Aforismo Fome
"Tinha fome e não era de pão, sabia de criança de tinha o destino nas mãos, nada bom..."
Da canção O Voo de Joe.
“A gula só é pecado para os que se fartam sem fome. Aos miseráveis famintos, comer com voracidade é instinto de sobrevivência.”
HERESIA
Te engulo como quem já morreu de fome. Com os olhos cerrados na vertigem do teu cheiro. Te tomo como anjo que escolhe cair não por pecado, mas por desejo de habitar tua alma, como quem entra sem pedir licença, nu de si mesmo.
Sou ausência que arde sob tua pele. Memória do toque mesmo sem o toque. O silêncio entre nós virou idioma. E tua respiração, confissão.
Cometemos a heresia da carne como quem reza com o corpo. Sem culpa. Sem o peso dos que condenam.
Te envolvo sendo, às vezes febre, às vezes brisa. Num abraço onde o mundo silencia e só resta esse instante: nós. Em transe. Em verdade. Em tudo que não nos cabe.
Se há uma força nisso, é aquela que dilacera e acalma. Que fere com ternura. Que transforma a heresia do desejo carnal em uma forma de permanecer, mesmo quando os corpos se afastam.
Augusto Silva
Minha busca por Deus é movida por uma fome profunda da alma ou pela acomodação de quem já se sente satisfeito?
Espuma de Aço
Passei fome —
como quem mastiga a ausência com os próprios dentes.
Passei frio —
como se o mundo tivesse esquecido meu nome.
Tive medo de dormir,
como se o sono fosse um portal sem volta.
Temi ser incendiado por mãos anônimas,
esfaqueado por sombras sem rosto,
baleado por silêncios armados.
Achei que a qualquer instante
me enjaulariam por crimes que só a miséria conhece.
Achei que o azar me atravessaria como um carro sem freios.
Achei que acordaria num hospital,
com tubos dizendo o que restou de mim.
Tive pensamentos que se transformaram em presságios.
E presságios que bateram à porta como visitas indesejadas.
Coisas que temi… e que vivi.
Nunca imaginei sentir esses medos.
Nunca imaginei que seria a morada deles.
Mas eu os enfrentei —
não com bravura,
mas com a entrega de quem não vê saída.
Fechei os olhos,
não para fugir,
mas para pular.
Como quem salta de um avião sem paraquedas,
mergulhei no invisível,
me entregando a Deus com a fé de um desesperado.
Os dias passaram como segundos —
e os segundos, como preces sufocadas.
Quando enfim toquei o solo,
não havia pedra, nem asfalto,
mas um vazio que me acolheu.
Como se o próprio abismo
tivesse mãos.
Não foi ele que me segurou.
Foi a ausência do medo.
Foi o sangramento interno de um coração que desistiu de resistir
e se dissolveu —
espuma de aço.
Espuma: porque já não pulsa.
Aço: porque já não quebra.
Sem emoção,
mas também sem dor.
Sem esperança,
mas longe do pavor.
Nem vivo, nem morto —
apenas desperto.
Superei as maiores agruras da vida: A seca do Nordeste. Fome. Minha maior superação foi ter rompido com a violência doméstica em 2021. Consegui superar (romper o ciclo) com dois filhos pequenos e grávida de mais um. Se eu consegui, você também consegue. Diga não a violência doméstica! Vamos juntas?
"Ter Fome e Sede de Justiça é almejar ver honestidade, Integridade e Justiça na sociedade, através de uma santidade prática em sua própria vida".
“Sinto uma sede que a água não aplaca. Sinto uma fome que dilacera minhas vísceras. Carrego todas as dores do mundo. Escuto todos os sons. Compreendo a todos, mas não compreendo a mim. Devoro tudo, sem jamais saciar-me. Essa angústia me consome e, ao mesmo tempo, me impulsiona. Sinto o todo, sem ser o todo. Sou paradoxo e antítese.”
Criamos bombas de guerra que furam 60 metros no solo, mas não sabemos como acabar com a fome.
Benê Morais
A Fome
O mendigo passando fome e pedindo um pão e não ganha nem um tustão que ilusão mas a vida continua passando fome ou não
Dizem que em alguma floresta esquecida pelo tempo, vive um lobo que não caça por fome mas por saudade.
A cada noite, ele ergue o focinho aos céus e uiva. Não de dor... mas de desejo. A lua, suspensa no abismo escuro, é sua amante silente. Ele não quer possuí-la quer pertencer a ela. Queria ser constelação, estrela cadente, poeira cósmica... só para que sua pele selvagem brilhasse ao menor toque da luz dela.
Dizem também que esse lobo já foi homem. Ou mulher. Ou ambos. Que em outra vida dançou com a lua sob o véu de uma paixão tão antiga quanto o universo. Mas algo os separou. Talvez o tempo, talvez um erro, talvez só o destino brincando de desencontro.
Desde então, ele reencarna em pelos e ossos, uivando sua lembrança para o céu. Não pela resposta, mas pelo ritual. Porque amar, para ele, é lembrar.
E enquanto houver luar, haverá um lobo que não desiste de ser tocado por ela.
