha buganvília
asfaltava a primavera

Inserida por lasana_lukata

Tarde outonal.
Solitária e inalcançável
a flor da paineira.

Inserida por lasana_lukata

um buquê de pedras também murcha,
também perde seus espinhos.

Inserida por lasana_lukata

tarde de inverno -
Nas orquídeas-sapatinho
o bebê que partiu.

Inserida por lasana_lukata