Guimarães Rosa

1 - 25 do total de 304 pensamentos de Guimarães Rosa

É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado.

Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?

Guimarães Rosa
Livro: Ave, palavra. Ed. Nova Fronteira, 1970

o coqueiro coqueirando
as manobras do vermelho
no branqueado do azul

outrarte
o ouro esboço
do crepúsculo

e um vaga-lume
lanterneiro que riscou
um psiu de luz

Para onde nos atrai o azul?

Guimarães Rosa
Tutameia – Terceiras Estórias

o arrozal lindo
por cima do mundo
no miolo da luz

tênue tecido alaranjado
passando em fundo preto
da noite à luz

tatalou e caiu
com onda espiralada
fragor de entrudo

mar não tem desenho
o vento não deixa
o tamanho...

verdes vindo à face da luz
na beirada de cada folha
a queda de uma gota

o bambual se encantava
parecia alheio
uma pessoa

sussurro sem som
onde a gente se lembra
do que nunca soube

alvor
avançavam parados
dentro da luz

entre as folhas
de um livro-de-reza
um amor-perfeito cai

os aloendros
em fila
nos separavam do mundo

há qualquer coisa no ar
além dos aviões
da Panair...

na barra sul do horizonte
estacionavam cúmulus
esfiapando sorveret de coco

Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Amor vem de amor. Digo. Em Diadorim, penso também - mas Diadorim é a minha neblina...

Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria que ele quer

O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Viver é etecetera.

Felicidade se acha é em horinhas de descuido

Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.