Não é só um cão na rua,
É a dor que ninguém vê.
É a fome disfarçada
Na espera por um porquê.
Não é só um latido solto,
É um pedido contido no ar.
É o grito de quem um dia teve dono
E hoje só tem o caminhar.
Não é sobre raça, nem porte,
É sobre omissão e descaso.
É sobre quem fecha os olhos
Enquanto outro limpa o estrago.
Se alimenta, cuida. Se cuida, assume.
Não é bondade largar depois.
A rua não ensina carinho,
Só ensina a fugir dos “heróis”.
Ter um animal é promessa
De presença, cuidado e ação.
Se não for pra ser abrigo,
Não alimente a ilusão.
era só um amor.
mas me fez esquecer
onde deixei minha dignidade.
não era fome.
mas parei de comer.
não era febre.
mas tremi quando ele disse que não sabia o que sentia.
eu, que sempre fui boa de ir embora,
fiquei.
como quem erra de propósito
só pra ver até onde aguenta.
abri mão do sono,
da lógica,
da escova de dente,
do aviso que dizia “não ultrapasse”.
troquei o arroz com feijão
por silêncios indigestos.
troquei o básico
por tudo que me fazia doer
mas que me fazia sentir.
e eu, no fundo, prefiro o que machuca
ao que não faz nada.
ninguém me avisou que
o amor que a gente aceita
diz mais sobre o nosso vazio
do que sobre o outro.
ele nunca prometeu.
mas também nunca foi embora.
e essa presença que não assume.
foi o que mais me corroeu.
me deixei amar como quem se deixa atropelar devagar:
primeiro a perna,
depois a vergonha,
por fim, a parte que ainda dizia
“isso não é amor”.
não é que eu não soubesse.
é que eu já tinha aceitado morrer bonita
na beira da estrada.
Juliana Umbelino
INSURGÊNCIA
A fome e a seca no Nordeste não foram tragédias naturais — foram estratégias. Sintomas de um projeto político que tem donos: da terra, da água, do poder.
Desde o período colonial, o Nordeste foi desenhado para sangrar. As mãos que aravam a terra nunca foram as que a possuíram. E, assim, condenaram um povo inteiro à miséria.
E o que ficou no Nordeste? A terra rachada… e as mulheres.
Elas não migraram. Ficaram.
Ficaram para segurar o mundo nos ombros, com os filhos no colo e a esperança entre as mãos.
Mesmo quando não havia farinha, comiam palma. Enganavam o estômago das crianças com caldos ralos, enquanto rezavam para que a noite não levasse mais uma vida.
E é aqui que começa a insurgência.
A insurgência dessas mulheres foi não morrer. Foi não ceder.
Foi insistir em existir onde tudo ao redor pedia silêncio e desaparecimento.
Suas mãos calejadas, seus pés rachados, seus olhos secos de tanto chorar — tudo isso é marca de uma luta que nunca foi reconhecida como deveria.
A verdadeira insurgência nordestina tem o rosto dessas mulheres.
Elas são a terra que não cede, a raiz que não morre, a memória que não se apaga. Lilian Morais
Há momentos em que a arte não representa.
Ela confronta. Ela insiste. Ela se ergue.
Insurgência, como nos propõe Lilian Morais, não é revolta ruidosa, mas fogo subterrâneo que ascende em silêncio e cor.
Esta exposição não se limita a apresentar obras: ela se recusa a calar afetos.
Cada traço, matéria e composição é um fragmento de um corpo que pulsa — corpo individual, corpo social, corpo-mulher, corpo-luta.
A insurgência que Lilian nos convoca é ao mesmo tempo íntima e coletiva: nasce de dentro, mas se espalha para fora, como se cada tela estivesse tentando respirar pelo mundo.
Numa época marcada pela normatização dos gestos, dos desejos e das imagens, sua arte desvia.
Desvia do esperado, do domesticado, do permitido.
E ao desviar, revela:
revela o que foi silenciado, o que foi esquecido, o que nunca teve nome.
A escolha do título Insurgência não é aleatória: é afirmação.
É o reconhecimento de que a arte pode — e deve — ser território de fratura e reinvenção.
Aqui, as cores não decoram; elas denunciam, acolhem, provocam.
Os vazios não são ausências; são respiros.
As formas não obedecem; elas insistem em ser o que são.
Lilian Morais entrega sua insurgência com elegância firme, com delicadeza dura, com beleza que não fecha feridas, mas as mostra com dignidade.
É arte que se posiciona sem se explicar.
É arte que não se curva — e por isso toca.
Numa cidade como Salvador, onde os tambores da história ainda ressoam nos corpos das ruas, a exposição Insurgência não poderia encontrar lugar mais vivo.
É nesta Bahia de lutas e encantos, de dores e reinvenções, que a artista instala sua travessia.
E convida:
não apenas a ver, mas a sentir.
A escutar o que vibra dentro de cada imagem.
A insurgir-se, também — ainda que só por um instante.
Por Humberto Silveira
Não é difícil mandar com abertura e civismo. Difícil é controlar todos os que querem mostrar fome de protagonismo.
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