LASANA LUKATA
Fragmento
Caminho pela velha rua da minha infância...
jà mudou de nome umas seis vezes,
a miséria continua a mesma.
Polonesa
os zigue-zagues das juremas,
os ramos vazios
e esse revezamento de pàssaros em teus olhos...
tua voz quente quebra a dormência da semente,
cicatriza meu passado, sutura minha tristeza.
a tristeza comedora de palavras.
e tua voz me diz que tenho voz de poeta me afeta,
enardece sílabas,
tua voz que diz ser eu intenso e não entusiasmo,
sai como um peixe, como flecha para dentro do meu peito que fica estreito e já não sei o que dizer.
a garça
por voar não muito longe do chão
não muito longe das companheiras
por não ser extremo voo absoluto
por ser asa temperada em lama e luz
por ser ave suavizada em luz e ar
sou como um cão no inverno
encostado às cinzas do que foi.
a ferida ainda dói no cadáver.
o esqueleto tem a fome da carne.
pelos meus poemas
passeia a tua voz;
e se um dia,
embaixo de uma árvore,
estivermos a sós,
pedirei que os repise
diante do mar.
contrapostas
o trigo depois de moído
tem outro nome.
o amor depois de traído
depois de trilhado
depois de pisado
depois de moído
conserva o nome.
mulheres parecem médicas,
me examinam com antipatia,
mas não utilizam ao pescoço
o estetoscópio
para ouvir meu coração.
não tente atar o que se partiu
porque era para ter se partido,
porque não era cordão,
era laço
de passarinheiro.
há lugares em que há
a constante presença da morte,
há lugares em que há
a constante presença da vida.
Um dia um profeta disse:
Miséria sobre Miséria virá.
Demorei anos para entender
até que estudei
Juros sobre Juros.
o diabo é como o político que não revela aos eleitores a sua impugnação e os faz andar em passeata no sol de meio-dia.