As Coisas Tangíveis
Engraçado, não gosto do meu quarto - das paredes, dos móveis -, mas gosto demais das coisas que posso ver pela janela. Das coisas que estão fora dele, porque o que está aqui dentro eu acho muito parecido comigo. E eu não gosto de mim.
Não adianta nada ficar do lado de fora, vendo fantasmas, imaginando coisas que não existem. Melhor entrar de uma vez.
A visão consistia em surpreender o símbolo das coisas nas próprias coisas.
Não há de ser nada; Isso acontece até com os melhores. Você não deve se desesperar. As coisas voltam a ser como antes.
Independência! Liberdade! Persegue estas coisas como ao teu maior amor, e agarra-te a elas como à tua maior paixão!
Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada.
E outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas... e te mastigo dentro de mim.
Gosto de coisas complicadas.
Eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor (...)
Eu gosto das coisas compartilhadas. Gosto dos segredos que a gente conta pra alguém, e esse alguém guarda como se fosse dele mesmo. Gosto do sorriso que recebo nos dias em que as coisas não estão bem. Sorriso atrai sorriso. Gosto da amizade que fica, daquelas que te ensinam, que você briga, mas que não vai embora, não acaba. Gosto das minhas manhãs, porque nelas vejo oportunidades de Deus pra minha vida e pra minha história.
Porque ver é permitido, mas sentir já é perigoso. Sentir aos poucos vai exigindo uma série de coisas outras, até o momento em que não se pode mais prescindir do que foi simples constatação.
Sem Titulo (1984)
Eu minha lanterna e o peixe Felipe. Cheio de coisas para botar pra fora e não tenho quem ouça.
- Quem tem um ouvido aí?
O que eu despejo no papel do caderno? Caderno tem ouvido? Será que ele entende minha angústia? Será que as linhas frias do caderno me bastam? Ahhh! que besteira enorme é escrever, e no entanto se não o fizesse eu por certo morreria... Mas... Morreria de fato... mesmo.
Escrever... escrever... escrever...
Tudo já foi escrito; mas não importa.
Tem coisas da gente que não são defeito nem erro: são só jeito da gente ser. O negócio é acostumar com isso e não sofrer. Aliás, o melhor jeito, em relação a qualquer coisa, é sofrer o mínimo possível. Aquilo que os americanos chamam de relax and enjoy – mais ou menos "relaxe e curta".
Sabe o que eu sinto? Tem duas coisas me puxando, dois tipos de vida — e eu não quero nenhum deles. Quero um terceiro, o meu.
Essas coisas que decidimos fazer ou nos tornar quando algo que supúnhamos grande acaba, e não há nada a ser feito a não ser continuar vivendo.
