Viva a Realidade
Nesta vida, tudo o que temos é um empréstimo de Deus! Nossa moradia, família, amigos, trabalho, tempo. Quando percebemos que viemos sem nada e voltaremos sem nada, isso é a pura constatação de que as posses e nossos apegos são transitórios na escala da existência. Nem aquilo que mais acreditamos poderemos levar para nossas moradas definitivas aqui na terra. Talvez, apenas aquilo que fazemos no nosso tempo presente seja de fato real!
Aplaudidos sejam aqueles cujo os olhos não enxergam a cor cinza e pálida ao seu redor.
Louvados sejam aqueles que tenham contemplado muitas experiencias satisfatórias em sua vida, e assim preenchido o seu vazio com algo significante, para lembrá-los de agradecerem por estar vivos.
E que sejam poupados, os miseráveis que viram a verdadeira face desta terra, de viver está vida novamente.
O imaginário projeta ilusões, desejos e temores; o simbólico conecta com signos e linguagem; o real impera como força motriz que desafia, afirma, nega, constrói e destrói.
A ficção e sua irrealidade confundem-se com a vida real e sua surrealidade. No que há de mais comum e brutal, ambas não se diferenciam tanto — ao contrário, completam-se de forma absurdamente íntima.
Ser fiel a si mesmo é o primeiro passo para não se perder no outro. Quando quem amamos não está, percebemos o quanto a vida é dura — e curta. Esperar finais felizes parece ingênuo diante da realidade que insiste em nos quebrar.
Mas há força na dor. As partes que se quebram revelam quem realmente somos. A ausência do outro escancara a necessidade de presença de si. E quando dizemos “nunca mais”, talvez estejamos, enfim, dizendo “agora, sim” — para nós mesmos.
Existe uma diferença entre acreditar no impossível e acreditar em si mesmo.
Existe uma diferença entre ser ingênuo e ser sensato.
Existe uma diferença entre alimentar utopias e alimentar sonhos.
Existe uma diferença entre fantasia e realidade
Quando a gente delimita muito bem essas diferenças, fica fácil nos permitir. Nada nos impede de fantasiar, isso é até saudável, mas saber que nem tudo que se fantasia pode ser transformado em realidade é fundamental para a nossa saúde mental e felicidade.
Então, permita-se! Se existe 1% de possibilidade vai lá e coloca 99% de trabalho e faz acontecer, caso contrário não perca tempo, o seu bem mais precioso tentando transformar pedra em flor.
Antes de escolher alguém, dispa essa pessoa das suas expectativas, tire a lente da perfeição que os seus olhos criaram e a veja pelo ângulo da verdade. Elimine os filtros, olhe-a sob a luz da realidade. Certifique-se de que você não projetou nela um amor que a sua carência criou e só depois decida-se se aquela é a pessoa que você quer ao seu lado pra passar o resto da sua vida.
Inocência é achar que somos capazes de andar pela vida sem esbarrar em alguma dor, sem colidir com a ingratidão, sem tropeçar na deslealdade e em alguns desafetos.
Bobagem é crer que não seremos alvo do egoísmo, da inveja e da maldade humana.
Infantil é acreditar que hora ou outra não vamos ser atingidos por palavras com calibre suficiente para fazer sangrar o coração, ferir a nossa alma e até matar algum sonho frágil.
Ingenuidade é esperar que a vida pare para passar a mão na nossa cabeça, para vir curar nossas feridas. Não, ela não vai! Você é quem vai ter que fazer isso sozinho. A vida não é um paraíso e quanto mais cedo aprendermos isso, menor será o sofrimento que é inerente à própria vida.
CAMARIM
E quando o palhaço entrava
No centro do picadeiro
A plateia delirava...
Todo o público aplaudia,
A criançada gritava,
Era muita euforia!
Ele era, afinal,
Um artista fenomenal
Ninguém mais e ninguém menos
Que o Palhaço Alegria,
Com todo o seu talento,
Com toda a sua magia.
Ao ver tamanha energia
Que do circo emergia
O Palhaço Alegria
Alegre também se via.
A tristeza em seu peito,
Esta era apenas sua,
Guardava-a muito bem,
Não contava pra ninguém.
E após aplausos sem fim
Lá atrás, no camarim,
O palhaço meditava:
“Sei que a arte imita a vida...
Mas que bom também seria,
No tocante à minha parte,
Se ao menos algum dia
A vida imitasse a arte”.
GAROA
Pois há gente que labuta
Por toda uma eternidade
Sonhando, algum dia,
Alcançar a felicidade.
Confunde tal sentimento
Com vitória ou com sucesso
Sem perceber que ele é parte
E não o fim de um processo
Ser feliz é desfrutar
Das gotinhas da garoa
Ao invés de esperar
Um temporal pra se encharcar
Você é seu próprio juiz
Então, decida ser feliz!
Agora sou eu e o meu vazio,
Agora sou eu comigo mesma,
Agora sou eu e a minha tristeza,
Agora sou eu e a minha melancolia,
Agora sou eu e o meu martírio,
Agora sou eu e a minha culpa,
Agora sou e a minha solidão,
Agora sou eu e a minha dor,
Agora sou eu e a minha indecisão,
Agora sou eu e a minha insegurança,
Agora sou eu e a minha bagunça,
Agora sou eu e a minha raiva,
Agora sou eu e o meu desamor,
Agora sou eu e a meu ódio,
Agora sou eu e os meus olhos tristes,
(os quais eu tanto escondi)
Agora sou eu e meu estado de depressão,
Agora eu não me escondo mais,
Agora sou eu e a minha raiva,
Agora sou eu e a minha revolta,
Agora sou eu e a minha culpa,
Agora sou eu e a minha negligência,
Agora sou eu e a minha rebeldia,
Agora sou eu e os meus nãos,
Agora sou eu e eu,
Agora sou eu com minha reorganização,
Agora sou eu e o meu choro,
Agora sou eu e o meu vazio,
Agora eu só quero estar com o meu eu,
Agora eu só quero saber de mim,
Agora eu estou mal,
Sei que um dia eu estarei bem,
Mas agora, eu só quero me ser no agora, eu só quero me ser e me fazer existir!
Agora eu só quero acolher o meu Vazio.
